Os Ambiciosos Insaciáveis é um filme de horror europeu que varia entre os gêneros de thriller erótico e giallo. Idealizado pelo diretor Umberto Lenzi, foi lançado em 1971 e é protagonizado por Carroll Baker e Jean Sorel. A história acompanha a rotina de Helen, que após um traumático processo de divórcio, tenta esquecer seus problemas conjugais correndo em alta velocidade em uma pista de corrida.
Mesmo estando acostumada a isso, acaba se envolvendo em um violento acidente, que faz com que fique hospitalizada em estado grave. Quando se recupera, ela recebe um convite do ex-marido Maurice, para passar as férias em sua casa no litoral, onde poderá se recuperar com tranquilidade, mas não sem conviver com a nova esposa do sujeito.
A moça aceita e a partir daí se estabelece um triangulo amoroso que é desenrolado em uma atmosfera de enorme tensão. Paralelamente a isso ocorre também um plano malvado e diabólico, que envolve motivos macabros.
Essa é uma coprodução entre Itália e Espanha. É o terceiro volume da trilogia psicogialli - que mistura giallo com elementos de Psicose - de Umberto Lenzi, iniciada em O Louco Desejo e seguida em Tão Doce Quanto Perversa. Em comum entre esses três filmes, há não só o diretor, mas também a mesma musa, que é Carroll Baker.
Unidos a esses, há também O Doce Corpo de Deborah, outro psicogialli, que reúne o mesmo par de protagonistas desse e que acaba formando um quarteto informal de thrillers eróticos italianos, com elementos de filmes gialli.
O roteiro foi escrito por Marcello Coscia, Bruno Di Geronimo, Rafael Romero Marchent e Marie Claire Solleville, com argumento de Coscia e Marchent. O produtor executivo foi Bruno Bolognesi.
Esse filme normalmente é confundido com Louco Desejo, graças a sua nomenclatura. Louco Desejo era para ser chamado em seu país de origem como Paranoia e foi assim nos Estados Unidos. Decidiram de última hora mudar ele para Orgasmo, já que Noia era sinônimo de "chato" e "enfadonho".
Dessa forma, esse Os Ambiciosos Insaciáveis se chamou nos EUA como A Quiet Place to Kill, e finalmente ganhou o nome de Paranoia na Itália. No Canadá, Japão, Alemanha e Coreia do Sul também foi conhecido por esse último nome. Em algum ponto da pré-produção, seria chamado Formula 1 e Spider. Também pode ser encontrado como A Beautiful Place to Kill.
A obra foi filmada quase todo em Palma de Maiorca, nas Ilhas Baleares na Espanha. Filmaram na casa de um bilionário que acabara de morrer. Os herdeiros alugaram a casa, para arrecadar algum dinheiro, enquanto decidiam o que fazer com o local, também para arcar com os honorários jurídicos da disputa que ocorreria após a repartição da herança.
Houveram cenas na Itália, com trechos internos feitos em Incir De Paolis, Roma, além de trechos em Monza, na Lombardia, em Milão.
Marchent vinha da experiência de fazer filmes de bangue bangue, como os westerns Minha Lei é o Gatilho e Rebelião dos Brutos. Acabou dirigindo filmes como Matarei Um Por Um, El Zorro Justiciero e Sartana Mata Para Não Morrer.
Coscia escreveu Operação Lady Chaplin e Os 3 Fantásticos Super Homens e Tex Willer e os Senhores do Abismo. Geronimo escreveu O Sargento Klems, O Que Vocês Fizeram com Solange, Homem Sem Memória e Flávia: A Freira Muçulmana.
Já Solleville escreveu O Louco Desejo, Os Anjos Também Como Feijão e O Segredo das Velhas Escadas. Bolognesi fez produção em O Vampiro e a Bailarina e A Legião dos Malditos, já Lenzi vinha dos filmes já citados e de Kriminal, A Outra Face da Coragem e Uma Pistola Para 100 Sepulturas.
