Sonâmbulos : Uma trasheira que une Mick Garris e Stephen King

Sonâmbulos : Uma trasheira que une Mick Garris e Stephen KingSonâmbulos é um filme de horror lançado em 1992. Baseado em uma ideia original de Stephen King que é lembrado por seus efeitos especiais estranhos, por sua trama intrigante e pelo meme incestuoso que envolve mãe e filho protagonistas.

Dirigido por Mick Garris, contumaz parceiro do escritor, esse longa-metragem é marcado também por ser a primeira parceria da dupla. Ao contrário da maioria das adaptações de King esse não é baseado em um conto, romance ou novela e sim em um conceito inédito do escritor, que aqui assina o roteiro.

A história mostra uma estranha família, que acaba de se mudar para uma pequena cidade em Bodega Bay na California, a fim de arrumar alimento, procurando assim uma virgem para sugar dela a sua força vital.

O longa conta com uma atuação sensacional da parte de Alice Krige atriz que interpreta a mãe dessa família, Mary Brady. Ela e seu filho dizem que vieram de Ohio. Essa dupla de parentes são seres antigos, os mesmos que supostamente deram origem ao mito dos vampiros e a aparência real deles tem a ver com felinos. Os conceitos são esquisitos, a execução e a narrativa também.

O escritor escolheu Garris depois que assistiu e gostou de Psicose 4: A Revelação, lançado em 1990. O diretor escolhido incialmente seria Rupert Wainwright (Stigmata e A Névoa) mas ele deixou o filme depois que fez alterações no roteiro que o estúdio e Stephen King aprovaram. Depois disso, King solicitou que Garris fosse admitido na função.

Os produtores são o trio Michael Grais, Mark Victor, conhecidos por ter escrito Poltergeist: O Fenômeno e Nabeel Zahid. São produtores executivos George Edde, Dimitri Logothetis e Joseph Medawar.

O nome original do filme é Sleepwalkers, em atenção as criaturas que protagonizam a trama. Na Argentina é La maldición de los sonámbulos, na Alemanha é conhecido como Stephen Kings Schlafwandler.

Na Grécia é Nyktovates, na Finlândia é Stephen Kings sömngångarna, na França é La nuit déchirée, na Itália é I sonnambuli. No México possui dois nomes, no cinema foi chamado de Sonámbulos e na TV é Los mutantes. Em Portugal se chama Sonâmbulos de Stephen King.

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Os estúdios por trás são a Columbia Pictures, Victor & Grais Productions e Ion Pictures. A distribuição ficou com a Columbia Pictures nos EUA e com a Columbia TriStar Film Distributors no Reino Unido.

O longa foi rodado em Los Angeles, Califórnia. Teve cenas Van Nuys High School - 6535 Cedros Ave., Franklin Canyon Park, Franklin Canyon Drive em Beverly Hills, no Franklin Canyon Reservoir Park, 1328 Montana Ave, em Santa Mônica, Cypress Sea Cove - 33572 E Pacific Coast Hwy em Malibu, também no Warner Bros. Studio Plaza - 3400 W. Riverside Dr. Burbank e no Sony Pictures Studios - 10202 W. Washington Blvd. em Culver City.

Mick Garris disse que tomou algumas liberdades no filme, colocando ideias que não estavam no roteiro original de King. Uma dessas é a introdução que entra após a sequência do título, da tal página do Livro do Conhecimento Arcano. Garris inventou o trecho para dar um pouco de mitologia ao filme, já que ele julgava que estava meio carente disso.

A outra foi uma cena de sexo, que ocorre mais perto do final, que a tal sequência que mostra como funciona a sobrevivência entre os tais personagens mágicos.

O diretor disse que eles houveram nove cortes diferentes, até que fosse obtida a classificação R. Entre os cortes de violência estava Charles removendo o saca-rolhas do olho e Mary cuspindo os dedos de um dos personagens que ela mordeu.

