Vamp, A Noite dos Vampiros é um filme de 1986 que mistura elementos de horror e humor. Dirigido por Richard Wenk é mais lembrado por ter em Grace Jones a maior estrela do elenco e o chamariz para a obra, também por conta com Billy Drago no elenco, além de ter uma grande virada do meio para o final da exibição.
Muitas pessoas compararam ele com Um Drink no Inferno, especialmente pelo fato de começar de uma forma, tal qual comédias juvenis das décadas de 1970-80, para depois virar um exploitation de vampiros, assim como na obra de Robert Rodriguez parece ser apenas um filme de fuga da prisão de dois irmãos bandidos, resultando em uma orgia vampírica repleta de efeitos especiais práticos de alto nível.
A história desse gira em torno de três jovens estudantes, que saem uma noite da faculdade e decidem ir a um clube de strip-tease em uma cidade vizinha cuja fama é no mínimo estranha, apesar de ter sua noite celebrada por quem a conhece.
No meio da farra eles enfrentam uma gangue de jovens delinquentes, usufruem de uma casa noturna e ficam fascinados com uma stripper chamada Katrina, que na verdade, é a líder de um culto maligno, que usa o clube como chamariz para atrair vítimas.
A partir daí começam várias desventuras para eles. A ideia original e argumento foram feitos pela dupla Donald P. Borchers e Richard Wenk, enquanto o roteiro é de Wenk e C.W. Cressler, sendo que esse último não é creditado como tal.
Borchers é também o produtor e Susan Gelb a produtora associada. Greg Cannom fez os efeitos especiais e de maquiagem, Elliot Davis assina a fotografia e Jonathan Ellias compôs a característica música incidental presente na trilha.
Essa é uma produção estadunidense e estreou em julho de 1986 no seu país de origem. Na Austrália chegou em setembro, na Suécia em outubro de 1986, já na Espanha estreou em novembro.
O título original do filme é Vamp. No Brasil é conhecido por dois nomes, como Vamp, o Filme e Vamp: A Noite dos Vampiros, esse último sendo utilizado já no lançamento em vídeo.
Na Argentina é El club del terror, no Canadá Vamp: Club de minuit, na Grécia é I vamp, na Hungria Vámpír sztripperek, no México e Peru é conhecido como La fiesta de los vampiros, ou La vampiresa na tv peruana. Já em Portugal é Vamp - Clube da Meia-Noite.
A filmagens começaram em 28 de janeiro de 1986, data que coincidiu com o dia do desastre do ônibus espacial Challenger. Foi filmado até fevereiro de 1986, na Califórnia.
Houveram gravações em Ren-Mar Studios - 846 N. Cahuenga Blvd. em Hollywood, no Distrito de Los Angeles, na University of Southern California, o Bixby Hotel em Wall Street, 2114 E 7th Pl e Arts District no centro e Los Angeles. Também gravaram em E 3rd St & S Garey St, 4th Street Viaduct, E 4th street & San Pedro Street, South Central.
Essa é uma obra da New World Pictures, que faz a função de presents. Também produziram Balcor Film Investors e as não creditadas Amaretto Films e Planet Productions. A distribuição é da New World Pictures nos cinemas. No Brasil, quem trouxe a obra foi a Top Tape, para o mercado de VHS.
Richard Wenk dirigiu o curta Dracula Bites the Big Apple, o telefilme Cuidado com as Baixinhas, Meu Adorável Sonhador e Wishcraft: Feitiço Macabro.
Ele é mais lembrado por escrever filmes de ação como 16 Quadras, a versão de Assassino a Preço Fixo com Jason Statham, Os Mercenários 2, O Protetor, Sete Homens e um Destino, A Profissional, O Protetor 2 e O Protetor: Capítulo Final.
Donald P. Borchers fez o argumento de Ruas do Medo, mas é conhecido na verdade por ser produtor, como nas obras Anjo: Inocência e Pecado, Colheita Maldita, Enigma Mortal, O Retorno do Duende. Foi produtor associado em A Classe do Demônio, O Príncipe Guerreiro e também foi produtor executivo no telefilme A Colheita Maldita de 2009, que ele também escreveu o roteiro.
C.W. Cressler também ajudou a escrever Dracula Bites the Big Apple, Cadillac Dreams, Maniacts e Uma Porta Para o Passado. É diretor de fotografia em How to Get...Revenge.
Apesar de ser uma obra mais engraçada que assustadora, o filme foi proibido na província canadense pelo Ontario Censor Board, porém a distribuidora New-World Mutual apelou e o filme foi aprovado com uma classificação "restrita" sem cortes.
Antes de fechar com Grace Jones a cantora Tina Turner foi considerada para o papel de Katrina, mas os produtores preferiram a modelo e cantora, que já tinha experiência no cinema, já que interpretou Zula em Conan, O Destruidor, foi a bond girl May Day em 007: Na Mira dos Assassinos e depois ainda faria ainda nos anos oitenta A Caminho do Inferno e Marcas de Uma Paixão.
