Natal Negro : O remake sombrio e hiper cafona de Black Christmas

Natal Negro : O remake sombrio hiper cafona de Black Christmas

Natal Negro é um filme de terror que, obviamente, se passa no feriado de 25 de dezembro. Lançado em 2006, ele veio na onda de refilmagens violentas que ficaram conhecidas como Remakes Sombrios a partir da chegada de O Massacre da Serra Elétrica de 2003.

Conduzido por Glen Morgan, é lembrado por seu elenco com várias figuras famosas e também por vários problemas dos bastidores.

A trama acompanha uma fraternidade universitária de meninas, que sofre com uma invasão da casa onde elas residem. Elas ficam nesse lugar sem saber que antes era o lar de um maníaco homicida e matricida, sujeito esse que estava preso em um sanatório mental.

Refilmagem do clássico canadense Black Christmas: A Noite do Terror, consiste basicamente na rotina de fuga desse maníaco, que é bem mais exagerado que na versão original e que é divertido justamente por conta desses exageros.

Essa obra reúne em si todos os clichês terríveis e piegas do cinema de horror da década de 2000, especialmente no que tange a saga de filmes Premonição, que reúne boa parte dos produtores dele.

O longa é charmoso justamente por isso. Fora a condução de Morgan, também tem um baita elenco, cheio de rostos famosos para a época.

Ligação com Bob Clark e elenco

É dada que Glen Morgan era um bom amigo de Bob Clark, que dirigiu o filme original e, supostamente, recebeu sua bênção para dirigir este filme. Clark permaneceu no set, supervisionou as filmagens e assinou produtor executivo, um ano antes de falecer.

Um dos fatos mais curiosos do filme é que o seu elenco é recheado de celebridades, como Mary Elizabeth Winstead, Katie Cassidy, e Michelle Trachtenberg.

Esse aliás foi o primeiro remake de A Noite do Terror que, como dito antes, surfou na onda das refilmagens e um pouco na rebarba das imitações de Pânico como Lenda Urbana e Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado.

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A outra refilmagem ocorreu em 2019 e no Brasil, foi chamado de Natal Sangrento, que é o nome de outra saga de filmes de terror.

Glen Morgan foi não só diretor, mas também roteirista e produtor desse. Ele baseou seu texto no script original de Roy Moore.

Os produtores do longa-metragem são Marty Adelstein, Steven Hoban, Dawn Olmstead, Victor Solnicki, Mike Upton, James Wong, tendo produção executiva de Marc Butan, Bob Clark, Mark Cuban, Scott Nemes, Noah Segal e Todd Wagner.

A inspiração em uma lenda urbana e a estreia

Tanto o original Noite do Terror quanto Quando um Estranho Chama (filme de 1979, que guarda vária semelhanças com Black Christmas) foram inspirados na lenda urbana "A Babá e o Homem Lá de Cima".

Curiosamente, Katie Cassidy estrela tanto este remake quanto a versão de Quando um Estranho Chama, também de 2006.

A data de lançamento do filme - no dia de Natal - não foi escolhido apenas pelo fato de ser baseado em um feriado, mas também seguiu a tradição de Pânico e Wolf Creek: Viagem ao Inferno, dois outros filmes de terror da Weinstein Company, que tiveram sucesso financeiro quando lançados durante os 25 de dezembro.

Ao contrário do que ocorreu em 1996 no filme de Wes Craven e no anterior com Wolf Creek, aqui se provou uma estratégia ruim, já que houve um declínio de bilheteria nas semanas seguintes.

Analistas de bilheteria sugeriram que um dos motivos era que o público não estaria mais no espírito natalino para assistir a um filme de Natal após o dia 25.

A polêmica com grupos evangélicos

O filme causou um alvoroço de controvérsia com grupos cristãos por causa da decisão do estúdio de lançar o filme justo no natal. Agremiações como Liberty Counsel e Operation "Just Say Merry Christmas", chamaram o filme de "ofensivo, infundado e insensível".

A colunista do L.A. Weekly Nikki Finke, também questionou a decisão dos cineastas de lançar o filme na data festiva. A Dimension Films defendeu a própria escolha, lembrando que há uma longa tradição de lançar filmes de terror durante a temporada de férias, como contra-programação para a tarifa natalina mais regular.

O historiador de cinema Michael Gurnow, do The Horror Review, rebateu a reclamação do Liberty Counsel, afirmando que crimes ocorrem durante todo o ano, incluindo o Natal, citou inclusive um caso de homicídios em McLean e Great Falls, Virgínia, um ano antes.

