A Volta dos Mortos Vivos é um filme de horror e comédia que ao longo dos anos se tornou um clássico dentro do cinema que explora a temática dos zumbis. Famoso por conta dos mortos vivos que comem cérebros, foi lançado em 1985 e é dirigido e escrito por Dan O’Bannon.
O longa tem uma premissa absurda, porém simples. O projeto inicial foi idealizado por parte dos criadores de A Noite dos Mortos Vivos, embora tenha um caráter bem diferente do mesmo.
A sinopse se baseia na jornada de uma pequena cidade que sofre graças a incompetência das empresas privada e das autoridades militares, que permitiram que um experimento científico perigoso ficasse com uma pequena fábrica de suprimentos médicos, ao ponto dele vazar e contaminar toda uma região interiorana e consequentemente, sua população também.
O pontapé inicial é quando acidentalmente se abre um recipiente, que espalha um produto químico que desperta os mortos de seu sono eterno.
O longa foi produzido por Tom Fox, que se tornou produtor e produtor executivo, estando sempre ligado a franquia, em todos os cinco capítulos da franquia. Essa versão de 1985 tem produção executiva de Derek Gibson e John Daly.
Os estúdios por trás dele foram a Cinema '84, Fox Films e Hemdale, distribuído pela Orion Pictures. Atualmente, os direitos estão com MGM, a Metro-Goldwin-Mayer.
John A. Russo e Russell Streiner – que também produziu Noite dos Mortos Vivos - recebem créditos pelo argumento, apesar da única semelhança com seu tratamento original ser o título, que aliás, é o mesmo do romance publicado em 1979, The Return of the Living Dead, escrito por Russo.
A ideia inicial deles seria uma sequência direta de "A Noite" que ocorre dez anos depois e lida com um trio de irmãs sendo ameaçadas por saqueadores no campo quando a praga de zumbis começa a atacar a população novamente.
Russo e George A. Romero queriam ideias diferentes para seguir a "história" de A Noite dos Mortos Vivos, então entraram em acordo para cada um fazer uma sequência de maneira particular.
Russo desenvolveu o “esqueleto” dessa história, que primeiramente, seria mais séria. Nessa época cogitaram Tobe Hooper para a direção, enquanto queriam que fosse um filme em 3-D. Curiosamente ele não dirigiu para fazer Força Sinistra, que também tinha roteiro de Dan O'Bannon.
Tom Fox, que na época era um produtor independente, comprou os direitos de adaptação do livro de Russo, montou uma equipe de produção e entregou o roteiro a O'Bannon, mas o profissional recusou-se a dirigi-lo, já que achava essa uma tentativa de intrometer-se no território de Romero.
Dessa forma, ele reescreveu tudo para ocorrer em um universo onde a obra de 1968 é um filme ficcional, que seria baseado em fatos reais, tendo assim mais humor do que o visto no clássico.
Aparentemente os produtores executivos tentaram entrar em contato com Romero para lhe oferecer a opção de produzir o filme, mas ele não quis, especialmente pelo acordo com John A. Russo, de as sequências que eles fariam seriam separadas uma da outra.
Romero seguiria com O Despertar dos Mortos, em 1978, depois em O Dia dos Mortos, também de 1985, que aliás, sofreu nas bilheterias justamente por concorrer com esse, além de outros filmes que podem ou não fazer parte dessa cronologia, especialmente A Terra dos Mortos, de 2004.
Houve uma coincidência de trama desse com o livro La Madrugada de los Cadáveres, romance popular do escritor espanhol Juan Gallardo Muñoz, conhecido como Curtis Garland. O livro é de 1976 e antecipa partes dos temas deste filme, já que é sobre zumbis indestrutíveis e comedores de cérebro, revividos por produtos químicos.
Sua publicação foi na série Selección Terror Bruguera e recebeu traduções para o inglês como Dawn of the Dead, que é o nome original de Despertar dos Mortos de Romero.
