Jogos Mortais 4: O primeiro episódio "fanfic" da saga

Jogos Mortais 4: O primeiro episódio "fanfic" da sagaJogos Mortais 4 é um filme de horror de baseado no clichê do torture porn. É uma coprodução entre Canadá e Estados Unidos, dirigida por Darren Lynn Bousman, que segue a partir das ideias e armadilhas de John Kramer, aka Jigsaw.

O longa foi lançado em 2007 é o primeiro da série que não conta com participação dos criadores da saga em funções de destaque. Dessa vez o roteiro ficou a cargo de Patrick Melton e Marcus Dunstan, com argumento dos dois e Thomas Fenton.

Esse é também é o filme que já não possui mais John Kramer como um vilão "vivo". Tobin Bell aparece primeiro como um cadáver - na verdade é um boneco que imita o seu corpo BRILHANTEMENTE - e depois aparece em momentos do passado.

Produzido por Oren Koules e por Mark Burg - que afirmou que este é seu filme preferido da série - tem Gregg Hoffman nessa função também, apesar do mesmo ter falecido em 2005.

O longa possui muitos produtores executivos, algo que é comum em sagas e franquias grandes. Entre eles há James Wan, o diretor do primeiro Jogos Mortais, também Leigh Whannell, que escreveu os três primeiros, além de Peter Block, Jason Contantine, Daniel J. Heffner e Stacey Testro. Foi feito pelo estúdio Twisted Pictures novamente, distribuído pela mesma Lionsgate. Bousman rodou ele no Cinespace Film Studios - 30 Booth Avenue, em Toronto-Ontario, no Canadá, filmou tudo em 32 dias.

Normalmente sequências são aprovadas de acordo com o sucesso da obra anterior, mas não foi esse o caso de Jogos Mortais 4, já que recebeu luz verde antes mesmo de Jogos Mortais 3 estrear. Um dos grandes receios dos produtores é que a saga seguisse sem a participação de Leigh Whannell nos roteiros.

Foi dito pela dupla de novos roteiristas que existia uma “Bíblia Saw” com regras que deveriam ser seguidas por ele, enquanto escreviam o texto. No entanto, Dunstan e Melton afirmam que tiveram sim liberdade criativa para planejar os rumos desse e dos capítulos posteriores, já que só saíram no sétimo filme, Jogos Mortais: O Final.

O trabalho deles começou por trazer uma versão curta da saga, contando com apenas 92 minutos de duração nesse. A primeira cena do longa é possivelmente um dos momentos visuais mais inspirados de toda a franquia.

Dois legistas fazem uma autópsia bem detalhada de John Kramer, que acabou de morrer no filme anterior.

Jogos Mortais 4: O primeiro episódio "fanfic" da saga

Fatiam a pele da cabeça, até cortam partes do crânio para retirar o cérebro dele. Essa sequência serve não só para mostrar o magistral trabalho técnico da equipe de produção, mas também para excluir qualquer comentário de que John pudesse estar vivo.

Esse trecho teve a presença de um legista real no set, ele presenciou e serviu de consultor em todo o momento da autópsia. O procedimento foi pensado para ocorrer pouco antes dos créditos finais de Saw III, mas a ideia não ocorreu já que seria anticlimática demais.

Apesar de gráfica, não houve qualquer reprovação ou recomendação de cortes da parte da Motion Picture Association, a associação dos cinco maiores estúdios hollywoodianos, conhecida como MPAA.

O molde do corpo de Bell levou duas semanas para ser construído. É visualmente impressionante, bastante semelhante a última aparição de John Kramer quando ainda era vivo.

Como era esperado há dentro do cadáver um recado, em uma fita casssete, que é ouvido por um personagem que aparece no terceiro filme, no caso, o investigador Mark Hoffman, de Costas Mandylor.

Jogos Mortais 4: O primeiro episódio "fanfic" da saga

O legista passa o bisturi no peito do sujeito e abre sua costela, o registro ocorre em detalhes bem agressivos, incluindo aí a abertura das vísceras e do estômago, que contém uma embalagem, com a fita dentro.

Os bastidores de Jogos Mortais 3 davam conta de cenas deletadas onde Kramer passava um produto em um recipiente, que continha o objeto. Já estava programado no outro roteiro essa ponta solta.

O departamento de homicídios é chamado e Hoffman toma a frente da investigação. Ele abre o recipiente, que foi engolido por John, em cena de flashback apresentada aqui.

É demais pensar que um sujeito convalescendo e com câncer é capaz de engolir uma fita só para provar um ponto, John era obstinado. Não seria um evento tão distante dos atos dele no geral.

Esse é o primeiro filme da série que não começa com um personagem preso, embora haja com Hoffman uma metáfora de prendimento, desenvolvida conforme a história avança. Quando ele ouve a gravação fica claro que há não só um jogo consigo, mas algo a mais.

Assistir essa parte quatro já sabendo de algumas viradas da franquia faz perder parte da graça em apreciar essa trama, no entanto, para o espectador que foi ao cinema, há muitas surpresas, sobretudo no aprofundamento que ocorre com Hoffman, que é convidado a participar de mais um jogo repleto de armadilhas bizarras.

Nesse trecho, não há nada que indique com quem Jigsaw queria falar, se era Hoffman ou com o batedor da Swat, tenente Rigg (Lyriq Bent) ou mesmo os agentes Peter Strahm (Scott Patterson) ou Lindsey Perez (Athena Karkanis), do FBI.

Dessa vez a polícia é mais esperta, coloca robôs para verificar o cenário, mas Rigg quase põe tudo a perder, ao perceber que sua amiga pessoal Kerry (Dina Meyer) morreu. Enquanto o policial é passional e tolo, o agente Strahm é quase tão esperto e preparado que parece ter poderes mágicos.

