A Casa do Espanto : A divertida mistura de comédia com horror de casa assombrada

A Casa do Espanto : A divertida mistura de comédia com horror de casa assombradaA Casa do Espanto é um filme de horror lançado em 1985 que reúne parte da equipe que conduziu os primeiros filmes da saga Sexta-Feira 13. Mistura entre comédia e horror, é obviamente um filme que se vale de clichês de casa mal-assombrada e que é lembrado por conta de seus vários efeitos especiais práticos sensacionais empregados por aqui.

A história segue a trajetória de Roger Cobb um escritor malfadado, que ainda sofre uma reviravolta quando misteriosamente seu filho desaparece.

A trama mira um sentimento de paranoia, graças ao desaparecimento e também com questões relativas a um possível portal dimensional na nova casa dos Cobb. Também explora elementos do passado do personagem central, incluindo monstruosidades literais e alegóricas, que ganham vulto e importância durante a história.

É dirigido pelo cineasta Steve Miner de Sexta-Feira 13 Parte 2 e Warlock: O Demônio, foi produzido por Sean S. Cunningham, criador e diretor de Sexta-Feira 13, ainda tem composição de Harry Manfredini, também da saga de Jason Voorhees.

O texto original de Fred Dekker era um filme mais voltado para o terror mais tradicional, sem apelo ao humor. A comédia foi toda adicionada por Ethan Wiley quando ele reescreveu o roteiro. Dekker foi creditado como argumentista e Wiley roteirista.

Wiley escreveu o script por indicação de Dekker, depois que os produtores decidiram investir em mais humor. Dekker estava ocupado escrevendo Godzilla 1985 na época, então Wiley fez o roteiro. O resultado final supreendeu Fred, que ficou horrorizado pelo fato de ter transformado a ideia em algo tão engraçado e excêntrico.

Dekker disse ter se inspirado no antológico No Limite da Realidade, o filme da série Twilight Zone/Além da Imaginação. Depois de ver o filme, o escritor e seus amigos, que incluíam Wiley, Steve Miner e Shane Black, planejaram fazer sua própria antologia independente em vídeo, mas o projeto nunca foi concluído. Dekker usou a ideia do que seria o seu segmento não produzido neste filme.

O longa se chama House no original, mas foi chamado de outras formas nos Estados Unidos, seu país de origem. Foi chamado de House: Ding Dong, You're Dead no lançamento em vídeo.

No Japão é chamado Goblin, em países de língua espanhola se chama House: La Casa del Horror e La casa aterradora. Em Hong Kong era conhecido como Don't Go Into the Haunted House After Midnight, que traduzido seria Não entre na casa assombrada depois da meia-noite.

A Casa do Espanto : A divertida mistura de comédia com horror de casa assombrada

O longa foi filmado no período de 8 semanas, com locações na Califórnia, em 329 Melrose Ave em Monrovia, Mount St. Mary's College, Doheny Mansion - 10 Chester Pl, em Los Angeles.

O interior da casa é um conjunto de dois andares construído nos antigos Estúdios Desilu, em Los Angeles. A casa do título foi descoberta em Monróvia, na Califórnia. O desenhista de produção Greg Fonseca e sua equipe passaram quatro semanas remodelando-o para atender aos propósitos da produção.

O filme foi financiado pelos estúdios New World Pictures de Roger Corman - que também distribuiu o longa nos EUA - pela Sean S. Cunningham Films e Manley Productions.

A companhia de Corman não havia entendido que esse seria uma comédia, mas ficou agradavelmente surpresa com o resultado final. Miner acabou tendo carta branca para o filme e dessa forma o realizador preferiu seguir trabalhando com a New World Pictures em detrimento da 20th Century Fox, por outro lado, fez muitas anotações no roteiro.

Depois de fazer esse, Miner se credenciou a fazer comédias. Ele conduziu Uma Escola Muito Louca em 1986 e o episódio piloto de Anos incríveis em 1988. O diretor é mais lembrado por ter feito Sexta-Feira 13 Parte 3 e Halloween H20: 20 Anos Depois.

Wiley, que trabalhou nos efeitos de O Retorno de Jedi e Gremlins, depois se tornou diretor de Casa do Espanto 2 e Exorcismo: A Execução.

Dekker era conhecido também por ser diretor de obras como Noite dos Arrepios, Deu A Louca nos Monstros e Robocop 3. Seu trabalho recente mais notável foi o roteiro de O Predador de Shane Black.