Foi filmado em seis semanas e embora o filme se passe em Louisville, Kentucky, foi filmado na Califórnia. A única cena realmente filmada em Louisville foi a do portão da frente do Cemitério Leste de Louisville. Houveram cenas em Sylmar, 698 Moulton Avenue, Palos Verdes Peninsula e Burbank.
Houve um cuidado para que os uniformes da polícia e os carros de patrulha fossem iguais aos das autoridades de Louisville e eles acertaram.
O longa se chama The Return of the Living Dead no original. Na tv a Cabo brasileira, foi chamado de O Retorno dos Mortos Vivos.
Em países de língua espanhola é El Regreso de los Muertos Vivos, já na França é Le retour des morts vivants enquanto na Itália, é Il ritorno dei morti viventi.
No Japão o longa se chama Batallion, já na Grécia é Zombies Aren't Vegetarians. O título alemão do filme é Verdammt, die Zombies kommen, que é traduzido como Droga, os zumbis estão chegando. O título dinamarquês é Ligene er ligeglade, que é traduzido como Os Mortos não se importam (em inglês é The Dead Don't Care) - interpretando o cômico aspecto do filme.
Um dos produtores de Despertar dos Mortos, Richard P. Rubinstein da Laurel Entertainment, não queria que as pessoas pensassem que este filme fazia parte da série Living Dead de Romero. Ele conseguiu uma liminar para impedir os criadores o uso do termo of the Living Dead, no entanto, a MPAA decidiu a favor de A. Russo, já que ele também escreveu A Noite dos Mortos-Vivos e baseou este filme em seu próprio romance, que é sequência da versão romanceada do filme de 1968.
Tom Fox se tornou produtor executivo de Inseto, Torre do Crime, A Volta dos Mortos-Vivos Necropolis e A Volta dos Mortos-Vivos Rave. Foi produtor das sequências desse clássico, como A Volta dos Mortos-Vivos 2, A Volta dos Mortos-Vivos 3.
Já Derek Gibson e c estiveram em duas obras famosas, em O Exterminador do Futuro, no filme de guerra Platoon além do drama esportivo Momentos Decisivos.
O'Bannon dirigiu pouco, fez um curta Blood Bath em 1969, esse e O Filho das Trevas em 1991.
Ele é mais lembrado por escrever roteiro e argumento de Alien: O Oitavo Passageiro, mas também escreveu Dark Star de John Carpenter em 1974 e o já citado Força Sinistra de Hooper em 1985. Também escreveu Os Mortos Vivos, Heavy Metal: Universo em Fantasia, Trovão Azul, Invasores de Marte, O Vingador do Futuro, Assassinos Cibernéticos e Hemoglobina.
O'Bannon buscava nesse um ritmo semelhante ao das comédias de Howard Hawks, onde um personagem fala muito rápido, pisando nas falas um do outro. Ele queria que o conjunto de falas soasse caótico e como esse é um filme de várias tribos, com idosos, punks, progressistas e até gente dos antigos exércitos da Alemanha nazista, ficou fácil estabelecer esse paradigma.
Ele e seu elenco ensaiaram suas falas durante uma semana, para garantir que os diálogos fossem como ele queria e que não se perdesse na confusão.
Linnea Quigley, disse em entrevista que o elenco odiava trabalhar com o diretor, já que ele era muito exigente e intenso, mas que ela especificamente, não teve nenhum problema. Ela afirmou que achava ele um gênio.
No início da década de 1990, surgiu uma versão mais longa do filme, que durou 24 minutos a mais que a versão lançada.
O filme virou objeto de culto, que foi lançado em DVD graças a uma campanha de fã. Michael Allred criou uma página na web reunindo todas as notícias relacionadas ao filme e contatou muitos dos membros da produção, incluindo o diretor. Foi ele quem colocou O'Bannon em contato com a MGM, estúdio que se tornou o detentor dos direitos do filme.
