Ursinho Pooh: Sangue e Mel II é um filme de horror que surpreendeu boa parte do público, não só pelas participações de personagens famosos, ou por lançar mão de um formato ligado a Filmes de Matança e Slasher Movies, mas também graças a qualidade visual que subiu muito entre esse e o primeiro filme da "saga".
Lançado no primeiro semestre de 2024, a obra usa parte da mitologia que a turma do ursinho obeso Pooh ou Puff viveu fosse nos livros de A.A. Milne ou nos filmes da Disney. Esses personagens entraram em domínio público ano passado e dessa vez ainda houve um acréscimo, do personagem Tiger, ou Tigrão, que é o coadjuvante que ficou entrou em domínio público apenas em 2024, já que estreou em um outro livro do mesmo autor.
Essa é a ponta de lança de um novo universo compartilhado que usará figuras infantis como fonte do horror e terror. A princípio a iniciativa foi chamada de maneira informal como Poohverse, mas passou a ser tratada como Twisted Childhood Universe, que mira distorcer a infância das crianças, para fazer assustar e causar medo.
Pela internet já é chamado de TCU (haja trocadilhos no Brasil...) mas até o momento, só foram lançados esse e o primeiro Ursinho Pooh: Sangue e Mel.
A história parte de um ponto bem diferente do longa de 2023, mesmo que tenha o mesmo diretor do anterior, Rhys Frake-Waterfield. A trama acompanha Christopher Robin, que tenta seguir uma vida normal, depois do massacre no Bosque dos 100 Acres.
Ele estudou medicina, começou a trabalhar como médico na cidade local de Ashdown, mas segue sendo maltratado, perseguido, criticado e mal falado na cidadezinha. Sofre consequências violentas não só para si, mas também para os seus pais.
Ainda assim ele ainda insiste em viver na cidade e acaba recebendo a visita de seus antigos amigos, sendo assim convidado a mais uma desventura de horror.
Essa é uma coprodução entre Reino Unido e Estados Unidos, que tem roteiro de Frake-Waterfield, agora com auxílio de outro escritor, Matt Leslie. Apesar de se basear nos personagens de A.A. Milne e do ilustrador E.H. Shepard não há crédito de "baseado nos personagens de " ou algo que o valha. Os produtores são o ator Scott Chambers, que assina Scott Jeffrey e o diretor. São produtores executivos Stuart Alson e Nicole Holland.
Os estúdios por trás do filme são a ITN Distribution, Jagged Edge Productions e Premiere Entertainment Group. Foi distribuído pela Altitude Film Entertainment na Grã-Bretanha, Fathom Events nos EUA e Imagem Filmes no Brasil.
O longa foi filmado na floresta britânica conhecida como Ashdown Forest. Sua estreia em regime de premiere mundial foi no teatro Prince Charle de Londres na segunda-feira, 11 de março de 2024.
O título original é Winnie-the-Pooh: Blood and Honey 2. Na Argentina é Winnie Pooh: Miel y Sangre 2. Na Itállia é Winnie the Pooh - Tutto sangue e niente miele.
Rhys Frake-Waterfield dirigiu o curta Go Viral, Demonic Christmas Tree, Tornado de Fogo, o primeiro Ursinho Pooh: Sangue e Mel além de Sky Monster onde não foi creditado. Produziu Snake Hotel e Freddy's Fridays.
Ele tem especialização em trabalhos com efeitos especiais, fez funções nesse departamento em H.P. Lovecrat's Monster Portal, Wrath of Van Helsing, Crocodilo Vengeance e Kingdom of the Dinosaurs.
Matt Leslie escreveu o recente horror Verão de 84, no entanto é mais lembrado por fazer trabalho de assistência junto ao produtor Matt Alvarez em Policial em Apuros, 13º Distrito, Nos Bastidores da Fama e Straight Outta Compton: A História do N.W.A..
Scott Chambers produziu muita coisa nos últimos tempos, especialmente em Haunted Hotel, Unhinged, Mary Had a Little Lamb, Three Blind Mice, Tornado de Fogo e Devolution. Ele atuou em boa parte dessas obras e faz Christopher Robin nessa parte dois da saga Ursinho Puff. Esteve no elenco de A Maldição dos Esquecidos.
Como essa obra é um lançamento de 2024, preferimos avisar que haverá spoilers, especialmente na ligação entre o primeiro Ursinho Pooh Sangue e Mel e essa parte dois.
Portanto, depois da imagem, falaremos sobre os eventos. O aviso está dado.
O pontapé inicial do filme é que o urso Pooh (Puff) e os outros híbridos com animais não foram selvagens sempre. Já de início fica claro que eles eram fruto de experimentos científicos inconsequentes e terríveis, que transformaram eles em comedores de carne vorazes, famintos até por carne humana.
Eles são experimentos bizarros, organizados por um geneticista que gostava de brinca de ser Deus, mas que não tem sua origem e intenção totalmente reveladas.
As filmagens de Ursino Pooh Sangue e Mel não são descartadas, na verdade são repaginadas, como parte de uma obra ficcional, a respeito do caso real. Ou seja, houve um massacre no Bosque dos 100 Acres sim, mas o longa-metragem não é canônico, é na verdade uma versão de cinema B, de baixíssimo orçamento, que se tornou um hit, uma obra popular, desgraçando ainda mais a rotina do Christopher Robin que Chambers interpreta, já que as pessoas confundem os fatos do roteiro com a realidade.
Esse é um comentário inteligente, já que isso é uma coisa comum, especialmente com os públicos menos acostumados a analisar as formas de arte do cinema.
Ainda consegue arrumar uma boa desculpa para não seguir a partir dos eventos dela. Ainda serve como um esperto aceno metalinguístico, podendo assim estabelecer uma grande mudança de abordagem, sobretudo visual.
Curioso que o cinematógrafo Vince Knight é o mesmo da obra de 2023, mas há um cuidado por tornar esse um filme bem mais sombrio e muito mais sério. Os assassinos seguem brutais, mas não bem menos irônicos, exceção talvez ao Corujão, que tem bastante destaque aqui, inclusive com poderes diferenciados, com um bafo forte, liberando um líquido ácido.
Há inclusive um cuidado por fazer ele voar baixo, além de que o personagem tem a cabeça pelada, fazendo assim que pareça mais um abutre. o personagem de Marcus Massey.
Ao comentar sobre o Poohverse, o diretor disse que tem como exemplo e inspiração o divertido Freddy x Jason, longa crossover entre personagens de A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13, só que é bem mais voltada para o humor do que esse segundo filme, semelhante ao menos em partes ao primeiro filme dessa saga do urso assassino.
Fica a dúvida se eles retornarão a esse tom. Seria saudável.
Chambers falou de futuras adições de personagens como Bambi, o Chapeleiro Louco de Alice no País das Maravilhas, Peter Pan e Sininho de Peter Pan, Pinóquio, Bela Adormecida, até Bambi, possivelmente outros também.
O início da narrativa começa com uma estranha frase, atribuída ao ursinho fofo, algo como "Você não pode ficar no seu canto da floresta esperando que os outros venham até você. Às vezes você tem que ir até eles". A fala é baseada em uma frase literal do livro The House at Pooh Corner, de A.A. Milne, lançado em 1928. Esse foi o livre que apresenta Tiger/Tigrão, mas no livro a frase é dita pelo Coelho para o burrinho, Bisonho.
Há um narrador que conta sobre a aproximação de um menino e seu urso, supostamente de pelúcia. Há uma outra situação, de Ernest Hemingway, que afirma que "Todas as coisas verdadeiramente más iniciam com um inocente" em atenção obviamente a crianças.
Como dito antes, o tal massacre acabou tornando Christopher o alvo da culpa, já que as pessoas não acreditaram nele, sobre um urso antropomórfico matando pessoas.
É dito que ele tentou emboscar seus antigos camaradas, até liderou um grupo pequeno de locais crédulos, que agiram como caçadores e milícia armada, que foram atrás dos tais monstros antropomórficos.
Na prática, tanto Puff quanto Robin se tornaram párias.
No entanto o urso sumiu do Bosque dos 100 Acres, se escondeu e ficou assim por boa parte do tempo.
Já Christopher estudou, se formou na faculdade de medicina e quis trabalhar em Ashdown, mas ninguém na cidade confiava nele. Ao longo do filme outras milícias se formam, para invadir a floresta, até vão atrás dos supostos bichos matadores, mas a maioria das pessoas não levam ele a sério, encaram como assassino, que usa o argumento de loucura para se justificar.
Há no início uma bela animação, até mais elaborada do que a que contou a origem dos personagens no primeiro filme. Esse é um bom upgrade, justamente em um artigo que foi muito elogiado na obra que estreou ano passado.
Essa é bastante bonita, macabra e cheia de ternura, explica inclusive sobre o filme baseado na lenda urbana de que um urso e um porco bípedes mataram jovens e sequestraram Christopher Robin.
A ação não demora, já que nos primeiros cinco minutos rola um ataque a meninas que estão na floresta. A sequência varia entre a trasheira assumida, com cenas de golpes pesados, com um trabalho de maquiagem sensacional.
