Halloween H20: O primeiro reboot da franquia, 20 anos depois do clássico

Halloween H20: O primeiro reboot da franquia, 20 anos depois do clássicoHalloween H20: Vinte Anos Depois é uma obra curiosa demais por vários motivos, não só por sua formula, mas também pela tendência que segue. Esse é um filme de horror de 1998 que reúne vários ícones do gênero, como a scream queen Jamie Lee Curtis e o diretor Steve Miner, famoso pela saga de Jason.

Do original Halloween H20: 20 Years Later, é o sétimo filme da série e brinca com seu nome, utilizando uma variação do símbolo químico da água (H2O), em atenção - que tem um equilíbrio de pH de 7,0 também.

Antes de se fechar essa nomenclatura, o projeto foi chamado de Halloween 7: The Revenge of Laurie Strode (a vingança de Laurie Strode), uma brincadeira com o nome de Halloween 5: A Vingança de Michael Meyers.

O roteiro de Robert Zappia (de A Luz do Demônio) e Matt Greenberg (1408 e Pacto Maligno) tenciona ser uma continuação direta do filme Halloween: A Noite do Terror e de Halloween 2: O Pesadelo Continua, mesmo que não leve em conta os eventos dos últimos quatro filmes, há todo momento se louva a quantidade grande de sequência que a franquia tem.

Esse foi o primeiro filme da cinessérie a ser lançado no verão, com a estreia sendo em julho. Todos os filmes desde então, incluindo o Halloween de Rob Zombie, tendência essa quebrada apenas no Halloween de David Gordon Green.

O filme foi levado pelos estúdios da Dimension Film, Nightfall Productions e Trancas International Films. Foi rodado em sua maioria na Califórnia, em La Puente, Los Angeles, Silver Lake, Chatsworth, também teve cenas no Universal Studios Hollywood e no Malibu Creek State Park, em Melrose Hill Street e em Salt Lake City, Utah,

O filme possui argumento de Zappia e Kevin Williamson, que não foi creditado nessa função. O escritor por trás da saga Pânico tem como função creditada co-produtor executivo, como Bob Weinstein e Harvey Weinstein também. A história da participação de Williamson vale um destaque separado, que abordaremos ao longo do texto.

O longa foi produzido por Paul Freeman, de Um Assassino na Família, Halloween 4: O Retorno de Michael Myers e Halloween 6: A Última Vingança. Entre os nomes mais famosos por trás das câmeras está Malek Akkad, que é aqui produtor associado e foi produtor nos filmes de Rob Zombie e na trilogia de Gordon Green. Tem produção executiva de Moustapha Akkad e Cary Granat, não creditada

Miner é um diretor consideravelmente famoso. É mais lembrado por ter feito Sexta-Feira 13 Parte 2, Sexta-Feira 13 Parte 3 e Warlock: O Demônio, mas na década de 1990, estava fazendo basicamente episódios para séries, como Diagnosis Murders, O Desafio e Dawsons Creek. O diretor acabou escalado por sugestão de Lee Curtis.

Halloween H20: O primeiro reboot da franquia, 20 anos depois do clássico

Ela queria que Miner tivesse dirigido outro filme que ela fez, no caso, Vírus, que foi lançado apenas em 1999 devido a vários atrasos. Como o realizador não estava disponível já que trabalhava em Dawson's Creek, acabou não conseguindo, então John Bruno seguiu realizando ele, nesse que foi um dos filmes mais desprazerosos da carreira dela, segundo a própria.

Em algum ponto da produção se pensou em contar com Carpenter como diretor, mas ele pediu muito e queria um contrato com a Dimension para mais três filmes. Tal qual ocorreu em Halloween II ele queria participar para compensar a pouca arrecadação que recebeu depois que fez Halloween de 1978.

A participação de Kevin Williamson não é a de pessoa que deu ideia de fazer o filme, como normalmente se falava à boca pequena. Robert Zappia foi contratado para escrever um filme que, graças a bilheteria modesta de Halloween 6 em 1995, não iria para o cinema. O telefilme se chamaria Halloween: Duas Faces do Mal e esse roteiro seria ambientado em um internato.

A base de um lugar de estudos foi mantida, sendo ligeiramente modificada, já que a maior parte desse H20se passa em um colégio. Quando Jamie Lee Curtis manifestou interesse em retornar à série, Kevin Williamson foi convidado pela Dimension Films para escrever um tratamento que adicionasse Laurie Strode a história.

O sindicato dos roteirista - WGA - não achava que essa participação era suficiente para receber crédito de escrita. Um boato na época era que a Dimension cogitou pagar a Zappia mais dinheiro para ele compartilhar o crédito, afim de divulgar a participação do criador de Pânico, mas isso foi recusado.

