Servant 3ª Temporada: o terceiro e mais misterioso ano...até agora

Servant 3ª Temporada: o terceiro e mais misterioso ano...até agoraServant foi uma boa surpresa em sua primeira temporada. A apresentação bizarra do mistério da babá que serve a família Turner que é muito traumatizada se agravou bastante na segunda temporada, com uma nova série de crimes que fazem o espectador repensar por quem ele deve torcer.

Eis que no terceiro e penúltimo ano do programa que teve como chamariz a produção e direção de episódios de M. Night Shyamalan - que ainda trouxe sua talentosa filha Ishana Shyamalan como uma das diretoras e co-produtoras - a hierarquia e chefia mudaram. Isso afetou claramente os roteiros, que não eram mais capitaneados por Tony Basgallop., que depois de dois anos, resolveu criar outro programa, The Consultant com Christoph Waltz.

A série seguiu, tendo como produtores executivos Todd Black, Steve Tisch, Taylor Latham, Jason Blumenthal, Ashwin Rajan e Shyamalan. No formato geral pouco mudou, a duração dos capítulos seguiu em torno de 30 a 40 minutos com 10 episódios por temporada, mas o início obviamente acelerou seu ritmo.

O roteiro do episódio um é assinando por Ryan Scott, experiente em seriados de certo sucesso, como Revenge e Fear the Walking Dead, de direção de M. Night. Leanne (Nell Tiger Free) desce para o piso térreo e parece assustada, ainda insegura com todos, exceto com o bebê, com quem é muito carinhosa.

Logo a câmera foca Sean (Toby Kebbell) que aparece em tela para paparicar a criança que eles chamam de Jericho. O pai está desesperado para dar papinha a ele, afinal, é a primeira vez que alimenta o seu filho.

Todo esse início, com as pessoas em volta da criança tem um aspecto lúdico, porém sombrio. É como um devaneio esquisito, sem luz, parece o início de um pesadelo, mas ainda na parte da calma. Depois da tempestade, a família só deseja viver como gente comum, viver a rotina sem desesperos apocalípticos.

Mas Leanne não esquece os problemas reais, ao contrário. A personagem tem receio, segue até um pouco de paranoia, de ser pega pela Igreja dos Santos Menores.

É curioso como ainda assim, a moça se vê mais segura com Dorothy (Lauren Ambrose) e Sean, que a sequestraram e a mantiveram cativa antes, tendo mais certezas do que se estivesse a mercê dos seus antigos colegas de culto, os religiosos que cuidaram dela após a morte de sua família, os Graysons.

Obviamente falaremos com spoilers sobre a temporada e os segredos do roteiro são importantes para o entendimento. O aviso está dado.

Servant 3ª Temporada: o terceiro e mais misterioso ano...até agora

Para quem sempre foi explorado, qualquer alento e qualquer atenção mínima é o suficiente para se sentir parte de um seio familiar.

O intervalo entre uma temporada e outra foi de apenas três meses e esse hiato foi um tempo satisfatório para explicar mudanças pontuais em relação ao status quo do seriado.

Julian, por exemplo, esteve na reabilitação graças ao seu vício em álcool. O personagem de Rupert Grint terminou a relação que tinha com Natalie e apresentou um novo par Veera, personagem de Sunita Mani.

Já Leanne pouco mudou. Segue arredia, com medo de sair da casa, nem mesmo Julian consegue leva-la para fora e isso segue por algum tempo.

Ainda no quesito mudanças, é fato que a relação dos Turner evoluiu com a moça. Eles viajam e deixam ela sozinha em casa, insistem para que ela vá até a praia com eles, mas ela não aceita.

Claramente a garota desenvolveu uma fobia social tamanha que não consegue sair, mesmo em situações limites como quando uma invasão domiciliar ocorre, ela segue sem vontade de se retirar do lugar que acha seguro, sem sair do seu território de domínio.

É curioso também como mesmo momentos tensos como o citado acima, são tratados como subalternos. Um homem invadir uma casa é por vezes o motivo de vários filmes de horror e aqui é tratado como mais um tento dessa desventura de Leanne, que inclusive, se livra bem facilmente desse infortúnio.

O programa segue com eventos na casa dos Turner envolvendo as mulheres ricas de Society Hill. Elas levam seus bebês a casa da família para um dia de brincadeiras e gincanas.

Ainda arredia, Leanne reage mal ao contato social, não consegue lidar bem sequer com o técnico que instala as câmeras na casa em outro dia e ainda cisma com um mestre de cerimônias do evento citado. O receio de que as pessoas que aparecem serem da tal seita que a escravizou a deixa de sobreaviso, ela está sempre em alerta.