O filme foi banido na Suécia quando examinado pelo conselho de censura. A violência no cinema era uma grande proibição na época no país.
A narrativa começa após um engraçado letreiro, que afirma que a história é baseado em fatos reais e que mantém que os nomes apresentados são de pessoas de verdade.
Essa é uma obra que se passa no final de semana anterior ao 4 de julho de 1984. Apresenta dois funcionários da Uneeda, uma loja de material médico. Eles são Frank Johnson, interpretado por James Karen, de Poltergeist: O Fenômeno e o novato Freddy Hanscom de Tom Matthews, sujeito que faria Tommy Jarvis em Sexta-Feira 13 Parte VI: Jason Vive.
Nesse cenário há coisas uma série de detalhes sensacionais, como uma foto da Miss América Vanessa Williams em topless, na parede do escritório do chefe, fora os inúmeros animais mortos expostos no galpão, a maioria tendo algum destaque ao longo da desventura que a trama segue.
Para fazer o seu personagem, Mathews furou a orelha, já que a descrição do personagem pedia especificamente um. Só depois ele se deu conta de que poderia ter colocado um brinco falso. O ator era muito amigo de George Clooney, que visitou o set para ver o trabalho do seu então colega de quarto.
Frank mostra os cômodos e o almoxarifado, explica como organizar os materiais e os cadáveres de animais e de gente, que eles armazenam para vender a estudantes de medicina e veterinária.
Além dos dois trabalhadores, há também um grupo de jovens, com visual estereotipado, formado por seis pessoas. São elas Beverly Randolph como Tina, Miguel A. Núñez Jr. como Spider, John Philbin como Chuck, Jewel Shepard como Casey e Brian Peck como Scuz. O sexto elemento é a já citada Linnea Quigley, que interpreta como a voluptuosa Trash.
Os seis são amigos de Freddy, além deles há Suicide, de Mark Venturini, o rapaz melancólico e depressivo, dono do carro que eles usam. Cada um deles usa roupas diferenciadas, a maioria parece representar uma tribo diferente, com estilo normalmente punk, mas há até gente que lembra o rockabilly e música disco.
Frank conversa sobre a maior loucura que viu naquele lugar e como bom contador de história - ou bravateiro - ele diz que A Noite dos Mortos-Vivos foi baseado numa história real, que ocorreu após um vazamento de produto químico em Pittsburgh, no ano de 1969.
Curiosamente, o longa de George A. Romero, foi rodado na Pensilvânia, em Pittsburgh, mas foi lançado em 68, um ano antes desse suposto vazamento.
O produto era a 2-4-5 trioxina, uma espécie de spray programado para matar plantações de maconha. A Companhia Química Darrow estava fazendo o experimento para o exército e o "cara que fez o filme" foi ameaçado de processo, portanto mudou tudo que podia na hora de compor o roteiro. O exército errou a remessa e mandou os mortos para a Uneeda, há catorze anos.
A Darrow que fabricou 2-4-5 Trioxin é inspirada na empresa na real Dow Chemical Company, que fabricou um desfolhante químico na década de 1960, comumente conhecido como Agente Laranja, que foi usado para desmontar selvas na Guerra do Vietnã. A mudança foi feita para evitar processos.
Depois que eles falam sobre isso e chutam o tonel onde está o morto vivo, toca a música tema de Trioxin, feita por Francis Haines.
A dupla consegue quebrar o recipiente dos mortos, liberando o veneno no duto de ar do armazém, que estava cheio de cadáveres.
Nesse ponto há bons detalhes, como as borboletas batendo asas, no quadro pregado, ou o túmulo com o nome civil de Cary Grant, Archibald Alexander Leach. Curiosamente, o famoso ator morreria um ano depois do lançamento desse.
O quadro de borboletas foi criado cortando fotos de borboletas de um livro, dobrando ligeiramente as asas antes de fixá-las, enquanto o produtor de design William Stout soprava fora do quadro.