No Reino Unido, Irlanda e Polônia a obra foi lançada em 15 de dezembro de 2006. Só no Canadá e EUA chegou no dia  25. Em Portugal só em 10 de maio de 2007. Na Itália estreou em setembro de 2007 e no Brasil chegou em DVD em outubro de 2008.

O título original é igual o filme de 74, Black Christmas, mas se usa uma grafia promocional e abreviada bem “datada”, como Black X-Mas, especialmente nos cinemas canadenses.

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Na Argentina, Peru, Venezuela e outros países de língua espanhola é mais conhecido como Gritos en la oscuridad, na Itália é Black Christmas - Un Natale rosso sangue e na Espanha é Negra Navidad.

Em Portugal tem o sugestivo nome de Férias Assombradas e no Japão, o filme foi comercializado como um episódio de Premonição, se chamando então Fainaru・Deddokōru ou Final Deadcall na versão literal em inglês,

O filme foi filmado no Canadá, com gravações que duraram 29 dias, em janeiro de 2006, em Vancouver, Colúmbia Britânica. Houveram cenas específicas no Riverview Hospital, Coquitlam,  e na 1196 W. 59th Ave.

O longa foi feito pelos estúdios Dimension Films (que apresenta) a 2929 Productions, Adelstein-Parouse Productions, Hard Eight Pictures, Hoban Segal Productions, Victor Solnicki Productions, Movie Central Network, Corus, Province of British Columbia Production Services Tax Credit, Copperheart Entertainment e Milestone Entertainment.

A distribuição foi feita pela Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) nos Estados Unidos em 2006, pela Pathé Distribution no Reino Unido, pela TVA Films no Canada.

A ideia original e a briga com os estúdios

Os bastidores da produção foram muito "movimentados", para dizer o mínimo. Morgan acusou os chefões da Dimension de mexer no que ele imaginava ser o ideal para o filme.

Sobre isso, falaremos com spoilers. O aviso está dado:

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O roteiro original tinha um tom mais sério, sem a ironia e o apelo ao humor negro que se viu no que foi lançado nos cinemas.

Há personagens que morreram e que sobreviveram, segundo esse rascunho, sobretudo Leigh, entre outros motivos, graças a agendas de atores, como a de Michelle Trachtenberg, influenciaram no destino de personagens.

Até o destino de Billy seria diferente, morrendo bem antes do que é mostrado na versão que foi para o cinema.

Ele pereceria ainda no sanatório e o antagonista seria diferente e foi reescrito para que o "original" fosse um cúmplice de Billy, tudo graças a interferência do estúdio, segundo Morgan. O parentesco dos antagonistas também seria diferente.

O final original teria duas garotas finais e não uma. Melissa deveria ser asiática, antes de Trachtenberg ser escalada. Para isso, se mudou a etnia de Lauren Hannon, sendo de origem asiática, já que sua interprete, Yan-Kay Crystal Lowe é birracial, tendo pais escoceses e chineses.

A pesquisa de Trachtenberg

Uma das demonstrações mais cabais de que a personagem de Michelle Trachtenberg era diferente tem a ver com as pesquisas que ela fez. A atriz se interessou por serial killers durante a produção.

Costumava ler sobre assassinatos, durante os intervalos de gravações e trazia trivias para o elenco e produção. Considerava isso como uma espécie de laboratório para o papel, mas esses estudos praticamente não tiveram efeito dentro do filme, até por conta da mudança de importância da personagem, que deixou de ser uma das sobreviventes no final.

A crise de Morgan

É dado também que Glen Morgan renegou em certa parte o filme. Em resposta à pergunta se ele estava ou não feliz com os resultados, Morgan disse:

De jeito nenhum, o filme e é esquizofrênico porque Bob Weinstein entrou e urinou nele (...) houve uma época em que o torture porn era muito popular e isso influenciou o filme (...) mesmo com a bênção de Clark, que lidava com o passado dos assassinos (coisa que ele não conseguiu) tudo foi deixado de lado para arrastar personagens pelos corredores. Foi humilhante, horrível. Permaneci lá para tentar proteger o elenco e a equipe, amigos meus, e acabei sendo culpado por isso.

Cenas do trailer e comerciais infames

É sabido que cenas no trailer foram filmadas apenas para fins publicitários, tendo momentos inteiros que não aparecem nem no filme, tampouco em cenas deletadas.

