Ursinho Pooh - Sangue e Mel: A infame e surpreendente adaptação do Ursinho Puff para o terror

Ursinho Pooh - Sangue e Mel: A infame e surpreendente adaptação do Ursinho Puff para o terrorUrsinho Pooh: Sangue e Mel é um filme de horror baseado na marca famosa do Ursinho Puff, ou Ursinho Pooh, que caiu recentemente em domínio público. Foi produzido, escrito e dirigido por Rhys Frake-Waterfield, e narra uma história grotesca, que adapta os personagens clássicos de A. A Mine em um ambiente de filme de matança dos anos 2000.

Puff ficou conhecido do público geral graças a adaptação da Disney. É uma marca tão famosa que mudou de nome recentemente, sendo chamado de Pooh ao redor do mundo, sem direito a adaptações locais. Esse longa-metragem tem direito de mexer são os personagens do primeiro livro, publicado em 1926, que é escrito por Mine e tem ilustrações de E.H. Shepard, que é comumente associado como co-criador dos personagens.

Do original Winnie-the-Pooh: Blood and Honey, esse é uma produção dos estúdios Jagged Edge Productions, responsável por filmes como Hotel dos Dinossauros e A Maldição de Humpty Dumpty, e pela ITN Studios, que financia bagaceiras como Krampus 2: O Retorno do Demônio.

É distribuído pela Altitude Film Distribution. Foi filmado em apenas 8 dias, na Inglaterra, rodado na Ashdown Forest, em East Sussex.

Frake-Waterfield é conhecido por estar em filmes baratos, feitos a toque de caixa, normalmente em mockbusters, que são os filmes que imitam obras famosas. Seu trabalho mais frequente é em departamentos de efeitos especiais VFX e como administrador de locações.

Como diretor conduziu algumas obras, fez em 2022 os longas The Area 51 Incident e Demonic Christmas Tree, nesse ano também fez o trash Firenado.

Este é o primeiro filme live action de Pooh que não é feito pela Disney. Até então as versões eram sempre relacionadas ao estúdio que fez as primeiras animações. Em 2017, foi lançado Adeus, Christopher Robin, que foi um fracasso de bilheteria. Em 2018 a Disney decidiu ignorar o outro, lançando Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível.

Ambos obviamente se pautavam mais em drama adocicado, mas como esse mostram Christopher já adulto. O personagem foi feito por Domhall Gleeson e Ewan McGregor respectivamente, já nessa versão mais agressiva, ele é interpretado pel ator britânico-ucraniano Nikolai Leon, que trabalho com o diretor em Demonic Christmans Tree e fez Alien Invasion.

Ursinho Pooh - Sangue e Mel: A infame e surpreendente adaptação do Ursinho Puff para o terror

Os direitos de Pooh expiraram nos Estados Unidos em 2022, mas permanecem em vigor na Europa até 2027 (70 anos após a morte de A.A. Milne), o que torna difícil a distribuição legal deste filme por lá.

Uma curiosidade peculiar é que o longa foi retirado dos cinemas em Hong Kong e Macau pouco antes do lançamento, há dois dias da estreia. O motivo foi por conta de razões técnicas, supostamente, mas se fala que foi por motivos políticos, já que o ursinho Puff é utilizado para zombar de Xi JinPing, o presidente da China, especialmente em protestos pró-emancipação de Hong Kong.

Como não poderia utilizar nada que remetesse ao desenho clássico da Disney, Frake-Waterfield inicia sua trama resumindo parte do enredo clássico da turminha de Pooh, falando da proximidade dos animais da floresta dos 100 Acres com o menino Christopher Robin.

É mostrada uma animação simples e bonita, bastante singela, repleta de rabiscos em um cenário claro, lembrando as forma e linhas de desenho de uma criança em idade de primeira infância.

Nesse trecho é dado que Leitão, o coelho Abel, Corujão, Ioh/Bisonho e Puff viviam perto de Robin e tinham uma grande paz. Quando Christopher os encontra, estranha o visual deles, já que são descritos pelo narrador Toby Wynn-Davies como animais antropomorfizados, sendo uma estranha mistura de figura humana com bichos.

Não é dada a origem, não fica claro se são seres naturais, sobrenaturais ou experiências. O que é dado que eles vivem escondidos e que Robin os abraça, convive harmoniosamente com cada um deles, até o dia em que ele resolve ir para a faculdade.

