A Volta dos Mortos-Vivos 3: A versão zumbi de Romeu e Julieta de Brian Yuzna

A Volta os Mortos Vivos 3 é um filme de horror voltado para o subgênero de exploração de contágio zumbi. O longa mistura elementos de romance, ficção científica e obviamente terror e é lembrada como uma nova versão de romance shakesperiano proibido, ao estilo Romeu e Julieta, mas localizado no cinema exploitation do retorno dos mortos a vida.

Dirigido pelo produtor e cineasta filipino Brian Yuzna, o filme foi lançado em 1993 e é o último da franquia que teve lançamento nos cinemas.

Sua trama envolve um casal de jovens apaixonados, cujo rapaz é filho de um homem de alto escalão do governo, que tem acesso aos experimentos com a trioxina 2-4-5, a mesma que reviveu os mortos no clássico, A Volta dos Mortos Vivos, lançado em 1985 e dirigido por Dan O'Bannon.

Apesar de levar em conta os acontecimentos tanto desse quanto de A Volta dos Mortos Vivos 2 de Ken Wiederhorn. Muitas pessoas lembram dele pelo tom um bocado mais sério que a continuação anterior, mas também por estrelar Melinda Clarke, que assinava Mindy Clarke.

O roteiro ficou a cargo de John Penney, já os produtores foram Tom Fox, Gary Schmoeller e Yuzna. Roger Burlage e Lawrence Steven Meyers foram os produtores executivos.

Essa é uma coprodução entre Estados Unidos e Japão, feita pelos estúdios Bandai Visual Company (que distribuiu o filme no Japão, apenas em VHS), da Ozla Productions. A distribuição nos Estados Unidos foi da Trimark Pictures.

Esse foi um filme lançado nos cinemas de maneira bem curiosa. Estreou em festivais internacionais, passando no italiano Dylan Dog Horror Fest em junho de 1993. Passou também na Alemanha em agosto do mesmo ano, no Fantasy Filmfest, também no Reino Unido no BFI London Film Festival em outubro.

A obra seria originalmente lançada em mais cinemas, mas depois que Warlock 2: O Armageddon teve um desempenho ruim nas bilheterias, a Trimark decidiu lançá-lo regionalmente apenas, em poucos cinemas. Nos EUA teve estreia em 29 de outubro, na época o Halloween, já no Japão chegou em novembro no Japão. No Brasil chegou em fevereiro de 1994.

A Volta dos Mortos-Vivos 3 : A versão zumbi de Romeu e Julieta de Brian Yuzna

Nos comentários para o lançamento em DVD, Brian Yuzna afirmou que a Trimark não exigiu que o filme usasse os atores ou tivesse os mesmos elementos cômicos dos dois filmes anteriores, mas exigia que os zumbis desejassem comer cérebros.

A escolha por retornar com o produto da trioxina foi do diretor e do escritor desse.

O nome original do filme é pouco criativo, apenas Return of the Living Dead III. Anos depois, nos comentários do arquivo em mídia física, Yuzna lamenta não ter usado um nome mais adequado para o filme, achando que esse era muito longo.

Ele sugeriu o título Kurt e Julie e admite que o título Mortal Zombie, como foi chamado em alguns lugares da Europa, é um nome bonito. Na Argentina é conhecido como El regreso de los muertos vivos 3, no México é La revancha de los muertos vivientes.

Na França é Le retour des morts-vivants 3, no Japão é Battalion 3. Na Catalunha, se chama El retorn dels morts vivents 3, já em Portugal teve dois nomes, Experiência Maldita no lançamento em vídeo e O Regresso dos Mortos Vivos III: Experiência Maldita, nos cinemas.

O filme teve uma programação de filmagem de 24 dias usando duas equipes de câmera, uma para a filmagem principal e outra de segunda unidade, no Santa Clarita Studios em Los Angeles, com Melrose Place filmando ao lado.

As locações, portanto, foram em Los Angeles, Califórnia, com cenas específicas na 7th Street Bridge.

Brian Yuzna dirigiu antes desse A Sociedade dos Amigos do Diabo, A Noiva do Re-Animator e Natal Sangranto 4: A Iniciação. Depois ainda fez Necronomicon: O Livro Proibido dos Mortos, que é adaptação de H.P. Lovecraft.