Ele rapidamente chega a conclusão de que alguém ajudou Amanda Young a carregar esse corpo, uma vez que seria pesado demais para alguém do porte dela, o que é uma conclusão plausivel até. O que não parece muito certeiro é que ele acha que alguém do departamento de polícia pode ser o tal cúmplice.

Jogos Mortais 4: O primeiro episódio "fanfic" da saga

Esse é o filme que começa a tratar do legado de John Kramer como uma galhofa. Há revistas que carregam o assassino na capa, algumas até de engenharia. Mesmo que essa parte não seja o trecho mais sério do filme, é um pouco assustador como uma publicação sobre arquitetura escolhe estampar uma capa com um psicopata e assassino serial em destaque.

Fosse atualmente, até se entenderia, já que a internet ajudou a normalizar o louvor ao macabro, mas na década de 2000, não parece ser algo realista.

Rigg lê algumas dessas publicações, estuda até uma biografia em formato de livro. É esperado que Kramer tenha ficado famoso, mas chega a ser bizarro como a cinessérie teria uma leitura tão visionária, prevendo a tendência atual de true crime como gênero popular. É quase profético.

Há duas linhas de ação que determinam possíveis pistas para quem está organizando tudo, sendo primeiro a mensagem de Kerry ao FBI, de que dois policiais da delegacia corriam perigo. A segunda é o depoimento de Jill Tuck, personagem de Betsy Russell, a ex-noiva de Kramer, que afirma que a vida e rotina de John era confusa desde sempre, fato que justificaria as idas e vindas no tempo.

A partir daqui falaremos largamente sobre tramas e viradas. Haverá obviamente alguns spoilers. Leia sabendo disso.

Jogos Mortais 4: O primeiro episódio "fanfic" da saga

 

Rigg acorda, vê um vídeo com o boneco Billy e começa um jogo que envolve uma área grande do mapa, com vários deslocamentos. Em meio a esse jogo ele se dá conta inclusive que Eric Matthews, policial feito por Donnie Wahlberg, está vivo. O sujeito que protagonizou Jogos Mortais 2, está em uma armadilha presa ao Detetive Hoffman, com ambos precisando cooperar, para permanecerem vivos.

Rigg deveria fazer uma série de confrontos, com pessoas cuja ficha policial é suja. Ele seria testado no sentido de ser um herói, sendo tentado a permitir que a vida simplesmente punisse as pessoas, sem sua interferência.

Embora os produtores quisessem que Donnie Wahlberg reprisasse seu papel, sua agenda o deixou indisponível e seu personagem não foi incluído no roteiro original. Somente após o início das filmagens, sua agenda foi liberada e o roteiro foi reescrito para incluir Eric na trama.

Kramer está ainda mais irônico. Põe Rigg para ter um confronto onde precisa puxar o couro cabeludo de uma ex-presidiária. Por mais cruel que seja o resultado - afinal, todas as armadilhas o são - o resultado dessa é hilário, provoca risos no público, especialmente quando ela tenta atacar Rigg.

As armadilhas seguem muito bem engendradas. Na produção de The Mausoleum Trap, fios protéticos foram usados ​​em ambos os atores. Art (Louis Ferreira) realmente não conseguia falar durante as filmagens, mas Trevor (Kevin Rushton) conseguia enxergar. Já a armadilha que Jigsaw força cortes em Cecil Adams (Billy Otis) eram na verdade feitas de madeira.

No entanto, há alguns aspectos bastante irritantes, como a iluminação estourada que Bousman instituiu. Isso pioraria em alguns filmes do cineasta, como Repo!: Ópera Genética.

Outro aspecto irritante são as transições escuras, que eram feitas de forma prática. Os cenários foram construídos de forma que duas cenas distintas pudessem ser filmadas em uma única tomada, sem interrupção. A parte preta é a intercessão entre os sets. Também irrita o tom sépia nos flashbacks.

A falta de talento dramático de Russell é outro aspecto que complica a imersão nessa história. Ela perde Gideon, o filho que John tanto queria e que foi planejado para nascer em uma data específica, de acordo com o zodíaco chinês. Mesmo a sequência sendo trágica, ela não passa nenhuma emoção para o espectador. Ao menos quando Bell aparece isso é um pouco compensado, já que ele absorve a atenção da câmera e do público.

A questão é que futuramente ele não estaria tão presente assim, até por conta de diminuir sua participação até mesmo nos momentos pretéritos. É legal o fato de várias vítimas dos filmes anteriores terem aparecido brevemente na clínica Carpe Diem.

O que pesa contra na construção de Kramer é a crença em eventos místicos. Ele era um homem lógico, não um sujeito crédulo. A inclusão de um filho perdido como motivador de rancor também parece algo grande demais. Ter um câncer terminal já deveria ser uma motivação suficiente para ele montar as armadilhas moralistas.

Sabendo da verdade e dos planos de Jigsaw, a montagem de Kevin Greutert dá inúmeras dicas de que Hoffman é o culpado, especialmente ao mostrar como alguns jogadores foram capturados. A edição melhora ligeiramente, mas segue deixando o espectador confuso, com viagens estranhas.

A unidade visual segue a mesma, especialmente graças a cinematografia de David A. Armstrong, assim como também a música segue orquestrada por Charlie Clouser, enquanto o design de produção, tão elogiado, segue gerido por David Haickl.

Jogos Mortais 4 mostra que John Kramer era um sujeito muito acima da média, embora não fosse um homem de comportamento exemplar, especialmente se levar em conta que ele foi alvo até de noticiários matinais mais leves. O problema desse capítulo é no abusar da formula, já que começa a esgarçar sua premissa, ainda que seja bonito visualmente. É divertido, irônico e louva bem sua figura central.

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