A personagem não fala uma única palavra no filme, a ideia da atriz foi a de interpretar o papel com técnicas de cinema mudo, inspiradas em Max Schreck em Nosferatu.
O elenco contém alguns nomes notáveis. Além de Jones e Drago, que era por sua vez um dos ídolos dos filmes de ação que pegavam poeira nas locadoras como Invasão U.S.A. e Comando Delta 2: Conexão Colômbia, também tinha Robert Rusler, que co-protagonizou Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy e Mulher Nota Mil, além de Sandy Baron, que faz o promotor da casa de tolerância/boate, que é lembrado por viver Jack Komplus em Seinfeld.
A narrativa começa mostrando a filmagem de um momento ímpar, de época. Aparenta ser de um período histórico do passado, da época da inquisição, com um sacrifício de jovens.
É na verdade uma tentativa (vã) de inserir garotos em um grupinho tolo, uma iniciação de fraternidade universitária, que dá errado. Há todo um cuidado da direção de arte, fotografia e design de produção em fazer com que o filme pareça uma obra de época, tudo para revelar que esse era apenas um teste de entrada em um grupo de estudantes, que nem é tão disputado.
AJ é interpretado por Rusler, um rapaz criativo e proativo, que busca diversão, enquanto seu melhor amigo, Keith, interpretado por Chris Makepeace, de Almôndegas.
Apesar de ser ele o protagonista, é apresentado como alguém mais parado, conservador, enquanto seu amigo é mais avançado, animado e porra louca.
O lugar onde eles estudam não é citado, mas há como argumentar que é a Universidade do Sul da Califórnia, já que após a cerimônia de iniciação, quando os personagens saem pelas portas, é visto a frase Gwynn Wilson Student Union brevemente.
Entediados, eles aceitam o convite de Duncan, um nerd de origem asiática, interpretado por Gedde Watanabe. Como o rapaz é solitário e carente, ele paga para eles fingirem ser amigos dele por uma semana, ganhando uma boa quantia de dinheiro no final do período, caso as noites forem divertidas. É o tipo de trama que só funcionaria à contento nos filmes juvenis dos anos 1980, mas a realidade é que tal qual ocorreria no futuro filme de vampiro de Rodriguez, esse também usaria um gênero nada relacionado ao terror para perverter tudo tão logo pudesse.
Toda historinha universitária é um porre, está presente basicamente para brincar com os clichês desses filmes, servindo de pretexto para colocar Keith e AJ na estrada, é uma desculpa para que o trio viaje, a fim de arranjar algumas transas para os rapazes entediados.
A virada na trama é meio literal, ocorre após a derrapagem do carro que o trio conduz, em um giro que deixa o veículo em uma posição virada, de quase 180 graus. Depois desse quase acidente, tudo muda, eles param em uma rua, onde há um bar que só abre após escurecer.
Eles deveriam achar estranho, pois assim que chega a última hora da tarde, o atendente do bar onde estavam tem pressa em fechar tudo. Para sair do bar ele até se veste tal qual um padre, mas é impedido de sair por um grupo de estranhos rapazes e moças.
Eles são liderados por Snow, o personagem que Billy Drago interpreta. Houve um cuidado visual, de descolorir a cabeleira normalmente escura o ator, fazendo assim o topo da cabeça e até as sobrancelhas ficarem bem claras.
Keith se interessa por uma menina Naven (Paunita Nichols) uma integrante da gangue liderada pelo rapaz albino, mas desiste ao ver o estranho sorriso de que tem apenas três dentes na parte da frente da boca.
Depois de um entrave com os personagens - que aliás, não se mostram como pessoas realmente perigosos - eles chegam ao famoso bar. Lá são encarados de forma suspeita por um homem grande, no caso, Vlad, de Brad Logan.
Lá percebem que é um bar especializado em striptease. Vic (Baron) os recepciona e os leva até um lugar tranquilo, perto do palco. Depois, a linda garçonete interpretada por Dedee Pfeiffer serve bebida a eles, enquanto diz conhecer Keith, que não recorda dela. Ela se apresenta como Amaretto.
Katrina aparece em tela com um visualmente impactante, com uma pintura clara no rosto, usando trajes vermelhos e desenhos tribais nos braços e troncos.
Ela aparece no minuto vinte e dois e a pintura corporal que utiliza foi feita por seu amigo designer e grafiteiro Keith Haring.
O visual do penteado e maquiagem facial foram parcialmente baseados em Pris, personagem que Daryl Hannah fez em Blade Runner: O Caçador de Androides.
A música que Jones dança durante sua cena de dança foi cantada por ela, mas nunca foi lançada comercialmente porque não foi incluída na trilha sonora do filme e tem como título presente nos créditos o nome Vamp. Ela lançou uma versão fortemente reformulada intitulada Seduction Surrender em seu álbum de 1989 Bulletproof Heart.
