Until Dawn- Noite de Terror: A curiosa e surpreendente adaptação do video game

Aposta da Sony e da Play Station Productions, longa utiliza elementos do jogo, mas apresenta uma história nova

Until Dawn: Noite de Terror é um filme de horror, de classificação B, apesar de ser veiculado por um grande estúdio. Longa de David F. Sandberg, a produção aposta na fórmula de se basear em obras famosas, para fazer o seu próprio sucesso em uma nova mídia.

Lançado no Brasil em abril, é uma adaptação do game homônimo, lançado uma década atrás. Coprodução entre Hungria e Estados Unidos, é lembrado também por ter diferenças substanciais entre as histórias do jogo e filme.

Dessa forma, há uma diferença substancial e óbvia entre as duas obras, já que o game Until Dawn, lançado em 2015.

O jogo é conhecido por suas várias linhas narrativas e por premiar a interatividade entre player e plataforma. Aqui o roteiro de Gary Dauberman e Blair Butler tenta aludir a isso, mas de uma forma bem diferenciada.

Falaremos mais disso, na sessão com spoilers.

Equipe criativa

Dirigido por Sandberg, com roteiro dos já citados Dauberman e Butler, os produtores do filme são Dauberman, Sandberg, Roy Lee, Lotta Losten, Asad Qizilbash, Carter Swan e Mia Maniscalco.

Já os produtores executivos são Hermen Hulst e Charles Miller.

Polêmicas e rumos narrativos

O filme é uma história original ambientada no universo do jogo, em vez de ser uma adaptação direta do que o game apresentou.

Sandberg inclusive disse que gostaria que as pessoas considerassem esse como o capítulo dois da saga, como uma sequência do episódio famoso.

Considerando que não se poderia utilizar o roteiro "quase fílmico" do jogo, a função que caberia a dupla de roteiristas era uma tarefa inglória, uma vez que criar uma nova trama, que aludisse a anterior, mas que fosse original perderia na comparação e no desespero dos fãs para que houvesse uma fidelidade enorme ali.

Curiosamente, os dois conseguiram fazer algo que é diferente e interessante, embora se paute demais em clichês.

O esforço da dupla junto a direção de Sandberg funciona à contento, levando em conta também o esforço do elenco, que está afiado.

Estreia

O longa foi lançado para celebrar o décimo aniversário do jogo Until Dawn, embora o mesmo tenha chegado ao Play Station 4 em agosto de 2015 - seu remake, para PS5 saiu em outubro de 2024.

O filme foi lançado em 23 de abril de 2025 em várias praças, como na França, Indonésia e Nova Zelândia. No Brasil, Argentina, Alemanha, Hungria e outros países, chegou em 24 de abril.

Nos Estados Unidos, chegou em 25 de Abril, assim como no Reino Unido e Itália.

Nomenclatura

O nome original é igual ao do jogo, Until Dawn. Na maior parte dos países, houveram poucas variações, como na Argentina e Colômbia, onde se chama Until Dawn: Noche de terror.

Na Estônia é Until Dawn. Õuduste öö, na França é Until Dawn: La Mort sans fin, na Lituânia é Iki aušros, na Itália é Until Dawn - Fino all'alba e em Portugal é Until Dawn mesmo.

Gravações e estúdios

As filmagens ocorreram entre agosto de 2024 e outubro de 2024, ou seja, no período em que se lançava o remake do jogo.

A gravações foram em Budapeste, na Hungria.

O estúdio prinicipal foi a Screen Gems, que fez o presents. Também produziram a PlayStation Productions, Mångata Production, Vertigo Entertainment, Coin Operated e Filmhouse Hungary.

A Screen Gems e Sony Pictures Releasing distribuíram a obra nos EUA, já a Big Picture 2 Films lançou ele em Portugal, no Brasil, foi lançado pela Sony Pictures Releasing.

Falas do diretor sobre game e filme

Sandberg foi pontual e transparente, a respeito de criar um filme original dentro desse universo.

Disse:

O jogo é praticamente um filme de 10 horas, então acho que não teria sido tão interessante para mim se estivéssemos somente adaptando o jogo, porque aí seria como uma versão condensada e não interativa, o que simplesmente não seria a mesma coisa.

A ideia dele é que, perdendo a interatividade, seria preciso compensar com algo, por isso a história tem seus rumos diferentes.

