Se você tem mais de 25 anos e assistiu aos trailers de Detona Ralph, deve ter ficado empolgado com o filme, que prometia em suas prévias uma viagem saudosista por videogames lançados desde a década de 80. Bom, em seu primeiro ato, a nova animação com o selo Disney até cumpre bem a promessa. O problema surge mesmo quando o longa percebe que precisa também agradar às crianças. E isso acontece de forma tão brusca que a sensação é mesmo que os roteiristas Phil Johnston e Jennifer Lee se deram conta disso quando estavam com boa parte do texto já escrito.
Em Detona Ralph, o personagem-título é o vilão de um jogo de fliperama muito popular desde seu lançamento, há 30 anos. O problema é que o sentimental protagonista cansou de ser mau e que provar que também pode ser um herói. Pra isso, se aventura em outros jogos mais recentes que, sem a inocência e simplicidade dos títulos antigos, colocam o personagem em problemas inesperados. No início da produção, tudo parece ir muito bem para a trama. Ralph participa de um encontro de vilões de games e os fãs de Street Fighter, Pac Man e Mario vão adorar as participações especiais. Logo em seguida, mais aparições de personagens famosos. Brincadeiras e referências permeiam a trama pelos primeiros 20 minutos e pegam em cheio os mais crescidos. E então, algo acontece. Para finalmente fazer os pequenos apreciarem mais a história, o filme parte para aventura gratuita, um conflito nada inspirado e uma diversão que até há pouco parecia partir para um rumo inteligente, se torna apenas mais uma animação sobre um personagem tentando corrigir um erro, a busca por um parceiro de jogo desaparecido e a auto-aceitação. Qualquer pessoa que tenha assistido Toy Story já viu essa mensagem passada de forma muito mais satisfatória, inclusive.
Não que Detona Ralph seja um filme ruim. Ele diverte e garante boas risadas. Mas não oferece nada relevante em meio à tantas outras animações que saíram em 2012. A promessa da aventura saudosista era um ótimo ingrediente para colocar o longa entre os destaques do ano, mas a entrega final apenas o torna “mais um”. Como se trata de um filme Disney, obviamente ser “mais um” nunca é o esperado.
Tecnicamente, não há o que reclamar. O uso do 3D é eficiente, principalmente na sequência dentro do jogo Hero’s Duty e no clímax, mas nada espetacular. A direção de arte dá um show no jogo de corrida que se passa em um mundo feito por doces. O colorido e os detalhes são espetaculares e um prato cheio, principalmente para as crianças. E a animação em si não faz feio, com texturas que tanto homenageiam os games mais recentes, quanto os mais antigos (e o mundo de onde sai Ralph é um ótimo exemplo, com líquidos deixando marcas quadriculadas ou a forma como os personagens se movimentam). Suas sequências mais agitadas são muito bem montadas e “coreografadas”, por falta de uma palavra melhor, principalmente algumas com câmera subjetiva ou, na linguagem dos jogos, em primeira pessoa (que também cumprem o papel de justificar o 3D).
Irregular, uma vez que começa bem melhor do que termina, Detona Ralph fez bonito nas bilheterias lá fora e deve repetir o feito no Brasil. Já se fala em continuação com mais personagens clássicos. Tomara que no próximo aprendam a lição com a franquia Toy Story (uma óbvia inspiração, afinal de contas, o que seriam os jogos do filme, senão brinquedos com vida própria quando ninguém está olhando?) na hora das piadas com referências. Distribuí-las ao longo da história é muito mais eficiente do que separá-las em apenas um pedaço. E mantém o espectador adulto, que afinal, é quem leva as crianças, atento por muito mais tempo.
P.S.: Fiquem para a animação dos créditos finais, vale a pena.
Alexandre, estou com muita vontade de ver a animação. Vou ver em Curitiba quando voltar de viagem e volto para comentar se as minhas opiniões bateram com as suas.
Sou viciada em jogos antigos e estou muito animada para ver (: