O Parque Macabro é uma obra cinematográfica que marcou época, apesar de não ter feito sucesso em seu lançamento. É mais lembrado por ter sido uma fonte de inspiração para alguns artistas famosos, especialmente dentro os ligados ao gênero do horror, como o pai dos filmes de zumbi George A. Romero. Produção estadunidense lançada no ano de 1962, é dirigida por Herk Harvey e parte de uma história que começa com a inocência da juventude, mas recai em uma trama repleta de paranoias e devaneios.
A sinopse passa por uma aposta que dá muito errado, envolve uma corrida em uma ponte que termina com uma batida em uma murada. O carro então cai e uma moça sobrevive, mas não consegue explicar o que aconteceu.
A jornada dela segue com estranhas visões de um homem desconhecido. Ele a persegue e atrapalha sua tentativa de se recompor. Com o tempo ela passa a trabalhar tocando piano e órgão em uma igreja e se vê encarando seus demônios do passado além de outros novos terrores.
Dirigido e produzido por Harvey, o longa-metragem possui roteiro de John Clifford, com argumento não creditado do diretor. O projeto se iniciou da ideia inicial do realizador, que idealizou uma história assustadora em um cenário burlesco depois de passar pelo Parque de Diversões Saltair enquanto viajava por Salt Lake City.
Harvey teve uma carreira baseada em curtas-metragens, entre os mais conhecidos estão Dance Little Children, To Touch a Child e Shake Hands with Danger. Esse é seu único longa-metragem, também fez o seriado Reading Rainbow. Clifford trabalhou junto a Harvey, escreveu boa parte dos curtas-metragens do diretor.
A história tem uma leve inspiração em The Hitch-Hiker ou A Morte Pedia Carona, episódio de Além da Imaginação que foi ao ar em 1960. Também se fala comumente que o curta An Occurrence at Owl Creek Bridge de Ambrose Bierce, lançado em 1890 foi uma fonte de inspiração para o diretor.
Este filme atualmente é mais conhecido por ter inspirado Romero em A Noite dos Mortos-Vivos, no entanto, é dito que ele inspirou O único sobrevivente de Thom Eberhardt, que por sua vez, guarda muitas semelhantes com o filme slasher sobrenatural Premonição, de 2000.
A equipe de produção era pequena, sendo formada por apenas cinco outras pessoas além do cineasta. O orçamento foi arrecadado ao longo de um fim de semana por empresas locais em Lawrence, Kansas.
Harvey e John Clifford abriram mão de seus ganhos para que o filme fosse feito com a quanto minúsculo de US$ 30.000, ao menos até o início da produção.
Cortaram gastos até com elenco, colocaram até o diretor para atuar, como uma das primeiras assombrações.
Harvey afirmou que um rolo de filmagem do filme foi arruinado durante o processamento. Segundo o próprio, as filmagens continham uma série de cenas que deveriam acontecer pouco antes da personagem central ver almas dançando no salão de baile.
Nas cenas, os ghouls - termo que designa os personagens monstruosos que aparecem no filme - deveriam aparecer lentamente por trás dos postes apodrecidos das docas nas salinas. Eles caminhariam lentamente pela pradaria até o salão de baile, onde começariam a dançar.
A versão que incluiria esse trecho duraria 84 minutos, mas sem ela, acabou sendo reduzida para 75 minutos, fato que facilitou a veiculação nos cinemas drive-in, já que facilitaria a acomodação de mais exibições.
O nome original do longa Carnival of Souls, também é conhecido nos EUA pelo nome alternativo Corridors of Evil. No Brasil também se chamou Carnaval de Alma, já nos países de língua espanhola teve mais variações, como Carnaval de Las Almas na Argentina, Carnaval de almas no Mexico, El carnaval de las almas Espanha. Em países de língua francesa, se chama Le Carnaval des Âmes, na Itália é Carnevale di anime e em Portugal é O Circo das Almas.
