Um Drink no Inferno 3 - A Filha do Carrasco : Uma prequela interessante e irregular

Um Drink no Inferno 3 - A Filha do Carrasco : Uma prequela interessante e irregularUm Drink no Inferno 3 - A Filha do Carrasco é uma obra que mistura elementos de horror, aventura e western. Lançado diretamente para o mercado de home video, foi veiculado no ano de 1999, quatro anos após o clássico Um Drink no Inferno.

Também é lembrado também por ter em seu elenco a atriz brasileira Sônia Braga, que faz um papel importante para a trama. Com direção de P.J. Pesce, a narrativa acompanha a vida de um personagem histórico, o escritor e jornalista Ambrose Bierce, que já bem idoso, foi até a fronteira Estados Unidos e México, supostamente a fim de fazer um estudo, ainda que haja uma lenda consideravelmente famosa de que ele tentou se juntar ao grupo revolucionário de Pancho Villa.

Aqui, ele é vivido aqui por Michael Parks, ator veterano na franquia, o mesmo que fez o texas ranger Earl McGraw, o mesmo que também apareceu em Kill Bill e no projeto Grindhouse Planeta Terror e À Prova de Morte.

Bierce tem como motivação se juntar ao exército rebelde, motivo esse que supostamente justifica o sumiço que ele teve na vida real. Não há qualquer prova ou registro de que ele de fato encontrou com o revolucionário latino.

O roteiro foi escrito por Álvaro Rodríguez, com argumento do próprio e de seu irmão Robert Rodríguez. A obra foi apresentada pela Dimension Films, produzido por Michael S. Murphey, Gianni Nunnari e Meir Teper, através dos estúdios Band Apart, Los Hooligans Productions, distribuído pela Amuse Pictures, Buena Vista Home Video e New Films International.

Tem como produtores executivos novamente o trio Robert Rodriguez, Quentin Tarantino e Lawrence Bender.

Apesar de ter sido lançado no formato VHS, ele passou nos cinemas, no circuito de festivais, especialmente no Fort Lauderdale International Film Festival, no final de outubro de 1999.

O nome original do filme é From Dusk Till Dawn 3: The Hangman's Daughter. Em países de língua espanhola, varia entre Del crepúsculo al amancer 3: La hija del verdugo na Argentina e México, além de Abierto hasta el amanecer 3: La hija del verdugo como é na Espanha. Na França é Une nuit en enfer 3 - La fille du bourreau, na Itália é Dal tramonto all'alba 3 - La figlia del boia. Em Portugal é conhecido como Aberto Até de Madrugada 3.

A filmagens ocorreram entre outubro e dezembro de 1997, na África do Sul, em especial na locação de Cedarberg Nature Reserve, Western Cape province.

Tal qual ocorreu com Um Drink no Inferno 2: Texas Sangrento, esse é mais um produto baseado em uma ideia de um dos realizadores do clássico. É dito largamente que a ideia do segundo filme foi de Quentin Tarantino, enquanto esse é de Robert Rodriguez.

A ideia de contar uma história de origem para o bar Titty Twister envolvia também dar um passado para a Santanico Pandemonium, a vampira "víbora" que Salma Hayek fez.

Um Drink no Inferno 3 - A Filha do Carrasco : Uma prequela interessante e irregular

Pesce fez o faroeste Na Trilha dos Desesperados, também dirigiu
Os Garotos Perdidos 2: A Tribo, ambas produções para o mercado de vídeo. Ele conduziu episódios em Supernatural, Os 100 e Creepshow, fez músicas para a trilha sonora de Pequenos Espiões.

Álvaro Rodríguez estreou como roteirista nesse, fez material de conceito em A Pedra Mágica e escreveu Machete. Compôs músicas para O Mariachi, ultimamente tem trabalhado como produtor em Um Homem da Flórida e foi supervisor em American Rust.

Robert Rodríguez havia trabalhado nessa época em A Balada do Pistoleiro e Grande Hotel, dirigindo, escrevendo e produzindo esses. Produziu e dirigiu o sci-fi de horror Prova Final em 1998, um ano antes desse filme de vampiro analisado.

Michael S. Murphey trabalhou em A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy, Distrito 9 e Dredd. Gianni Nunnari esteve em Seven: Os Sete Crimes Capitais e Ilha do Medo. Meir Teper trabalhou em Um Drink no Inferno e Gilbert Grape: Aprendiz de Sedutor.