Essas cenas foram filmadas pelas costas de Glen Morgan, à revelia do realizador. Ele foi informado por Mary Elizabeth Winstead por telefone sobre isso.

Segundo relatos, isso foi feito a pedido da Dimension. As filmagens incluem uma jovem garota (Jillian Murray) encontrando outra garota presa sob um lago congelado, sendo que nenhuma delas estava no filme. Depois apareceu a mesma garota caindo do telhado emaranhada em luzes de Natal.

Também houve uma morte alternativa onde Dana (Chabert) fica emaranhada em luzes de Natal e é sugada para dentro de uma debulhadora. Há também uma cena curta em que Melissa grita com alguém. Ela é vista engatilhando uma espingarda em um olho mágico na porta da frente dizendo "Feliz Natal, mãe-".

Há cenas de Billy rastejando pelo teto com um machado e algumas falas diferentes, nas ligações.

Quem fez

Morgan dirigiu apenas A Vingança de Willard, em 2003, esse e três episódios do revival de Arquivo X.

Após o fracasso de bilheteria de A Vingança de Willard, Morgan afirmou que se este filme fosse um fracasso, seria o fim de sua carreira de diretor e de fato, foi isso que ocorreu, sendo um fiasco crítico e financeiro.

Curiosamente, mesmo depois das brigas, ele fez todo o circuito de divulgação da obra, posando para fotos em premieres e exibições especiais.

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Glen Morgan, Kristen Cloke e Dean Friss, respectivamente.


Ele escreveu Os Desajustados, Heavy Metal do Horror, onde não foi creditado. Também redigiu O Confronto, Premonição 3, capítulos de Anjos da Lei, Lore, Arquivo X e o mais recente Além da Imaginação.

É um produtor de mão cheia, foi produtor em Premonição, O Confronto, Premonição 3, também produtor executivo em Comando Especial, Millenium (do qual foi showrunner) Intruders e Lore,

Marty Adelstein produziu Detenção, Hanna, foi produtora executiva em seriados remake comoCowboy Bebop, Deixa Ela Entrar, One Piece e Expresso do Amanhã.

Dawn Olmstead produziu The Living Museum, Detenção, 90 Minutos no Paraíso, foi produtor executivo em Prison Break e Intruso.

Hoban produziu a trilogia Possuída/Ginger Snaps, em Possuída, Possuída 2: Força Incontrolável e Possuída: O Início, Splice: A Nova Espécie e Assombrada Pelo Passado.

Victor Solnicki produziu Hugh Hefner: Playboy, Activist and Rebel e The River of My Dreams, foi produtor executivo em Os Filhos do Medo, Scanners: Sua Mente Pode Destruir e Videodrome: A Síndrome do Vídeo.

James Wong produziu A Vingança de Willard, Premonição 3, dirigiu Premonição, Premonição 3 e Dragonball Evolution. Foi produtor executivo e showrunner em Millenium junto a Morgan, também em algumas temporadas de História de Horror Americana e foi consultor de produção em Arquivo X.

A ideia de ser mais sangrento

Outra questão polêmica da queda de braço entre Morgan e os Weinstein era relacionado ao gore.

Harvey e Bob supostamente brigavam frequentemente durante as filmagens insistindo com o diretor que o filme fosse mais sangrento.

Um exemplo flagrante são as tendências canibais dos assassinos, o que não estava no roteiro original.

A fotografia

Como a maior parte do filme se passa durante um blecaute dentro de um ambiente interno - a casa de irmandade - o diretor de fotografia Robert McLachlan e o seu departamento de iluminação foram forçados a encontrar maneiras criativas de obter iluminação apropriada.

Isso incluiu um esforço curiosos, de cortar buracos nas paredes, para ter luz vindo de fora. O efeito ficou consideravelmente bom.

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Ordem de filmagens e inspiração para Billy

As sequências de flashback com a família de Billy foram filmadas primeiro e as cenas "mais novas", com as membras da fraternidade foram filmadas em seguida, tudo para que uma casa dilapidada fosse facilmente decorada com enfeites de Natal.

Assim haveria uma sessão de trabalho de caracterização apenas.

Morgan afirmou que baseou a sua versão de Billy Lenz em Ed Kemper, um serial killer da vida real que, quando criança, foi trancado no porão de sua casa por sua mãe, que ele mais tarde assassinou como vingança.

