Crítica: Giovanni Improtta

gi_cartaz_30cm_300dpi“Aborrecido e novelado, filme é o retrato das atuais comédias escapistas nacionais.”

O bicheiro Giovanni Improtta, criado pelo dramaturgo Aguinaldo Silva, surgiu nos anos 70, no livro O Homem que Comprou o Rio. E mais tarde em outro volume do mesmo autor, chamado Prendam Giovanni Improtta. Porém, foi somente na novela Senhora do Destino, exibida em 2004 pela Rede Globo, a sua aparição mais famosa, vivida pelo crítico de cinema e ator José Wilker, e que é até hoje lembrada por muitos.

E, após ser bastante elogiado e ganhar vários prêmios televisivos, Wilker se deu conta do potencial de seu personagem e decidiu levá-lo para as telonas. Chamou o amigo e parceiro Cacá Diegues, um dos cineastas mais consagrados da história do cinema brasileiro, - e que ao seu lado fez trabalhos como Bye Bye Brasil e O Maior Amor do Mundo – para dirigir o projeto. Que, imediatamente, sugeriu que o próprio Wilker fizesse sua estreia na direção e comandasse tal ideia. Aceitou e Cacá passou a ser o produtor.

O longa, obviamente, conta a história do contraventor Giovanni Improtta que tenta sempre estar em grande ascensão social, a todo custo. Seu desejo de entrar pra máfia carioca e se legalizar no ramo dos cassinos, acaba dando errado. Após ser traído vai parar na mira da mídia e da polícia, sob uma injusta acusação de assassinato, o que acarreta vários problemas, tanto na sua vida pessoal como "profissional".

Na época de exibição da tal novela, o personagem foi um sucesso pelo seu jeito cafajeste e brasileiro de resolver os seus atípicos casos. Seus ditos populares estiveram por muito tempo na boca do povo. Porém, aqui, Giovanni e suas piadas formam uma dupla completamente desinteressante. Onde até mesmo o ator parece não ter o carisma de antes.

Não me recordo de presenciar, sequer, um diálogo esperto ou cenas que, de fato, me chamassem atenção. Mesmo com um elenco maravilhoso formado por monstros sagrados como Milton Gonçalves e Othon Bastos, ou com o engraçadíssimo André Mattos, o título se mostra totalmente indigesto. A fita imprime tudo que há de pior nas produções escapistas nacionais, geralmente realizadas pela Globo Filmes - mesmo que esta tenha sido apenas apoiada pela produtora.

Pra melhor traduzir tal acontecimento, reproduzo aqui o que disse, sabiamente, o cineasta Kleber Mendonça Filho: “- Obras como essas atrofiam o conceito de diversidade no cinema brasileiro e adestram um público cada vez mais dopado para reagir a um cinema institucional e morto”.

É ofensivo, aborrecido, novelado e extremamente mal realizado, do ponto vista artístico. Não conseguindo obter êxito algum em sua proposta fílmica. Até nos assuntos pungentes entre religião e homossexualidade, política e sociedade, o filme é irresponsavelmente raso. Podendo até "causar", se visto por reacionários que simbolizam tais pontuações, mas que em nada contribui, de fato, com a luta do preconceito e crítica igualitária.

Em alguns aspectos técnicos, como no figurino de Beth Filipecki e Renaldo Machado e na fotografia de Lauro Escorel, a fita ganha um leve destaque por conseguir fazer com que aquele mundo seja crível para o espectador. As cores berrantes do cenário e roupas de Giovanni transmitem bem a cafonice fina vivida pelo personagem. A trilha sonora de Gui Amabis também não faz feio e impetra efeito nas tomadas das escolas de samba e pontuando a ação das cenas.

Em todo caso, nada salva o desastre que foi a primeira aventura de José Wilker como diretor de cinema. Uma pena, já que dele, como conhecedor da arte, até tecnicamente falando, como destacou o Cacá, e com seus cinquenta anos de carreira, era esperado bem mais. Que seus próximos trabalhos sejam mais cinematográficos e menos novelados, pois esse Giovanni Improtta não tem nada de “felomenal”.

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