As primeiras cenas são legais, com uma abertura estilizada, com fotos descoloridas de uma casa, embalada pela canção de Manfredini. Logo aparece o jovem sem nome, interpretado por James Calvert, que vai entregar uma encomenda para uma senhora.

Ele encontra a velha senhora Elizabeth Hooper, interpretada pela atriz de Tubarão 2 e Em Algum Lugar do Passado, a veterana Susan French no andar de cima, enforcada, com o corpo balançando.

A Casa do Espanto : A divertida mistura de comédia com horror de casa assombrada

Por que a personagem pediu uma encomenda as vésperas de se suicidar é um mistério, talvez ela quisesse passar uma mensagem. Logo é mostrado Roger Cobb, de William Katt ator conhecido por Carrie: A Estranha e Amargo Reencontro.

Ele é o sobrinho de Elizabeth. Ele ouve de Mr. Jones (Bill McLean) que sua parente não era louca, mas ele não parece se importar muito com isso, não se importando sobre a má fama dela.

Ele é um escritor que está passando por uma crise emocional, tanto que não parece enlutado. Ele está se divorciando e tem que lidar com o inconveniente de não conseguir ficar muito com seu filho.

A cena imediatamente posterior é dele autografando seu livro, Blood Dance, que foi lançado um ano antes. Seu agente Frank McGraw (Steve Susskind) quer que ele escreva algo novo, mas não sobre sua experiência no Vietnã.

A parte da mitologia do roteiro inclui a série de livros de Cobb. Blood Dance é o principal romance escrito por ele, e é pautado pelo horror. Ele escreveu um segundo, que conta sua experiência como soldado e que por ser pesado, não foi o sucesso que se imaginável. É possível notar o intitulado Sword of Bad em uma cena na livraria, quase escondido.

Solitário, ele tenta disfarçar que está mal quando Sandy (Kay Lenz) liga para ele. É curioso como mesmo estando separada, a esposa liga para ele quando perde uma premiação. Tem nele um amigo, um porto seguro, no mínimo, mas é dado que eles não funcionam mais como casal.

Cobb tem sonhos esquisitos, se enxerga como criança, brincando na terra, enquanto uma mão cadavérica sai de um túmulo.

Como em vários filmes dramáticos das décadas de 1970, 80 e início dos anos 90, um dos principais temas do filme é o trauma mental da Guerra do Vietnã, revivido e sonhado por seu protagonista.

Isso pode ser atribuído em grande parte ao reconhecimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) em 1980 pela Associação Psiquiátrica Americana e a uma maior compreensão popular ao longo dessas décadas dos sintomas de TEPT, por ex. pesadelos, flashbacks, etc., bem como um número crescente de veteranos do Vietnã que cometeram suicídio como resultado de suas experiências durante a guerra.

Assim, em muitos aspectos, A Casa do Espanto reflete uma mudança na consciência nacional, à medida que a guerra deixou de ser retratada como um acontecimento glorioso e começou a ser vista como uma experiência angustiante e traumática.

É natural que Roger seja paranoico, inseguro e de moral baixa.

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Há algumas incongruências nos flashbacks da Guerra do Vietnã como o som de um pássaro kookaburra, animal nativo da Austrália, que obviamente não estaria no Vietnã. Esse pode ser um indício de delírio também, com ele fantasiando o canto de um animal que não estaria naquele setor da Ásia, mostrando assim um dos muitos delírios que ele teve ao longo o filme.

Roger tem um rompante e assim que vê a casa da tia, decide não a vender, mesmo que tenha uma boa oferta, de Chet Parker (Michael Ensign). Decide ficar lá para se inspirar enquanto escreve o novo romance, daí decide pegar Jimmy, seu filho, que é interpretado pelos gêmeos Erik Silver e Mark Silver.

Outro motivo curioso foi uma fala engraçada de S. Cunningham, que brincou sobre ter os irmãos gêmeos Silver, que fizeram Jimmy. Ele dizia que isso era um seguro caso "um dos gêmeos fique doente ou se afogue".

A sra Hooper aparece, como um devaneio. Ela enquanto aparição ou entidade - talvez fosse um delírio do seu sobrinho - ela culpa a casa pelo sumiço do pequeno Jimmy. As visões são bem encaixadas e Susan French brilha, avisando para que o sobrinho saia dali. Ela não queria que ele repetisse o destino dela.

