Crítica: Thor: O Mundo Sombrio

thormundosombrio posterCom Homem de Ferro 3, o Universo Cinematográfico Marvel começou a demonstrar certa fragilidade. A recusa do longa em ampliar qualquer aspecto da grande trama compartilhada, iniciada justamente pela franquia do Vingador Dourado, foi uma das maiores fraquezas do filme, não indicando em nenhum momento o início da tão falada Fase 2, a série de histórias que culminaria na próxima aventura d’Os Vingadores. A vantagem de Thor: O Mundo Sombrio é justamente não ter essa responsabilidade. Com a narrativa passando mais tempo em Asgard, os eventos desta nova investida do estúdio são mais convincentes em uma trama fechada e ainda assim dão pistas do que o futuro reserva para os fãs dos heróis da “Casa das Ideias”. O resultado final, no entanto, poderia ser mais satisfatório.

Dirigido por Alan Taylor (conhecido pelo comando de episódios de Game of Thrones), Thor 2 começa onde Os Vingadores terminou. Loki (Tom Hiddleston) acaba de receber a punição por seus atos, Thor (Chris Hemsworth) e seus companheiros, Lady Sif (Jaimie Alexander), Fandral (Zachary Levi), Volstagg (Ray Stevenson) e Hogun (Tadanobu Asano), estão colocando ordem nos outros reinos, e na Terra, Jane Foster (Natalie Portman) está investigando uma série de anomalias semelhantes àquelas de quando encontrou seu heroico namorado. Esses distúrbios são resultados de um alinhamento entre os nove reinos, que ocorre a cada 5 mil anos. Da última vez, Malekith (Christopher Eccleston), o líder dos Elfos Negros, tentou usar o fenômeno para causar destruição no universo através do Éter. Na época, fora impedido por Bor, pai de Odin (Anthony Hopkins), e agora retorna para vingança.

O longa já comete um erro grave de narrativa logo no início. Com uma narração do pai de Thor, o espectador conhece toda a história dos Elfos Negros e de sua derrota no passado remoto, algo que será recontado cerca de 40 minutos depois, novamente pelo próprio Odin. Essa repetição de informações é uma constante no roteiro de Christopher Yost, Christopher Markus e Stephen McFeely. São inúmeras as vezes que Jane e o Dr. Selvig (Stellan Skarsgard) tentam, sem muito sucesso em serem entendidos, explicar a bobagem científica por trás de seus planos para impedir que o alinhamento cause destruição em massa. Na maior parte das vezes, soa como um exagero de diálogos para justificar algo sem necessidade. Em uma boa e convincente história, o público não precisa entender completamente os eventos, desde que aceite as regras da trama. E isso fica difícil quando aparecem soluções fáceis e convenientes pelo caminho dos personagens. Há uma envolvendo Jane e Thor encontrando o caminho para a Terra que é absurda e desnecessária. A resolução do problema cai no colo de ambos e chega a zombar da atenção dispensada pelo espectador.

Por outro lado, o texto se sai bem na utilização do humor, que está presente em O Mundo Sombrio da mesma forma que em Os Vingadores. Os momentos engraçados não funcionam apenas como alívio, mas também para quebrar expectativas e brincar com sua própria tolice. Assim, a participação de Darcy (Kat Dennings) é ampliada sem parecer forçada. A personagem acaba tendo uma função na trama melhor desenvolvida do que no primeiro longa (quando muita gente reclamou quanto a sua falta de importância). Quem também tem mais tempo de tela é Frigga, a mãe de Thor, vivida por Rene Russo. Como era de esperar, Loki rouba a cena. O carisma de Hiddleston e seu comprometimento com o personagem são tantos, que o ator parece estar se divertindo até mesmo quando sua ação é mover uma alavanca para controlar uma nave.

Já quando o roteiro tenta explicar as motivações do vilão vivido por Eccleston, falha miseravelmente. Com um plano de destruição que não faz sentido, sua presença é pouco percebida durante os 120 minutos de projeção, dando a entender que o antagonista está ali apenas pelo filme precisar de um desafio e porque o futuro do Universo Marvel ainda verá novamente o poder do Éter.

O diretor, no entanto, se sai melhor no comando das cenas de ação do que Kenneth Branagh e por não ter mantido os incômodos planos holandeses (aqueles em que a câmera parece estar na diagonal) que permearam o primeiro longa. Infelizmente, sua abordagem nos diálogos é semelhante com a de novelas, enquanto Branagh usava sua experiência em adaptações de Shakespeare para conferir uma dramaticidade épica aos dilemas dos protagonistas. As falas de alguns personagens não ajudam muito. Odin ora diz que os asgardianos são tão mortais quanto os terráqueos, ora chama Jane de “mera mortal”. Taylor, no entanto, cria bons momentos nas cenas de ação. Colocando mais personalidade no clímax, por maior que seja a batalha, Thor 2 se sai melhor do que O Homem de Aço, por exemplo. Há uma particularidade durante toda a sequência, envolvendo portais entre os mundos e o martelo Mjolnir, que fica entre o humor e a tensão de forma gratificante.

Outro ponto decepcionante é a trilha sonora genérica de Brian Tyler. Não há uma investida sequer da música que cause no espectador o efeito desejado. A sorte é a qualidade das cenas de ação, que poderiam surtir as mesmas reações se não fossem acompanhadas por nenhuma trilha incidental. Quanto aos efeitos especiais, são satisfatórios, mas nada muito espetacular. As criaturas, naves e elementos de cenário, ao contrário, exibem a criatividade do departamento de arte.

Divertido e movimentado o suficiente para não tirar a atenção do espectador, O Mundo Sombrio ainda não mostrou qual a importância da Fase 2 da Marvel nos cinemas, mas agrada até mesmo quem não gostou muito do longa inicial do Deus do Trovão. Deixando um gancho interessante para um certo personagem, Thor 2 é uma aventura que soa mais descompromissada do que a última investida de Tony Stark, mas também inclui referências e pontas soltas para serem amarradas nos vindouros Guardiões da Galáxia, Os Vingadores 2 e, quem sabe, Thor 3. E, se tem em comum com o terceiro Homem de Ferro uma certa fragilidade que poderia colocar tudo a perder, o público geral não parece demonstrar desinteresse. Quantas fases a Marvel ainda terá nos cinemas depende muito mais disso do que da qualidade do material exibido, infelizmente.

Obs.: Há duas cenas pós-créditos, fique durante toda a projeção. A primeira cria uma ligação com Guardiões da Galáxia e é muito mal conduzida. A segunda não acrescenta muito, mas é divertida.

Alexandre Luiz

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Comentários

4 comments

  1. Avatar
    MARCIUS VINICIUS 3 novembro, 2013 at 10:02 Responder

    Achei THOR 2 melhor que o primeiro e melhor que HDF 3, mas ainda assim não achei um ótimo filme, é bonzinho, só isso.
    A segunda cena pós-créditos poderia muito bem ser a cena final do filme, se eu soubesse que seria aquilo, não esperaria todos os créditos passarem, interminavelmente, por longos 15 minutos.

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