A introdução de um novo personagem em uma série que já está repleta deles é sempre algo arriscado. Em The Flash, nessa semana, o espectador pôde conferir um exemplo de como pode dar tudo errado. Já em Arrow, a chegada do Vigilante se destaca por estar entre o que de melhor, não apenas o quinto ano tem a oferecer, mas também uma adaptação de quadrinhos.
Desde seu início, a temporada atual da série do Arqueiro Verde vem trabalhando com o tema de legado. O que o herói de Star City mudou em sua cidade foi para melhor? As pessoas que ele inspirou realmente entenderam a mensagem? Qual a herança dos atos de Oliver Queen para o lugar que jurou defender? Não é sempre que uma série ou filme baseados em HQs conseguem lidar com essa questão de forma competente e, mesmo com todos os problemas do passado, é gratificante que os roteiros de Arrow pareçam tão coerentes na construção desse arco do protagonista.
Com a chegada do Vigilante, o programa aprofunda a discussão de até que ponto existe a diferença entre "um justiceiro e um serial killer", como aponta Artemis à certa altura. Com um justiceiro disposto a matar até mesmo pessoas inocentes, consideradas "efeitos colaterais" em sua cruzada, Oliver enfrenta um dilema moral, relembrando que no passado, seu atos não foram tão diferentes, mesmo demonstrando mais respeito pela vida alheia (dos cidadãos comuns).
O episódio se sai bem nas questões abordadas por não soarem artificiais. Isso se deve a boa construção do tema central da temporada, feita nas semanas anteriores. Além disso, tira o protagonista de sua zona de conforto como poucas vezes o seriado fez. O Vigilante, além de visualmente bem apresentado, pela fidelidade em relação ao material base, parece exercer uma função específica na série. Em meio a tantos outros justiceiros mascarados, o seriado precisava diferenciar o novo "combatente" e o faz na forma como apresenta a crueldade de seus métodos. Quem conhece as HQs sabe que por baixo da máscara está Adrian Chase, o promissor Promotor Público que o seriado introduziu como um dos novos coadjuvantes. Isso só aumenta as possibilidades de um bom drama, afinal, até agora, se mostrou um aliado na frente "oficial" de combate ao crime. Sua decaída ao abraçar a natureza violenta de sua personalidade é um ponto interessante a ser abordado no futuro, levando o Vigilante de anti-herói a vilão com certa naturalidade. E, considerando que Chase se tornou um simpático e carismático amigo de Oliver, o imbróglio pode oferecer um desfecho trágico, uma verdadeira descida ao inferno.
Outro ponto de destaque em Vigilante é como a série não demorou em mostrar as ramificações do problemático gancho deixando pelo episódio anterior. A dúvida a respeito de Quentin ser ou não Prometheus tem sua fragilidades na narrativa, mas o programa soube lidar com a situação, já colocando Thea na equação, o que rende ótimas cenas de diálogos entre ambos. Com exceção de um exagero na exposição, que faz dos dois coadjuvantes repetirem uma conversa (algo "aceitável" em uma série de TV aberta que precisa explicar para o espectador "acidental" o que está acontecendo), o texto se sai muito bem nesse ponto, auxiliado especialmente pela boa dinâmica entre os intérpretes. Fechar o episódio com a moça abrindo o jogo com Oliver também é ótimo para mostrar que, mesmo se for um embuste dos roteiristas, existe um planejamento e a ideia de que sabem onde querem chegar. A cena derradeira do episódio, que revela um traidor no Time Arqueiro corrobora com isso, servindo para mostrar que o grande vilão deste ano pretende destruir Arqueiro Verde de dentro para fora.
Em mais uma boa ramificação, os flashbacks introduzem um novo elemento que pode trazer uma homenagem, ou ao menos uma inspiração, em Yojimbo, com Oliver jogando para os dois lados da máfia russa para desestabilizá-los. A trama do passado finalmente está dando ao protagonista um papel de destaque, levando em conta que nos quatro anos anteriores ele sempre foi quase um coadjuvante nas histórias de Slade Wilson, Sara Lance e dos invasores da ilha. Há uma noção de que, talvez, pela primeira vez, é o futuro herói que precisa resolver a situação, sozinho (o que explicaria bem sua atitude relutante na primeira temporada). Dolph Lundgren esbanja carisma e presença em suas cenas com Stephen Amell. A adição do velho astro de filmes de ação tem se mostrado bastante inspirada, trazendo um fôlego para um elemento da série que já estava fadado ao cansaço.
Apesar de uns tropeços na direção, unindo um timing ruim nas cenas de ação com uma coreografia pouco impactante, algo que pode ser observado no momento em que o Vigilante nocauteia o Sr. Incrível, este sétimo episódio da quinta de temporada se sai bem em praticamente todas as suas frentes. Seja na vida noturna de Oliver quanto em suas responsabilidades como prefeito, o roteiro se mostra muito conectado com os trabalhos anteriores, acrescentando mais um crescimento na qualidade dos novos episódios. Semana a semana a série tem melhorado cada vez mais, o que surge providencial e mostra certa consciência por parte dos realizadores quanto à baixa aceitação por público e crítica das tentativas passadas. Aprender com os erros é fundamental e, parece, que a lição finalmente está dando resultados.
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