A equipe tem como prostética Paula Anne Booker-Harrison, com design de Shaune Harrison. Como artistas estão Mark Wilkins e Paul Wilkins. A sequência é violenta e confusa, em alguns pontos é difícil de compreender, por ser a noite, em um ambiente mega mal iluminado.
A coisa toda escala maravilhosamente, com os animais atacando, explodindo o trailer, usando armadilha de urso, quebrando o pé de uma das meninas, com o Corujão falando sobre a audácia das vítimas em tentar sobreviver, logo depois de uma delas ter tentado fugir em um carrinho de golfe muito lento.
Duas coisas se destacam na caracterização básica dele, a primeira, é que ele tão importante para a trama que possui música tema própria, talvez a mais inspirada da trilha sonora de Andrew Scott Bell.
Segundo é que há toda uma ironia intrínseca na cena e esse é um dos maiores acenos ao humor que o filme possui. De resto, o tom é bem mais sério que o outro.
Há uma certa inteligência ao registrar as cenas de voo de Corujão. A maioria delas tem um ponto de vista baixo, fato que não exige tanto em matéria de qualidade. Esse ainda é um filme B, não haveria como fazer cenas muito elaboradas de voo, ainda mais sendo essa só uma das muitas fontes de sustos.
O personagem também se destaca por falar muito, por ser verborrágico, parece ter uma voz de comando entre os monstros, mas que também gosta de ser irônico com suas vítimas, tanto que retribui o preconceito que sofreu, ao indagar uma das vítimas recém mutiladas sobre "quem seria uma abominação", especialmente depois desse ataque, que a deforma completamente.
Christopher aparece conversando com sua analista e psiquiatra, Samantha, de Teresa Bannam. Depois de falar no consultório, ele encontra Lexy, uma bela moça de seu passado, de quem ele tenta (em vão) manter distância. Ela é interpretada por Tallulah Evans, de O Filho de Ranbow e das séries White Line e Ou Tudo Ou Nada de Novo.
Ela dá uma carona para ele, o compreende, pelo menos tenta fazer isso, as pessoas da cidade continuam tratando ele mal, picham seu carro, maltratam os pais dele.
A polícia encontra as três garotas mortas, populares entram na floresta, armados de espingardas, caçam os bichinhos monstruosos, eles remontam as armadilhas de urso, sem perceber que essas são armadilhas para os humanos na verdade, já que Puff as utiliza, para atacar.
As maquiagens estão muito mais elaboradas, especialmente com Pooh. Saíram as máscara toscas e entraram caracterizações agressivas e sangrentas. Se notam pelos e sangue espalhado, um aspecto bem mais feral que o que foi mostrado antes.
É uma pena que hajam muitas cenas escuras, já que esse aspecto atrapalha a contemplação das caracterizações em sua plenitude. Obviamente que são assim para não denunciar possíveis imperfeições e defeitos, mas sendo elas tão elaboradas acabam subaproveitadas.
Pooh é muito forte, ele passa muito facilmente por seus opositores armados. O personagem é interpretado por Ryan Oliva de Vingança Muda, As Hereges, Escola da Morte, Invasão ao Serviço Secreto.
Em seu caminho o vilão deixa um rapaz vivo, mas ele fica completamente deformado. Essa parece ser uma praxe do grupo, um padrão, permitindo que haja ao menos um sobrevivente por ataque, para que esse propague a palavra sobre eles.
Christopher é mandado embora do hospital, despedido graças a atenção que o filme chamou sobre ele. Como esse filme busca ser mais sério, é justo perguntar o motivo que o faz insistir em ficar em Ashdown.
Ele é médico, tem condições de sair, de se preservar e preservar também sua família, mas prefere ficar, talvez por mirar uma tentativa de redenção, que claramente jamais virá.
Rhys Frake-Waterfield escolhe bem suas cenas, projeta tomadas criativas, mas também faz tomadas óbvias, destacando as facas na casa da mãe de Robin. Aos poucos apresenta os membros da família de Christopher, sobretudo a criança Ella, a irmã dele, feita por Thea Evans, que insiste em chamar a si própria de Bunny ou Coelhinha.
Os pais de Christopher são Alan (Alec Newman) e Daphne (Nicola Wright) em atenção aos mesmos nomes dos pais do verdadeiro Christopher Robin Milne, cujos pais eram Alan Alexander Milne (o criador de Puff e cia) e Dorothy "Daphne" de Sélincourt.
Em sessões de regressão, Christopher chega a conclusão (óbvia) que Pooh não era tão inocente quanto ele pensava.
