Eis que Arrow chega ao seu 50º episódio, uma marca a ser comemorada pelos fãs do seriado e seus realizadores. Por isso, The Magician parece ser um ponto de convergência, trazendo uma ponta solta do final da primeira temporada, uma revelação importante para Oliver e o início de um confronto anunciado discretamente também no primeiro ano da série. Tudo isso embalado por uma trama direta, sem delongas.
O episódio começa exatamente do ponto em que o anterior termina, com Nyssa Al Ghul (Katrina Law) chegando a Starling a procura de Sara, apenas para descobrir sobre a morte da Canário. A personagem explica para Oliver, então, que Malcolm Merlyn está vivo e pode ter sido o responsável pelo assassinato da irmã mais nova de Laurel. Essa última, com sede de vingança, quer a cabeça de Merlyn, ideia apoiada por Nyssa. Surge então a grande questão de The Magician: seria o Arqueiro capaz de quebrar sua promessa de não matar?
Como todos sabem, Arrow é uma série de ação, mas seu real foco sempre foi nos personagens, por isso a decisão moral dada a Oliver é um importante passo rumo a construção de seu caráter como herói. O Arqueiro da primeira temporada jamais pensaria duas vezes antes de cravar uma flecha no peito de Merlyn, mas de lá para cá muita coisa aconteceu e o roteiro faz questão de evitar tratar o protagonista de forma estática. Para reforçar a ideia, os flashbacks mostram o primeiro assassinato cometido por Queen em Hong Kong, sob o comando de Amanda Waller, trazendo à tona o avião que Fyers queria derrubar no final do primeiro ano da série. Por conta dos sapatos vermelhos da líder da ARGUS, o espectador sempre soube do seu envolvimento na tentativa de causar o acidente aéreo, mas finalmente Oliver descobre, espelhando a revelação no presente sobre Merlyn, inclusive.
Começa então uma caçada ao Arqueiro Negro, que guarda importantes reviravoltas. Já havia ficado implícito no episódio Dead to Rights que Malcolm recebeu treinamento de Ra's Al Ghul. Na segunda temporada isso foi citado mais de uma vez, bem como o fato do líder da Liga dos Assassinos ter declarado guerra ao vilão. Assim, em The Magician, essas subtramas finalmente se encontram, dando início ao que parece ser o grande conflito desta terceira investida de Arrow. Outra trama paralela que parece caminhar para a convergência com a principal é a de Thea. Oliver está desconfiado quanto as mudanças pelas quais a irmã passou nos últimos meses e com a chegada de Merlyn na cidade, essa dúvida aumenta ainda mais. E é interessante como os dois irmãos parecem dispostos a uma nova convivência, baseada na verdade, mas ainda envoltos em segredos que ambos não podem revelar um ao outro. Essa parece ser a maior sina da família Queen.
Com um roteiro ágil, investido na caçada a Malcolm e que guarda boas sequências de ação, é louvável encontrar tantos momentos para que os personagens evoluam, como é o caso de Laurel. Cada episódio é um degrau para sua transformação na nova Canário e aqui ela enfrenta um dilema moral muito parecido com o do Arqueiro. Ela está disposta a ver o assassino de sua irmã morto, mas ainda não parou para se questionar o que vem depois. Uma pessoa que está sempre engajada em causas envolvendo justiça, ao se entregar totalmente para a vingança pode acabar se perdendo. O texto prefere trabalhar isso de forma sutil, deixando o espectador avaliar as escolhas da moça, para no futuro finalmente abordar como conflito, dando destaque inclusive a sua relação com o Time Arqueiro: estariam eles dispostos a ter na equipe alguém instável?
Apesar de tudo, The Magician não foi um episódio perfeito, tampouco o melhor da temporada, graças a algumas derrapadas. A função de Roy até agora não está bem definida. É ótimo ver as cenas em que luta ao lado do Arqueiro, mas quando o rapaz está em sua identidade civil, se torna um acessório de cena. Essa semana ainda protagoniza um momento constrangedor quando resolve fazer uma elaborada acrobacia antes de tentar salvar Thea apenas para atrasar sua ação, fazendo com que leve um dardo tranquilizante no pescoço. Tomara que depois dessa, o personagem pense duas vezes antes de tentar resgatar alguém "com estilo". Não faz muito sentido também que Malcolm resolva se encontrar com Oliver no meio de uma multidão. Ele até dá a desculpa de se "esconder à vista de todos" mas não convence. Se trata de uma pessoa que há dois anos estava em todos os jornais como responsável por uma ação que destruiu um bairro de Starling. É de se esperar que alguém o reconheça. E ele está conversando com o jovem herdeiro da maior empresa da cidade. É impossível imaginar que ninguém note ambos em meio a tantos transeuntes. E, enquanto liga o episódio com The Flash, citando a presença de Felicity em Central City, não lida de forma coerente com a falta que a garota faz para a equipe. Smoak sempre parece indispensável quando está presente nas aventuras, mas quando não está, a impressão é que todos conseguem se virar muito bem sem ela.
De qualquer forma, o 50º episódio serve muito para dar início a uma história maior, alardeada desde que a série começou. Seu caráter "comemorativo" se encontra no fato de finalmente trazer essas subtramas para o foco. E agrada, ao colocar em tela esses confrontos e ao trazer a primeira aparição de Matt Nable como Ra's Al Ghul. O ator acerta na voz e na postura, mas fisicamente ainda é cedo para dizer se está a altura do grande mestre de artes marciais que o personagem é nas HQs. Só o futuro dirá.
Concordo totalmente com vários pontos da crítica em especial sobre a dualidade de segredos que agora carregam os irmãos Queen, e quão natural fluiu o episódio sem Felicity Smoak (seria talvez um teste para ver se a garota pode se mudar de cidade/série num futuro?)
Também acho que chegamos no foco que seguirá a temporada com Ras Al Ghul como antagonista dessa season. Resta só saber qual será o papel de Ray Palmer nessa história toda.