Também foi ideia dele incluir Agnes como uma personagem, Ela é apenas mencionada no filme anterior, nas ligações tresloucadas de Billy Lenz. Mas a questão incestuosa não foi ideia dele, segundo o próprio, foi imposição da Dimension.

Outra diferença cabal é que esse se passa apenas em um dia, excluindo claro os momentos de flashback, na casa dos Lenz. O filme original ocorreu ao longo de pelo menos 2 dias, durante as férias de inverno.

A trilha sonora

Esse foi o último filme com a trilha sonora composta por Shirley Walker antes do seu falecimento em 29 de novembro de 2006, um mês antes do lançamento deste nos cinemas.

O filme é dedicado à sua memória.

Os frutos do fracasso

Devido ao fracasso de bilheteria do filme, a Vivendi Visual Entertainment cancelou o lançamento planejado em Blu-ray para o filme e só o lançou no formato HD-DVD de curta duração.

Um Blu-ray canadense foi lançado pela TVA Films, mas desde então saiu de catálogo.

Vale lembrar que a obra não foi exibida com antecedência para os críticos, fato que denuncia que os estúdios não levavam fé nela.

Narrativa

Em um primeiro momento, a história vai até o passado, onde um olho curioso observa uma menina (Leela Savasta) escondido pelo armário, onde ocorre uma sequência com uma morte de saco, no caso, em uma referência a morte icônica presente no longa de Bob Clark.

Não demora até que a trama chegue até a ala especial, do Clark Sanatorium, o lugar de criminalmente insanos, uma instituição que é lotada de gente.

A instituição tem esse nome obviamente em referência a Bob Clark. As cenas no "hospício" estavam nos rascunhos originais do antes do flashback com Savasta.

William Edward, o Billy Lenz está preso, em uma cela de segurança máxima e a apresentação dele demonstra o quanto o roteiro é mega expositivo, até por conta de se repetir verbalmente a origem de Lenz e nos flashbacks.

Nesse ponto aparece um Papai Noel. O sujeito que leva a comida e o carcereiro discutem com ele, contam a origem do preso, igualando os fatos a uma lenda urbana. Eles falam que ele ficou preso no sótão a vida inteira, graças a sua mãe.

Se nota a coloração da sua pele é amarela, em atenção ao clássico, mas que não ficava exatamente claro. Aqui ele parecia amarelo mesmo, inclusive nas cenas onde não estava sombreado.

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A doença

Billy tem uma doença hepática baseada em uma condição real, que é uma concentração maior que aprox. 3 mg/dL (>50µmol/L) no fígado, que pode causar icterícia. deixando a pele com essa cor.

Dean Friss, o operador de câmera, foi originalmente escalado como Billy Lenz, apesar de não ter experiência anterior em atuação, mas ele foi então escalado como o "segundo assassino", a ser explorado mais à frente.

A ideia era tornar os dois personagens intercambiáveis ​​para confundir o público durante o filme, mas Friss teve problemas para tentar criar uma voz para o personagem até perceber. Optaram então por fazer uma versão rouca, em atenção a mãe de Billy.

Sobre a visita no instituto Clark, é curioso como um ator fantasiado, que deveria estar na ala infantil conseguiu entrar no setor ser o mais seguro, onde estão os mais perigosos pacientes.

Na verdade, ele só está lá para que Billy roube a sua roupa, para imitar seu xará Billy Chapman no filme Natal Sangrento de 1984.

A fraternidade e os nomes das "irmãs"

Em outro ponto do mapa, aparecem meninas de uma fraternidade universitária. Como é comum na época de fim de ano, algumas viajam, outras decidem ficar no campus.

Aqui se foca nas que decidiram ficar ou nas que não tiveram opção.

A maioria das membras da irmandade recebeu nomes de cantores famosos que fizeram canções de Natal memoráveis: Kelli Presley, de Katie Cassidy, é chamada assim por conta de Elvis Presley, Melissa Kitt (Trachtenberg) é chamada assim por conta de Eartha Kitt, Dana Mathis (Lacey Chabert) é chamada assim por conta de Johnny Mathis, Clair Crosby (Leela Savasta) faz referência a Bing Crosby, Leigh Colvin (Kristen Cloke) tem semelhanças com Shawn Colvin, Megan Helms (Jessica Harmon) se chama assim em atenção a Bobby Helms.