A narrativa inicia mostrando algumas cenas futuras, mas modificadas, com a paleta de cores alterada, a maioria dos tons claros aparecem azuis. Esse ponto insere psicodelia na trama e acaba transformando a abertura em um resumo confuso, que mais parece uma abertura de seriado antigo, dada a falta de preocupação em mostrar todos os personagens possíveis e as situações surpresas.
Além de mostrar os belos atores, também é tocada o tema musical You, de Gregorio Garcia Segura de Samba e Nino Rota, de 81/2 e O Poderoso Chefão.
A letra é pontual, parte do ponto de vista de um narcisista prestes a atacar alguém. A primeira linha da faixa-título fala "Você representa tudo que eu detesto em um homem." e enumera as qualidades detestáveis, que resumem o personagem Maurice.
Carroll Baker é Helen ou Helene, dependendo da tradução, é uma moça que se apresenta como uma amante de corridas e de adrenalina. Sua primeira cena é em uma pista de corrida, que se acidenta em um treino de preparação para a Formula 1.
Não demora a tratar do assunto sentimental dela. Os médicos conversam sobre o estado emocional dela e afirmam que ela mergulhou ainda mais no trabalho graças a separação. Dessa forma, ela usou o ofício para esquecer do ex-esposo e acabou se descuidando, por falta de concentração.
As cenas nas autoestradas são sensacionais, Lenzi utilizou câmeras especiais, de transmissões esportivas, como futebol e campeonatos de ciclismo.
Eram equipamentos pequenas e portáteis, colocados do lado do carona, guiadas obviamente por dublês, não por atores, embora obviamente hajam takes que mostram os rostos em detalhe, de Baker e Sorel.
O filme varia de cenário rapidamente, passada da pista de corrida em Monza para o hospital de maneira célere. Há aqui uma cena de cirurgia bastante detalhada, que mostra a equipe médica lidando com a musa desacordada.
Obviamente a produção não destruiu o carro de fórmula 1, por conta de ele ser mais caro que todo o orçamento despendido para a realização do longa-metragem.
Lenzi fez um grande truque, fixou a câmera no capô, usou um dispositivo com uma manivela como suporte no carro e fez a manivela girar 360 graus, dessa forma, faziam a imagem do rosto da atriz girar, fazendo com que o público tivesse o mesmo desconforto da personagem, piorado pelo fato de inverter a filmagem.
Ele prendeu uma lata de gasolina vazia, cortando a parte de cima para colocar a câmera dentro, de modo que as bordas não entrariam no quadro, registrando assim só a parte externa. Equilibraram o equipamento com cunhas de madeira e ligaram a câmera. A filmagem ficou convincente, tanto que Lenzi repetiria o feito nas cenas de tortura em Canibal Ferox.
A moça sai de lá com a recomendação de descansar, se possível evitar fumar, beber uísque e até fazer sexo. Esse tipo de recomendação é bem inadequada e aparentemente só é apresentado para ser burlado, já que os três "pecados" são cumpridos, embora Helen diga que prefere beber. O médico diz que ela até pode beber, levemente, mas jamais de estômago vazio.
Helene já está separada há três anos de Maurice e acaba aceitando o convite do personagem de Sorel. Ele chama ela para conhecer sua nova esposa, Constance, de Anna Proclemer. Os dois estavam no litoral, em um lugar isolado, local esse ideal para que a protagonista se recuperasse com tranquilidade.
Boa parte de suas cenas é dirigindo. Ela é móvel, gosta de ser a senhora do seu próprio destino, para isso, se locomove sozinha. No "resort" ela encontra primeiro a personagem de Proclemer, atriz que havia estrelado Cadáveres Ilustres.
Sorel reaparece logo depois, agora atuando como um personagem real, não um devaneio. Assim que ele aparece, relaxando em uma massagem, ela lembra de um momento de briga, onde ela apontou uma arma para ele, largando a mesma depois que ele de um tapa em seu rosto.
A atmosfera é estranha desde o primeiro momento, especialmente quanto mais amigos são apresentados;
O dr. Harry Webb (Alberto Dalbés) filma a chegada dela, quase como um voyeur. No meio das conversas, os personagens brincam sobre jogos de ciúmes e insinua que as duas esposas de Maurice brigam por ele.
