As bases do Complexo de Édipo. Eu sou desses que costumam criar expectativas com um piloto seja quando são anunciados os produtores envolvidos, ou mesmo os atores que encabeçaram o projeto. Com Bates Motel, essa ansiedade se deu pela soma de três motivos distintos: seria a primeira série do Carlton Cuse depois de Lost, teríamos Vera Farmiga como a atriz principal e claro, a série funcionaria como um “prequel” para Psicose a.k.a. um dos filmes que ditou os primórdios do gênero suspense. Quem acompanhou o desenrolar da produção desde o começo, sabia que certas liberdades (leia-se atualização da história) iriam ser tomadas, porém mesmo assim essa linha gerou desconforto em quem esperava uma ambientação sessentista, felizmente não foi o meu caso.
Quando falamos em psicopatas na TV norte-americana, vários exemplos atuais surgem. Alguns com um tom mais modernizado (Dexter), outros mais clássicos (Criminal Minds) e aquelas bombas do gênero (The Following). Desta forma, Bates Motel surge essencialmente para acrescentar uma ponta na lista, afinal mais do que uma história de origem, eu enxerguei um exercício de construção e desconstrução de personagens, falo respectivamente de Norma Bates e seu filho Norman. O conto da mãe superprotetora que no final é responsável pela destruição mental do filho não é nenhuma novidade, mas quando ele surge velado por um bom roteiro, é sempre prazeroso de se assistir.
Assim, chegando a cidadezinha de White Pine Bay com o intuito de recomeçar a vida depois de uma trágica perda, mãe e filho começam a se adaptar a uma nova realidade que de cara se mostra bem inesperada aos seus costumes. A princípio é notável a preocupação de Norma em criar um ambiente onde o filho se sinta bem e aqui eu elogio pela primeira vez o trabalho do ator Freddie Highmore ao compor um Norman Bates que nem de longe remete ao monstro do futuro, pois no menor dos atos como o primeiro encontro com suas colegas de turma na parada de ônibus é a inocência do rapaz que conseguimos ver.
Sem pressa e sutilmente, vamos descobrindo as particularidades de Norma, como a personalidade controladora e manipuladora na cena do jantar. E é Vera Farmiga o destaque desse piloto. A presença da atriz é magnética. Você enxerga uma mulher forte e egoísta para logo depois se sentir mal com a fragilidade da mesma na cena do estupro. O primeiro homicídio visto na série foi mais pesado do que eu esperava e só somou o que já ia bem. Particularmente o segundo ato do piloto fez jus ao gênero da série, pois mesmo as cenas de suspense soando clichés (a batida policial, por exemplo) em nenhum momento eu deixei de ficar apreensivo.
Outro ponto a se destacar é a sensação de que a cidade escolhida pelos Bates, esconde mais segredos do que eles. A ressalva aqui vai para personagens como a garota com fibrose cística, a incomoda suspeita do policial e até mesmo o antigo dono do hotel. Isso me anima, pois sabemos que temos de ter mais do que a relação entre Norma e Norman para levar nove episódios pela frente. São subtramas bem desenvolvidas que garantem a longevidade de produções ambiciosas.
Ao fim do episódio, eu já estava conectado com a essência da história e isso se deve ao cuidado com homenagens, referências e escolhas inteligentes. Não notei pretensão ou algo que valesse diminuir o que vimos em tela, por isso mesmo eu já deixei claro que minhas expectativas foram atendidas. Uma história sobre o amor doentio de uma mãe que transformou o filho por achar que o mundo não o merecia, já seria o bastante para ter a sua atenção, mas talvez um Édipo com horror seja ainda mais chamativo ou original, portanto estaremos acompanhando.
P.S.: A caracterização dos Bates frente a época em que vivem tornou os personagens mais bizarros e por isso mesmo interessantes de se acompanhar.
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