Noel Frankenstein: Um filme de baixíssimo orçamento, que mistura o mito de Mary Shelley ao Papai Noel

Mescla de clichês de filmes de terror natalino e de cientista louco, Noel Frankenstein chegou aos fãs de horror

Noel Frankenstein: Um filme de baixíssimo orçamento, que mistura o mito de Mary Shelley ao Papai Noel

Noel Frankenstein é mais um dos lançamentos de terror podreira que ocorrem frequentemente nos finais de ano. Não se engane com essa arte elaborada, já que a realidade é que essa é uma produção que lembra o pior tipo de exploração por parte dos estúdios de cinema B.

Essa é uma obra que vai na esteira das produções que copiavam o modo como Charles Band e Roger Corman faziam cinema, sendo assim algo com pouca caracterização, de valor agregado risível e atuações igualmente fracas.

Dessa forma, esse Noel Frankenstein se junta a obras como Malvado o Horror do Natal, It's a Wonderful Knife ou Christmas Bloody Christmas que são longas lançados entre 2023 e esse ano.

Premissa de Noel Frankenstein

A ideia reúne elementos típicos das obras de terror natalinas e mistura com elementos de Frankenstein ou o Prometeu Moderno, de Mary Shelley.

Com o lançamento de Frankenstein de Guillermo Del Toro, esse filme trash foi resgatado do limbo dos filmes de horror de orçamento risível, para a ribalta do mercado de home video.

Com direção e roteiro da dupla Manuel Camilion e Benjamin Edelman, foi produzido por Fernanda Lamuño, Leonardo Pereira, Vasisth Sukul e Natalie Veater

Eddie del Carmen foi produtor executivo, já Michael Kraetzer e Nicolás Onetti foram produtores associados.

Estreia e nomenclatura

O filme chegou em 19 de dezembro de 2023, lançado apenas pela internet, nos Estados Unidos.

O título original é Santastein, na Rússia é Санташтейн. No Brasil, se optou por traduzir o termo para Noel Frankenstein.

Noel Frankenstein: Um filme de baixíssimo orçamento, que mistura o mito de Mary Shelley ao Papai Noel

Foi feito pelos estúdios Imaginex Films, Sales Representatives / ISA e Black Mandala. A distribuição foi da Cineverse Entertainment.

Quem fez

Manuel Camilion dirigiu episódios em Meme Boy, em The Dark Priestss of Sagamuth e os curtas Fontaine e Sh*t Show.

Ele atuou em Meme Boy, Rosamaria e Fontaine, foi assistente de produção no curta Cake e produtor executivo em Meme Boy e Ruby.

Benjamin Edelman dirigiu esse e escreveu a minissérie Meme Boy. Leonardo Pereira produziu e atuou nesse, dirigiu o curta Fishes in a Barrel.

Vasisth Sukul  produziu Unboxed, Rosamaria, Fontaine, Cariño e Las Luces. Escreveu esses dois últimos.

Natalie Veater produziu Private World of Darkness, The Island of Misfit Artists, Fontaine, foi produtora associada em Unboxed e atriz em Rosamaria, Boardwalk Winter, versão curta e longa.

Fernanda Lamuño produziu os curtas Raising Ants e Las Luces, dirigiu esse último, Caminos e Cariño. Ela foi montadora em Alone Together e Rosamaria, além dos filmes que produziu.

Narrativa

A narrativa se inicia em um hospital, onde dois homens aguardam que a luz retorne. Entre eles, há o vigia/policial Edgar (Damian Edwards) um homem acovardado, que faz questão de falar que essa cidadezinha sofre com roubo de cadáveres.

Esse fato também aparece em recortes de jornais, um artifício expositivo, com matérias de mídia impressa que seriam muito frequente.

Covardia

Edgar age como um tolo, gritando de susto, ao acreditar que um morto se levantou perto dele, quando era na verdade outro roubo de corpos.

Dali, saiu um garoto sai do hospital impune.

Em seu esconderijo se veem jornais que perguntam o que houve com o Natal, também se ouve no rádio que Papai Noel sumiu, ou seja, fica patente que o Bom Velhinho existe e que seu corpo está com o pretenso e jovem cientista.