A música de Matt Clifford é genial, apesar de ser o seu único crédito em composição no cinema. Anos depois ele dirigiu o clipe de Mick Jagger e Dave Ghroll, Eazy Sleazy. Aqui ele traz músicas animadas, postas de uma forma que fazem assumir de cara o tom galhofa do filme. Clifford continua ocupado como colaborador de Jagger e foi frequentemente o tecladista nas turnês com os Rolling Stones.
Ao longo da narrativa o filme se assume como comédia, mas até os créditos iniciais havia uma tentativa de falar de maneira dúbia, variando entre a graça e o medo.
O coronel Terry Glover (Jonathan Terry) monitora os sinais de onde estão os materiais, junto a sua companheira e esposa Ethel (Cathleen Cordell). O personagem parece incrédulo sobre finalmente achar o tonel com trioxina, até que finalmente ligam para a Darrow.
Aqui já fica claro que as regras com os mortos vivos são diferentes. Os zumbis de Romero eram pessoas lentas, fossem mortos reavivados ou gente contaminada.
O tal corpo do latão some, depois aparece querendo cérebro - no original é chamado de Brains, mas na versão dublada é traduzido (maravilhosamente) como miolos - não existe necessariamente a vontade de comer carne humana fresca. Outra regra diferenciada é que não se contamina as pessoas por mordida e sim por contato com o gás, seja na pessoa viva ou após morrer, graças ao ataque de outros zumbis.
A maquiagem especial é de William Munns, que assinava Bill Munns. Ele trabalhou em O Príncipe Guerreiro e O Monstro Do Pântano. Também está na equipe Tony Gardner, de O Homem das Estrelas, Aliens: O Resgate e Raça das Trevas. Foi esse último quem fez a Half-Corpse Animation.
Gardner é lembrado também por ter interpretado um profissional dos efeitos em O Filho de Chucky, o mesmo que é decapitado pelos bonecos assassinos.
Já o Tarman, que foi chamado de Homem de piche pelos fãs brasileiros, tem efeitos que variam entre um boneco mecatrônico e um ator fantasiado.
O personagem é certamente o maior tento em matéria de efeitos, já que tem fases, como o morto derretendo, depois virando um ser monstruoso, entre corpo putrefato e um ser bípede de cor escura.
A mudança através do painel de vidro foi feita com uma face de cera sobre o crânio e o calor aumentou para derretê-lo. A quebra do vidro não foi intencional, mas aconteceu devido ao calor. Acabou que o efeito foi tão legal que decidiram deixar assim.
Tarman é interpretado pelo ator e marionetista Allan Trautman, profissional que trabalhou com Jim Henson em Os Muppets. Ele se mostrou tão popular que Trautman reprisou o personagem em A Volta dos Mortos Vivos 2 e o personagem também fez uma participação especial em A Volta dos Mortos Vivos - Rave.
O personagem virou material de memorabília, certamente a mais famosa da franquia. Virou até boneco de coleção, com diversas versões de action figures.
O filme possui algumas cenas engraçadas, oriundas do desespero dos personagens. Isso se vê especialmente na sequência de Frank se desesperando para matar o cachorro que está pela metade.
É simplesmente maravilhoso, ele tenta acertar o bicho com uma muleta de madeira, depois entra em pânico, não quer ligar para a polícia para não ser pego e não perder seu emprego.
O desespero dele é tanto que acaba pondo em risco todos, em nome de não ser responsabilizado pelo patrão. Obviamente que seu superior reaparece na trama depois.
Frank é disparado o melhor personagem do filme, um homem de comportamento cômico, porém complexo, um idiota exemplar, a pessoa que consegue melhor transitar entre o cômico e o assustador.