Heather Lee Fitzgerald (Winstead) recebe dois nomes, de Brenda Lee e Ella Fitzgerald, Lauren Hannon (Yan-Kay Crystal Lowe) e Eve Agnew (Kathleen Kole) parecem ser as únicas irmãs de irmandade que não receberam nomes de cantoras, enquanto Barbara MacHenry (Andrea Martin) não conta, já que recebeu o nome de uma personagem do filme original.

Vale lembrar que Andrea Martin faz a Sra. Mac aqui e interpretou Phyl no filme clássico.

Martin disse em uma entrevista que não pensava em Black Christmas há anos e que se surpreendeu com o convite de Glen Morgan para ser a matriarca da fraternidade.

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Morgan tinha intenção de convidar também Margot Kidder, mas acabou optando por Andrea Martin.

O elenco

O grupo de atrizes chama a atenção por ser formado por "meninas populares", que estavam em obras de comédia e drama bastante famosos e louvados por essa época.

Michelle Trachtenberg fez a comédia rasgada Eurotrip, já Mary Elizabeth Winstead tinha protagonizado Premonição 3 e faria Scott Pilgrim: Contra o Mundo. Lacey Chabert é muito lembrada por ser a Chelsea de Meninas Malvadas, enquanto Katie Cassidy seria estrela em Arrow. Yan-Kay Crystal Lowe também esteve em Premonição 3.

Eventualmente, cada uma delas faria mais obras de horror, exceção feita à , Chabert, que entre todas as outras, não esteva envolvida com o gênero de terror, seja um filme ou série de TV, antes deste filme.

Ligações com "Final Destination"

Glen Morgan abordou Mary Elizabeth Winstead sobre o filme às 4 da manhã no aeroporto depois de terminar Premonição 3. Ela seria a protagonista, mas optou por outro papel, mas até para aceitar esse.

Ela acabava de terminar um filme de terror, ela concordou com o papel de "Heather" porque é fã da versão de 1974.

Kristen Cloke também foi destaque em um filme Premonição. Isso a tornaria a quarta atriz daquela série a aparecer neste - as outras três seriam Mary Elizabeth Winstead, Yan-Kay Crystal Lowe e Jody Racicot, todas estavam na parte três da saga.

A partir daqui, falaremos com spoilers.

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Cuidado com a caracterização

Para manter o suspense e o público no limite, todas as membras da irmandade no filme foram escritas com a mesma quantidade de falas, além de ter um tempo de tela quase igual entre elas. A ideia era deixar o público imaginando quem seria a garota final.

Quando a matança começa, as garotas são pegas de forma aleatória, com as primeiras mortes sendo das atrizes mais conhecidas do filme - Lacey Chabert, Mary Elizabeth Winstead e Michelle Trachtenberg.

Um modo diferenciado de contar a história

Morgan tem uma forma de lidar com o seu roteiro. Há zero sutileza, o vilão amarelo mata sem qualquer mistério, mas não parece ser o único.

Normalmente um filme esconderia sua intenção de mostrar duas pessoas matando, mas aqui fica bem claro que no outro canto da tela há outro assassino.

Ajuda a compor o horror o fato das meninas quando serem apresentadas com singularidades pontuais.

Megan por exemplo, é mostrada como uma menina mal-encarada e nervosa, tanto que decidiu não descer para abrir os presentes. Ela aparece como alguém é soturna, verbaliza que quer ficar sozinha e ao ficar assim, vira alvo.

Se ouvem barulhos típicos de casa, uma coisa estranha, como se um animal passeasse pelas paredes e teto.

Ela sobe até o sótão e acha um globo temático com neve, mas não com tema de natal e sim de bailarina. Ela é pega com o tal saco, que vira quase uma marca do matador, tal qual a faca de Michael Myers, inclusive utilizando um saca rolha, que havia ganhado destaque antes.

A neve e as mortes

Apesar do filme ter sido gravado na época fria do ano (em janeiro) foi preciso usar neve artificial e a que foi usada no filme ficava pegajosa e grudenta, sempre que chovia durante as filmagens.

As mortes são legais, a estratégia de Billy de se esconder silenciosamente atrás do Papai Noel para atacar ele enquanto age como um tarado é esperta, embora seja difícil imaginar que ele conseguiria se esconder no escuro sendo amarelado.

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O matador não conseguiria se camuflar, ainda mais em uma época de luzes em outras cores, vermelho e verde, mas independente disso, o visual colabora, faz tudo ficar mais assustador e estranho.

Billy, a entidade

Há uma tradição dentro da fraternidade, de sempre separar um presente para Billy, um simbolismo que data de 15 anos antes.