Uma das funções de Christopher era a de alimentar seus amigos, fato que gerou um grave problema quando ele sumiu, já que os animais tiveram que se virar sozinhos novamente. O inverno então chega e aparentemente eles não se prepararam para isso, não estocaram comida, possivelmente por conta do conforto de ter Christopher trazendo suprimentos.

Eles então decidem canibalizar um deles. Essa parte não assusta, mas o visual dos animais magros e cadavéricos é sem sombra de dúvida um ponto alto do longa.

Ursinho Pooh - Sangue e Mel: A infame e surpreendente adaptação do Ursinho Puff para o terror

A vítima acaba sendo o burrinho amigo, mas não fica claro porque ele foi escolhido. Talvez ele fosse o mais gordo, ou foi escolhido por ser o mais tristonho deles.

Razões à parte, os sobreviventes ficaram traumatizados. Decidem rejeitar tudo que lembra os homens, inclusive a linguagem oral, fato que justifica eles não falarem.

A trama acontece após essa introdução. Logo depois a floresta dos 100 acres é invadida por Christopher e por sua noiva Mary (Paula Coiz). Ele insiste em contar para ela sobre as histórias do seu passado, diz que conversava com os animais e obviamente ela não acredita nisso, afirma que ele foi uma criança de imaginação fértil, mas aceitou ir até a parte florestal da cidade.

Quando entra, Christopher nota que o lugar está diferente. Pudera, a floresta ficou escura, quase pantanosa, parece o cenário de um clássico de horror como Pânico na Floresta, além de lembrar aspectos típicos de remakes sombrios, já que a fotografia de Vince Knight faz predominar cores acinzentadas. Isso funciona, já que o lugar parece de fato um lugar para se ter medo.

Logo no início se notam pequenos acenos visuais ao clássico cenário das aventuras do ursinho, como grandes potes de mel largados ao léu. Eles recebem vento, água da chuva e poeira, são ignorados como fruto do relapso de quem os cuida.

Mary está nervosa, apreensiva, ao contrário de Christopher. Ela se esconde pelas casas abandonadas da vizinhança e no cenário há um cuidado legal em referenciar clichês de horror no interior, como ossos de animais e carcaças antigas. Até esse ponto, nos primeiros 10 a 15 minutos há uma boa construção de horror. Isso inclui até o momento em que os animais antropomorfizados encontram seu antigo amigo.

A partir daqui falaremos com spoilers. Leia sabendo disso.

Ursinho Pooh - Sangue e Mel: A infame e surpreendente adaptação do Ursinho Puff para o terror

Os créditos iniciais só ocorrem após a primeira morte, que aliás, são viscerais e visualmente impactantes.

Leitão parece um assassino badass que usa uma máscara de javali, manejando uma grande marreta. Recentemente Toc Toc Toc: Ecos do Além teve uma boa cena com vilão com máscara de bicho, essa é uma boa tradição do cinema, mas aparentemente não é o caso pensado aqui.

Pooh e Leitão são os animais mesmo, cruzados com humanos, mas sem qualquer articulação na face. As máscaras protéticas usadas são do tipo Immortal Masks, de silicone, customizadas. O "Friendo Honey Bear" é dada ao Ursinho Pooh e a "Máscara de Silicone Hog" para o Leitão.

Ursinho Pooh - Sangue e Mel: A infame e surpreendente adaptação do Ursinho Puff para o terror

Os dois são violentos, matam a sangue frio, não parecem sequer ter receio em fazer Robin chorar. Pesa contra o fato do interprete ser bem ruim, mas dada a bagaceira da produção isso passa.

Recortes de jornais noticiam desaparecimentos na floresta, especulam que há uma espécie de Pé Grande de Ashdown, há manchetes sobre corpos mutilados. A pergunta que fica é, depois de tantos boatos a respeito do lugar, como Christopher não entendeu que algo estranho ocorria ali? Mesmo que ele não acreditasse que seus amigos cometeram os crimes acusados, ele deveria pelo menos se preocupar com eles.

Também não fica claro o que aconteceu com Abel e Corujão, já que não aparecem. Há menções breves e visuais no momento em que Puff e Leitão arrastam Christopher, mas não fica claro se foram easter eggs. Eles podem ou não estar vivos. Já Tigrão foi um personagem que apareceu depois, nos livros de A.A. Milne. Deve aparecer em sequências desse, quando entrará também em domínio público.

A trama que o roteiro propõe tem a ver com os filmes de matança, e para ser um bom pastiche de Slasher Movies, é necessário ter vítimas, de preferência, mulheres. Para isso é introduzido um grupo de meninas, que se isola em uma cabana, muito perto da floresta de fama terrível.

