Uma Natureza Violenta é um filme de horror canadense, baseado nos clichês de Filme de Matança. Ficou conhecido especialmente por acompanhar o modus operandi de um assassino poderoso, imortal e revivido, bem no estilo do vilão da franquia Sexta-Feira 13, embora tenha uma abordagem diferenciada, semelhante à de um filme ensaio, que tenta ludibriar o público que ama o "movimento" conhecido como pós-horror.
Dirigido por Chris Nash, que é um especialista em efeitos especiais, é mais lembrado por seu nome em inglês - In a Violent Nature - é considerado como um longa experimental, que flerta com horror existencial e com o gênero slasher, já que é protagonizado por um matador mascarado, interpretado por Ry Barrett.
A história se passa na área florestal de Ontário, onde o assassino Johnny é acidentalmente ressuscitado após o roubo de um medalhão que o mantinha no túmulo. Enfurecido, ele sai em busca da joia, matando várias pessoas nesse interim, provando que é mais que apenas uma lenda local.
O filme passou na programação da mostra Midnight no Festival de Sundance e causou burburinho, foi tratado como uma obra de "horror elevado" já que dá uma nova perspectiva para um vilão no estilo Jason, sem deixar de utilizar as características do subgênero que copia, utilizando como principal diferença o fato de mostrar os eventos sob a perspectiva do assassino e não das vítimas.
Chris Nash vinha trabalhando em efeitos de filmes B, então apresentou um roteiro aos produtores Peter Kuplowsky e Shannon Hanmer. O trio trabalhou junto na comédia de ficção científica Psycho Goreman e ambos gostaram da ideia, ajudando assim a financiar o projeto.
Para fazer o seu Johnny, papel fisicamente desgastante que exigiria uma boa forma e muito esforço do interprete, ele chamou Ry Barrett. O ator decidiu assistir alguns "filmes de monstro" para se inspirar, entre eles o austríaco Medo (Angst) de Gerald Kargl, o telefilme Elephant de Alan Clarke e Irreversível de Gaspar Noé.
Essas referências ajudam a explicar o louvor em torno do filme, afinal, são obras que fogem do escopo de filme B ou trash, que normalmente abraçava esse tipo de obra. Curiosamente, conversa com uma das ideias da produtora Barbara Sachs para Sexta-Feira 13 Parte 7, A Matança Continua, que segundo ela, deveria ser dirigido por Federico Fellini, sendo uma história bem mais intimista e reflexiva.
Em comum entre os projetos há a ideia a prepotência e presunção, sendo que apenas uma das ideias ganhou destaque e foi para frente dessa forma.
Direção e roteiro ficaram a cargo de Nash, foram produtores os já citados Shannon Hanmer e Peter Kuplowsky, com Casey Walker como produtor executivo.
O título original é In a Violent Nature, foi chamado assim na maioria dos países, em países de língua inglesa principalmente, mas também na Itália.
O diretor revelou que o título original do filme seria Sleeping Animal, fato que conversaria com uma das últimas linhas de diálogo presentes nesse roteiro, bastante expositiva diga-se. Na Estônia chama Loomu poolest tapja, na Rússia é Нежить, já na Espanha é De naturaleza violenta.
As filmagens começaram no centro de Ontário, na área dos Lagos Kawartha, antes de se mudarem para o distrito de Algoma, em Ontário, em 2021. Também foram feitas cenas em Sault Ste. Marie, Dundas, Copetown, todas localidades de Ontário, no Canadá. Foi montado em Madison, Wisconsin, por Alex Jacobs.
O longa-metragem foi produzido pela Low Sky Productions e pela Zygote Pictures, estreou no Festival de Sundance em de janeiro de 2024 e foi lançado nos cinemas do Canadá e dos Estados Unidos em 31 de maio.
Estreando em 1.426 salas, foi o maior lançamento cinematográfico da IFC Films até o presente momento, arrecadando cerca de 3 milhões de dólares na primeira semana em cartaz. Também foi prometido ser disponibilizado na plataforma Shudder foi anunciada para o final do ano.
Também passou nos festivais Overlook Film Festival, Milwaukee Film Festival e PFF SpringFest todos nos Estados Unidos, também rodou no alemão Hardline Film Festival.