O tratamento de H20 que Williamson não modificou tanto a história, inclusive não tinha detalhes dos personagens. A diferença substancial era no final, que era radicalmente diferente, e na abertura, que mostraria Rachel Loomis, filha do Dr. Sam Loomis, sendo morta por Michael Myers, a fim de que o mesmo conseguisse os papéis que indicavam onde Laurie se escondia. Teria também uma sequência de perseguição de helicóptero e ônibus, culminando com a aeronave perdendo controle e decapitando Myers.

Apesar dele não ter escrito, boa parte das suas revisões ficaram no roteiro filmado, mas os eventos seguiram diferentes, inclusive no início.

A narrativa começa em Langdon, Illinois, em outubro de 1998. A personagem Marion Chambers, de Nancy Stephens, acredita que sua casa foi invadida e pede para que os meninos que são seus vizinhos verifiquem se há alguém lá dentro.

Houve um cuidado do roteiro por localizar a trama em Illinois ainda, mas não em Haddonfield, antecipando possíveis comentários sobre como os sobreviventes de filmes de terror não saem das cidades onde o mal ocorreu. Pois bem, ela saiu e de nada adiantou

Vale lembra que Marion esteve tanto em Halloween quanto em Halloween II: O Pesadelo Continua. Sua participação foi breve, porém importante, já que foi ela quem revelou o parentesco de Laurie com Michael.

Nesse trecho é curioso que o menino que entra na casa da senhora é Jimmy, interpretado por Joseph Gordon Levitt em início de carreira. Ele encontra o escritório dela todo revirado, mas em um primeiro momento nada demais ocorre.

O primeiro ataque ocorre só depois que uma das televisões passa um filme de horror, no caso, o clássico trash Plano 9 do Espaço Sideral de Ed Wood. Jimmy parece ser um aficionado por obras de horror, tanto que possui uma estátua do cenobita Butterball, de Hellraiser: Renascido do Inferno.

Michael é feito aqui por Chris Durand, dublê acostumado a obras de ação como Demolidor: O Homem Sem Medo e Armageddon, mas que também era conhecido por ter feito cenas como Ghostface em Pânico 2.

Halloween H20: O primeiro reboot da franquia, 20 anos depois do clássico

Os créditos iniciais mostram fitas de áudio, onde o doutor Loomis fala sobre o caso de Michael. Não fica claro se elas tocam à revelia do público ou se Myers dá play nelas de maneira diegética, enquanto dirige para o seu destino.

De qualquer forma é uma boa forma de reintroduzir o espectador na mitologia do bicho-papão que era Michael. Aqui chamaram o dublador Tom Kates para falar a respeito do paciente problema e ele imita bem o tom de voz de Donald Pleasence.

É curioso como o fantasma do doutor Loomis segue atormentando o texto que se baseia na jornada de Michael. Se ele não tivesse morrido em 1995, certamente teria uma participação aqui, mesmo que em lembranças.

Durante os créditos de abertura, há uma foto do anuário com Laurie Strode como parte da "Classe dos 78", no entanto, no filme original, Laurie estava na escola durante o outono de 1978. Não é mencionado em que série ela estava, mas certamente não concluiu o ensino escolar nesse ano, portanto, ela estaria na turma de 79, 80 ou 81. Para o fã que gosta de buscar incongruências, essa é uma dela.

Laurie mora em Summer Glen, na Califórnia e atende por outro nome, agora é Karie Tate, graças ao programa de proteção a testemunhas. Mesmo com a mudança de identidade ele segue sonhando que alguém a persegue no final de outro.

Ela é diretora de uma escola e cria sozinha um filho, John, interpretado pelo estreante Josh Hartnett, que anos mais tarde, estaria em Prova Final, cujo roteiro é de Williamson, e em filmes que ficaram clássicos, como Falcão Negro em Perigo e 30 Dias de Noite. A relação dos dois é próxima, mas ele se sente sufocado pela proteção que sua matriarca propõe para ele.

Olhando o filme hoje é difícil não pensar que David Gordon Green se inspirou nele. A trama é parecida, Laurie é paranoica e nervosa nesse H20, mas não de modo tão extremo como na versão de 2018. Também há uma cena bastante tensa, em um banheiro na estrada, que foi praticamente refilmada no longa de Green.

Em comum também há a sensação da personagem de que está sempre sendo seguida por Michael. Ela tem surtos paranoicos e se entrega frequentemente ao álcool, embora esse último vício seja mostrado tão brevemente que parece até mensagem subliminar.