Ele é mais lembrado por ser produtor dos filmes de Stuart Gordon, especialmente Re-Animator: A Hora dos Mortos Vivos e Do Além, que também é uma adaptação lovecraftiana.

A Volta dos Mortos-Vivos 3 : A versão zumbi de Romeu e Julieta de Brian Yuzna

John Penney fez o argumento de The Power no ano de 1984 e Criação Monstruosa em 87. Também trabalhou nos filmes B A Lenda da Múmia de 1998, A Estrada da Morte em 2006 e Sombras do Além em 2011.

Tom Fox foi produtor nos dois primeiros A Volta dos Mortos Vivos e A Casa Assassina. Ele foi produtor executivo em Inseto, A Torre do Crime e A Volta dos Mortos Vivos - Rave e A Volta dos Mortos Vivos: Necropolis.

Gary Schmoeller fez obras como Paixão Satânica e Força de Viver, também em Necronomicon. Também participou de filmes de ação B, como Heatseeker: O Último Desafio, Adrenalina e Corrupt.

Houveram alguns problemas de bastidores. Um dia inteiro de filmagem inteiro foi perdido, de acordo com o ator J. Trevor Edmund. Segundo ele os assistentes de câmera não faziam o checked the gate, que é uma gíria para a verificação se as lentes estavam livres de cabelos ou detritos.

Pouco depois do lançamento do filme, Yuzna manifestou interesse em escrever uma quarta sequência para a franquia. Nessa trama a trama seguiria os eventos de A Noite dos Mortos Vivos 3, com zumbis tendo de alguma forma escapado da base militar e enlouquecido em Los Angeles. No entanto a cinessérie ficou na geladeira até 2005, já em vídeo, na duologia Necropolis e Rave.

Em um ponto da pré-produção convidaram James Karen e Don Calfa para fazer aparições nesta sequência, tal qual fizeram nos dois episódios da franquia, mas os atores recusaram.

A narrativa começa gritada, com a estridente música de Barry Goldberg, compositor em filmes de quadrinhos como O Espírito (o telefilme do personagem Spirit de Will Eisner), Capitão América de 1990 e o famigerado Operação Kickbox 3: Sem Retorno.

As composições musicais lembram temas de filmes sci-fi antigos e o letreiro de anúncio é quase como um Wordart, com um três em algoritmo romano, vermelho, gigantes.

Os nomes aparecem com letras que mostram detalhes da trama, semelhante ao que Clive Barker fez em Raça das Trevas. O primeiro e mais destacado nome é o de Mindy (ou Melinda) Clarke, atriz que anos depois faria sucesso no seriado The OC: Um Estranho no Paraíso, como a bela cougar Julie Cooper, mas antes fez uma femme fatale caricata em Spawn: O Soldado do Inferno.

Aparece então o coronel John Reynolds de Kent McCord (Apertem os Cintos o Piloto Sumiu e Galactica 1980) um militar de alta patente que recebe a visita da também coronel Sinclair, feita por Sarah Douglas, a Ursa de Superman II: A Aventura Continua.

Ela foi enviada do Pentágono, para observar a experiência com trioxina, nesse laboratório curioso. Os cenários militares dos laboratórios têm uma cor estranha, sendo rosa na maior parte ou muito amarelo.

Parece que tudo foi feito com cores que sobram de outros cenários.

A cena anterior a entrada no laboratório é uma tomada aérea, que mostra a base do exército, que em nada parece o interior já que é um galpão comum, que fica não tão distante de uma cidade bastante habitada.

Nesse ponto da trama, também aparece um senhor, o coronel Peck, de James T. Callahan, que estava no experimento original com trioxina, em 1969, ou seja, há uma referência clara a fala de Frankie em A Volta dos Mortos-Vivos, inclusive na motivação de destruir campos de maconha.

Acidentalmente a substância despertou os mortos, os mesmo que estão nos recipientes.

A trama vai até os tais jovenzinhos apaixonados e com os hormônios em ebulição. Eles são Julie Walker, uma menina que gosta de brincar com dor e tem aparência de BDSM, feita por Clarke, que aparece usando fogo para queimar suas mãos.

Seu par é Curt, feito por J. Trevor Edmond, de Pumpkinhead: O Retorno e O Mestre das Ilusões, o rapaz rebelde que é filho do coronel John. Esse papel quase coube a Paul Rudd, que fez teste, mas não passou.