Se faz isso por respeito a ele, entre outros motivos, para afastar a sua presença. Uma delas desdenha da tradição e talvez essa seja a brecha para o ataque dele.

Apesar do roteiro ter sido bastante criticado por ser vazio e reducionista, restam algumas boas discussões, como quando as meninas discutem sobre as características do Papai Noel.

Reduzem ele a um homem voyeur, que se vale da boa vontade geral para conseguir entrar no seio familiar conservador. Curiosamente ele tem semelhanças ao que Billy, o invasor faz.

O primeiro natal

Mac conta a origem do crime, retornando a 1970, no primeiro natal do bebê Billy, que reuniu o menino deformado, de cor amarela, olhos estranhos e mãos monstruosas.

Os dois pais Lenz vivem em pé de guerra. A mãe (Karin Konoval) e Frank (Peter Wilds) brigam e discutem feio, se xingam bastante e a mãe parece alguém descompensada, enquanto o pai é alguém cansado, mas ainda assim é amoroso com o garoto. Em 1975 Billy é feito por Cainan Wiebe.

Em nome da mãe

Sobre a mãe de Billy, no filme original era simplesmente chamada de Sra. MacHenry e não tinha um primeiro nome.

Neste ela recebe nomenclatura completa (embora não seja citado em tela) de Barbara, que é uma homenagem à personagem Barbara Coard no filme original, que foi interpretada por Margot Kidder.

O garoto testemunha a morte da única pessoa que demonstra carinho por ele (ainda que timidamente) depois que a mãe manda seu "amigo" matar Frank.

Esse tal amigo é na verdade o amante dela, simplesmente martela a cabeça da figura paterna, a derruba e finaliza ele com um saco, referenciando não apenas um, mas duas mortes clássicas são referenciadas.

O modo de agir de Billy

Desde sempre Billy se esgueirava pelas partes internas da casa, se movimentava por ali e se tornava inalcançável, por andar entre os túneis internos.

A mãe e o novo padrasto tentam pegar ele, mas ele escapa e os dois simplesmente deixam. Não faz nenhum sentido, mas a história precisava correr, portanto a incongruência é tornada "plausível".

Foi isso que fez ele escapar das intenções malignas da mãe, além de ser uma clara referência ao clássico de Craven, a comédia juvenil As Criaturas Atrás das Paredes.

No presente:

Na casa, as meninas recebem um telefonema estranho, onde chamam por Agnes seja lá quem for. Parece alguém ofegante, tal qual um tarado, ou algo que o valha.

As meninas acham que é só um trote e ignoram até o fato do discursante avisando que Agnes é a sua única família.

O roteiro trata de colocar pessoas em tela que parecem existir única e exclusivamente para confundir com suspeitos.

É o caso Eve Agnew, interpretada por Kathleen Kole, que aqui aparece como uma menina de aparência desleixada, como uma espécie de "patinho feio", que usa vestes amareladas que cobrem quase todo o corpo, até a parte das mãos, como se estivesse tentando esconder sua real cor.

Kole é na verdade uma modelo.

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Lembranças que acabam sendo inoportunas

Os flashbacks seguem aparecendo, mesmo sem ninguém voltar a contar a história. A quantidade grande deles faz perguntar se era realmente necessário tê-los.

Nesse ponto, se retorna em 1982, onde a mãe transa sob uma luz amarela. O trabalho de cinematografia de McLachlan acaba sendo bastante diferenciado e bonito, unido a direção de arte Tony Wohlgemuth, também o design de produção de Mark S. Freeborn.

Em alguns pontos o visual parece grita cafonice e artificialidade, mas ao menos parece algo único.

Essa sequência toda é muito estranha e nem é por conta de o fato da mãe transar em espaços da casa comuns a todos, ou pelo fato do amante dela adormecer no meio do ato sexual, mas sim graças ao fato de Billy ainda morar na casa, apesar de ter testemunhado a morte do pai.

Nesse ponto ocorre uma bizarrice sem tamanho, a mãe sobe ao sótão, acaricia o filho que está em uma cadeira de balanço e desce as suas roupas, dando a entender que transou com o filho, fazendo dele o pai de Agnes.

Essa exposição é totalmente desnecessária e, de certa forma, previu, possivelmente inspirou também, os filmes de Rob Zombie em Halloween: O Início e Halloween 2 que dedicavam boa parte de sua trama mostrando o passado de Michael, associando ele a sentimentos incestuosos.