O realizador ainda comparou a experiência de fazer o filme com estar em uma loja de doces, brincando com diversas opções, algumas dessas, semelhantes a sonhos que ele jamais imaginou poder cumprir.

Ele trabalhou com entusiasmo no interim de brincar com o gênero de terror metalinguístico, tendo liberdade criativa quase total.

Boa parte desses predicados positivos se refletem na obra, uma vez que as partes de ação são criativas, diferentes do que ele vinha fazendo em seu cinema, positivamente surpreendentes.

Os efeitos especiais

Segundo alguns dos featurettes da mídia física do filme, várias das técnicas e truques "especiais" foram manufaturados com efeitos práticos.

Evidente que há CGI, mas não é tão largamente utilizado.

O diretor precisou se esforçar para convencer sua equipe de efeitos visuais e o estúdio a adotar esses métodos.

Ele explicou que, durante a pré-produção, teve que convencer o fornecedor de VFX e o pessoal da Sony.

Sua ideia era levar de "maneira prática" o maior número possível de cenas, deixando os efeitos digitais como recurso de apoio, somente quando fosse necessário, para esconder coisas como fios, sombras de microfone, que aliás, é uma questão que ele normalmente errava em seus filmes.

Ele achou gratificante e divertido bolar os truques, os chamou de "quase mágicos".

Sobre a maneira de contar a história

O que mais o atraiu o diretor foi a estrutura única do roteiro e a variedade de monstros e subgêneros, que permitiria a ele explorar diferentes formas de temores.

Ele disse ter curtido bastante ter feito momentos com monstros feitos de maneira prática. Para ele, foi a realização de vários de seus fetiches.

Até então, ele vinha fazendo filmes de horror sobrenatural, apenas, com pouca margem para mostrar um gore mais agressivo.

Aqui ele pôde aumentar a intensidade de sangue e violência, com boas justificativas.

Quem fez

Sandberg dirigiu Quando as Luzez se Apagam, Annabelle 2: Criação do Mal, Shazam! e Shazam!Fúria dos Deuses.

Dauberman é conhecido por ser diretor e um dos parceiros de James Wan. Dirigiu Annabelle 3: De Volta Para Casa e A Hora do Vampiro, foi escritor no telefilme Aranhas Assassinas, escrevendo tambémAnnabelle, O Perigo Bate à Porta, It: A Coisa, A Freira e It: Capítulo Dois.

Butler escreveu Parque do Inferno, Morte Instantânea, a série Helstrom (que ele produziu também) e Convite Maldito.

Qizilbash e Swan produziram Gran Turismo: De Jogador a Corredor, foi produtor executivo em Uncharted: Fora do Mapa e Last of Us.

Losten produziu curtas, como Luzes Apagadas e Shadowed. Esteve no elenco de Shazam! 2.

Roy Lee foi produtor em Acompanhante Perfeita e A Hora do Vampiro, também foi produtor executivo em Godzilla e Kong: O Novo Império, Estranhos: Capítulo 1 e o live action Como Treinar Seu Dragão.

Os elencos:

Há uma grande comparação entre os dois elencos, o do game e do filme.

Por mais que um seja repleto de figuras que são bastante famosas, o do longa não fica tão atrás, embora tenha menos "celebridades" do cinema atual.

A atriz Hayden Panettiere de Pânico 4 e Heroes fez Samantha, já Rami Malek que fez Mr.Robot e Bohemian Rhapsody interpretou Joshua.

Brett Dalton de Chicago Fire e Agentes da SHIELD fez Michael, Meaghan Martin fez Jessica, Galadriel Stineman fez Ashley, Noah Fleiss é Christopher, Nichole Sakura é Emily, enquanto Peter Stormare faz o Dr. Hill.

Desses, Stormare acaba sendo a intercessão entre as obras, tendo um papel importante no jogo, enquanto aqui é subalterno, como uma referência, ao menos em tese.

Do elenco cinematográfico, há Michael Cimino de Annabelle 3: De Volta Para Casa como Max, Odessa A'zion do remake de Hellraiser como Nina, Ji-young Yoo de Freaky Tales como Megan, Belmont Cameli de The Alto Knights: Máfia e Poder como Abel e Ella Rubin, de Anora, fazendo Clover.