Para namorar eles entram na base de testes, testemunham cientistas incendiando as partes dos corpos, mas sem liberar o gás pela chaminé, obviamente. Eles testemunham momentos estranhos, experiências com um morto reanimado. Descobrem que congelando há como matar os revividos.

Fica claro, com menos de dez minutos que o tom agora será mais sério, já que o experimento dá errado, já que o zumbi que Clarence Epperson interpreta se finge de morto, ataca um dos funcionários.

A Volta dos Mortos-Vivos 3 : A versão zumbi de Romeu e Julieta de Brian Yuzna

O maquiador Tom Rainone disse que Epperson era um homem sem trabalho e sem-teto, que exigiu um bocado mais do que o dinheiro combinado anteriormente, além de desejar usar acompanhantes profissionais, chegou a exigir uma limusine para ir até.

Em entrevistas recentes, Yuzna disse que a produtora colocou o sem-teto em um motel em Valência, Califórnia, enquanto filmava, por medo de que, se o deixassem ficar na rua durante esse período, talvez não conseguissem encontrá-lo facilmente para filmar.

A transformação se dá bem mais rápido que antes, talvez pelo fato da cobaia ter sofrido com uma uma concentração de trioxina muito alta.

Depois do incidente, Peck é informado que vai se transferir para outra localidade e dessa forma, levaria o seu filho para longe da moça que jurou amar para sempre. Como o coronel rejeita a ideia de ter Julie como nora, essa mudança se torna algo conveniente.

Curt e Julie fogem antes disso ocorrer. Eles vão de moto, rumo a sua fuga, mas no meio do caminho acabam sofrendo um bizarro acidente, basicamente por que a moça estava brincando de provocar seu namorado, apertando suas partes íntimas.

Daí entra a mesma trama do final de Re-Animator e de A Noiva do Re-Animator, com uma solução que também conversa com Cemitério Maldito, já que o mocinho não aceita a morte de sua amada e vai tentar revivê-la, através da substância que ele ouviu falar que ressuscitava pessoas.

Ele vai novamente para o laboratório, com a menina desfalecida e libera o gás de trioxidina nela. Julie desperta aparentemente normal. Acha que estava apenas dormindo, depois de uma transa qualquer com seu parceiro. Ela nota que algo muito estranho está acontecendo quando um zumbi derretido os ataca.

A Volta dos Mortos-Vivos  3: A versão zumbi de Romeu e Julieta de Brian Yuzna

Cinco diferentes empresas de efeitos especiais foram utilizadas, incluindo a XFX de Steve Johnson. Devido ao cronograma apertado e ao número de efeitos do filme, precisaram espalhar o esforço. Por isso se nota alguns momentos inspirados e outros nem tanto.

Os outros profissionais foram Tim Ralston, Kevin Brennan, Christopher Nelson, Wayne Tooth, com supervisão de Thomas C. Rainone.

Julie sente uma fome incontrolável, tão bizarra que enfia o casal em uma briga dentro de uma loja de conveniência, quando os dois tentam fugir. Eles encontram o latino Santos de Mike Moroff (de Robocop, La Bamba e A Balada do Pistoleiro), acontece então uma confusão e eles saem de lá em um furgão, com o dono da loja baleado, além de ter outras pessoas mordidas.

A fome é incalculável e só é levemente aplacada quando ela morde a própria carne. Ela também sente nervoso e acaba se ferindo, furando a si mesma com agulhas e espinhos, aumentando assim seu grau de comportamento sadomasoquista.

Alguns efeitos práticos são artificiais e meio toscos, especialmente quando aparece um japonês com o cérebro à mostra, depois de enfiar ferro nos olhos do policial, distribui sangue e vísceras ali.

O latino Mogo (Julian Scott Urena) começa a passar mal no carro de Santos. Eventualmente o caminho deles se cruzam novamente, mas o que de fato chama a atenção é a vontade da menina de morrer, já que para parar de sofrer, ela se tacou de uma ponte, não logrando êxito no suicídio.

O casal é auxiliado por um mendigo, chamado Riverman, interpretado por Basil Wallace. Aos poucos ele vai ganhando importância, se tornando um dos poucos personagens digno de torcida positiva.