O design de produção é sensacional, seja em alvos pequenos, como o visual dos jovens, até os detalhes de cenário. Os zumbis também são sensacionais, tem uma aparência ímpar, cada um. Os figurantes que interpretaram eles receberam bônus para comer cérebros de bezerros reais no filme. Dan O'Bannon até comeu alguns miolos crus no primeiro dia de filmagem, para encorajar os extras e também para mostrar que estavam todos em pé de igualdade.
Sobre o elenco, se destaca Jewel Shepard, uma ex-stripper, que queria mudar sua imagem e recusou ficar nua. É por isso que sua Casey é coberta de roupas do pescoço aos pés. Aparentemente foi ela que sugeriu sua colega de ensaios nus, Linnea Quigley para interpretar Trash, embora também tenha falado o nome da Playmate Lynda Wiesmeier.
O'Bannon imaginou que o filme atrairia apenas o público masculino, por isso utilizou demais a nudez de Trash, que em cortes diferentes do roteiro, se chamaria Legs.
Após isso ele prometeu que mostraria nudez masculina na mesma medida, promessa essa que não cumpriu, obviamente, até pela quantidade diminuta de filmes que ele conduziu. Além disso, há uma crença, baseada em estudos antigos de que a nudez masculina impede os rapazes de verem filmes, mais do que a nudez feminina afasta as espectadoras.
Quigley disse que não tinha ideia de que o filme teve tanto sucesso, pelo menos não até ter sido chamada em uma convenção de Fangoria em Los Angeles, no ano posterior ao filme. Ela teve até que usar uma peruca semelhante a que usou no papel.
Na cena de strip-tease toca Tonight (We'll Make Love Until We Die), da SSQ, mas na gravação tocou Nasty Girl, de Vanity.
A personagem diz que seu pensamento de morte mais triste teria a ver com estar cercada por velhos cadavéricos. Curiosamente ela morre dessa forma, nua, como normalmente a personagem fazia e como a própria Quigley aparecia, tal qual foi em Natal Sangrento ou A Noite das Vampiras.
Ao filmar a dança em cima da lápide, Quigley estava completamente nua e a câmera pegou pelos pubianos, como era “a norma” no início dos anos 80. O co-produtor Graham Henderson visitou as filmagens naquele dia e brigou com Dan O'Bannon, reclamando, aos gritos, que não poderia mostrar pelos pubianos quando o filme fosse passar na televisão. Então o realizador mandou Linnea se depilar completamente, fato que a atriz achou embaraçoso. Com isso, filmaram de novo e Henderson achou ainda pior.
A atriz foi enviada para os magos dos efeitos Bill Munz e William Stout, que fizeram um pedaço de alginato, um tapa-sexo, parecido com um fio-dental, e colaram como um tapa-sexo.
É por isso que ela parece um manequim ou uma boneca Barbie e ela sofreu horrores na hora de utilizar o banheiro.
Os fãs são curiosos se há alguma filmagem das versões de sua dança que mostram mais do que aparece no corte de cinema, mas até o presente momento, não há nada.
Quigley parecia não ter problemas com cenas de nudez neste e em outros filmes. Ela dizia que isso faz parte da vida, que homens vão à praia para ver garotas de biquíni e que não faz diferença se eu estou usando biquíni ou não.
Quem estava em uma situação complicada era Miguel A. Núñez Jr., que estava em situação de rua quando foi escalado para este filme. Em 1985 ele também estaria em Sexta-Feira 13, Parte 5: Um Novo Começo, fato que o ajudou a se estabelecer como ator de filmes B. Ele trabalharia em séries como Um Maluco no Pedaço, faria Dee Jay em Street Fighter: A Batalha Final, também estaria em Carnossauro 2, O Duende 4: No Espaço e em Juwanna Mann.
O primeiro morto revivido que aparece é amarelado. Ele ataca Burt, o personagem chefe da loja, interpretado por Clu Gulager, que enfia uma picareta na cabeça do sujeito. O momento é sensacional, mega engraçado e nojento. O corpo decapitado anda pelo lugar, tal qual uma galinha com cabeça destruída.