Em algum ponto, chega até a fraternidade Kyle (Oliver Hudson) o namorado de Kelli. Ele entra pelo quarto de Megan, a menina cujo telefone ligou para eles.

Sobre Kelli

A personagem que foi interpretada por Cassidy quase foi feito por Amanda Seyfried, que estrelou junto a Chabert a comédia ácida Meninas Malvadas.

Foi justamente graças ao fato das duas estarem nesse filme que ela não entrou.

Cassidy ainda estaria no remake Quando um Estranho Chama, também de 2006 e A Hora do Pesadelo de 2010. Mary Elizabeth Winstead foi chamada para fazer esse papel, mas insistiu em assumir o papel de Heather evitar ser estereotipada, pois ela tinha acabado de terminar outro papel semelhante em Premonição 3.

Kristin Cavallari também recusou o papel de Kelli, enquanto Camilla Belle (estava trabalhando em Quando um Estranho Chama) e Amber Tamblyn (estava comprometida com O Grito 2).

Semelhanças com Supernatural

Esse filme tem vários atores que estiveram em Sobrenatural/Supernatural, série iniciada em 2005. Fizeram parte do elenco Lowe, Cassidy, Savasta, Harmon, Konoval, Robert Mann, Cainan Wiebe, Howard Siegel, Ron Selmour, Michael Adamthwaite, Peter New, Christian Sloan, Aly Purrott-Armstrong, Juan Riedinger, Aaron Pearl, Jill Teed, Jerry Wasserman, Derek McIver, Anne Marie DeLuise e Greg Kean.

Depois de um discurso bizarro de Kyle (sem nenhum motivo para tal, diga-se) os flashbacks voltam, para o dia das mortes.

Billy esperou um natal, pegou a irmã/filha, fez menção em trocar os olhos da menina com os de uma boneca. Depois arrancou o olho do padrasto, enforcou a mãe com luzes de natal, arrancou nacos de carne para fazer biscoitos natalinos

A ideia aqui é que a violência é como eles mostravam o seu amor.

Os biscoitos

Os biscoitos canibais eram realmente comestíveis, mas foram feitos com bacon assado.

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Já a menina Agnes perdeu o olho direito e foi para o orfanato, ela vai com a boneca que ganhou da mãe, naquele natal, já sem os olhos.

Inesperadamente aparece a irmã de Claire, a atriz Kristen Cloke, em seu último filme, a professora de Premonição, que faz Leigh Colvin. Ela se torna uma boa adição, aliás, todas as meninas e mulheres estão bem, atuam de forma curiosa, se impõem tarefas físicas sui generis, tanto que elas não tiveram dublês.

Apesar do elenco se divertir, passaram também por uma rejeição de parte do público. Winstead afirmou que durante os intervalos ela costumava ler fóruns e comentários sobre a ideia de o filme original ser refeito e se entretinha com o ódio e a indignação do público.

A atriz passou a ter uma boa amizade com Yan-Kay Crystal Lowe, que interpretava uma menina que rivalizava com ela no gruo.

É Leigh quem acha um embrulho para a fraternidade, onde se lê "Alpha Kappa de Billy", onde está a boneca e ao redor da caixa, um embrulho de jornal de 1991, justamente o ano do assassinato.

Com o tempo, fica claro que Kyle já teve um caso com Megan e havia um vídeo íntimo dos dois, na internet e no computador da menina. Como ele surgiu do nada, era para ele agir como um suspeito, especialmente por conta de Megan ter sumido, mas isso se perde, por conta de Billy atacando não ser um segredo.

O filme poderia tornar essa questão em problemática, poderia referenciar questões de abuso, de filmagens íntimas, mas em 2006 essa não parecia ser uma questão tão flagrante, ao menos não ao ponto de ser o centro das atenções aqui. Curiosamente, o futuro Natal Sangrento abordaria temas semelhantes a esse citado.

Enquanto o escândalo acontece, a sempre irritante Lauren passa mal, e vomita, já que passou a noite inteira bebendo. Esse pedaço é estranho, pois aparece um olho por uma saliência no chão, nos buracos de azulejo do banheiro. É patético demais como foi conveniente isso, além de ser muito referencial a Psicose.

Lauren tem um dublê masculino, especialmente as partes das suas pernas penduradas para fora da cama. O dublê não só tinha pernas suaves e femininas, como também tinha o tom de pele correspondente.

