Halloween Kills: Uma revisão mais paciente do segundo filme da nova trilogia

Halloween Kills: Uma revisão mais paciente do segundo filme da nova trilogiaEm 2018 Halloween de David Gordon Green foi bastante elogiado, e merecidamente, já que foi uma sequência que repaginou boa parte dos momentos bons do clássico, além de evoluir o quadro de cada um dos personagens, ignorando as continuações pós 1978.

A saber que na época se prometia uma trilogia, era esperado que o segundo filme, Halloween Kills, teria alguns problemas típicos de um segundo tomo de uma história maior, como foi com O Senhor dos Anéis: As Duas Torres e Império Contra-Ataca, para citar apenas dois filmes de grandes franquias que lidaram com essa mesma questão.

Talvez por isso e pela expectativa que o filme Halloween Ends mais recente tenha acabado tendo uma recepção nem um pouco amistosa, inclusive por esse que vos fala. Quando assisti no cinema a impressão era de que era uma produção frívola, caça níqueis, e ela é de fato, de certa forma.

Muitos fatores externos ajudaram a chegar a essa conclusão negativa, incluindo aí a questão da pandemia do Novo Coronavírus.

Halloween Kills: Uma revisão mais paciente do segundo filme da nova trilogia

O filme foi lançado um pouco depois da reabertura dos cinemas, e acabou sendo veiculado no esquema misto de streaming e grande tela. Isso por si só atrapalhou a divulgação e propagação do mesmo.

Além disso, toda a ideia de racionalização do personagem e valorização apenas do natural que havia sido bem aceito no filme de 2018 simplesmente foi descartada aqui.

Michael é poderoso, forte, imortal, tal qual nas partes quatro em diante da franquia antiga.

A parte espiritual do assassino como a personificação do sobrenatural foi resgatada neste tomo e sem grandes justificativas ou plausibilidades.

Muito se fala que o desejo do diretor era fazer apenas um filme. Também correu a boca pequena que eram para ser dois apenas, mais o produtor Malek Akkad, filho do já falecido Moustapha Akkad (idealizador da franquia) pediu que a história do segundo filme fosse esticada, e vendo Halloween Ends, é fácil perceber as interseções, e onde deveria entrar a sequência de Kills.

Halloween Kills: Uma revisão mais paciente do segundo filme da nova trilogia

Além do corte de cinema, Halloween Kills: O Terror Continua recebeu também uma versão estendida, que expande um pouco algumas das cenas, as torna mais agressivas - sem economizar no gore - e desenvolve mais algumas partes sentimentais.

Diferente do primeiro esse é absolutamente violento e sanguinário. A escala de gore aumentou demais, tanto que parece mais uma reimaginação de Giallo do que de Slasher Movie.

Da parte da narrativa, o roteiro segue com a dupla Green e Danny McBride, com o acréscimo de Scott Teems, que foi o responsável pelo recente Chamas da Vingança e pelo vindouro The Exorcist da Blumhouse, a mesma idealizadora dessa trilogia de Laurie x Michael.

Logo a trama acompanha Cameron (Dylan Arnold), o ex-namoradinho otário de Alysson Strode (Andi Matichak), e o segue após a festa onde ele se separou da moça. No caminho para encontrá-la, ele percebe o policial Frank Hawkins (Will Patton) quase morto, e o socorre.

Curiosamente, o roteiro tenta atrelar o destino do rapaz a antigos sobreviventes, uma vez que ele é filho de Lonnie Elam, vivido aqui por Robert Longstreet. No original, Lonnie era o bully de Tommy Doyle, o rapaz que Laurie cuidava, e depois do trauma, os dois se aproximaram ao ponto de virarem melhores amigos, com esse último sendo interpretado por Anthony Michael Hall, o icônico ator da série baseada no livro de Stephen King, The Dead Zone.

O ponto alto certamente são os flashbacks no início, que incluem o jovem Hawkins impedindo o doutor Loomis de assassinar Michael, logo depois do mesmo Frank - interpretado por Thomas Mann - vendo um de seus companheiros ser enforcado pelo assassino serial.

Isso por si só é um retcon, pois deveria aumentar a contagem de mortes do vilão para cinco, e não quatro como era dito no clássico, mas...ninguém se importa com esse detalhe, aparentemente.

O que realmente chama muito a atenção é que a cena de captura de Michael inclui um sósia de Donald Pleasance como o doutor Sam Loomis, interpretado por Tom Jones Jr., um sujeito do departamento de artes (creditado na função construction coordinator), que já lembrava um pouco o ator veterano e teve auxílio de próteses.

Halloween Kills: Uma revisão mais paciente do segundo filme da nova trilogia

A música de John Carpenter, Cody Carpenter e Daniel Davies, mas não há grandes novidades na trilha. No entanto o ponto mais fraco é o roteiro e as motivações, especialmente as expectativas frustradas.

No final do filme de 2018 é prometido que algo que ocorreria com Alysson, inclusive com um plano detalhe das três Strode fugindo de carro, com ela segurando uma faca ensanguentada, respirando fundo.