Não fica claro quais eram as intenções de Maurice, mas seu caráter é posto em cheque de forma explícita, já que ele espiona enquanto Helen se banha. Lenzi é lento ao explorar o corpo de sua musa, a flagra de maneira íntima, em seu processo de limpeza.
Obviamente não mostraremos imagens desses trechos, mas os cenários e as composições de imagens são bonitas, mas igualmente estranhas, cheia de trechos confusos, com cenários que não fazem qualquer sentido. Parece um lar de loucos em muitos pontos.
Helen, Constance e Maurice passeiam e sempre que o trio está junto se nota uma grande tensão, tanto que é quase palpável. Para desviar desse incômodo há muitas conversas sobre os hábitos sexuais dos europeus. Até a forma de distração tem que passar por insinuações sexuais.
Curiosamente, a atual esposa tenta ajuda da antiga, para embarreirar o cinismo do marido. Essa última parece sofrer uma prisão emocional e enxerga em Helen uma possível fuga para ele.
A direção de arte de Wolfgang Burmann (que assinava W. Burmann) mostra quartos muito coloridos, com quadros cheios de desenhos em cores quentes. Isso ajuda a compor quadros lindos, que antecipam emoções, como o conforto que a personagem central busca.
A situação de hóspede é tensa, especialmente no que toca a atual esposa de Maurice.
Não há exatamente ciúmes e sim um desejo de findar a vida do homem, mas Constance não consegue convencer a companheira. Ela chega ao cúmulo de propor que Helen mate o sujeito, oferece 100 mil dólares, mas nada consegue.
As intenções do triangulo amoroso não ficam claras, Maurice faz amor com sua ex-mulher, mas não pode largar Constance por ela ter dinheiro. Já a esposa não confia no amado, parece de fato querer ele fora de sua vida, por enxergar o sujeito um parasita.
A protagonista é a mais confusa dos três, é atraída pelo antigo amor e não imagina sua vida longe dele, além de estar proibida pelos médicos de fazer o que mais gosta, que é correr. Ela tem fantasias em que lança um arpão em Maurice, enquanto está no cais à noite, se preparando para a pesca. Todos os seus movimentos são esquisitos.
No meio do mar, Constance manda Helen atirar nela, mas na confusão é ela que é esfaqueada. Esse trecho é bizarramente tenso.
O barco dos amigos do casal chega perto e Maurice manobra rápido, derrubando o próprio barco de maneira brusca, de um modo que consegue derrubar o cadáver da madame na água. Por estar amarrada, ela afunda.
Nas investigações, quase pegam a faca utilizada para acertar a esposa. Os amantes evoluem de infiéis para cúmplices de um assassinato, que ocorreu tão cedo que faz pensar que esse pode ser um despiste, um mcguffin. Maurice age de maneira suspeita, avisa que não acha boa ideia procurar o corpo de Constance.
Logo chega Susan Sauvage (Marina Coffe), a filha de Constance chega a casa. Aparentemente ela não aparece antes uma vez que não conseguiram ligar para ela. Ela quase pega Helene e seu padrasto no flagra.
O terço final é bastante movimentado, acontece muita coisa, a polícia encontra uma filmagem aérea, que demora a ser exibida e poderia dar pistas sobre o esfaqueamento. Também é dado que Susan e seu padrasto tiveram um envolvimento sexual, há acusações de assassinato entre personagens, armação entre personagens e planos mirabolantes, além de cárcere privado.
Lenzi é poético, mostra sua musa correndo em alta velocidade, a bordo do Spider, em uma tentativa de fuga e ela obviamente se acidenta.
Os Ambiciosos Insaciáveis é tenso e surpreendente, uma obra que se vale demais da velocidade como tempero diferencial. Explora bem a beleza de suas personagens centrais, mostrando as falhas de caráter dos homens, exibindo essas últimas como intimamente ligadas a questões de sensualidade e sexualidade, como se fizessem parte do mesmo conjunto de pecados comuns.
Comente pelo Facebook
Comentários
Comente pelo Facebook
Comentários