Canções e armadilhas

Depois disso, versões instrumentais de clássicos natalinos tocam. Provavelmente isso ocorreu para driblar questões de direitos autorais, embora pareçam ser canções antigas e de domínio público.

Uma senhora lê sobre a lenda de Papai Noel, que presenteia boas crianças e que ataca as malvadas.

Uma dupla de crianças, na véspera do feriado, que fazem dessa casa um campo de armadilhas, para provar que o ser mitológico de fato existe.

Gracejos do Bom Velhinho

O ser mitológico acha engraçada a tentativa do garoto de pegar ele, o cumprimenta, mas sua boa recepção é acompanhada de algo trágico e irônico, já que ele se acidenta, morrendo com um grave choque elétrico.

Noel Frankenstein: Um filme de baixíssimo orçamento, que mistura o mito de Mary Shelley ao Papai Noel

Esse momento é na verdade um flashback. O garoto, é Max, que cresceu e se tornou o ladrão de túmulos e que na fase adulta, é feito por Jared Korotkin.

Nesse ponto ele parece um sujeito que fica incógnito e escondido, de fato ele ficou um tempo sumido, mas ele na verdade é um aluno do colegial, que apresenta experimentos em mostras de ciências.

Em sua casa, ele mantém o cérebro do Papai Noel em conserva. Sua amiga, Kate (Heather Fisch) o acorda cedo.

Eles são próximos desde a infância e estavam juntos no prólogo. O projeto do dois recebe um dez, depois que eles reanimam um ratinho.

Curioso que mesmo fazendo um ser vivo retornar à vida, ninguém acha estranha toda essa movimentação.

Batalhas escolares

Há um núcleo de personagens que é totalmente pautado em estereótipos toscos, eles são jovens festeiros, com aparência bem mais velha do que ostentam, mas nenhum se destaca.

Há uma menina popular, uma outra super carente, que quer atenção de qualquer pessoa mas é ignorada, aparece um bully que ganha importância e que se chama Austin (Fernando Morales) e há elementos macabros, como uma menina que se excita com violência - justamente a namorada desse rapaz citado.

A atuação desse núcleo e todos os outros membros é de um nível sofrível, inclusive a figura de Michael Vitovich, que faz o personagem-título.

Choque

Max segue tentando fazer dar certo o seu experimento, colocando o corpo em uma maca, elevando-o ao céu, tal qual fizeram em Frankenstein de James Whale e como era esperado, a sobrecarga elétrica atrapalha q cidade, faz cair a luz da casa da colega do protagonista, onde rolava a festinha.

Depois de se frustrar ao ver que o raio não despertou o velhinho (ao menos não de cara) Max se penitencia, chama a si mesmo de maluco, até que sua vergonha é interrompida, graças ao fato do senhor acordar.

Caracterização tosca e exposição desnecessária

Papai Noel volta, mas não é um idoso, visto que claramente é um homem jovem e disfarçado, como um empregado de shopping que trabalha de maneira temporário nos dezembros de todo ano.

Além de não parecer um ser milenar também não parece ter morrido anos antes.

Não há rugas, a barba é ridiculamente falsa, tal qual um adereço de fantasia. Talvez ele tenha poderes de autopreservação física, mas isso não é desenvolvido minimamente.

Zero vontade de auto preservar

Outra questão pontual é que Max faz questão de guardar consigo recortes de jornais sobre os seus feitos e crimes.

Dessa forma, qualquer pessoa que por acaso chegue ali, se inteira rapidamente e compreende que ele é um criminoso e violador de túmulos.

É justamente isso que ocorre com sua amiga Kate, que só ia até ele para ver se estava bem e para reportar que o rato que os dois trouxeram de volta a vida estava nervoso e agressivo.

Obviedades ditas em tela

As partes importantes do filme são anunciadas de maneira verbal e não com imagens, dessa forma a obra cai em cima do tipo de abordagem tacanha de falar mais sobre um evento ao invés de mostrar ele.

É natural que em um filme barato isso ocorra, mas não deixa de ser absolutamente frustrante.

Além disso, segue sendo muito bizarro que uma brincadeira de criança tenha matado um ser milenar, se tornando isso mais forçado percebendo que esse mesmo menino estudaria genética para tentar reviver o mito.