Parecia que ali haveria uma ideia de legado, talvez uma vontade assassina como o do algoz de sua avó, mas isso é substituído por uma tola tentativa dela de fazer justiça com as próprias mãos, junto os loucos que sobreviveram aquela fatídica noite de 1978.

Outro ponto incongruente é que a mesma Haddonfield que via Laurie como pária, tem um bar que celebra sempre uma reunião dos que viveram dias terríveis com Michael. Ora, se a cidade condena Laurie, não deveria ter espaço e paciência com esses outros sobreviventes, fora isso, já é difícil de relevar que Laurie, depois de tudo que passou, simplesmente não sairia da cidade que sempre a tratou como alguém indesejada.

H20: Halloween trata exatamente de Laurie saindo da cidade para viver outra vida, com a personagem mudando de nome, tentando mudar radicalmente sua rotina, mas para efeitos dramáticos, tudo bem, se releva que ela permaneça no lugar onde sofreu tanto, mas ter cinco ou seis pessoas na mesma condição, e nenhuma delas decidiu simplesmente ir embora...é muita força de vontade e muita conveniência, visto que nenhuma delas apareceu na versão de 2018. Kills se passa na mesma noite de Halloween de 18, mas nem assim justifica.

Halloween Kills: Uma revisão mais paciente do segundo filme da nova trilogia

Outra questão é que já no início se percebem contradições de continuidade.

Laurie parece bem mais ferida do que estava perto dos créditos finais, já Michael não teve qualquer dano físico aparente, seja por tiros e facadas que recebeu, tampouco pelo fogo.

Quando os bombeiros chegam além de serem super competentes, ainda deram a ele uma dose extra de adrenalina, já que o sujeito vem com uma vontade incomensurável de matar.

Fora o grupo de sobreviventes, também aparece o velho Brackett, interpretado novamente por Charles Cyphers, que é um velho parceiro de Carpenter desde Assalto ao 13º Distrito e Bruma Assassina. No entanto ele aparece sem qualquer dignidade, trabalhando octogenário como segurança do hospital, quando deveria estar aposentado dado que mal consegue andar. Além disso, parte de sua cena de flashback sequer é de Halloween: A Noite do Terror de John Carpenter e sim de Halloween 2: O Pesadelo Continua de Rick Rosenthal.

A versão estendida acaba ajudando a tornar a produção mais palatável. Tem claro mais mortes, mas também desdobra melhor tramas sentimentais.

Karen sofre mais pela perda do marido neste corte, também há uma cena de telefonema, de Laurie para ela no final, com a protagonista tendo a certeza que seu algoz tirou mais do que a sua tranquilidade e paz de espírito, tornando a perda tangível. No entanto, para todos os efeitos o corte de cinema tem praticamente o mesmo sentido no desfecho, com uma diferença quase desprezível de plot.

O que de fato segue uma atitude infantil é quando ela consegue atacar Michael, vê que ele está vulnerável, e ao invés de dar cabo dele, simplesmente sua máscara e o atrai para que a multidão o linche.

Halloween Kills: Uma revisão mais paciente do segundo filme da nova trilogia

Ela mesma que no hospital, condenava as pessoas por querer fazer justiça com as próprias mãos. Além de incongruente, ela também é ingênua.

As mortes são bem gráficas, destaque para uma lâmpada quebrada passando pelo pescoço de uma personagem, além da chacina feita com o casal gay que morava na antiga casa dos Myers.

Há cabeça estourada, olhos esbugalhados, toda uma miscelânea de ferimentos e mortes que aparentemente afeta até os vivos, já que Tommy Doyle e os outros agem como baratas tontas.

Michael ainda segue irônico em seus assassinatos, capaz até de fazer referência a Halloween 3: A Noite das Bruxas, enfiando as máscaras malditas desse filme em vítimas que estão em um parquinho a céu aberto.

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A não presença de Laurie Strode na trama é sentida. O tempo todo a personagem de Jamie Lee Curtis está no hospital, esperando ser tratada, e nem sua atitude intempestiva de se auto medicar para partir para cima adianta de algo.

Ela é impotente no filme, e não por culpa sua, e sim pelo montante de circunstâncias tolas que o roteiro produz. O filme é de fato cheio de momentos patéticos, a exemplo da emboscada com pás, tacos e madeiras que os sobreviventes fazem, com cada um atacando uma vez, dando chance ao assassino para revidar um a um. Aparentemente Haddonfield preza pelo cavalheirismo em batalha

A luz do seu sucessor, Halloween Kills ao menos não é tão ambicioso, não tenta parecer uma revolução na franquia. Perde pelo fato de não fazer muito sentido, especialmente quando Michael sai de cena.

É ele uma força da natureza? Não dá para saber. O sujeito tem força espiritual? Tampouco há resposta. Ao menos sobram boas batalhas e muita matança, aspectos esses que dão ao fã do gore uma sensação de amparo, sem falar que comparado ao fim da trilogia, de fato essa obra parece injustiçada.

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