É anunciado através de um diálogo bem expositiva que uma das moças está atrasada, sendo então a única que está utilizando celular, uma vez que todas as outras estão em um pacto para se desligar do mundo externo.

Essa é obviamente uma desculpa bem fajuta, para permitir que ninguém possa pedir socorro, o que é estranho, já que a cabana fica perto de um lugar de fama ruim. Escolheram com zero sabedoria o lugar para se ausentar do mundo moderno, em um canto perigoso.

O que também chama a atenção é que o ursinho malvado arranca a camisa de uma das vítimas assim que a pega. Nudez gratuita é uma questão nos exploitations de assassinos em série, então é preciso referenciar isso aqui.

Chama a atenção o fato de que a produção realmente se esforça para entregar algo. Os diálogos são ruins as atuações fracas, mas há cuidado da direção de arte, há correção de cor, há edição de som. Normalmente as fitas da ITN não tem isso.

O filme fica no limiar entre ser uma piada metalinguística, no formato longa-metragem e ser um terror sério. Essa segunda parte funciona pouco, só tem tentos positivos ao mostrar Pooh interagindo com Christopher, torturando o jovem, chicoteando ele, exibindo o esqueleto de sua amada morta. A trama das meninas é puro desinteresse também.

A casa que o urso usa de base é assustadora, mesmo sendo simples. Se percebem baldes cheios de restos mortais, com órgãos e entranhas exposta. O aspecto sujo ajuda a dar complexidade visual a sequência, faz tudo parecer nojento e real.

Tem momentos que são tão caricatos que desafiam a linha da suspensão de descrença, como o momento onde Lara (Natasha Tosini) percebe que há um homem mascarado de urso observando enquanto ela está em uma banheira de hidromassagem, e não foge, só dá uma olhada em volta, acende a luz e entra no recipiente de olhos fechados.

Ursinho Pooh - Sangue e Mel: A infame e surpreendente adaptação do Ursinho Puff para o terror

A personagem sofre uma morte bem sangrenta, com a roda do carro passando por cima de sua cabeça. Não se economiza em violência explícita aqui, tudo é levado de maneira tão caricata que soa como piada.

O porco que Chris Cordell faz é selvagem, muito agressivo e habilidoso com a marreta na mão. O golpe que ele desfere no rosto de Zoe (Danielle Ronald) é sensacional, ainda é acompanhado de um efeito de slow motion que valoriza o grafismo da sequência.

A música é um aspecto legal também. O trabalho instrumental de Andrew Scott Bell é legal, pontua bem as sequências de assassinatos. Em alguns pontos a composição parece canastrona, por demarcar demais os trechos que deveriam causar medo, mas acaba sendo um aspecto charmoso na maior parte do tempo.

O que realmente é forçado é a tentativa de tornar a máscara de urso em algo vivo. As cenas de Pooh chorando, tentando comer mel ou se movimentando para tentar parecer realista são bem ruins. A obra poderia se assumir como comédia, colocando o personagem retirando o disfarce, seria mais digno do que fingir que aquilo é um misto de urso e homem.

Não há muito o que esperar de mitologia ou nexo nessa obra. A premissa é uma tolice e entrega a maioria dos seus defeitos no material de divulgação. Até o visual sem movimento era conhecido bem antes do filme estrear.

O que os trailers não mostram são os efeitos de gore, muito bons, além do apelo a uma violência explícita. Não se tem receio em matar ninguém, inclusive, os personagens clássicos.

O que pesa é o uso de sangue em CGI. Sendo um filme para maiores, não há muita lógica em esconder ou disfarçar sangue. O que de fato falta é adversário a altura de Pooh, que massacra as meninas e até alguns caipiras cabeludos. O animal é uma força da natureza, tal qual Jason Vorhees ou Michael Meyers.

Esse é bem mais divertido que O Urso do Pó Branco por exemplo, especialmente por não tentar provar a todo momento que é um filme consciente de sua premissa maluca. É uma obra zerada de mensagem e significado e se contenta com isso.

O grande problema de Ursinho Pooh: Sangue e Mel não são as fragilidades visuais ou os clichês e sim medo de encerrar sua história, mas dada a mediocridade do cenário atual de horror, ele acaba sendo uma boa alternativa para quem gosta de propostas exageradas e ideias toscas postas em tela. É divertido, violento e estúpido, é uma boa distração para os aficionados por cinema B e trash.

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