Jovens

Durante o filme, no prontuário de Clover, é indicado que ela tem 20 anos, ora, Max, Megan e Nina são apresentados como amigos de infância dela, então todos provavelmente têm pouco mais de 20 anos também.

Os atores que os interpretam têm apenas alguns anos a mais que seus personagens, todos com menos de 25 durante as filmagens, entre agosto e outubro de 2024.

Abe também é universitário, presumivelmente deve pertencer a mesma faixa etária dos outros.

Já Belmont Cameli tinha 26 anos na época da produção, ou seja, não havia uma diferença tão grande de faixa etária.

Narrativa

O início do filme já determina a temática central, ajudando a demonstrar do que se tratará toda obra, já que aparece uma garota reclamando que não quer morrer...de novo.

Ou seja, esse é mais um filme de looping temporal, clichê esse tão utilizado que já se tornou clichê, inclusive em obras de terror, como A Morte te Dá Parabéns e Triângulo do Medo.

Logo aparece um grupo de jovens, no meio do nada, os mesmos que pareceriam o típicos grupo personagens vítimas em uma obra como Quadrilha dos Sádicos, Armadilha Para Turistas ou Sexta-feira 13.

A postura desses, a princípio, se assemelha aos membros dos elencos dos filmes de terror tolo dos anos 2000, em especial os chamados remakes sombrios, como foi em O Massacre da Serra Elétrica ou Viagem Maldita - embora esses fossem até elogiados.

Claramente eles podiam se enquadrar em obras de ainda pior configuração, mais derivativas e genéricas..

Mel sumiu

O motivo para que os cinco jovens tenham ido até esse cenário campestre é o sumiço de Melanie, a personagem de Maia Mitchell, que é irmã de Clover.

Dessa forma, por mais que as atenções entre os cinco sejam divididas, o motivo central da busca, é essa personagem.

Esse grupo é fomato pela já citada Clover, por seu ex-namorado Max (que claramente, quer reatar o namoro) pela melhor amiga da primeira Nina, que é tratada como uma garota namoradeira e desinibida.

Também há Megan, a meia-irmã de Max que faz às vezes de menina "jovem mistica", além de Abel, o atual namorado de Nina, algumas vezes chamado de Abe.

Glore Valley

Logo eles chegam em Glore Valley, o mesmo cenário do game.

Nesse ponto, os personagens vão a uma loja de conveniência chamada Hartley’s que é uma referência a Chris Hartley, amigo de Josh e um dos oito personagens jogáveis em Until Dawn.

Nas paredes de um dos negócios locais, há muitos anúncios de desaparecidos, até do diretor David F. Sandberg no meio.

Essa questão das fotos voltaria no final.

Ali, encontram um homem caipira, interpretado por Stormare, o mesmo que fez o psicanalista Dr. Alan J. Hill. Ao longo de sua participação, ele assobia uma antiga cantiga de ninar sueca chamada Tula hem och tula vall. Tanto o ator quanto Sandberg são originários da Suécia.

Antes de sair, percebem a foto de Melanie, entre as pessoas que sumiram na localidade. Decidem então seguir seu rumo inicial.

Eventos estranhos

A chegada no casebre é toda estranha.

Assim que saem do veículo que os conduziu até ali, entram na casa, a neblina faz o carro sumir.

Uma vez dentro da casa, aparece um assassino, um homem mascarado e violento, quase indestrutível, com "face" de palhaço.

O visual desse sujeito lembra um dos personagens do clássico de Home Invasion, Os Estranhos, misturado a uma versão de Jason Voorhees, claro, menor que o personagem central de Sexta-Feira 13.

Os métodos dele são violentos e ele é muito, mas muito agressivo. Usa armas brancas, como agulhas, picaretas, facas, corta e fatia os meninos, sempre que pode.

Depois que todos morrem, engrenagens do relógio que fica na porta começam a mexer, voltando para o ponto inicial, retornando ao lugar da partida.

Todos retornam a vida, tendo uma noção bem clara de que retornaram.

Efeito borboleta

Quando perguntado sobre o elemento Efeito Borboleta do jogo, Sandberg revelou que chegou a existir uma versão do longa com uma tradução mais explícita do fenômeno na trama.

Decidiu então esconder pequenas runas nos cenários do filme para aludir ao tema, algumas, significavam Amanhecer’ ou Novo Dia, algumas pareciam com as asas de borboletas.