A cena original da morte de Lauren envolveu Agnes entrando furtivamente em seu quarto e arrancando seus olhos com o unicórnio de vidro, que é uma homenagem ao original, já que Barbara Coard (Kidder) foi esfaqueada até a morte com um unicórnio de vidro por Billy.

A cena de morte dela não está no corte de cinema, o seu cadáver é encontrado no final. Como não é mostrado ou mencionado como ela teria morrido, fica a sensação de que algo estranho ocorreu.

Os instantes finais transformam o filme, tornando ele uma simples fita onde mulheres bonitas estão sozinhas com o malfeitor, a mercê dele e do seu cúmplice.

Se antes não estava totalmente explanado que há irmãos combatendo as meninas, agora fica claro, com Agnes enfim aparecendo.

Os "dublês" masculinos

A personagem de Agnes Lenz é supostamente montada para ter uma aparência andrógina. Isso foi intencional, sua constituição física e rosto são masculinos, seus lábios, nariz e olhos são femininos.

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Dean Friss não aparece caracterizado até o último terço, na maior parte do das cenas em que Agnes está atacando, ela é interpretada pelo dublê Kirk Caouette.

No roteiro original, Agnes deveria ser apenas a meia-irmã de Billy, não sua filha. A "concepção incestuosa" da personagem foi peita puramente para chocar e por insistência do estúdio, especialmente da parte dos irmãos Weinstein.

A sequência de mortes no sótão e a construção visual da árvore macabra é legal, apesar de caricata. Os ataques são violentos e o visual macabro é legal.

As atrizes usaram uma maquiagem especial ao redor dos olhos, para retratar cadáveres sem olhos. Para fazer esse efeito elas enfiavam cotonetes perto da órbita ocular, para coletar lágrimas que se acumulavam, graças a irritação da maquiagem.

As mortes contêm efeitos práticos ótimos e o roteiro faz bom uso dos celulares como eventos do medo. Esses poderiam ser artigos mal utilizados, como é comum em slashers mais modernos, mas aqui é bastante acertado.

Sequência nunca ocorrida

Era planejada uma sequência direta do filme, ainda mais depois do fracasso crítico e financeiro deste longa de 2006.

Bob Clark começou a trabalhar em uma ideia que traria Olivia Hussey e John Saxon reprisando seus papéis de Jess Bradford e Tenente Ken Fuller, respectivamente, com Jess sendo a nova mãe da casa da irmandade.

A morte prematura de Clark encerrou esses planos.

O(s) Final(is)

Ainda há espaço no fim para um retorno dos vilões, que, praticamente, retornam dos mortos, mostrando que os legistas e médicos não fizeram o seu trabalho minimamente.

O fim do vilão é sanguinolento, atravessado numa árvore de natal no hospital, o mesmo que foi usado em Supernatural.

Houveram três finais alternativos filmados. O primeiro mostrava Leigh e Kelli se em uma conversa com Leigh, abrindo o presente de Clair. Kelli recebe uma ligação do telefone de Kyle, sugerindo que Agnes ou Billy sobreviveram.

O segundo final mostrava Leigh sendo levada ao necrotério para examinar o corpo de Agnes para então encontrar o corpo de Clair, ou seja, Agnes escapou. Conclui com Leigh sendo morta por Agnes, e Kelli eletrocutando Agnes e sendo pega por seus pais. Este desfecho foi usado na versão do Reino Unido.

O terceiro final teve os agentes funerários descobrindo que o corpo de Billy está desaparecido, então ocorre um tiro dentro de um detector de fumaça na parede, que demonstra que Billy escapou.

Para o fã de cinema trash, vale muito ver os efeitos e a criatividade nas mortes, especialmente quando mostra Billy devorando o olho de uma das suas vítimas, além da decoração da árvore de natal com as cabeças das meninas. Apesar da exposição é inegável que esse filme é bem divertido, especialmente pela aura de bobagem, há um charme aqui.

Natal Negro é uma obra que erra quando tenta ser séria, mas guarda momentos muito engraçados e inoportunos, justamente por ser arquitetada da forma que é. É um resumo de toda a jornada obscura que foi Noite do Terror, sendo ao mesmo tempo tosco, charmoso e divertido. É uma pena que Glen Morgan tenha deixado de lado o seu lado "realizador", já que mesmo com todos os problemas, apresentou um filme chiclete e com personalidade.

Confira os outros episódios da franquia Black Christmas

1974- Noite do Terror (Black Christmas)
2006- Natal Negro
2019- Natal Sangrento (Black Christmas)

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