Nash dirigiu alguns curtas como Blackhead, Lipllock e um segmento Z is fo Zygote em ABC da Morte 2. Esse é o seu primeiro longa solo dele.
Hanmer produziu ABC da Morte 2, onde também foi diretor de arte, o curta Hot Air e Psycho Goreman. Foi supervisor de roteiro em Entre a Vida e a Morte e teve um papel pequeno em Devorador de Almas.
Kuplowsky fez produção em The Interior, foi produtor executivo em Manborg, produtor associado em O ABC da Morte 2 e Frogman, co-produtor em A Seita Maligna e Psycho Goreman.
A mudança de área de filmagem ocorreu por conta de Nash não achar que aquele lugar (Kawartha Lakes) era o ponto certo para sua obra.
Devido a falhas de equipamentos e outros contratempos, os produtores decidiram reiniciar as filmagens em outra locação, com novo elenco, equipe menor e orçamento também diminuído, já em Algoma, perto de Sault Ste. Marie.
Escolheram então como máscara um antigo capacete da marca Vajen-Bader que era utilizado por bombeiros, como proteção contra incêndios. Esse serviu de inspiração para um artefato "original" que foi desenhada pelo diretor Chris Nash.
Haviam várias versões da máscara e o maior problema da sua fabricação era o uso contínuo. Barrett suava muito ao usá-lo, fazendo isso embaçava as partes semelhantes a lente de óculos, prejudicando a visibilidade e bloqueando a visão do ator.
Quando ele a usava era necessário cronometrar cuidadosamente os movimentos e lembrar as etapas para atingir marcas específicas. Na maior parte das cenas se usou uma alternativa com a frente da máscara aberta.
Para executar isso o diretor de fotografia Pierce Dirks ficava logo atrás, enquanto o "monstro" não podia virar a cabeça rápido demais, já que aparecia o nariz do ator. Barret fazia menção de levar os ombros em uma determinada direção para dar ao diretor de fotografia tempo para saber para onde ele iria se movimentar.
O filme é lembrado claro por apelar aos clichês de Sexta-Feira 13, Halloween: A Noite do Terror e outros menos famosos como Chamas da Morte e Madman, no entanto, quem o elogia o associa aos filmes recentes da distribuidora A24, especialmente por desenvolver lentamente sua narrativa cinematográfica, trocando os sustos falsos (jump scares) por uma câmera que acompanha silenciosamente o "Jason" da vez.
Diz-se que Nash mirou copiar o estilo da chamada trilogia da morte dirigida por Gus Van Sant, com Gerry, Elefante e Últimos Dias, imitando o estilo mais lento e metódico desse, já que são três filmes que seguem os personagens ao longo de diversas cenas. Também citou o trabalho do diretor Terrence Malick como uma influência, especialmente para os momentos de silêncio contemplativo.
O diretor disse em entrevista que refez 70% do filme em refilmagens, durante quatro semanas nas nova etapas. Ele chegou a trocar inclusive o seu ator principal, embora não se tenha dito quem era o interprete antes de Barrett.
Outro motivo para refazer era uma vaidade sua, já que ele queria filmar perto de sua terra de origem, onde se sentiria mais à vontade, onde sabia captar melhor os detalhes sórdidos e assustadores da paisagem natural.
A bilheteria foi boa, especialmente considerando que é um filme de orçamento baixíssimo, que teve mais de uma fase de filmagens. A crítica especializada também o elogiou bastante e os agregadores de notas e críticas continham bons e positivos reviews.
Muita gente disse que era uma reinvenção da fórmula, outras análises diziam que esse agradaria os fãs de filmes do gênero, fato é que ele foi bastante incensado.
Ora, houveram vários filmes que remontara, e desconstruíram de maneira metalinguística o gênero de slasher, como foi com Pânico, Medo em Cherry Falls e Terror nos Bastidores. Outras obras como Unmasked Part 25 e Por Trás da Máscara - O Surgimento de Leslie Vernon também brincaram com assassinos deformados que se vingam.
Todos os filmes citados tem contato com os temas levantados por esse Uma Natureza Violenta, tendo com diferença a favor dessa nova obra apenas o fato de Johnny ser uma zumbi super forte.