Ele identifica que Frankie e Freddy estão se transformando, por isso corre para cima de Burt, que é o único realmente vivo ali. Há coerência nesse roteiro, mesmo sendo tão bobo.
O papel de Burt foi oferecido a Leslie Nielsen, mas ele exigiu muito dinheiro e foi descartado. Depois ofereceram o papel a Robert Webber, que não gostou do roteiro. Então eles tentaram Scott Brady, que estava muito doente e morreu um ano depois. Clu Gulager foi contratado pouco antes do primeiro dia de filmagem.
Burt pede um favor a Ernie (Don Calfa), um funcionário do necrotério que fica ao lado de sua loja. Deseja cremar o ressuscitado, mas tenta mentir sobre isso, afirma que o saco com o morto "picotado" tem fuinhas com raiva, mas obviamente não demora a falar para ele a verdade.
O efeito de seres mexendo nos sacos são macacos de brinquedo motorizados dos quais os pratos foram removidos. Isso foi bastante funcional, grotesco e simples. No momento de cremação, Clinton Hartley, irmão do assistente do diretor de arte Clayton Hartley esteve na maca para dar credibilidade ao peso das partes do corpo.
A ideia de cremar o corpo dá certo, já que o cadáver é destruído, no entanto, também dá bastante errado, já que há uma chaminé no necrotério que expele os resíduos em forma de fumaça infectada, que ao evaporar provoca chuva, que cai no cemitério próximo, espalhando assim o mau.
É uma sucessão de atos erráticos e bizarros. O desejo do diretor era que a fumaça fosse amarela. Fizeram com enxofre, fato que gerou uma dor de cabeça terrível em quem estava por perto.
Os punks tentam entrar no carro de Suicide, cujo modelo é um Cadillac Series 62 Convertible conversível, a fim de fugir.
No meio dessa bagunça, Frankie piora de saúde, correndo enquanto é pego pela tempestade. Já a mocinha Tina - que é namorada de Freddy entra na loja e encontra o zumbi grande.
É nesse trecho que Tarman reclama os miolos que merece. Os mortos se levantam das tumbas, até esqueletos levantam. O cenário é desolador e bizarro, alagado, enlameado.
A cena do esqueleto saindo da sepultura e abrindo a mandíbula é uma grande decepção de William Stout. Ele mostrou o trabalho ainda não finalizado, mas os produtores decidiram filmar assim esmo.
Ele achou decepcionante o efeito em tela, mas O’Bannon, deu de ombros, já que se decepcionou com outras tantas coisas do filme. Essa se tornou uma das cenas-chave usadas no marketing.
Ernie se depara com um zumbi anão bizarro, perto da ambulância dos paramédicos. Para além dessa cena de susto, o seu personagem tem um passado sombrio. O sujeito é um ex-soldado alemão, provavelmente nazista, que carrega em sua intimidade, uma foto de Eva Braun, a mulher de Adolf Hitler.
Ele estaria escondido nos Estados Unidos e em seus aposentos se ouve no walkman a canção da marcha alemã Afrika Corps "Panzer rollen in Afrika vor" enquanto embalsama corpos.
Ernie carrega uma Walther P38 com cabo de pérola. Inicialmente, ele deveria carregar um Broomhandle Mauser, mas era ruim de sacar em tela, ainda mais considerando que precisaria ser rápido, saindo de um coldre. Diretor e ator decidiram pelo Walther P38, graças ao seu formato mais ergonômico.
O diretor disse no comentário do DVD que decidiu filmar a caminhada solitária de Tina até o armazém com planos gerais e ângulos de cima para baixo porque sentiu que a maioria dos filmes de terror filmava os personagens em close-up. Ele quis driblar esse clichê, mas depois de ver o produto final, ele se arrependeu de ter filmado assim, já que as tomadas fechadas ajudavam a acompanhar o público a se conectar com seus sentimentos.