Tudo isso ocorre quando o mesmo ainda está na escola. É irreal e tosco demais, especialmente pelo fato que que ele não aparente ser um prodígio.

Pervertido e invertido

O revivido presenteia uma criança, dando a ela uma mão humana decepada, depois, a mata, imitando o monstro do filme de Whale.

Enfim autoridades encontram o assassino e atropelam o sujeito.

Quando levam ao hospital, ele está desacordado, o enfermeiro/vigia reconhece o corpo roubado, avisa seus superiores, mas é tarde demais, o Papai Noel chacina todos.

Do alto da sua covardia, Edgar é poupado, encarado como bonzinho, depois disso, o delegado, com a boca toda ensanguentada, resolve dar uma lição de moral a ele, misturado a um discurso motivacional.

O sujeito resolve ir atrás do jovem, para prender ele e deter o Papai Noel malvado.

Ele então pega a arma e parte para cima do sujeito, que quase consegue fugir com Max.

Santastein – Rabbit In Red

Intenção

O garoto acha que pode alcançar a parte boa do coração do Papai Noel, mas aparentemente não há ninguém consigo que pensa igual ou parecido com ele, somente Max parece entender Noel assim.

Fica a dúvida inclusive se o tal Santastein foi um dia o Papai Noel.

Não há partes podres unidas a ele, não há fagulha de sopro da vida ou algo que o valha.

A história em volta também é pobre, não há subtexto, tampouco há um complexo de Deus, resta só uma tentativa de fazer troça com os slasher bagaceira dos anos 80, como Natal Sangrento.

Perto do fim é dado que esse e um filme de época, visto os celulares que usam, é curioso que carros, roupas e decoração não parecem da década de 1990.

Mais Exposição

Kate vai atrás de ajuda, procura uma senhora de idade, que é a sua avó. A senhora lê um livro que diz que Papai Noel é um ser mágico, que fica mais poderoso no natal.

Esse é um artifício típico do início do cinema de terror, isso ocorre até no cinema mudo como em Nosferatu, mas nessa década, em 2023, é das desculpas mais esfarrapadas para explicar um arco de mitologia.

Não há nessa literatura qualquer menção a voltar a vida, a zumbi, nada, mas ainda assim o discurso da avó serve para devolver a razão até Kate.

A garota decide não abandonar seu amigo e sim preparar quitutes natalinos, com explosivos embutidos e preparados químicos, a fim de derrubar Noel Frankenstein.

Drogado

Um dos festeiros encontra uma maçã com crack, acende o cachimbo, fica doido e  lambe um poste congelado. O matador encontra o sujeito e nem tem trabalho, só puxa a cabeça dele para trás, arranca sua língua e bate o que restou no ferro.

Os momentos finais ocorrem na festinha juvenil, onde os personagens desimportantes bebem, se entorpecem, brigam entre si e praticam sexo.

O Papai Noel ao menos usa artigos de natal para matar,  decapitando uma menina com o cordão de pisca pisca, mas à altura que isso ocorre, já é dificil se importar, já que o longa carece de uma lógica própria e nem mesmo a violência explícita o salva dessa desimportância generalizada.

O resultado final é apenas mais uma podreira genérica, elevada a uma potência que o preço do filme não cobre. Os efeitos são toscos e as tentativas de demarcar mitologia também são qualquer nota.

Toda a questão dele ficar mais forte no natal e de ter capacidades aumentadas via eletricidade é uma boa sacada, mas é tão esgarçada que parece ter sido o único pretexto para realizar esse filme como foi feito.

Kate e Max saem felizes de ter sobrevivido, o natal segue mesmo sem seu ser mitológico e toda a problemática que fez o garoto tentar reviver o bom velhinho é ignorada, em prol de deixar prevalecer um final minimamente otimista.

Noel Frankenstein é uma ideia esdrúxula, elevada a enésima potência. Acerta quando aposta no gore, mas ainda assim é pouco, não ajuda a fomentar nenhuma premissa tão esdrúxula que se torna marcante e nem é engraçado ao ponto de fazer ignorar sua falta de qualidade.

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