Em uma dessas, o corte teve a ver com uma cena de sexo, simplesmente graças ao fato de mostrar roupas no chão. A câmera se move para cima, mostra pés descalços, pernas nuas, corpos nus e então revelar o espelho atrás deles enquanto eles estavam fazendo sexo como uma criatura felina, mas as nádegas nuas de Brian subiam e desciam, o que daria uma classificação X imediata.

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Garris vinha trabalhando em making offs de filmes B. Fez documentários dos clássicos Gritos de Horror, Enigma de Outro Mundo e Os Goonies. Também dirigiu Criaturas 2 e Psicose IV. Fez a minissérie A Dança da Morte, o telefilme A Maldição de Quicksilver e o filme/série O Iluminado de 1997.

Organizou a sensacional série Mestres do Terror e se tornou um grande jornalista voltado para o cinema B, em entrevistas e podcasts, como no Post Mortem, que reunia entrevistas com pessoas da indústria de cinema de gênero, além de falar bastante sobre as adaptações dos livros de King e da série antológica citada.

King tinha dirigido o filme de horror/comédia Comboio do Terror seis anos antes desse. Seus trabalhos (da época, claro) incluíram as adaptações de seus livros em Conta Comigo, O Sobrevivente, o telefilme Carrie, Louca Obsessão, ele escreveu o roteiro de Cemitério Maldito em 1989, episódios em Arquivo X e a minissérie A Tempestade do Século.

Grais é conhecido obviamente por ter escrito Poltergeist, Poltergeist II: O Outro Lado. Ele produziu esse segundo e Marcado Para a Morte. Victor escreveu (e produziu) esses com seu parceiro, também foi produtor executivo em A Casa da Morte e Mundo Proibido. Zahid produziu Campeões Para Sempre, também escreveu e produziu o clipe Brothers: The Walls.

Antes do filme começar, aparece a definição do tal ser - que não teve nenhum paralelo com obras anteriores de King, diga-se - criatura de perfil nômade, de origem humana e felina, vulnerável ao arranhão de gatos (vai saber por que, já que não se aprofunda em nada) alimenta-se da força vital de fêmeas virgens.

Eles são definidos também como a possível origem da lenda dos vampiros, não ficando claro se nessa versão, existem vampiros ou não, mesmo que King tenha histórias com mortos-vivos sugadores de sangue, como em Salem's Lot ou A Hora do Vampiro.

A ação já começa com a polícia entrando em uma propriedade cheia de gatos mortos pendurados, enforcado de uma maneira tal qual espantalhos - curiosamente, os animais não reaparecem nessa disposição e configuração nunca mais - é mostrado Mark Hammil, o velho Luke Skywalker, que faz Jenkins,

Ele entra na casa, vê cores estranhas saindo de uma das portas, a abre, toma susto com um gato saindo, depois cai o corpo morto, decomposto há tempos.

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Depois dos créditos iniciais, é mostrado Chales Brady, personagem feito por Brian Krause, ator conhecido por papéis em De Volta à Lagoa Azul e Charmed: Jovens Bruxas. Ele mira Tanya Robertson, no livro escolar, circula o nome dela como se fizesse dessa menina um alvo.

Logo depois ele aparece atrás de uma jovem senhora, Mary, feita por Krige, que era conhecida por ser a rainha Borg em Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato, além de estar no elenco de blockbusters como Solomon Kane: O Caçador de Demônios e O Aprendiz de Feiticeiro.

Mick Garris escalou Krige como Mary Brady após sua aparição em Histórias de Fantasmas de 1981. Ele trabalhou na divulgação desse filme, quando ainda era publicitário da Universal Pictures.

Ela assiste um gato fugindo de pequenas armadilhas de urso, preocupada com o bicho, mas não de um modo zeloso. Ela tem receio de que ele entre ali, parecendo assim desesperada e paranoica. Ela é interrompida e levada para o quarto por Charles, em seu colo, de maneira romântica, mesmo que Brady seja a mãe dele...