Uma das questões problemáticas do filme é que ele se leva a sério, daí sua premissa esdrúxula parece banguela, como um dente perdido em uma boca sem quase nada na arcada dentária. Caso tivesse um pouco do espírito dos outros dois, provavelmente esse seria mais palatável.

Clarke não é conhecida por um grande talento dramático, era lembrada por ser bela, ainda mais nessa época, com 23-24 anos. Sua versão monstruosa foi motivo de uma luta interna de Yuzna.

A Volta dos Mortos-Vivos 3 : A versão zumbi de Romeu e Julieta de Brian Yuzna

Ele ficou desapontado com o pouco tempo de tela para sua criatura anterior, o monstro feminino em A Noiva do Re-Animator. Por isso ele queria que Julie tivesse uma presença muito frequente.

Os momentos que Julie tenta ser dramática e emotiva, sofrendo uma crise existencial é só risível, mas analisando a filmografia de Yuzna, é difícil não entender esse como uma crítica metalinguística aos tolos melodramas clássicos.

É tudo tão cuidadosamente pensado para parecer adocicado que fica charmoso e muito tosco. A carreira do diretor é composta por obras camp mesmo, seu humor normalmente é involuntário e legítimo, não explícito.

Ela se torna um exagero do estereótipo do jovem cheio de brincos e piercings, até rasga as próprias roupas, revela seus belos seios, usa pedaços de metal para estender o perigo e para se autoflagelar, tem cortes profundos nas coxas, se torna uma espécie de dominatrix louca, vestida de maneira fetichista, com elementos de bondage.

A ideia de trazer uma morta viva diferente é uma boa perversão do mito do zumbi, ainda mais quando ela sai segurando a cabeça de Santos, arrastando sua espinha junto. Julie arranca lindamente o queixo de Felipe (Sal Lopez) e parte da coxa de Alicia, gata latina que acompanha o grupo, feita por Pía Reyes.

O ataque nos esgotos vira um escândalo do nada, com Santos se transformando em um misto de zumbi girafa com uma imitação do monstro de O Enigma do Outro Mundo.

Há outras experiências bizarras, como um exoesqueleto, envolvendo o simpático mendigo, que inclusive sofre uma interferência que faz pouco sentido, já que ele, a priori, não teve contato com a contaminada Julie.

A Volta dos Mortos-Vivos 3 : A versão zumbi de Romeu e Julieta de Brian Yuzna

O exoesqueleto de metal soldado usado por Riverman lembra algumas armadilhas de John Kramer/Jigsaw em Jogos Mortais. Ela pesava 75 libras e foi desenhado por Tim Ralston.

Era de difícil manejo e graças a dificuldade de usar a roupa, Yuzna optou por não cortar a participação dele assim, mesmo que não faça sentido dentro da trama, já que o personagem parecia ter morrido, ao menos segundo a montagem.

O final ainda tem momentos que misturam erotismo e sanguinolência.

Mindy está maravilhosa, mesmo morta, mas fica incongruente a trama que cabe a Julie, especialmente quando ela retarda a sua fome que até certo ponto parecia irracional, graças a proximidade sentimental que ela tem com seu namorado.

É por essa fragilidade dela que o projeto de Sinclair conseguiu capturar Julie.

Pai e filho fazem as pazes, mas Curt não aceita a sina que lhe é proposta, não quer que a sua amada seja uma cobaia na mão de cientistas, até por entender que ela só age como humana graças ao amor que ela nutre com ele. O rapaz entra no interior das salas secretas e assim ele vê os zumbis sendo testados e torturados.

Não havia qualquer motivo para liberar o acesso dele a esses lugares muito menos havia motivo para explicações da parte do doutor que David Wells interpreta.

Há vários bons momentos no final, como um zumbi de braços magros, que puxa uma vítima para um dos tanques de Trioxina. Segundo Penney, no roteiro original o ato final acontecia em um cemitério com confronto entre zumbis e militares, mas acharam parecidos demais com o desfecho de outros filmes da franquia.

O casal se beija enquanto a base pega fogo e em outro momento romântico, outra vez tudo sai de controle. É exatamente por isso que A Volta dos Morto Vivos 3 é considerado o Romeu e Julieta dos Mortos. Yuzna acerta ao fazer um filme tão histérico e ridículo que é difícil não achar ele divertido, ainda mais pelo fato de perverter a ideia de fazer um filme sério, resultando em um comentário metalinguístico sobre uma comédia de horror.

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