Aqui se percebe uma construção de atmosfera meio enevoada. Cunningham dizia acreditar que os funcionários mais importantes no set são o diretor e o cinematógrafo (diretor de fotografia) dessa forma, elogiou bastante o trabalho de Mac Ahlberg por seu trabalho.

O cinematógrafo tem uma carreira especializada em temas especulativos, assinou a direção de fotografia em Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos, Do Além, A Família Sol, Lá, Si, Dó e The Horror Show, de 1989, que não por coincidência foi inicialmente planejado para ser House III, tanto que se chama no Brasil como A Casa do Espanto III. Ahlberg dirigiu Cidade Fantasma em 1988.

A tia Elizabeth era uma artista também, fato que poderia conversar com o sentimentalismo do protagonista, mas isso não ocorre. É dado que ela pintava quadros premonitórios, provavelmente movido por espíritos ou pelos tais seres de outra dimensão, que entram pela casa.

A Casa do Espanto : A divertida mistura de comédia com horror de casa assombrada

No dia seguinte Roger conversa com um vizinho bonachão e sem noção, Harold de George Wendt. O novo amigo faz comentários infelizes sobre uma bela vizinha, xinga a tia dele sem saber que eram parentes, depois reconhece o escritor.

Para ajudar a manter os custos baixos, os papéis principais foram escolhidos por atores populares de televisão da época. Isso incluiu William Katt (O Super-Herói Americano), George Wendt (Cheers), Richard Moll (Corte Noturna) e a prolífica atriz de televisão Kay Lenz (Homem Rico, Homem Pobre). Já o garotinho que Roger cuida é interpretado pelo filho mais novo do diretor Steve Miner. Glenn Close e Sigourney Weaver foram consideradas para fazer parte do elenco, mas obviamente optaram por atores mais baratos.

O papel da voluptuosa vizinha Tanya foi a sueca Mary Stavin. Ela era uma ex-Miss e seu currículo no cinema incluiria vários filmes de James Bond, como 007 Contra Octopussy e 007 Na Mira dos Assassinos.

Em quase todos os momentos Roger ouve barulhos estranhos na casa, mas é só com 28 minutos que de fato algo aparece. Uma das várias portas da casa começa a balançar.

Ele verifica e nada tem ali, até que o relógio velho badala a hora. Sai então uma criatura muito boa, de efeito prático, estilo o cenobita do final de Hellraiser: Renascido do Inferno, dois anos antes do filme de Clive Barker.

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O monstro no armário foi projetado para se parecer com os corpos atingidos por napalm no Vietnã e com balas no lugar dos dedos. É difícil perceber isso, até por conta da aparição dele ser bem rápida.

Por conta da formação em efeitos especiais práticos de maquiagem, Wiley escreveu várias sequências que mirassem esse tipo de efeito.

Os efeitos especiais são assinados pela dupla Barney Burmam de Jornada nas Estrelas III: A Busca por Spock e Matadouro e Brian Wade de Morte nos Sonho e Viagem Radioativa.

Todas as criaturas foram fabricadas durante um período de três meses. Quem interpreta a mulher monstruosa e bizarra foi Peter Pitofsky, que anos depois se tornou um comediante stand-up de sucesso.

Já o demônio da guerra, que aparece depois, era um fantoche elaborado medindo 18 pés, sendo operado por 15 pessoas. As criaturas certamente são o ponto mais positivo do filme, a maioria é estranha e assustadora, mas não de um modo que afaste o espectador.

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Há também um grande trabalho de dublês. Kane Hodder foi o coordenador de dublês do filme, mas quase não apareceu. Seu único papel em tela é o corpo reanimado da bruxa, na verdade o pedaço desse, que está em u saco de lixo que Roger bate com uma pá, para que sossegue.

Hodder interpretaria Jason Voorhees, em Sexta-Feira 13 Parte VII: A Matança Continua até Jason X. Também esteve em Terror no Pântano.

Roger encomenda material de gravação, paramenta a casa a fim de provar em registro que há criaturas estranhas na casa. Ele se desespera buscando seu filho perdido. Há quem defenda que ele está em negação, que fantasia tudo por culpa de ter perdido a criança.

Cobb parece o tempo todo estar entorpecido, ou literalmente ou graças ao sumiço do seu filho. Entre sonhos com soldados e sustos pela casa, ele passa seus dias cercado de paranoias, mergulhando cada vez mais nas maluquices da casa.