Como os insetos voadores eram um motivo recorrente no game, especialmente na mecânica que permite múltiplas consequências com base nas escolhas do jogador, se escolheu espalhar referências na "casa da bruxa" (uma forma com ossos) também em um machado também tem uma runa e no colar de Megan, fato que também indicaria a sua natureza psíquica.

Paralelos com games

A questão do looping é de ciência dos personagens, ou seja, não é que eles suspeitam, eles sabem de fato que estão indo e voltando no tempo, num espaço curto de horas.

Essa sensação de que sofrem com um looping de cronologia é uma boa desculpa para referencias as vidas que o player tem para jogar quando dá play no jogo.

Outro motivo referencial é o caderno de registros, que demarca as vezes de certa forma, lembra os pontos de save, como a maquina de escrever de Residen Evil.

A medida que a trama avança, os jovens assinam com letras cada vez mais feias, com garranchos, que demonstram que a sanidade deles está se esvaindo e que eles também estão perdendo paciência.

Bom, já falamos um pouco sobre o enredo, então deixamos aqui um aviso de spoilers, para que o leitor saiba com o que está lidando.

Sobre as mortes:

A primeira morte de Abe mostra ele sendo serrado ao meio, essa seria uma homenagem à suposta primeira morte do jogo, onde Josh aparentemente é cortado ao meio com as tripas expostas.

Já Nina tem um destino quase sempre menos agressivo, já que sempre morre fora de tela. Isso é algo tão recorrente que parece ser uma piada propositalmente encaixada.

Na segunda rodada, Megan sente coisas, aludindo assim a mediunidade que ela diz ter como habilidade. Ela então é "possuída".

Não fica claro se de fato ela tem poderes ou se a entidade que habita aquele local usa ela de maneira irônica, fato é que ela aponta para as fotos dos desaparecidos e age como se estivesse tendo um surto psicótico.

O tal demônio encerra a sua vida, ainda modifica o cenário, mudando a parte exterior do lugar, tal qual ocorre em uma atualização de jogo, fazendo surgir um casebre, na frente da casa onde eles estavam.

Nesse novo "ambiente" há a algumas aparições, como a da Bruxa de Glore, uma entidade em forma de mulher idosa, assustadora e maligna.

Em determinado ponto, ela possui Clover ao colocar uma máscara de oxigênio sobre seu rosto, forçando-a a matar um dos seus amigos. A bruxa parece inspirada na marionete fantasma usada por Josh no jogo, mas também ainda mais clara do Homem Misterioso.

No jogo, esse vilão usa gás para desmaiar as vítimas, enquanto o roteiro do longa expande essa ideia com o gás deixando Clover inconsciente, permitindo que a bruxa tome o controle de seu corpo sem forçar.

Clover possuída inclusive usa uma máscara parecida com a do Homem Misterioso.

O filme varia bem entre visuais nojentos e assustadores com os personagens principais, especialmente com Clover.

Não há pudor em explorar a "mocinha" nesse sentido, mostrando-a como vítima de várias manifestações do mal.

Também há uma grande variação de ameaças, ou seja, se alude a destinos diversos. É como se em cada vez que o looping rodasse, monstros diferentes se prontificam a atacar.

Os ciclos

O filme tem uma fórmula que parece, a princípio, misteriosa, mas para quem já tem uma noção de como funcionam clichês de filmes de horror, fica fácil identificar não só paradoxo temporal, como o plano por trás do experimento.

É evidente que a lógica do enredo é pautada em jogos, com cada rodada vindo um infortúnio novo, se assemelhando mais a disputas de tabuleiro por turnos e menos com video games.

Se o roteiro de Butler e Dauberman não é copiado do game, a forma de narrar a história tem sim a ver com jogos, tendo cada nova etapa uma maneira nova de extinguir a vida dos personagens.

Destinos cruéis

As explosões e o horror corporal são bem explorados, especialmente na sequência no banheiro, após Abe beber água da torneira.

Já a intervenção do personagem de Peter Stormare é bem pontual. Como dito antes, ele apareceu na primeira parte do filme, semelhante demais ao famoso personagem Crazy Ralphie, o mesmo que apareceu no primeiro filme da franquia de Jason e que morreu em Sexta-feira 13: Parte 2.

A medida que o filme avança, o sujeito retorna e demonstra suas reais intenções e participações, ou seja, expande até o conceito do game.

A partir de então esse mais parece com um experimento do que um evento espiritual ou sobrenatural, se assemelhando assim a O Segredo da Cabana.

A ideia dos sobreviventes e o aceitamento da sina

Em determinado ponto, Clover tenta assumir as rédeas da situação, assumindo então o papel de protagonista de fato.

Ela encontra fichas do Dr. Alan Hill, as estuda, tenta entender o que ocorreu.

Ela mesma chega a conclusão de que a casa parece parte de um plano maior, um lugar esquecido por Deus, que serve de laboratório para a criação de novos tipos de seres, através de experimentos, movidos por essa dimensão diferenciada.

Os monstros

O filme começa (e termina) com personagens tentando fugir de um monstro de cor branca e dentes afiados, nos dois momentos, personagens estão cavando caminho para fora de um túnel subterrâneo próximo a um túmulo com uma cruz.

Esse marcador faz referência a um local semelhante no jogo.

Esses seres são Wendigos, criaturas mitológicas, que são ditas assim para além até do jogo.

Também conhecido como windigo ou witiko, é uma criatura originária do folclore algonquino, ou seja, oriunda dos povos nativos da América do Norte, especialmente na região dos Grandes Lagos. 

Normalmente, os wendigos são malvados, também são associados ao inverno e à fome, não à toa moram em um cenário distante, onde neva, também não é à toa que tenham um desejo insaciável por carne humana.

No filme, se sugere que eles só enxergam por movimentos da vítimas, que é uma alusão a uma mecânica de jogo, que obrigava o jogador a ficar parado para não ser detectado.

Visual genérico

Apesar das diferenças, o filme mantém o design dos Wendigos é bem semelhante ao original, tanto que lembra a lenda urbana oriunda da internet, o Slender Man.

No entanto, também se mostra um Wendigo maior, do tamanho de um prédio, que tenta impedir Nina e Abel de escaparem do chalé Glore de carro.

Um ser desse tamanho, semelhante a um Kaiju, só é visto no filme, nos jogos, não há nada parecido.

Durante o desenrolar dos fatos, Meg acredita estar se transformando, na verdade, especula que todos estão.

Em um dos ciclos, aparenta ter se transformado, fato que faz perguntar primeiro, se ela estaria mesmo transmutando ou se só cedeu ao poder da sugestão.

Teria sua condição mediúnica dado clarividência a ela sobre a própria metamorfose?

São sugeridos alguns desses temas, mas não se desenvolve nenhum drama maior.

Como no conceito freudiano, ter ciência da questão problemática não traz todas as respostas ou soluções, ou seja, saber que está se transformando, não impede a personagem ou seus amigos de mudar qualquer situação, ao contrário, pode gerar mais dúvidas, mais convites a armadilhas.

Comprovação

De fato, Megan estava se bestificando e outras demonstrações de gore e nojeira aparecem, quando os personagens decidem abrir o celular de Abe.

Aparentemente, eles "esqueceram" que era um filme dentro da atualidade e sendo assim, certamente usariam a tecnologia para tentar resolver seu drama.

Dessa forma, há diversas gravações ali. Comprovam então que os personagensa sofrem com horrores dos experimentos, mas retornam a condição inicial, ou seja, a pessoa pode matar e morrer, que não afeta em nada a outra vida, tirando uma ou outra dor.

Memória

Depois de outra morte, Clover se vê ao lado de sua amada irmã.

Isso parece ser outro destino ou uma memória, mas é na verdade uma variação de sonho, em forma de pesadelo, que termina mal.

Antes do fatídico momento final desse devaneio, Mel diz que não vai ficar parada, esperando se tornar algo do qual odiaria. Vira então um paralelo bem óbvio, com a mutação dentro do ambiente do looping, demonstrando que em breve, o destino das duas irmãs seria o mesmo.

Curvas finais

Os sobreviventes agora são quatro, ao menos no que se vê no instante um.

Um dos meninos acha que foram só cinco noites ali, até que Nina salienta que foram 13, segundo o livro.

Esse número, por acaso é o momento limite pra sobrevivência. No celular de Abe, ha gravações, uma com um bicho verminoso, na bochecha de Clover, que depois deixa uma grande chaga, ainda tem um vulto mascarado bizarro.

Os segredos finais

Perto do desfecho, Clover encontra evidências de experiência, inclusive sua amiga de origem asiática.

Como a própria moça regrediu em transformações, é dado que aquele wendigo não era sua amiga, visto que ela não passou pelas treze noites.

Aquele momento foi propositalmente dúbio, para fazer pensar que era uma das cinco personagens iniciais, quando na verdade, era a transformação da irmã da protagonista.

A confusão pode ser dada pelo fato da Wendigo Melanie ser feitao pela atriz húngara Zsófia Temesvári e não por Maia Mitchell.

Uma exposição um tanto exagerada

Rola uma conversa com o "arquiteto" e cientista que Stormare faz.

O sujeito dá uma declaração contraditória, que pouco faz sentido e que diz que lida com medo desde sempre.

Seu discurso associa a menina a tudo que ocorre ali. Ela é diferente, uma paciente intrigante, mas interessante que os outros e que teoricamente, fez rodar o jogo.

É estranho, visto que já ocorreram episódios antes de Clover e seus amigos chegarem ali.

Sua condição diferencial é a depressão, a vontade de não viver e as duas tentativas de dar cabo da própria vida. Aparentemente, se ela não teme "perecer", acaba sendo mais interessante para o jogo e experimento.

Conveniências agradáveis e desagradáveis

No escritório, ainda há referências as fichas dos personagens jogáveis de Until Dawn. A exposição não é de todo desnecessária, mas parece ser maior que o estritamente necessário.

Também é bizarro como se permite a solução de jogar gotas da água tóxica na caneca de café de Phil, até por conta de ser frio.

Stormare reprisa seu papel como Dr. Hill de Until Dawn embora os médicos do filme e do jogo sejam versões diferenciadas, aparentemente.

No material original, Alan Hill é o psiquiatra de Josh (Malek) e aparece em suas alucinações.

Já no filme, ele é um vilão clássico, que conduz experimentos com os amigos de Clover e possivelmente com outras pessoas, enquanto assiste esses se transformando lentamente em monstros, quando não estão morrendo.

Dúvidas

Fica uma questão importante, refletindo sobre o roteiro: considerando o seu discurso, Hill conhece Clover? seria ele era psiquiatra dela também? Se sim, qual o motivo para ela não lembrar deçe?

Ele é um ser sobrenatural burro ao ponto de tomar água ou seria esperto para enganar todos com um final falso? Não se respondem essas questões.

Quando poderia ser expositivo, o filme resolve não ser.

Game Over

Como em um game, ao matar o chefão, os jogadores vencem e saem TODOS vivos.

É um pouco decepcionante que os cinco não tenhm tido grandes riscos, embora a mensagem maduro de convivência com o luto seja esperta e pontual.

Clover enfim cresce, aceitando a sina de sua irmã, vendo a cruz dela fincada no chão.

Ainda há uma cena de pós créditos, com monitores são olhados, um carro chega, subindo assim os créditos com fotos dos desaparecidos, inclusive do quinteto.

Essa cena mostra o interior e o exterior de um chalé de esqui, o mesmo local onde se passa a versão game de Until Dawn.

Uma ideia curiosa de Sandberg

O diretor idealizou a sequência com cartazes de pessoas desaparecidas durante as filmagens, acreditando que seria uma forma divertida de encerrar o últimos dos ciclos. Para isso, colocou fotos de gente da equipe e elenco no painel.

A editora Michel Aller escolheu uma foto de infância dela mesma. Depois, outros membros da equipe reclamaram de não ter tido essa ideia, sentindo assim inveja da montadora.

Toda a equipe achou a iniciativa do realizador divertida, por conta dessa ser uma chance das pessoas verem quem fez o filme acontecer.

O esforço do filme e o resultado final

Sandberg acerta mais do que erra, usa bem o escuro e não torna seu filme indistinguível ou incompreensível. É um bom retorno as origens.

Until Dawn surpreende, tem ótimos momentos, personagens carismáticos, efeitos práticos sensacionais e uma trama que mesmo sendo óbvia, acaba sendo envolvente. Poderia ter um script mais bem pensado, mas tem mais bons do que mal momentos. Acerta mesmo quando é mediocre, morando no hemisfério das boas adaptações de video game para o cinema.