Por causa do baixo orçamento do filme, Jones recorreu a amigos para montar os seus figurinos. Até mesmo elementos de cena como a bizarra cadeira humana em que Katrina realiza seu strip-tease foi encomendada por ela a Haring, que fez ela a partir do molde do corpo de seu então namorado Dolph Lundgren, o famoso ator de ação sueco.
AJ é bem intrusivo e proativo, vai na direção de Katrina, simplesmente entra no setor privado, que compreendia apenas as bailarinas e performancers, vai até lá como se procurasse um programa, o que não parece ser essa casa.
Na intimidade, Katrina faz um número bem sexual, lambe o tronco dele, do umbigo até o tórax. Visto hoje é bem curiosa a cena, já que envolve uma atriz sempre associada a androginia, fazendo um papel feminino sedutor, em cima de um ator que é reconhecidamente do espectro sexual não heteronormativo.
Mas as surpresas sexuais não foram suficientes, já que a sequência termina com ela se mostrando como vampira monstruosa, com um efeito de maquiagem bem legal. O ataque após a cena quente é bem no estilo que a Satânico Pandemônio de Salma Hayek faria.
Na cena em que Grace Jones morde o pescoço de Rusler, os dentes protéticos ultrapassaram o pescoço de látex e entraram no pescoço do ator, tirando um pouco de sangue dele.
A cena não foi refeita e ficou no corte final, embora o ator não tenha reclamado tanto de dor, é digno de nota esse fato.
Katrina é forte e poderosa, mesmo estando quase sempre calada. Age como um monstro físico, arranca facilmente o coração de uma garçonete, fato que é bem estranho, não pela brutalidade, mas sim pelo fato de que ela trabalhava no centro do culto da vampira.
Aparentemente, não são todas as pessoas transformadas, isso explica inclusive o fato de Vic comer baratas como aperitivo, em atenção a forma com que o escravo Renfield se alimentava no livro e nos filmes de Drácula, aparecendo inclusive em Renfield Dando o Sangue pelo Chefe.
O filme é bastante curto, muda de ambiente pouco após o sumiço de AJ, basicamente por conta de Keith ter arrumado uma forma de se divertir, com uma garota, a tal garçonete que ele não lembrava quem era.
Mesmo fora da boate se nota que os cenários são diferenciados. O motel lembra o estranho apartamento psicodélico de Twin Peaks, talvez tenha sido uma inspiração para quem quer que tenha pensado esse espaço na série de David Lynch.
Ainda há um combate bizarro, onde uma criança vampira que ataca Snow - que aliás, reaparece de forma tão repentina como surgiu. A sequência bastante visceral, em um susto que deixaria o recente filme Abigail constrangido. O momento e até surpreende o público, já que dado o material de divulgação e o visual, Snow parecia ser um vampiro, até por conta do visual dele e dos seus capangas lembra muito os vampiros juvenis que Joel Schumacher mostraria em Os Garotos Perdidos.
Ainda se explora uma sequência no esgoto, com luzes variando entre roxo e verde é meio assustadora, mesmo que não faça muito sentido.
Fora os bares, a cidade inexiste em matéria de vida noturna, os cenários externos são vazios, ocupados apenas pelas perseguições. Esse vazio faz lembrar o espírito presente em Warriors: Os Selvagens da Noite de Walter Hill, inclusive no sistema de gangues e castas, que correm atrás de pessoas indefesas.
Também há semelhanças com Os Aventureiros no Bairro Proibido de John Carpenter, que também foi lançado em 1986, especialmente na bagunça narrativa que ocorre nos últimos momentos, além da cooperação de um herói/protagonista branco, inútil, que anda ao lado de um personagem de origem asiática.
O final tem várias reviravoltas, retornos e uma batalha contra os vampiros que é bem anticlimática, com soluções que beiram o óbvio. A sequência tem uma caracterização visual ok, mas não se salva da mediocridade das escolhas narrativas, inclusive nos sustos finais gratuitos.
A última cena, quando Keith e Allison emergem do esgoto, se enxerga um banco de sangue, chamado Hyland Plasma Center. Se nota então que toda a estrutura do local é voltada para os vampiros.
Há quem defenda que isso é apenas simbólico, que Keith e Allison na verdade caminham para o futuro, onde a raça dos vampiros poderia se assumir, sair das sombras, vivendo em uma sociedade que até os alimenta de maneira não predatória.
Como não houve sequência, é difícil imaginar o que ocorreria. No mais, Vamp, o Filme é divertido, tem boas ideias, tantas que até faz confundir se foi inspiração para uma série de filmes e séries. Também possui aspectos visuais notáveis, é esperto, mas se perde um bocaddo em suas próprias armadilhas narrativas.
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