Outra semelhança com a re-quel Halloween 2018 é que ela ignora as últimas sequências, dado que Laurie não só está viva como não teve uma filha, e sim um filho. Daniel Farrands escreveu um primeiro rascunho para essa parte 7 e em uma determinada cena, em que um aluno da turma de Laurie faz uma reportagem sobre um livro chamado Os Assassinatos de Halloween, em um esforço para unir todos os filmes.

Não há registro salvo disso, mas é falado que a cena chegou a ser filmada. A aluna era Sarah (Jodi Lyn O'Keefe) e nos relatórios, haviam detalhes sobre a Jamie Lloyd de Danielle Harris e J.C. Brandy. Quando Sarah lê o relato e narra a morte de Jamie, a diretora Keri/Laurie sai correndo da sala, para vomitar no banheiro.

A grande questão é que Williamson não conseguiu bolar uma forma de deixar congruente a entrada de Laurie no programa de proteção a testemunhas e ainda assim deixar patente que ela teve uma filha que cresceu distante dela e sem saber que a mãe estava viva.

Tal qual ocorre na maior parte das continuações de sagas slasher, esse possui personagens derivativos, que basicamente não passam muito desse tipo de caracterização. Fora o filho de Laurie, poucos tem espaço em tela ou mínimo aprofundamento, mas um se destaca.

Esse é Ronny, que é interpretado pelo rapper LL Cool J. Ele é um agente de segurança cuja caracterização lembra bastante a Loretta Devine que Reese Wilson fez em Lenda Urbana, que também foi lançado em 1998.

Se Loretta era mostrada como uma fã dos filmes de ação de Pam Grier, ele é um vigia que sonha em escrever romances de banca, daqueles de cunho erotizado. Ao longo da história ele decide mudar sua escrita, mirando uma história sobre assassinatos.

É uma pena que ele não tenha retornado, já que tinha carisma, parecia alguém de verdade, não um alguém montado cuidadosamente para morrer na primeira oportunidade.

Halloween H20: O primeiro reboot da franquia, 20 anos depois do clássico

O filme tem toda sua carreira emocional voltada para a relação entre mãe e filho, não à toa Michael retorna para a ação justamente quando ela aceita desapegar, permitindo que John faça uma simples viagem com os colegas de escola e professores.

Até os sustos falsos ocorrem depois que ela percebe que precisa deixar a cria sair do ninho e de debaixo de suas asas. É legal a inserção de um conselho da assistente da diretora, a senhora Norma, vivida pela veterana Janet Leigh, a mesma que fez Psicose e que é mãe de Jamie Lee Curtis.

Esse papel quase coube a PJ Soles, que havia feito Linda no primeiro filme, como ela não aceitou o convite chamaram Leigh, que estava sem trabalhar no cinema desde Bruma Assassina, onde também contracenou com sua filha.

Como foi Leigh quem fez o papel a produção se sentiu no direito de fazer pequenas referências a Psicose, como a placa do carro do carro dela ser NFB 418, como o de Marion Crane.

Sua primeira cena inclui um comentário de que o chuveiro do vestiário feminino está entupido novamente, já que lembra o local onde sua personagem morreu.

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Há referências ao filme de Alfred Hitchcock até em conversas entre os adolescentes. Charlie, personagem de Adam Hann-Byrd, diz para John que em um espaço de vinte anos, ele ainda estará morando com sua mãe, provavelmente administrando um motel estranho, no meio do nada, tal qual era o Bates Motel.

A grande questão é que a maioria dos personagens que circundam John e Laurie, quase não há caracterização, exceto em um ou outro ponto, como o exemplo de criação mais solta e liberal que o namorado da protagonista, Will Brennan (John Ottman), faz com sua filha.

Nem mesmo Michelle Williams tem destaque, até por estar aqui basicamente por participar de Dawsons Creek, da onde vem Williamson e Steve Miner.

Ao menos os diálogos dos jovens parecem reais, e isso é mérito do roteirista de Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Verão Passado. Segundo Miner, Williamson contribuiu com sugestões que tornaram o filme em algo melhor, sobretudo nas partes dos diálogos dos personagens juvenis.

Um outro problema aqui é que há pouca participação de Michael Myers. Ele só retorna a trama com quase uma hora decorrida, praticando mortes fora de tela inclusive.

Em alguns rascunhos, havia a ideia de tornar Charlie o assassino, e não Michael. Ele seria um imitador dele, além de ser filho de uma enfermeira estuprada por Michael no sanatório, mas isso foi descartado durante as reescritas e não sem motivo.

Se o antagonista da série Halloween mata indiscriminadamente quem transa, dificilmente ele cederia a prazeres da carne, ainda mais de uma forma abusiva como seria nesse caso.