A sequência vai até Tanya Roberts, a bela moça que trabalha em um cineminha de uma cidade pequena. Essa é feita por Mädchen Amick, que estava em alta depois de participar de Twin Peaks e de A Mulher dos Meus Sonhos.

No letreiro do cinema aparecem nomes fictícios de filmes, como They Bite e Scream Dreams nos cinemas, ou seja, essa cidadezinha gosta de histórias de horror. Charles chega ao local e vê ela dançando, ao invés de trabalhar.

Curiosamente ela se concentra ao ouvir Do You Love Me, da banda The Contours, uma canção antiga, dos anos 1990. Charles interrompe a menina, flerta de maneira bastante suspeita, mas passa por cima de qualquer desconfiança, já que é bem-apessoado, o perfeito cara novo vindo de Ohio.

Ela dá as boas-vindas do cinema Travis, a cidade onde ele está morando.

Após isso, ocorre outro estranho beijo entre mãe e filho, isso com menos de 20 minutos de exibição. Isso seria repetido algumas vezes durante a exibição.

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Logo depois é mostrado uma classe escolar, comandada pelo sr. Fallows (Glenn Shadix) cheio de adolescentes de 30 anos na aula, incluindo até a dupla de recém conhecidos e novos flertantes.

Aparentemente o professor é apresentado só para ser mostrado como uma vítima que merece morrer, já que ele tenta assediar o rapaz, parando o carro dele, deliberadamente, para tentar encostar em suas partes íntimas.

Charles contra-ataca de maneira agressiva, atacando Fallows de um modo rápido e estranhamente bizarro, já que mais do que de repente ele arranca a mão dele, quando puxa o braço para dentro de seu carro.

Depois que o sangue espirra no para-brisa, ele mostra uma face animalesca pela primeira vez.

Essa maquiagem varia de qualidade de acordo com o momento em tela. Há inclusive estágios, algumas mais bem-feitinhas, outras péssimas. Há próteses de efeitos práticos, outras com uso de stop motion e também de efeito digital, mas normalmente só se uma máscara mesmo.

A sequência termina com uma perseguição e é seguida de outra busca, no caso, do oficial Andy Simpson (Dan Martin) acompanhado de seu pet, Clovis, interpretado pelo pet Sparks.

É nesse trecho que Charles quando ele vê o gato do policial, começa a mudar de forma, em um efeito especial tosco e engraçado, que lembra a transição do clipe Black or White de Michael Jackson. Aparentemente ele entra em um curto circuito mental, por isso não sabe como se portar e como deve aparentar ser.

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O rapaz utiliza um de seus poderes para camuflar o carro, mas o gatinho Clovis consegue enxergá-lo, em uma visão avermelhada bastante estilosa. O policial Andy ignora o bichano, perdendo o rapaz de vista. Na próxima cena, o carro muda até de modelo, afinal, ele quer se camuflar.

A trama "humana" segue com a menina Tanya fica fascinada por Charles, por seus talentos de escrita - que não é grandes coisas - ela é apresentada para a possessiva mãe do rapaz, enquanto é preparada para ser abatida por ele, que obviamente é um sleepwalker/sonâmbulo, igual os personagens do conto que encantou a menina.

A grande questão é que Tanya aparentemente encantou o garoto, que está apaixonada por ele. Esse flerte com uma paixão revoltou sua mãe, não ficando claro se ela está frustrada por perder a chance de se alimentar, se é por ciúmes ou um misto dos dois.

A grande questão do filme é que não se desenrola a mitologia ou explicações sobre quais são e como funcionam as habilidades dos sonâmbulos. Eles possuem fraquezas a gatos, mesmo sendo meio felinos. Eles parecem atrair os bichos, como se precisassem ser feridos por eles.

Também há a promessa de que mais sonâmbulos existam, mas isso não aparece. Há uma crença de mãe e filho são os últimos da raça, apesar do senão levantado pela mãe.