Como foi rodado boa parte em Lawrence no Kansas o elenco de apoio era formado por atores da área de Lawrence, com cenas internas no Centron Studios. Essa era uma empresa de cinema industrial que produzia filmes institucionais e educacionais, curtas-metragens de "orientação social" das décadas de 1950 a 1960 e a equipe de filmagem era toda de lá, incluindo Harvey e o Clifford.
O filme foi filmado em três semanas, teve locações em Utah, em Saltair Amusement Park e Saltair Pavilion, Great Salt Lake. As filmagens no Kansas foram em 400 South and South State Street, Union Pacific Depot e 18 North Rio Grande Street, Kaw Bridge e no Centron Studios, Lecompton, Trinity Episcopal Church, 516 W 6th St, Reuter Organ Co., 612 New Hampshire Street, Eisenhower Memorial Drive, Iowa Street and West 23rd Street, 1000 Massachusetts e St, Lawrence.
Os estúdios por trás do filme eram a Harcourt Productions e a já citada Centron Corporation, que não foi creditada como tal. Foi distribuído pela Herts-Lion International Corp.
Uma questão pontual aqui é que não houve um aviso de direitos autorais nas cópias do filme, fato que fez a obra se colocar automaticamente em domínio público nos Estados Unidos. Curiosamente, o mesmo rolou com seu "irmão", A Noite dos Mortos Vivos.
A obra estreou no cinema de Frances Feist, lançado em dupla com The Devil's Messenger, que era um piloto de TV de um seriado de terror sueco.
Seu lançamento original nos cinemas foi um fracasso de bilheteria. As exibições subsequentes na televisão em horário noturno ajudaram ele a ganhar um status de cult, tanto que hoje possui fãs e é considerado um marco no terror psicológico.
Houve um relançamento nos cinemas em 1989, exibiram uma cópia restaurada do filme, com exibições em salas de Nova York, mas ele não arrecadou muito dinheiro nessa nova estreia.
A narrativa começa com uma cena de perseguição de carros bem filmadae bonita, que termina trágica, já que um dos veículos cai de uma ponte, devido ao susto.
O impacto não parecia tão grande no início da cena, mas, teoricamente, não houve sobreviventes a se resgatar, exceto uma moça, que é encontrada muito tempo depois.
Ela é Mary Henry, personagem de Candance Hilligoss, moça que é tratada como um milagre, sendo amparada por dezenas de homens que tentavam resgatar o veículo.
Ela acorda mas não faz ideia do motivo de ter caído, não recorda do racha que ocasionou o incidente, só pergunta por suas duas amigas, que obviamente não sobreviveram, tampouco era sabido quem eram, já que ninguém ali as conhecia.
O carro que ela dirigiu era um Chevrolet Biscayne 1960, o que a fez cair da ponte é um Chevrolet Fleetline Special 1949. O outro carro que apareceu antes era um Chevrolet Master DeLuxe 1935. Até se cogitou que a montadora Chevrolet tenha financiado a produção depois, dada a quantidade de carros que aparecem aqui.
A Ponte Lecompton que serviu de cenário para esse trecho foi modificada poucos anos depois, em 1970. Esse é um dos últimos registros em que o pavimento de ferro aparecia, depois foi substituída por uma elevação de concreto.
A sequência acabou causando danos à ponte, que custaram a Herk Harvey a módica quantia US$ 12. A cidade de Lecompton exigiu a substituição da grade da ponte para conceder permissão para filmar lá.
Sobre Hilligoss, essa foi a sua primeira participação no cinema, mas também foi um motivo de revés. A atriz perdeu o seu agente, que se recusou a representá-la depois de ver o filme. Ele considerou que a obra era agressiva demais para uma cliente sua.
Na prática Candace foi a única atriz profissional aqui, ela recebeu a quantia de US$ 2.500 como cachê e recusou um papel no exploitation Violent Midnight de 1963 para assumir o protagonismo nesse.
Ela ficou tão conhecida e reconhecida pelo filme que no final da década de 1980, escreveu um rascunho de roteiro para uma sequência de Carnaval das Almas. Ela levou para o produtor Peter Soby Jr., que decidiu produzir um remake, Parque Macabro de 1998, que não teve qualquer participação da atriz.
