Crítica: Os Incríveis 2

A continuação continua sendo uma grande homenagem ao universo dos super-heróis

Há cerca de 14 anos, quando os filmes de super-heróis ainda não tinham virado uma verdadeira febre entre os cinéfilos, esse subgênero já tinha nos dado bons e interessantes exemplos de que poderíamos ter produções menos óbvias sobre o tema.

As ótimas continuações dos X-Men, de Brian Singer, e do Homem-Aranha, de Sam Raimi tinham acabado de estrear, e estavam fazendo bastante sucesso. Isso sem contar a promessa (muito bem cumprida) da volta de um Batman mais soturno, a cargo de Christopher Nolan, o que aconteceria somente em 2005, com Batman Begins.

Só que, nesse meio tempo, surgiu uma animação da Pixar que “mudou as regras do jogo”, e mostrou que o universo dos super-heróis no cinema era mais repleto de possibilidades do que se imaginava. É claro que a animação em questão era Os Incríveis, longa que, até hoje, rivaliza com os melhores filmes desse subgênero em termos de qualidade, de Batman: O Cavaleiro das Trevas, ao recente Vingadores: Guerra Infinita.

Justamente por causa do grande êxito da animação, o seu diretor, Brad Bird, sempre foi cobrado para que fizesse logo uma continuação. Bird, no entanto, deixou claro que aquela história era muito especial pra ele, e que uma continuação só seria feita quando ele se sentisse à vontade de voltar ao universo da família Pêra.

E, eis que esse momento chegou.

Já nos primeiro minutos, após um rápido prólogo, que chega a fazer uma boa homenagem a MIB: Homens de Preto, esse segundo longa começa exatamente do ponto onde terminou o primeiro, e isso é providencial. Além da costumeira qualidade de animação da Pixar, que já proporciona, de cara, uma sequência de ação fascinante, a história se desenrola para uma trama muito bem amarrada, onde temos o uso político da criminalização dos super-heróis.

Por sinal, é curioso notar como o universo que permeia Os Incríveis consegue abordar tão naturalmente essa questão de seres superpoderosos vivendo entre nós (a adaptação para cinema de Watchmen, que versa diretamente sobre esse tema, nem chegou perto em termos de eficácia, só pra ficarmos no exemplo mais claro). Ponto para o roteiro esperto e sagaz de Bird, que consegue praticamente abordar o mesmo assunto da inadequação da sociedade para com os super-heróis do primeiro filme, mas, de uma maneira um pouco diferenciada.

Interessante também notar certa inversão de valores. Enquanto que, no primeiro longa, era o Senhor Incrível quem voltava à ativa em nome dos seus dias de glória, agora é a Mulher Elástica que precisa reviver o seu passado de combate ao crime, mas, não por uma simples vaidade particular, e sim, para fazer com que os super-heróis sejam legalizados no mundo novamente. Quem, por sinal, demonstra uma grande inveja disso é o seu marido, que agora precisa cuidar dos filhos.

Por sinal, os momentos de interação do Senhor Incrível com Violeta, Flecha e, principalmente, com o bebê Zezé, são o ápice de comédia nesta continuação. As peripécias do pequenino, por exemplo, são hilárias, ao mesmo tempo em que, em algum momento, seus incríveis poderes serão úteis. Bom destacar também o ótimo desenvolvimento da personagem Violeta, às voltas com seus típicos problemas de adolescente.

E, assim como aconteceu no primeiro filme, aqui o “vilão” tem uma intenção maquiavélica, mas, que tem lá a sua coerência em termos práticos. Enquanto Síndrome queria acabar com todos os super-heróis para que todos pudessem ser, sob algum aspecto, “especiais”, o Hipnotizador deseja provar que o cidadão comum se acomodou diante da facilidade de ter seus problemas resolvidos por seres super poderosos. É certo dizer, inclusive, que a sua motivação é ainda mais sólida e plausível do que a de Síndrome.

Em termos de coadjuvantes, os fãs da franquia não precisam reclamar, pois, eles estão aqui, firmes e fortes, e até numa participação mais orgânica do que antes. Gelado, por exemplo, está bem mais interativo na ação, e a peculiar Edna Moda, mesmo que apareça menos, consegue fazer parte de um dos momentos mais engraçados do filme.

A animação, em si, continua impecável, como era de se imaginar, até mesmo porque, temos aqui um pouco mais de ação do que no primeiro filme, e as técnicas usadas precisariam ser, de fato, muito bem feitas. Na direção, Bird continua sabendo o que faz, sem precisar de grandes arroubos narrativos para contar uma história relativamente simples, mas, muito eficiente dentro da sua proposta.

Talvez, tenha faltado em Os Incríveis 2 um pouco mais de criatividade na abordagem da trama (algo que transbordou no primeiro longa). Porém, mesmo não sendo uma produção tão “redonda” quanto poderia ser, trata-se de um filme de super-heróis, em muitos aspectos, bem acima da média e que mantém de forma digna o legado dessa simpática família, que tirando o fato de terem super poderes, são personagens muito críveis (ao mesmo tempo em que são também fascinantes).

Redação

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