Tina usaria uma minissaia de plástico, mas optaram por uma roupa branca e azul, que era para ser o figurino de Spider.
O personagem zumbi "Half-Corpse" era um boneco animatrônico de Gardner, como dissemos anteriormente. Ele era manipulado por Tony, pelo ator Brian Peck e William Stout.
Foi esse personagem "feminino" que garantiu a Tony Gardner uma carreira como artista independente de efeitos de maquiagem. Peck fez a voz do cadáver durante as filmagens.
Gardner também construiu o cachorro dividido, que segundo O'Bannon, faria um Dogue Alemão dividido, caso houvesse mais dinheiro.
Ernie quer verificar como funcionam os monstros, depois chega à conclusão de que eles não são mais fortes que humanos. Ao falar com a personagem, entende que os mortos sentem a dor de apodrecer e os miolos afugentam a dor desse tipo de existência.
Trash retorna, tocando Tonight novamente, mas agora ela está toda branca e bizarra, com uma maquiagem que parece de um vampiro. Quigley disse à revista Femme Fatales que seu papel consistia principalmente em correr nua na chuva por quase cinco horas seguidas.
Teoricamente, é Trash a primeira zumbi do cinema moderno que corre. O posto não pertence nem a Extermínio, de Danny Boyle (filme cuja temática zumbi é discutível, diga-se) e nem a Madrugada dos Mortos de Zack Snyder.
As árduas condições de trabalho e o estresse levaram ela a se viciar em Valium. A atriz também sofreu com problemas de pele e olhos resultantes de próteses de maquiagem que ela usava quando era zumbi.
Um morto vivo pede para o rádio da polícia trazer mais guardas. Essa sequência termina momentos depois, com uma armadilha dos mortos para reunir os tiras, para serem comida dos monstros. Tudo gira em torno de fazer graça.
Freddy e Frank agonizam, gemem, são presos na capela. Nesse ponto Matthews faz bem um vilão repaginado, agindo como um assassino possuído por uma fome voraz e feroz. Ele baba e pula em cima de sua amada, parece um cão raivoso.
Quase perto do fim os "mocinhos" percebem que ácido nitroso fere os zumbis, essa pode ser a chave para resolver a questão. Pensando pelo lado da moralidade, é dado que não existem heróis ou gente digna de torcida aqui.
Talvez haja em Tina e Casey alguma inocência, mas ambas estão longe de serem mocinhas fofas e livres de pecado, como normalmente se prega em filmes de horror B. No fim do mundo, todos são podres, desonestos e com péssimo caráter.
O'Bannon filma bem demais, ele possuía bons predicados como diretor. Isso se percebe especialmente na tentativa de fuga com o carro da polícia.
Ele filma em perspectiva de primeira pessoa, ainda brinca com as situações de A Noite dos Mortos-Vivos, como a discussão sobre se isolar em um sótão/porão ou a fuga de carro que dá errado.
Consegue variar bem entre estilos diferentes, seja por cenários internos ou externos. Suas cenas de ação também são boas e seus personagens parecem reais, mesmo quando são caricaturas, tal qual Frankie, que perto do fim, cumpre a fala no início de que sabe manejar a fornalha/máquina de cremar e a usa para impedir a si mesmo de virar um monstro.
Foi ideia de James Karen que seu personagem removesse sua aliança de casamento e orasse por perdão antes de se matar.
O filme poderia ter mais mortes, já que dos onze personagens principais, seis ainda estão vivos no final, antes da estranha solução final, que arrasa e destrói vinte quarteirões, fato que gerou uma grande chuva, que repetiria todo o ciclo de bobagens inconsequentes.
A Volta dos Mortos Vivos é histórico, não só por se estabelecer como o pilar dos zumbis engraçados e graciosos, mas também por mostrar eles de maneira despojada, capazes de correr e até de inserir mais elementos em sua mitologia. É um filme histórico e uma pérola escondida na carreira do hoje saudoso Dan O'Bannon.
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