O que realmente é falado é que precisam arrumar energia de uma virgem e quando o rapaz conseguir, precisaria passar a luz vital para a mãe, através do sexo. Isso tudo é dado de maneira lenta e gradual. Em um encontro do casal, o rapaz arranca uma luz azul dela, pela boca, depois demonstra para ela uma das suas faces monstruosas. Essa é uma cena ridícula ao extremo, mas muito divertida também.

A partir desse ponto o longa se torna uma comédia rasgada na meia hora final, a partir da cena em homeland, onde ele enfia um lápis no ouvido do policial Andy, sendo atacado pelo pet, Clovis.

Há também algumas cameos curiosas na meia-hora final, aparecendo King e o diretor Tobe Hooper, escritor e cineasta Clive Barker em uma cena de investigação de cadáver, além do diretor Joe Dante em uma delegacia.

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Outra aparição que ocorre é a do ator Ron Perlman - participaria de Desespero, outra adaptação de King, lançado 14 anos depois - ele faz o capitão Soames, um agente da lei que parece que seria importante, mas não é.

Os momentos finais incluem o maior momento de brilho do filme, que é exatamente o ataque de Krige a família Robertson. A sequência envolve ela enquadrando Donald e Helen, respectivamente Lyman Ward e Cindy Pickett que interpretaram também se casaram na vida real na época das filmagens.

Seu ataque é tão insano que afeta até o policial Horace, de Monty Bane, que gasta todas as balas, em vão, atirando em vários pontos da casa, sem chegar nem perto de acertar a vilã. Pior, há um crasso erro de continuidade, já que o tira atira duas vezes no mesmo vaso. Fica até a dúvida se esse chiste na verdade não foi uma piada pré-concebida.

A polícia finalmente tem atenção na mãe e filho, perceberam tardiamente que as fotos dele são estranhas, mas essa questão é levantada e jamais tem essa informação repetida ou desenvolvida. Essa falta de aprofundamento é via de regra no filme, não se coloca gravidade depois que o professor some no início, ou a questão dos gatos verem os sonâmbulos invisíveis, há vários conceitos levantados e descartados do nada.

Os ataques da Mary são ótimos, cheios de momentos bizarros, como ela assassinando Horace com um milho ou quando ela morde os dedos de Soames.

Esse trecho é o ponto onde se abre mão completamente da seriedade, descambando para uma trasheira assumida, que piora ao mostrar Charles quase morto, sangrando e envelhecido.

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A maquiagem dele ferido no final é sensacional, mas perde um pouco da força quando ele vira a monstruosidade em CGI, especialmente graças ao efeito especial mega barato empregado. A mistura de efeito digital e prático nem sempre funciona.

Krige brilha demais, ela possui a melhor performance do filme disparada. Ela está muito à vontade no papel, se utiliza de dança, telecinese e exageros bizarros como quando ela faz o filho dançar com telecinese ou os tiros que ela dá, que explode o carro.

No final há uma intervenção Deus ex-machina, com Clovis liderando uma gangue de gatos, revelando a face real dos sleepwalkers, como seres monstruosos de maneira semelhante ao que é visto em Um Drink no Inferno, só que três anos antes. As viradas de roteiro são bastante semelhantes a louca fita que Robert Rodriguez lançou em 1995.

O policial velho, xerife Ira Stevens, de Jim Haynie é valente, age como um herói, apesar de não ter dado nenhuma mostra disso ao longo de todo o filme. Ele se sacrifica, mas não cumpre seu papel.

São os bichinhos de estimação que derrotam a mãe, fazendo ela entrar em combustão, em outro efeito especial triste. Sonâmbulos é divertido, uma bobagem sem tamanho, sendo uma obra absolutamente trash. Mesmo com suas irregularidades é um dos melhores filmes da carreira de Garris, um dos que teve mais orçamento e é uma obra que valoriza demais o texto de King, mesmo que seja tão atrapalhado.

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