A narrativa inicia com uma tela preta, de onde vem um som que parece ser o de folhas sendo pisadas, com dois homens conversando, enquanto a imagem abre, mostrando um ponto de vista parado, no meio da floresta.
O início mira ser poético e de certa forma, é.
São citados os nomes de Ehren, Colter e Troy, mas nenhum desses é aprofundado nesse início, um deles até tem importância, mas não muito, o foco parece ser apenas em Johnny e em sua mitologia, como o amuleto, que aparece destacado em um galho velho. Ele é retirado dali e enfim tudo começa, embora a visão do assassino já apareça em tela até mesmo antes de pegar a joia, ou seja, ele sempre esteve vigilante.
A ideia de que o filme todo é na perspectiva do assassino é quebrada logo nos minutos iniciais, afinal, os ângulos de câmera mudam, o inicial é como se fosse de cima de um pedaço de metal, que demarca onde estava um corpo enterrado, depois é mostrada a terra sendo violada de baixo para cima, além de ter algumas cabanas ou resto delas, que lembram demais o esconderijo de Jason em Sexta-Feira 13 Parte 2.
O vilão silencioso meio zumbi é seguido pela câmera. Nash sabiamente modifica ângulos de filmagem, a fim de evitar uma monotonia maior, mas passa esse trecho e boa parte da duração só acompanhando o vagaroso andar do matador.
Ele anda lentamente pela mata, ouve buzinas, se percebe pessoas gritando e cuidando de suas vidas, enquanto rompem o silêncio que antes era intacto assim que percebem a presença deste personagem.
Quando ele entra em uma casa, ouve vozes, que o chamam de John ou Johnny, que parecem distantes. Nesse primeiro momento fica a dúvida se elas são ouvidas apenas por ele ou por todos, pendendo para o primeiro caso logo logo, já o assassino vê fotos da família do sujeito que roubou o cordão e amuleto, alertando quem está ali.
Assim que ele entra em ação, qualquer vestígio de ternura some e ele age como uma máquina de homicídio. A câmera é mais lenta que ele e parte do ataque se dá fora de quadro. Sabiamente se esconde o rosto do monstro nesse momento, tudo visa criar suspense.
Um sujeito cai na armadilha de urso, a mesma que o vilão havia armado, depois de arrancar o corpo pútrido de um animal. O sujeito implora por sua vida pateticamente, chora copiosamente e sofre a interferência do monstro.
Há uma esperteza na direção, já que o personagem estende sua mão desforme e inchada, mas limpa, depois ela retorna ao centro da tela, com um corte e mudança de fundo agora cheia de sangue, já na casa de novo, pegando o amuleto onde estava escrito #1 mother fucker.
Há alguns clichês do gênero, como a cena de jovens em torno da fogueira, bem no estilo de Sexta-Feira 13: Capitulo Final e A Vingança de Cropsy. No meio dos diálogos, se fala sobre cultura de cancelamento, mas obviamente não se aprofunda o assunto. Acaba parecendo apenas cinismo, já que há menção, mas não um aprofundamento no assunto.
Ehren agora aparece, feito por Sam Roulston. Ele conta a história de uma área que há 70 anos era remota e que foi comprada por uma empresa de exportação de madeira. Johnny era filho de um dono de lojas de lâminas, o pai dele encarecia os materiais para a os trabalhadores e esses descontavam no menino, que acabou sofrendo um acidente, em uma brincadeira que deu errado e que o fez cair de um lugar alto.
Os culpados tentaram disfarçar colocando uma máscara de bombeiro nele. Mais tarde, o pai dele também morreu, alegaram legítima defesa. Algum tempo depois, os funcionários da madeireira foram acionados, pois ocorreu uma chacina lá, sem jamais ter um responsável assumido. Entenderam que poderia ser um homem mascarado ou um fantasma de Johnny, talvez ambos.
As mortes seguem brutais, há uma em específico que John usa uma lâmina para decapitar uma vítima, puxando ela por trás do sujeito, até que corte a pela através da mandíbula, até a madeira, fazendo com que o corpo caia inerte e ensanguentado, já sem apoio.
