Se o tamanho do sacrifício é o que faz um herói de verdade, The Flash passou essa excelente primeira temporada construindo aquele que, talvez, seja o herói mais humano de uma adaptação de quadrinhos, desde o Peter Parker de Homem-Aranha 2. A série encerra com seu exemplar mais emocional, sem qualquer medo de soar piegas, focando quase que sua totalidade na preparação de Barry para voltar no tempo e fazer parte do plano cruel de seu nêmesis, o Dr. Wells. Parando para pensar, a escolha dada ao protagonista pelo vilão é uma das maiores provas do sadismo do Reverso: a possibilidade de salvar Norah Allen e deixar o antagonista escapar para o futuro, ao mesmo tempo que falhar significaria uma destruição em escala global.
Desde os primeiros momentos, nota-se a qualidade do roteiro deste season finale. Os diálogos entre "pais" e filho já começa com a entrega de Tom Cavanagh, que se diverte com a natureza vilanesca do plano de seu personagem (uma figura paterna para Barry), logo superada por mais um momento tocante envolvendo Joe West (o "pai" que o protagonista teve após a morte de Norah). Que, por consequência é suplantado pela participação sempre pontual de John Wesley Shipp. Essa foi uma constante na condução do episódio, com uma cena de despedida (porque o herói está decidido a mudar totalmente seu passado, mesmo que isso signifique apagar seu presente e futuro) melhor que a outra, com uma carga dramática palpável como pouco se vê em programas fora da TV paga. E é bem interessante também que um seriado de ação dedique tanto tempo ao drama na conclusão de uma temporada, deixando o senso de urgência surgir apenas nos últimos momentos, evitando até mesmo longos confrontos e embates violentos. A construção dos personagens ao longo destes 23 episódios traz seus frutos aqui, fazendo o público sentir cada abraço, cada sorriso e cada palavra trocada entre o grupo de personagens principais, como se fossem os últimos, graças a ideia de que talvez, com o passado alterado, eles jamais se encontrem.
Com espaço para todo o elenco ter seu momento de glória, Fast Enough também é a prova da qualidade dos coadjuvantes do programa. Novamente, não é comum uma série de ação basear todo seu clímax em um episódio com forte apelo emocional e para isso precisa contar com o talento de seus atores e atrizes. Seja quando toca no tema da paternidade, ou quando explora o forte vínculo criado entre Cisco, Caitlin, Barry, Joe, Iris e Eddie, o roteiro não conseguiria atingir seus objetivos sem a entrega do elenco da série, que merece os parabéns por, durante toda a temporada ter se saído tão bem, mesmo em uma adaptação que nunca temeu abraçar o absurdo de suas origens dos quadrinhos.
Até o romance entre Eddie e Iris acaba funcionando, graças a um ótimo diálogo do policial com o Dr. Stein, vivido por um Victor Garber muito mais à vontade do que em sua última participação, e a decisão imprevisível feita pelo antepassado do Flash Reverso (que remete a um acontecimento do final da primeira temporada de Arrow, mas com uma situação muito mais interessante). Um herói improvável, realmente, que leva diretamente à questão levantada no primeiro parágrafo deste texto. Não há como negar: o roteiro deste final de temporada é um dos melhores já filmados no Universo Televisivo da DC no CW, e talvez até entre as adaptações da editora em outras ocasiões, seja na TV, como no cinema. A preocupação dos realizadores em deixar claro o tema do heroísmo, e como isso reflete diretamente as escolhas feitas pelos personagens, gera um texto, tematicamente, impecável.
Os sacrifícios feitos por Eddie e Barry são praticamente inéditos em grandes obras baseadas em quadrinhos de super-heróis, e cada um deles tem o devido impacto e não se rivalizam quanto a isso. Grant Gustin tem, novamente, a chance de mostrar porque foi escolhido logo na primeira audição para o papel central em The Flash e sua cena quando volta no passado é uma das mais tristes e dolorosas do seriado e só traz a certeza do herói completo que o protagonista se tornou ao longo dessa primeira parte de sua jornada. Não foi à toa a constante demonstração de Barry como um sujeito sempre disposto a ajudar e a fazer o bem, se doando por completo.
Encerrando com um gancho angustiante, lotado de possibilidades para o próximo ano, The Flash fecha essa primeira investida na TV de forma brilhante, fazendo jus à qualidade que demonstrou até aqui e ampliando, inclusive, as expectativas para o futuro. Da forma como deixa a trama em aberto para uma conclusão vindoura, são inúmeros os eventos que podem surgir daqui para frente, uma vez que as ações de certo personagem parecem ter desencadeado uma drástica alteração de toda a linda do tempo conhecida, o que pode gerar um segundo ano ambicioso e mais focado em ampliar as regras de viagens no tempo e interdimensionais. Com a qualidade entregue até aqui, a espera até a estreia dos novos episódios será longa, mas certamente valerá a pena.
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melhor crítica até agora. <3
ainda sonho em uma série da batgirl. aliás, tanta coisa legal da DC e eles não acordam kkkk
enfim, até a próxima temporada.