Tromeo & Juliet : Um conto divertido, +18, nojento e hiper divertido, da peça shakesperiana

Tromeo & Juliet : Um conto divertido, +18, nojento e hiper divertido, da peça shakesperianaTromeo & Juliet é um filme exploitation bizarro, que mistura escatologia, romance, paródia, deboche e um humor bastante baixo. A obra tem o intuito de satirizar de maneira trash a lenda de Romeu e Julieta que William Shakespeare propagava em sua peça.

Lançado em 1996, dirigido por Lloyd Kaufman é um autêntico filme da Troma Entertainment, que enfia bizarrices, nojeiras e um mau gosto geral, em uma exploração pseudo-romântica de uma relação proibida.

Essa é uma versão escrachada do clássico, que eventualmente apela para uma métrica prosaica até e que tem em Lemmy Kilmster, frontman do Motörhead o seu mestre de cerimônias.

Um nome famoso ligado ao filme é o de James Gunn. O atual mandatário da DC Comics nos cinemas foi o roteirista inicial desse, recebeu um dinheiro ínfimo para escrever essa paródia e boa parte das nojeiras foram pensadas por ele.

Também há uma certa polêmica com ele, já que se diz que esse é um pentâmetro iâmbico, que é uma métrica utilizada em poesia e drama, que tem um o ritmo em que as palavras estabelecem cada verso de fala. Uma palavra pré-estabelecida dita o ritmo em grupos de sílabas, chamados de "pé". O primeiro rascunho foi nesse estilo e sentido, mas a ideia foi sendo adaptada, ao ponto de ser praticamente abandonada.

Gunn achou que esse era um trabalho tedioso, então ele simplesmente fez o que pôde, dizendo a Lloyd Kaufman que era nessa métrica. Como o diretor não era especialista, acreditou nisso e seguiu assim durante todas as filmagens.

O roteiro foi escrito por Gunn e também pelo diretor. Houveram acréscimos no material de diálogo da parte de Andrew Deemer, Jason Green e Phil Rivo. Os produtores foram Michael Herz e Lloyd Kaufman, enquanto Daniel Laikind, Grant Quasha e Robert Schiller são os produtores executivos.

A companhia produtora é obviamente a Troma Entertainment, que é de propriedade do produtor e cineasta desse filme. A distribuição nos Estados Unidos foi deles, tanto em 1997, que foi o lançamento comum no cinema – no corte de 107 minutos – quanto na versão do diretor, em 1998, lançado em mídia física, em vídeo cassete.

O longa estreou na França, no festival de Cannes, em 13 de maio de 1996, também passou no festival alemão em 30 de agosto de 1996, no Oldenburg International Film Festival.

A obra é chamada Tromeo and Juliet mesmo, quase sem variação pelos países. É possível achar ele no Brasil como Tromeu e Julieta. A história se passa em Manhattan, na ilha de Nova Iorque e há cenas no Brooklyn, Queens, em Paramus que fica em Nova Jersey.

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Kaufman já tinha bastante experiência em 1996, já que dirigiu The Girl Who Returned em 69. Dirigiu A Primeira Bimbada, com o pseudônimo de Samuel Weill.

Ele também fez O Vingador Tóxico, as sequências desse O Vingador Tóxico 2, O Vingador Tóxico 3, além de Sgt. Kabukiman N.Y.P.D. todos nos anos oitenta. Depois fez Terror Firmer, seu último crédito é Shakespeare's Sh*tstorm, em 2020.

Herz é produtor da Troma em vários filmes, como na trilogia O Vingador Tóxico. Ele foi produtor executivo em O Monstro do Armário e produtor associado em Dia das Mães Macabro, que é dirigido por Charles Kaufman, o irmão de Lloyd.

Gunn estreou como roteirista nesse, depois fez The Tromaville Café, uma série que ele criou, alguns anos depois ele escreveu Os Especiais, colaborou com o texto de 13 Fantasmas e escreveu o live action de Scooby-Doo de 2002. Em 2004 ainda ele participou do texto de Madrugada dos Mortos de Zack Snyder e Scooby-Doo 2: Monstro à Solta.

Com o tempo foi realizando suas produções, como em The Tomaville Café e Troma's Edge Tv, também nos filmes Seres Rastajantes e Super, até enfim fazer Guardiões das Galáxias e O Esquadrão Suicida.

A narrativa demora a mostrar o seu Romeu e sua Julieta.

A primeiríssima cena mostra um esquilo enforcado, que está com uma placa onde se lê Monty Q. Sucks, que é o nome de um dos coadjuvantes, do lado de Tromeo.

Lemmy aparece, contando a questão de uma Manhattan imaginária, que é cortada por uma rivalidade atroz, entre os Capulet (Capuleto) e os Montague, ambas famílias dos protagonistas.

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A voz rouca e inconfundível dele dá bem o tom do que virá a seguir. Essa aliás é uma obra muito louvada graças a sua trilha sonora sensacional, voltada para o estilo do metal, hard rock e hardcore.

A trilha tem várias músicas sobre as atitudes insanas de seus personagens, seus erros e acertos. Toca Sacrifice de Motörhead, La Migra (Cruza La Frontera II) do Brujeria, Pope on a Rope de The Meatmen, Math de Supernova, além do tema de Tromeo & Juliet Theme Song, composto por Willie Wisely.

Vale lembra que os Capuleto e os Montague estão na obra de Shakespeare. A formação do grupo de personagens é bem parecido com o da peça, embora com Tromeo hajam mais amigos do que familiares.

Todos os membros dos grupos são caricatos, tarados, de caráter discutível e visual feio e bizarro. O visual e o comportamento miram incomodar e assustar plateias mais conservadoras.

Um destaque nesse quesito é Sammy Capulet, personagem de Sean Gunn, que tem um cabelo e visual ridículos. Em sua primeira participação ele impede sua irmã Georgie (Tamara Marie Watson) de ficar com alguém, depois passa a mão em seus seios, mostrando que a questão do incesto não é exatamente respeitada.

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Sammy acaba tendo os dedos arrancados, depois de mostrar eles para Murray (Valentine Miele), um amigo de Tromeu. Brigas como essas seriam normais. Há muita violência gratuita, inclusive com gore e com efeitos bem bonitos.

Há muitas cenas de sexo, tantas que faz com que esse pareça mais um filme pornográfico que uma peça trash.

Todos os personagens parecem brigar para serem dignos de repulsa, inclusive Rosy (Jacqueline Tavarez), que trai Tromeo em sua primeira aparição em tela, junto a Bluto Fitzgbon (Peter James Kelsch). Ou seja, o Romeu/Tromeo de Will Keenan já entra na história como alguém corno.

A apresentação de Juliet também é agressiva. Antes dela aparecer em cena, aparece uma agressão na casa dela, impingida pelo capitão - Cap ou Cappy - personagem de William Beckwith (que assinava Maximillian Shaun) aparece dando golpes em Ingrid, de Wendy Adams.

O sujeito simplesmente enche a mão em sua parceira, sem motivo algum. A violência contra a mulher é algo normalizado no comportamento dele, mas é obviamente condenado pelo texto, já que ele é um vilão.

No entanto, essa versão de Julieta, feita por Jane Jensen, não é boba. Ela se entrelaça com Ness, personagem de Debbie Rochon, que é uma espécie de babá e tutora dela, além de brinquedo sexual.

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Por muitos anos os espectadores pensaram que as tatuagens e piercings de Rochon eram reais, mas eles eram falsos, exceto um. Ela perfurou o umbigo antes do início do filme para ver como era usar esse tipo de adereço, mas colocou de maneira provisória.

Durante as cenas românticas entre ela e Jensen os piercings na boca caíam, o que exigia mais tomadas. Curiosamente Rochon funcionava como uma tutora, mesmo sendo um ano mais jovem que a atriz que interpreta a "cuidada".

Esse aliás é um filme muito conhecido por uma cena "sensacional", em um sonho de Juliet.

Como ela é iniciada sexualmente em relações com moças, tem um certo receio com o órgão sexual masculino. Isso se vê em uma fantasia sexual, travestida de pesadelo erótico, que ela tem logo no início.

Ela sonha que está em uma banheira, com um rapaz, cujo pênis é tão grande, que sai da sunga como um monstro serpente, de efeito prático.

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Quando ela acorda, sua realidade é ainda pior, já que está próxima de Cappy, que entrou em seu quarto e invadiu em sua cama, reclamando dos gritos que ela deu.

Curioso que ela não dormiu, já que Ingrid berrava de dor, já que Captain a surrava. Aparentemente, somente ele pode incomodar os outros, mas ele não aguenta o barulho nenhum. Além disso, os seus abusos e violência são normalizados, fora que nesse ponto, o roteiro deixa pensar que ela sofre abusos, possivelmente até estupro.

Por mais que toque em assuntos espinhoso, há uma ideia de dramaturgia deturpada, que lembra de certa forma os filmes de John Waters, mas sem a autenticidade e energia dos filmes daquela trupe da Dreamlander.

O roteiro se divide em Atos, como no teatro, como em Romeu e Julieta original. Aos poucos, outros personagens são apresentados, entre eles, o açougueiro e pretendente de Juliet, London, rapaz interpretado por Steve Gibbons, que tenta sua prometida, com processados de carne.

Curioso que ele parece sentir prazer em sentir dor, já que vive se machucando, para se consolar quando alguma besteira acontece consigo. Já ela se afirma adepta de uma dieta macrobiótica, ou seja, não come carne. Isso faz ele se autoflagelar, cortando a mão com uma faca bem afiada.

Em uma festa dos Capuleto tem o Vingador Tóxico (ou alguém vestido como tal) e o Homem Kabuki. É nessa reunião social que Tromeo descobre a traição de Rosy, além de se apaixonar por Julie. Ele faz tudo isso vestido de vaca.

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Logo no começo do terceiro ato, Juliet nega os carinhos de Ness, pois só tem desejos por seu amado, o único amor que teve e o único alvo do ódio dos seus também.

Não demora até que ela tenha outro pesadelo envolvendo horror corporal, com Juliet ficando com uma barriga enorme, como se estivesse grávida. Sua pele abdominal aumenta até abrir, estourando como se tivesse pipoca, depois com ratos e vermes saindo. Outra vez ela acorda com Cap em seu quarto.

A sua realidade é muito mais dura, já que é arrastada por seu padrasto, puxada pelos cabelos e colocada em um cômodo escondido da casa, escuro, que parece um misto de sala de tortura e de ambiente de filme de ficção científica.

Até Ness ajuda Tromeu, a encontrar sua amada. A garota triste e ciumenta quase chora ao falar que sua prima ama o rapaz, chega a ser boazinha, avisando onde ela está, provavelmente prevendo o mal que Captain poderia fazer com membra mais nova dos Capulet, permitindo assim que pelo menos sua amada tenha um encontro sentimental recíproco.

Lloyd Kaufman disse que, em preparação para a cena de sexo, deu tempo a Will Keenan e Jane Jensen durante a pré-produção para decidirem como seria esse momento.

O desejo era que esse trecho fosse intenso e na opinião do realizador, eles conseguiram isso. Para tal Keenan e Jensen decidiram que não deveriam ter encontros românticos fora da tela. Quando foram fazer suas cenas houve segundo eles uma tensão sexual enorme, algo pervertido e louco, como jamais imaginariam nem em um zilhão de anos.

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Jensen afirmou que o casal se deu muito bem, até assumiu que teve uma queda pelo ator durante as filmagens. Até normalizou isso, já que era assim que deveria ser, mas eles mantiveram o romance limitado ao set.

Ainda é curioso o cenário onde eles estão, na parte mais alta da casa, em uma espécie de gaiola de tortura, com um fundo preto e vários desenhos, além de correntes, que manietavam Julieta.

Depois da romântica transa, a mocinha finalmente conta a London que há outra pessoa em sua vida. Ele mais uma vez se machuca, se tacando de uma janela, em um mergulho que quase matou o dublê que fez a cena morresse, já que o vidro “de açúcar” era bastante grosso, demorando a quebrar com o impacto.

O casal se pega em um cinema pornô, transa na rua, fazem tatuagens combinando, inclusive com Tromeu chorando de dor, mostrando ser sensível a dor.

Há uma briga generalizada, quando Tyronne (Patrick Connor) vai até a casa dos Montague tira satisfação com o mocinho. Esse trecho foi bizarro, já que em um dos confrontos, a personagem de Tiffany Shepis chutou o rosto de um oponente, mas calculou mal o movimento, acabou perfurando o lábio do ator com o salto agulha da bota. Ela culpou o coordenador de dublês, que ensaiou a cena enquanto Shepis estava descalço.

Com o tempo essa briga virou uma disputa que envolve com machadinhas e agulhas de tatuagem, termina com vários choques violentos e cortes bizarros, que mostram que o filme não possui qualquer continuísmo mínimo.

Nessa despedida, Tromeo acaba beijando Murray, antes dele morrer. O amigo se assume gay no leito de morte e ainda recebe falas engraçadinhas da parte de seus parceiros.

A personagem-título é tão tresloucada que até toma uma poção mágica anti-carnívora, que a transforma em uma espécie de porco humanoide, tudo para afastar os desejos de London, para que ele saia de seu caminho sem se magoar.

Claro que isso é revertido depois, já que Tromeo não liga para sua aparência e a beija assim mesmo, fazendo ela retornar a sua configuração inicial. A maquiagem é sensacional.

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A tal cura aparentemente é superficial, já que aparentemente ela passou essa condição para sua futura prole.

A partir daí o filme dá uma guinada para a escatologia, mostrando nojeira de vômitos e feridas absurdas, que advém das brigas entre Cap e Juliet, além dos sonhos que ela tem com os personagens que já morreram.

É de um mau gosto atroz, uma bizarrice institucionalizada, que não tem qualquer vergonha de ser o que é e de assumir o que é.

Cap morre depois de contra-atacar a violência que o casal sofreu com ele, entra na cápsula suspensa da casa, com uma televisão quebrada na cabeça (cuja marca é da Troma) é fritado, depois de ser ligado na tomada. O sujeito é muito imbecil, já que conseguiu o elemento surpresa, retornou do sufoco que sofria, mas penou para dois jovens.

Há na versão estendida um epílogo, que mostra o casal miserável, sem dinheiro, sozinhos, refletindo sobre as dificuldades que tem. Tromeu se mata, com uma espingarda, depois ela também.

Se nota que a qualidade da imagem ruim, ou seja, é uma cena cortada, antes do tal final feliz, que evidenciam que as cenas a seguir podem ser de um sonho irreal e otimista, em que os dois vivem no subúrbio, com filhos deformado, mas com alegria.

Tromeo & Juliet é uma bobagem nonsense, que perverte completamente o clássico, inclusive dando um final romântico incestuoso aos seus personagens. É divertido, maluco, nojento e afrontoso. Uma obra que vale a pena assistir, especialmente para quem não tem muitas restrições moralistas, um belo exemplar da filmografia da Troma.

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