A trama sobre a transformação da vampira dançarina tem importância, afinal, há até um subtítulo em homenagem a essa personagem, mas ela disputa importância com arcos de outros personagens, como o escritor, e até o fora da lei Johnny Madrid, de Marco Leonardi.

Um Drink no Inferno 3 - A Filha do Carrasco : Uma prequela interessante e irregular

É largamente sabido que Um Drink no Inferno não foi um grande sucesso de bilheteria, ao contrário, mal se pagou. Foi redescoberto quando chegou as locadoras. Seu principal ponto positivo certamente é a reunião dos magos dos efeitos especiais, Greg Nicotero, Robert Kurtzman (que escreveu o argumento do filme original) e Howard Berger.

Em Um Drink no Inferno 2 ficou uma sensação ruim nesse queisto, já que o orçamento foi pequeno, fato que impediu uma dedicação maior aos efeitos de maquiagem, especialmente os mais elaborados. O trio trabalhou no segundo, mas tiveram menos liberdade, dois deles foram supervisores de efeitos especiais.

Aqui, o trio trabalha na função mesmo. Se nota que os vampiros são visualmente mais elaborados, mesmo que haja um uso de CGI que às vezes parece porco. Outra semelhança com o clássico é a tentativa de ir em uma direção e mudar tudo do meio para o final.

O começo é uma obra também de assalto, mas em outra época, em 1913, portanto mostra um Estados Unidos que ainda tinha ecos de um banditismo mais romântico, pouco organizado. Por isso se percebem vilões e mocinhos como nos filmes de John Wayne.

Dentro desse cenário há destaque para missionários, mercadores e carrascos, mas o foco de real interesse é obviamente o satirista e escritor que escreveu Dicionário do Diabo, mesmo que hajam incongruências clara, já Ambrose Bierce teria 71 anos na época que foi para o Oeste, mas no filme parece ser uma década mais novo que isso.

O sujeito aparece como um homem de comportamento e discurso cínico, misturado ao humor ácido, que era conhecido por ser um grande frasista. Ele era lembrado por afirmar que estar sozinho era estar em "má companhia".

Parks atua bem demais, consegue ser um personagem divertido, que é espirituoso e cheio de atitudes diferenciadas, variando bem entre o herói motivado e o mentor digno de ser copiado e abraçado pelo mocinho que Leonardi faz.

Um Drink no Inferno 3 - A Filha do Carrasco : Uma prequela interessante e irregular

O subtítulo "A Filha do Carrasco" é claramente uma referência ao texto "O Monge e a Filha do Carrasco", que Bierce e Adolphe Danziger De Castro publicaram em 1911.

O resto da sinopse envolve uma relação sentimental entre o bandido, que foge de ser caçado pelo carrasco Mauricio, de Temuera Morrison. O anti-herói acaba levando consigo a filha do sujeito, a bela Esmeralda, de Ara Celi.

O curioso é que os dois não possuem qualquer química juntos, mesmo que o script se dedique a tentar criar uma tensão sexual entre eles. Essa exploração não é necessariamente ruim, mas parece tola por ocupar tempo demais, deixando até de investir na aura de sedução que deveria existir nas moças que trabalham no futuro Titty Twister.

O que de fato existe - e é no mínimo curioso - é que existe um fetiche tolo, de cunho lésbico, especialmente entre Esmeralda e Quixtla, a personagem essa de Sonia Braga, mas o texto não busca explicar minimamente os motivos para isso ocorrer, especialmente considerando a revelação dada no final, sobre a proximidade das duas mulheres citadas.

É gasto um tempo considerável, fazendo com que os personagens criem laços entre eles, mas a maioria dos coadjuvantes não tem muito brilho, exceção ao casal de missionários, Mary e John Newlies, interpretados por Rebecca Gayheart, a musa de Lenda Urbana e Um Crime Entre Amigas e Lennie Loftin de Demolidor: O Homem Sem Medo.

A parte que realmente importa é a entrada no local onde ficaria o bar do primeiro filme. A tal pirâmide tem vários níveis, muitos quartos, todos sem portas, no máximo há um véu entre eles. No interior desses há gente nua, praticando sexo, algumas até em sexo grupo, em pequenas orgias.