É curioso como Miner dirige tudo de maneira divertida e pontual. Mesmo os efeitos de chroma, como quando utensílios da casa voam, tem efeitos bons, que nas remasterizações não ficaram ruins.

Vira uma doideira, na metade final, Roger vê Sandy se aproximar, de repente ela se torna um monstro e ele dá um tiro de espingarda, só depois percebe que de fato era sua esposa. Dois policiais aparecem, entram na casa, ele teme que os tirar encontrarão o corpo, age de maneira bem suspeita, mas tudo dá certo, milagrosamente.

Ele ainda usa os objetos fantasmas para cortar a monstra gorda, depois que fica sozinho. Ele abre a porta que prendia os objetos e deixa a mágica acontecer.

Há vários momentos insanos, como quando o cachorro do vizinho rouba a mão do monstro, que estava (ou deveria estar) enterrada. Roger só se livra da mão quando encontra ela agarrada em Robert, no pequeno filho da vizinha. Ele joga a mesma em um vaso sanitário

Roger não sai da casa, mesmo acontecendo toda essa sequência insana. Ainda mantém outra criança lá sob seus cuidados, mesmo tendo perdido seu filho Jimmy.

Roger e Harold tentam capturar o monstro do armário, com um arpão de uma rede presa a uma vara de pesca. Em determinado ponto, o protagonista é atacado por criaturas do espelho, que tentam puxar ele.

Como aparecem só membros como braços e nadadeiras, a equipe de efeitos pôde brincar demais. Algumas delas lembram monstros clássicos da Universal, como o Monstro da Lagoa Negra, mas há tentáculos semelhantes aos de um polvo e membros viscosos, como os de criaturas lovecraftianas.

Nesse ponto há semelhanças do filme com obras que se viriam anos depois e se tornariam clássicas, tanto no espelho que dá acesso a outra dimensão, como seria com O Mistério de Candyman, quanto no sentido de seres viverem no interior de uma casa, como em Criaturas Atrás das Paredes de Wes Craven.

No interior há monstros cadavéricos, com asas, feitos com bons efeitos de stop motion. A equipe estava inspirada e afiada.

A partir daqui falaremos sobre as curvas finais do roteiro. Haverá spoilers, o aviso está dado.

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A principal assombração personifica um colega de farda, no caso, o soldado Big Ben. O monstro afirma que foi torturado pelos vietinamitas e que graças ao sofrimento que teve, voltou para assombrar Cobb. O escritor até tenta argumentar, fala que sofreu para tentar resgatá-lo, mas não tem sucesso.

Curiosamente o personagem lembra o mascote Eddie, da banda de heavy metal britânica Iron Maiden, especialmente no estágio final. Não parece ter sido intencional.

A fase monstruosa de Big Ben não foi feita por Richard Moll, que é o seu interprete. Nesse trecho o papel foi interpretado por Curt Wilmot, um tenista alto e amigo do cineasta, que passou momentos horríveis no papel, pois, com zero de gordura corporal, seus ossos batiam contra a casca dura do traje.

A tentativa de unir trauma com medo falha, já que o personagem principal não se abala, conseguindo superar seu receio, em nome da sobrevivência do seu filho recém resgatado. Ele responde muito bem, a despeito da carga de adrenalina típica de um pai tentando salvar o filho. Roger não se inebria, passa por cima de suas imperfeições, vencendo medos e receios bem.

O final do filme seria diferente, com um monstro na piscina, mas Steve Miner achou que associar o garoto à subtrama do Vietnã seria demais, dessa forma, liberou Jimmy em outro momento. Roger originalmente cairia da corda na água, encontrou seu filho lutando contra um monstro debaixo d'água e então lutou para resgatá-lo antes de emergir na piscina.

Wiley concordou com o argumento de Miner e escreveu um novo final, o que ficou no corte para cinema. De certa forma, isso possibilitou que isso se tornasse uma franquia de sucesso

A Casa do Espanto é uma obra subestimada, já que tem graça e charme. É resultado de uma bela e equilibrada mistura de humor e horror, além de reunir uma boa e talentosa equipe de produção. Mesmo que os personagens humanos não sejam carismáticos, os fantasmas são muito legais e os efeitos chamam muito a atenção, por serem tão bem encaixados.

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