Entre desconfianças de que as reuniões na casa são sabotadas pela personagem título, a nova integrante do elenco, Veera, salienta o óbvio: não dá para confiar numa desconhecida com o bebê, ainda mais com o histórico de Leanne.

Os flashbacks retornam, especialmente em sonhos de Julian, que lembra o dia da morte do Jericho real. Nesse interim os outros membros da família tentam seguir, procurando motivos e gente para se afeiçoar. Sean aos poucos se aproxima das pessoas em situação de rua, alimentando-os e permitindo a aproximação deles para a velha casa. Ele é flagrado por câmeras em redes sociais e acaba voltando ao noticiário televisivo local graças a pequena fama que adquiriu, fato que colocaria novamente seu nome em evidência e que o faria ser lembrado pelas redes de televisão.

O quarto episódio é uma doideira em essência. Dirigido por Dylan Holmes Williams (diretor acostumado a conduzir clipes e curtas-metragens de horror), esse é um ensaio de Sean para uma nova fase, como chef em um evento.

Aqui o auxiliar de cozinha Tobe (Tony Revolori) apresenta sua namorada, Sylvia (Nadia Alexander), que também é cozinheira. Ao tentar arrumar trabalho para ela com seu chefe, acaba fazendo ela ser contratada para o serviço que ocorre.

Sean queria transformar Leanne em sua auxiliar, para fazer ocupar a moça, já que Dorothy voltou ao trabalho na tv e parou de ensinar a menina alguns passos de dança que sabia. No entanto o serviço do tal buffet era diferenciado e avançado demais, precisava ter experiência consigo, então ele decidiu ceder a Tobe e contratou sua namorada.

Sylvia é completamente grosseira com Tobe, tão ou mais agressiva que Sean e isso incomoda Leanne, que apesar de não responder a todos os gracejos do rapaz, tem por ele algum apreço.

Aqui fica patente que possivelmente Leanne tem poderes, com influência em probabilidades. Isso conversa bem com a origem da participação de Wanda Maximoff/Feiticeira Escarlate no começo das revistas X da Marvel, onde ela interferia nas probabilidades em eventos pequenos.

Leanne aparentemente interfere nas chances de as coisas darem errado, faz algumas coisas darem errado, e termina destroçando um dedo de Sylvia, no triturado de comida.

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Enquanto isso ocorre em casa, Dorothy surta em uma reportagem ao vivo.

Nos núcleos assessórios a história também corre, mas em uma rotação mais acelerada. Isabelle Carrick (Molly Griggs), a antiga substituta de Dorothy na televisão durante a ausência da mesma fica enciumada com o fato da antiga repórter roubar sua atenção e trabalho, e desconfia da situação de Leanne.

Isso se agrava quando a moça encontra gente da "Igreja". Fica a impressão de que ela fez gente desaparecer, conferindo a ela poderes de feitiçaria.

Em paralelo, Isabelle se aproxima de Leanne, avisa a ela que ela não precisa ter receio e que tem nela uma amiga.

Sean recebe proposta de ser apresentador do reality show, o Gourmet Gauntle na Filadélfia, que vem a ser um spin off do programa que o fez ficar famoso. Isso possibilitaria ele trabalhar e ainda ficar perto de sua casa.

Sua esposa o incentiva a ir, mas a sua ausência provoca nele gatilhos, afinal, foi em sua ausência que Jericho morreu. Todos seguem receosos de provocar em Dorothy o estado catatônico e assustador de outrora.

O programa consegue reunir bem núcleos diferentes e ainda assim, soar interessante. Quando um personagem se ausenta como é o caso de Sean, há outro motivo para o espectador (e a família) se preocuparem, uma vez que as pessoas que habitam o parque público vizinho - gente em situação de rua, mendigos a maioria - agem como se fossem uma seita religiosa, um pequeno culto que se organiza em volta de Leanne e que a louvam pelos pequenos feitos dela.

O corpo de diretores acerta demais na abordagem, os capítulos giram sempre no mesmo tom. A condução é feita por gente boa, como os já citados M.Night e Ishana Shyamalan, Wilson, Carlo Mirabella-Davis, Kitty Green, Celine Held, Logan George, Veronika Franz e Severin Fiala.

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Até as mudanças soam naturais. Em determinado ponto, Leanne reage, decide se retirar da letargia e para isso, muda o visual, fica mais bonita e apresentável.

Essa reação não passa impune, uma vez que Dorothy se preocupa com os novos amigos dela e vai aos poucos se contaminando com o estado depressivo que antes era da babá. Seu último esforço de lucidez foi ao tentar arrumar uma vaga para ela em uma faculdade de dança, aproveitando um dos interesses de Leanne e arrumando uma brecha para que ela mudasse de ares ao menos por um tempo.