O sujeito repetia para si que algo mudou o caráter do amigo, mas a realidade é que quando os dois eram "filhotes", ele já comia carne humana, mas a imaginação infantil de Christopher sublimava isso.
Ele fantasiava, preenchia o que não entendia, de forma lúdica modificava tudo, possivelmente para preservar a própria inocência infantil.
A vítima sobrevivente, chama Christopher, assim que consegue falar de maneira clara. O discurso do quase moribundo dá razão a Robin. A sequência é visualmente assombrosa, com um visual sensacional do rapaz, primeiro aparecendo todo enfaixado, depois, deformado e chorando sangue.
A revelação sobre a mistura de DNA se dá de maneira bizarra e bastante óbvia. Qualquer espectador que tenha visto um ou dois filmes de ficção científica especulativa já seria capaz de intuir. Aqui tudo é revelado por um senhorzinho senil, bêbado e suicida, um apelo ao clichê tanto do Crazy Joe, que foi inaugurado em Sexta-Feira 13, quanto do velho sábio que explica o enredo, presente em dezenas de filmes, em especial em Psicose.
Todos os momentos dramáticos são mal construídos, não se cria expectativa ou algo do gênero. Mesmo os elementos apresentados não são desenvolvidos, há muita coisa mencionada e abandonada logo em seguida.
Uma das teorias levantadas em fóruns é que Ella se tornaria Bunny, ou Abel, o Coelho da turma de Pooh, mas isso jamais ocorre. Também se cogitava que Christopher e Puff poderiam unir forças, já que ambos são páreas, mas essa subtrama com potencial é devidamente ignorada também. Não se trabalha ambiguidade, tudo passa pelo óbvio.
Ouvindo as gravações do cientista, Robin entende como a regeneração ocorre, mas nem isso o faz se preparar para o ato final. Ele não tenta sequer destruir o corpo de seus antigos amigos, provavelmente por pena.
Há também um número grandioso de referências a filmes e livros sobre experimentos, especialmente ao livro Frankenstein de Mary Shelley e até um pouco de Re-Animator: A Hora dos Mortos Vivos.
Do ponto de vista técnico, há pouco do que reclamar. Até o uso de CGI é moderado, se tornando mal-empregado ao mostrar sangue digital, mas não chega a desagradar. Talvez se fosse um pouco mais falso, acrescentaria uma camada de humor voluntário.
A violência na casa dos Robin é sensacional, Pooh mata de forma cruel e sanguinária, enfia facas na sra. Daphne e aparentemente rapta Bunny.
O que de fato depõe contra o filme é a cena de introdução de Tiger. A maquiagem de Pooh e Tigrão não é tão fácil distinguir, ainda mais nas cenas noturnas, que são maioria.
A grande diferença é a forma de atacar, já que o felino utiliza muito suas garras afiadas para atacar, de modo que parece um gato que anda com duas pernas.
O personagem de Lewis Sander possui uma cauda bem proeminente, que balança o tempo todo, para demonstrar que ele é. Sua paleta de cores é bem escura e ele é tão cruel quanto seus comparsas.
Teoricamente era para ele ser até pior, já que Corujão o escondeu o tempo todo, mas ele tem pouco tempo de tela.
A grande questão com o filme é que praticamente só há morte de gente descartável. Não que Lexy, as crianças e Christopher sejam personagens super bem construídos, mas a realidade é que só morrem jovens genérico e parentes que são colocados claramente para fazer número na contagem de corpos.
Não há nenhuma cena realmente importante com os pais de Christopher. Ele mal parece se importar com a morte, só fica preocupado com Bunny, que aliás, aparece magicamente depois. Ela se escondeu na casa e só saiu depois que os vilões morreram. Deve ser a única personagem realmente pensante da obra.
A sanguinolência e o gore rivalizam com o visto em Terrifier, embora aqui seja algo muito mais seco, sendo assim menos caricato.
Há uma cena de créditos que mostra a regeneração dos vilões, além de uma série de esquetes com os filmes seguintes do universo Twisted Childhood. A promessa é que venha Bambi: The Reckoning, Peter Pan's Neverland Nightmare e Pinocchio: Unstrung, além do crossover Poohniverse: Monsters Assembly.
Ursinho Pooh Sangue e Mel Parte 2 é mais bem organizado que o primeiro, consideravelmente mais violento e com mais orçamento, mas ainda assim é covarde e esconde seus pontos positivos no receio que tem de ousar em sua fórmula. Acaba praticamente no mesmo ponto em que começou, sem alterar quase nada do status quo, é cuidadosamente pensado para ser apenas um filme de franquia, o que sem sombra de dúvida é uma pena.
Comente pelo Facebook
Comentários
Comente pelo Facebook
Comentários