O visual dele sem máscara é legal, apesar de bem simples. Apesar do material de divulgação dar conta de um figurino mascarado e com "roupas grunge", John só pega mesmo o disfarce com a máscara de bombeiro após a meia hora inicial.
Os efeitos práticos são sensacionais, especialmente quando ele assassina uma menina, enfiando um gancho em suas costas, puxando a cabeça dela até a coluna.
Foram usados cerca de 15 galões de sangue falso foram usados durante a produção; incluía diferentes misturas para vários níveis de viscosidade/espessura, dependendo do que era necessário. A mistura consistia principalmente de xarope de milho e mistura para bolo, tonalidade veludo vermelho.
A grande questão é que fora os momentos de morte, o ritmo do filme é bem prejudicado por sua fórmula e estilo. Se torna quase modorrento em várias partes, chato mesmo.
Talvez se ele fosse a respeito de uma figura já famosa, como Jason ou uma de suas cópias como Cropsy ou Marz de Madman, seria mais assertivo, pois haveria alguma curiosidade em ver essa intimidade exposta. Outra questão é que ele é longo demais, tem 93 minutos se contar os créditos. Com uma filmagem de proposta tão experimental, não há o que valorizar.
Observar um assassino revelando os seus segredos táticos não é tão interessante quanto um discurso a respeito disso pareceria, ainda mais se ele for um anônimo, como é.
A ausência de trilha sonora própria também facilita o público não mergulhar. Christine Leslie compõe alguns temas, mas esses não valorizam muito os feitos de Johnny,
Chris Nach afirmou que queria que o filme fosse uma "tela em branco" e fosse o mais "nítido e objetivo" possível, por isso pôs pouca música, para não influenciar o público.
Há de se elogiar Ry Barrett, que tem presença, é convincente e assustador. Seu caminhar lento é poderoso, ainda mais quando ele usa armas brancas em arremessos, como seu machado.
Perto do final há o acréscimo de um ranger, que fala que esteve com Johnny dez anos antes. Aparentemente ele é uma entidade, que volta sempre que alguém rouba o amuleto. Ainda assim o personagem não dura muito, ainda sofre uma vingança lenta e gradual, tendo o corpo fatiado por uma máquina a vapor que John manipula.
Peter Kuplowsky disse que esse filme foi concebido como uma meta-sequência dentro de uma série slasher fictícia, com possibilidade de expandir um caos maior, além do escopo do filme original. A verdade é que essa uma mitologia esperta, que tem tudo para ser retomada, já que In a Violent Nature 2 foi anunciada na San Diego Comic-Con com retorno de Nash confirmado como roteirista, mas seria isso o suficiente para estabelecer uma franquia de terror bem-sucedida?
Uma menina Kris de Andrea Pavlovic sobrevive, vai para a estrada, repete o clichê de O Massacre da Serra Elétrica e a fuga de Sally Hardesty. Pavlovic revelou que, antes das filmagens, ela não era realmente uma fã de terror/slasher, mas o filme a fez apreciar o gênero em si e a comunidade que o cerca. O filme até flerta com a possibilidade de frustrar isso, acompanhando a moça como se fosse a visão de John.
A motorista que resgata Kris é interpretada por Lauren-Marie Taylor, que interpretou Vickie em Sexta-feira 13, parte 2. Sua personagem ainda termina o filme falando sobre um menino que foi atacado por um urso, igualando assim o procedimento de Johnny com a selvageria dos animais silvestres.
É uma tentativa de explicar sem ser explícito, mas que soa arrogante, por subestimar o público.
Nash descreve o filme como um "teste de paciência", acrescentando que os filmes de terror geralmente recompensam o público com essa paciência. Ele foi muito comparado a Skinamarink e é tão torto quanto, no mesmo caráter chato e ensaístico.
Uma Natureza Violenta tem um discurso final chatíssimo, que tenta justificar as justificativas para a ação de Johnny. Acaba assim sendo um filme prepotente, que apresenta uma versão mais lenta dos jogos de vídeo game que simulam o modo de operar do vilão de Sexta-Feira 13, mas sem a diversão da interatividade. Sobra assim apenas a proposta torta, que é enfadonha enquanto entretenimento, mas que assusta pela ferocidade dos homicídios e pelos efeitos sensacionais empregados.
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