Mas sempre que a personagem se afasta, o bebê se "transforma", volta ao estágio de boneco, de novo, ou seja: quando Leanne sai, o bebê também some. Fica a pergunta, a essa altura, quem é a Serva do título da série? Leanne ou a família que a cerca?

A partir do capítulo oito, Dorothy volta a ficar arredia com a babá, inclusive diz que não deixará a criança com ela. Enquanto isso, Isabella finalmente se aproxima de Leanne e marca de encontrá-la de maneira particular, para entre outras coisas, compartilhar mágoas contra Dorothy.

Isabela tem a intenção de expor Dorothy, revelar que ela matou Jericho e mostrar os dados do DNA que comprovam que ela não é a mãe desse bebê que ela está em posse. Em uma matéria que ela conduz - e que tinha todo o perfil de Dorothy - sobre um tiroteio, a moça acaba alvejada ao vivo na cabeça, com toda a família Turner/Pearce assistindo, fora claro toda a audiência que acompanhava o caso ao vivo.

Essa situação fez piorar o quadro de obsessão de Dorothy, que passa a não largar Jericho por nada. Em alguns pontos, parece um animal marsupial, improvisando uma bolsa para manter ele colado nela.

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Nem Sean pode mais segurar a criança. Aqui começa uma tentativa do marido em se aproximar de sua esposa por meio da culinária. Ele começa a fazer os pratos favoritos dela, que ignora, e come só cozinha básica, baseada em clichês de café, almoço e janta da família americana.

Quando ela vai comer cereal enxerga vermes junto da comida. A cena é nojenta e mais uma vez põe em cheque as faculdades mentais da personagem, afinal, aquilo ocorreu ou foi uma ilusão? Segue a dúvida.

Curiosamente a série faz referência a questões pontuais do cinema B especulativo. Faz lembrar um pouco do cinema estranho de Ken Russell ou David Cronenberg, em construção de tensão e em apelo a nojeira, especialmente quando explora as frestas do roteiro que permitem uma interpretação dúbia.

Dorothy coloca câmeras na casa inteira e fotografa as marcas de autoflagelo da moça. Tenta montar um quadro de exposição das insanidades da moça, sem perceber que valoriza as próprias fragilidades mentais dela própria.

A família Pearce, encabeçada pelo pai deles Frank (Todd Wearing), quer internar Dorothy forçadamente e Sean é completamente inerte nesse segmento, permite uma intervenção forçada mal discutindo com o parente de sua esposa. A cena a seguir é tensa e é Leanne quem remedia a situação, tomando as rédeas, afirmando que brincou com Jericho no dia anterior, tomando o bebê da "mãe".

É como se ela encantasse a todos, alterando até as probabilidades. Mesmo sendo uma "ninguém" ela diz que havia a chance de entregar um posto de âncora para Dorothy, em outro canal, a Eight News, tudo por conta do tal "povo da praça", que não era formado só por gente em estado de mendicância.

Mas receber favores de Leanne não apetece Dorothy, que aparentemente, foi não só contaminada, mas tomada pelo estado super sensível que a moça antes tinha. Ainda assim segue sem respaldo o fato de gente que vive nos arredores de uma praça ter influência suficiente para enfiar uma pessoa em um cargo importante.

A influência dessa nova "igreja" claramente pode ser maior que apenas os domínios de onde os olhos de Leanne alcançam, podem estar em outros lugares e ter outras lideranças, subordinadas ou não a essa personagem.

O sucesso de Sean é tanto que eles decidem abrir um vinho antigo da adega, um Romaneé-Conti 78, uma bebida super rara. Os quatro personagens do núcleo central bebem juntos, quebrando o estado de sobriedade de Julian - sem grandes consequências negativas, aliás.

Obviamente que o clima positivo seria interrompido por estranhos eventos e uma briga entre eles se instala.

Depois de algumas discussões, algo anunciado finalmente ocorre: Dorothy cai das escadas, em uma cena bem enquadrada por Ishana Shyamalan. Esse momento havia sido preparado desde o primeiro capítulo, com anúncios visuais que a escadaria era um lugar perigoso, o palco perfeito para a tragédia e é desse modo violento que termina a sequência.

A terceira temporada de Servant é toda baseada no sentimento de obsessão, As tentativas de superar os problemas familiares reais e a adaptação depois de um trauma são sentimentos subordinados ao obsessivo, claramente. Os quatro parecem viver em looping o traumático momento em que Jericho foi "perdido" e essa sensibilidade é aflorada de maneira grave e desesperada em cada um dos dez episódios, fato que compromete um pouco a dramaturgia, mas que ainda assim, faz a temporada soar como algo digno de acompanhar.

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