O pastor missionário se impressiona com isso, tanto que tenciona chegar em sua esposa, sua prometida, que até nega o sexo, parecendo até ter uma certa frigidez.

Ela é uma personagem que tenta parecer complexa, mas não tem tanto tempo de tela, para desenvolver sua personalidade. Ela pode ou não ser uma pessoa travada sexualmente, e acabaria tendo uma virada de roteiro boa, próximo do final.

Gayheart tem um desempenho inspirado. Ela é discreta na maior parte dos momentos, mas mesmo quando é recatada, carrega consigo uma postura semelhante a das atrizes ícones da Hammer Films.

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A grande virada é quando a diligência de Mauricio invade o local. Ali começa uma grande batalha, aparentemente graças ao acaso, mas depois é dado que havia um grande motivo para isso.

Ali alguns vampiros aparecem, inclusive o bartender que Danny Trejo interpreta. Curiosamente, quando ele se transforma em vampiro é substituído por outro ator mais alto e mais magro com maquiagem, utilizando as mesmas roupas.

A partir daí o longa se torna uma orgia de sangue, um show off de efeitos especiais. Há inclusive um vampiro cobra, que sai da cabeça decepada de um morto vivo, tal qual saiu a ratazana que foi expelida do corpo do Sex Machine que Tom Savini fez no longa de 1995.

O roteiro é bastante pobre, o que realmente faz o filme brilhar é a violência gráfica, a orgia de sangue e o confronto entre humanos e vampiros. No final fica uma dúvida qual personagem estava destinada a ser Santanico. Poderia ser Mary, até faria mais sentido, por ser uma moça cristã, mas é na verdade, Esmeralda.

Aqui também há um sem número de acenos a fetiches, com coisas simples como vampiros que lambem o sangue na língua de Sonia Braga - especialmente meninas - até paralelos com bondage e BDSM, já que alguns torturados parecem ter prazer ao sentir dor.

Há também momentos dignos de um filme de exorcismo, quando Mary vampira discute com seu marido pregador.

Um Drink no Inferno 3 - A Filha do Carrasco : Uma prequela interessante e irregular

O visual dela é muito bom, em alguns pontos, parece uma górgona, tal qual a famosa Medusa da mitologia grega. Ela brinca que vai mostrar finalmente o que há embaixo do seu vestido e pelo tecido saem membros fálicos, como se fossem minhocas tão fálicas que parecem fantoches penianos.

Nos últimos quinze minutos se expõe qual é a questão de fato. A personagem de Braga, Quixtla, é na verdade a mãe de Esmeralda. O carrasco batia nela para tentar refrear o desejo dela em buscar e conhecer sua mãe, tentava assim manter ela submissa e refém sentimental dele, através da tortura e da violência misógina.

O roteiro linda com essa questão e modo anticlimático, tudo é exposto de maneira jogada. O destino tão importante dela é maltratado.

Ao menos há alguns arroubos visuais legais, como a apresentação da avó de Esmeralda, que é uma vampira múmia, cuja maquiagem é muito boa. A personagem se chama Cihuacoatl e é interpretada por Louis Kiss, dela caem minhocas, semelhante aos tenébrios utilizados nas doses de tequila.

Ainda há no final um confronto dos humanos com os vampiros. Os anti-heróis se soltam e começam uma grande briga. Há muito sangue, dilacerações, até ataques familiares, com Esmeralda cortando a barriga de sua avó. Desse ponto ainda saem muitos morcegos.

Mas nada é levado a sério, há muitos momentos cômicos, como quando Johnny chuta o saco de um vampiro e arranca seus testículos - que tem olhos...

Há alguns momentos que afrontam o conservadorismo, como quando Esmeralda beija seu próprio pai nos lábios, para depois morder o velho. Ainda ocorre essa referência incestuosa e um confronto entre pai e mãe, com um CGI vagabundo, prendendo a vampira que Sonia Braga sendo exposta ao sol.

Um Drink no Inferno 3 é um filme que funciona bem isoladamente, mas visto dentro da franquia, é difícil não achar ele uma cópia do primeiro. É bem divertido e criativo, bem melhor que o segundo, além de aprofundar a mitologia, ainda que de maneira leve.

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