Outra questão curiosa é que é uma grande coincidência que Myers ataque justamente os amigos do filho de Laurie, já que John e seus colegas "matam" o passeio, para ficar juntos, dentro do condomínio fechado perto da casa de Laurie.

Fazem isso justamente para poder transar, virando assim o alvo preferencial do assassino serial slasher.

Aparentemente, John não tem preparação alguma contra o Boogeyman. Ele depende da sua mãe, para salvá-lo no último instante possível.

Halloween H20: O primeiro reboot da franquia, 20 anos depois do clássico

Uma coisa notável nesse filme é que a máscara de Myers está ainda mais feia que o normal. Os magos de efeitos especiais John Carl Buechler e Greg Nicotero, revelaram que houveram quatro máscaras utilizadas ao longo do filme.

Uma dessas lembrava a de Halloween 6, mas os produtores não ficaram satisfeitos então chamaram Nicotero e sua empresa a KNB EFX Group para fazer uma nova, mas essa também foi "substituída", ao menos em parte. Na aparição citada logo acima a máscara tinha retoques digitais de CGI. Fica bem evidente que Durand utiliza um disfarce diferente entre sequências diretas. Isso retira o público da concentração, o que é lastimável.

Apesar da música de John Ottman ajudar a deixar os momentos meio anticlimáticos, há trechos genuinamente tensos de embate entre o assassino e sua arqui-inimiga. O momento em que se encaram pela janela redonda da porta do prédio é um desses, mas são os confrontos físicos que chamam mais atenção no quesito de qualidade positiva.

O problema é que Miner insere muitos clichês de filmes de assassino, como carro que engasga e demora a pegar, ou golpes isentos de força, que não finalizam o oponente no meio da briga, há tiros em personagens pretos e algumas mortes falsas.

Ao menos Laurie vence seu receio, vai na direção do seu algoz com um machado, para finalmente deixar de temer, para se tornar a heroína de sua própria jornada.

Halloween H20: O primeiro reboot da franquia, 20 anos depois do clássico

A escolha de confiar no desempenho de Lee Curtis é acertada, mas não é o suficiente nem para responder a todas as indagações que o texto propõe e nem para ludibriar o espectador.

Não há qualquer preocupação em explicar por que o assassino ainda vive. Teoricamente ele leva em consideração Halloween II: O Pesadelo Continua, mas não fica exatamente claro se os eventos ali ocorreram, já que mal se cita o parentesco de Laurie e Micheel, tampouco há sequelas no assassino, que deveria estar debilitado graças a queimaduras e até ao envelhecimento, mas não, ele parece um titã, uma máquina de homicídios.

Também não há qualquer desculpa, boa ou ruim, sobre o fato dele ter esperado vinte anos para voltar. A trama careceu de um doutor Loomis ou de um substituto.

Depois de tudo estar praticamente resolvido, Laurie ludibria a polícia, rouba uma arma, pega o machado que antes manejava e a van onde Myers estava, rapta o cadáver, que obviamente não era um cadáver. Ela confia em sua intuição e tenta matar o vilão.

O momento em que os dois se encontram e se tocam beira a poesia. Ela hesita em finalmente dar cabo do seu "irmão", mas dá uma machadada nele. Esse final foi emocionante e é uma pena que Halloween Ressurreição estrague o que há de bom nesse. A saga terminaria bem, tocando o arranjo de John Carpenter e Cody Carpenter.

Os primeiros rascunhos do roteiro faziam Laurie apunhalá-lo no coração com um dardo enquanto ele estava preso entre as duas peças do piso retrátil de um ginásio, mas isso foi descartado, tal qual o uso da aeronave que Williamson tencionou.

Moustapha Akkad queria que Michael sobrevivesse, para que pudesse produzir mais filmes de Halloween, enquanto Bob Weinstein queria que Myers morresse. Zappia foi instruído a escrever dois finais e enviar uma cópia com ele sobrevivendo para Akkad, enquanto eles filmariam o final que foi para os cinemas, mas Zappia recusou.

Segundo o roteirista, Kevin Williamson inseriu uma dubiedade sobre a morte de Michael, que acabaria resultando no gancho de Halloween: Ressurreição. Essa solução conseguiu abraças as duas ideias. Segundo o roteirista Matt Greenberg, foi Weinstein quem sugeriu que Laurie Strode decapitasse o vilão com um machado.

Apesar dos graves pesares, Halloween H20: 20 Anos Depois é uma boa repaginada da franquia, pega elementos metalinguísticos e adapta em uma história própria. Tem momentos bem genéricos e é visualmente derivativo, mas conta muito com o trabalho de atuação de Jamie Lee Curtis, que mais uma vez entrega muito, além de ser divertido demais. Uma boa ode a lenda de Michael Myers e o louva como o assassino serial supremo do cinema.

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