Mary tenta viver normalmente, mas sempre tem visões com um homem de aparência pálida e cabelos grisalhos, que é interpretado pelo diretor, como dissemos antes.
Curioso como mesmo sendo um filme em preto e branco, dá para notar o quão clara é a aparência desse ser estranho.
A rotina dela segue com ela trabalhando como organista em uma igreja. Ela é empregada por um padre, interpretado por Art Ellison e ele o faz mais para não deixar ela como um alguém isolado e menos por necessidade de arrumar sustento.
Não é dito, mas parece que há uma preocupação que ela dê fim a sua vida. Um vizinho dela, chamado John Linden (Sidney Berger que teve um papel no remake), se aproxima dela e parece ter interesses amorosos na moça.
Algumas partes da exibição tem uma cor que difere dos tons usuais de cinza, tal qual ocorria algumas vezes em filmes mudos, a exemplo de Nosferatu. Sempre que Mary está em um de seus estados mentais alterados, a imagem fica com uma leve tonalidade ciano, enquanto todas as cenas "reais" são em preto e branco puro. Mais tarde no filme, os segmentos coloridos também apresentam som e imagem distorcidos.
Os dias dela são pouco agitados, variando entre os gracejos do pretendente e momentos onde sonha acordada. Quase sempre ela lembra da estranha figura atormentadora, fato que faz desconcentrar seu cotidiano, tanto que ela acaba perdendo o seu emprego, depois de ter alguns ataques de pânico. A paciência das pessoas parece facilmente esgotar com ela.
Enquanto está sozinha, ela cede aos encantos de Linden, mas nem mesmo ele consegue lidar bem com a moça. Mary afirma que deixará a cidadezinha e vai voltar para o seu lar, que é por si só um mistério. Ela segue calada, nem reclama o aluguel que poderia ser estornado, simplesmente decide sair.
Passada uma hora de duração ocorre um evento estranho, que termina com um efeito de negrito na tela, como se a lente da câmera fosse uma superfície de água quando cai uma pedra.
A partir desse ponto as pessoas param de perceber a presença de Mary. Ela fica invisível para alguns e não a ouvem também. Os únicos que interagem com ela são personagens com aquela mesma maquiagem pesada da aparição.
Isso faz pensar que ela talvez tenha morrido, não ficando claro qual era exatamente esse momento. Poderia ser no início, na queda do carro ou após a saída dela da igreja, com o fim de sua vida acontecendo depois de perder sua fonte de renda.
Ela poderia ter se matado e a recompensa do suicídio seria se tornar uma alma penada, no entanto o filme não se preocupa em explicar isso, só joga seus elementos de horror em tela, para que o espectador entenda o que quiser.
A personagem se entrega a desolação. Fica a impressão de que a vida de Mary é pautada pela sensação de tristeza e perseguição, eternamente atormentada pela estranha e macabra figura que a acompanha desde o início da trama.
De acordo com Hilligoss, a água do rio em que ela foi submersa no final estava gelada. Ela disse que teve que ser colocada ali por várias horas para conseguir fazer os trechos finais. Uma das atrizes deitada ao lado dela está tremendo visivelmente por causa da água fria. Já as cenas dos ghouls surgindo do lago foram filmadas em uma piscina de um complexo de apartamentos perto da casa do diretor Harvey em Lawrence.
Mary acaba cercada por essas estranhas presenças, mais ou menos na mesma situação de desaparecimento da gênese do filme, fechando assim a trama com uma rima com a gênese do drama, mostrando que a jornada da personagem central era cíclica.
O Parque Macabro termina com mais perguntas do que respostas e é sensacional justamente por isso. Apesar dos muitos problemas de produção e do fracasso financeiro, é uma obra que ajudou a determinar os rumos do cinema de terror de sua época. É uma obra que provoca reflexões e ajuda a pavimentar o que seria assustador no cinema dali para a frente, é de fato um divisor de águas, além de um clássico incompreendido em sua época de lançamento.