Servant 2ª Temporada: uma jornada que inverte heroísmo e vilania

Depois de uma primeira temporada bem movimentada, Servant retorna ao seu segundo ano a partir do sumiço de Leanne Grayson, a babá que foi contratada pelos Turner para cuidar de Jericho, o filho do casal Sean e Dorothy, e que teria sofrido um infortúnio anos atrás.

Envolta em muitos mistérios, a segunda temporada se baseia na obsessão pelo paradeiro da moça interpretada por Nell Tiger Free. Esse segundo ano começa com pouca exposição, trabalhando com um silêncio absolutamente ensurdecedor no que toca os segredos de seus personagens.

O seriado Apple Original segue comandada por seu criador, Tony Basgallop, contando também com M. Night Shyamalan como produtor, e produção executiva de Todd Black, Steve Tisch, Patrick Markey, Taylor Latham, Jason Blumenthal e Ashwin Rajan.

O ano segue mais uma vez com episódios que giram em torno da meia hora, e duram dez capítulos por temporada, e se baseia inteiro na ansiedade dos pais interpretados por Lauren Ambrose (Dorothy) e Toby Kebbell (Sean), principalmente porquê o bebê também foi levado, no sumiço que ocorreu com a moça.

O primeiro capítulo dessa temporada é dirigido por uma cineasta, no caso, a ótima Julia Ducornau, de Grave (2016) e Titane (2021), filmes de linguagem gráfica agressiva e de alta tensão. O seu episódio é bastante tenso, e uma boa introdução ao novo momento do mistério.

Servant 2ª Temporada: uma jornada que inverte heroísmo e vilania

Enquanto Dorothy vocifera com a polícia acusando May Markhan de roubar sua criança, Sean não sabe como proceder, até porque apresentada a polícia pela esposa, é mostrada a reportagem a respeito da morte de May.

O roteiro segue ambíguo, não ficando claro se o marido está louco ou não. A sensação de incerteza se torna ainda mais frequente com o aumento das idas e vindas no tempo, principalmente ao falar do traumático dia da morte de Jericho, do real, não do que estava no lugar dele durante a primeira temporada.

Esse certamente é o momento mais melancólico e bizarro do seriado, mostrando muitas brigas entre Sean, seu cunhado Julian (Rupert Grint) e a pseudo-terapeuta Natalie (Jerrika Hinton) que namora Julian.

Eles procuram o bebê desesperadamente, especialmente Sean, e só sossega ao receber uma carta, que avisa que o bebê está vivo.

O desespero dos Turner invade até a intimidade exterior a casa, especialmente com Dorothy, que ao subir a posição de âncora do jornal local, faz um apelo na frente das câmeras, pedindo informações sobre Leanne e seu desaparecimento, mesmo sem qualquer indício de que ela foi sequestrada.

O roteiro segue afiado em apelar para o desespero e insanidade de cada um dos personagens, e como o núcleo é pequeno, fica mais fácil se importar, fora evidentemente a direção de cineastas, já que além de Ducornau há também M. Night dirigindo, e sua filha, a talentosa Ishana Shyamalan.

Os elementos de mistérios são agravados nesse início, seja na rachadura na estrutura da casa, que reaparece após a season finale, como também nas ligações da babá para o pai da família.

Aos poucos, cresce também o nível do antagonista misterioso, com a Igreja dos Santos Menores se tornando um elemento que interfere em tudo, não só nos atos de auto flagelo de Leanne e demais praticantes do culto.

Não há como negar que existem semelhanças entre essa trama e outras produções que lidam com tentativa de roubo parental, especialmente o clássico do Supercine,conhecido como A Mão que Balança o Berço, mas nesse trecho de início de ano o foco é outro.

O roteiro não busca combater Leanne, e sim tentar encontrá-la, e trazer ela de volta, motivado claro pelo sumiço do bebê também. Eles chegam ao cúmulo de montar uma pizzaria falsa, para tentar entrar na casa de um suspeito. A paranoia toma a história de assalto, e torna a história em uma comédia de erros.

Finalmente eles encontram Leanne, que estava apenas trabalhando, na casa de uma outra família, os Marino, e para ter a moça de volta, os Turner obrigam ela a vir com eles, ou seja, praticam sequestro.

Servant 2ª Temporada: uma jornada que inverte heroísmo e vilania

Isso obviamente faz com que eles cruzem a linha do que é correto e incorreta, não há mais como fingir bondade e ingenuidade diante de um comportamento como esse.

Eles prendem a menina em um porão, que tem uma arquitetura antiga e assustadora, com um manequim que lembra uma entidade espiritual, demoníaca ou fantasmagórica.

Leanne julga Dorothy, e possivelmente essa é a chave para ela não querer devolver a criança. A alternativa dos Turner passou a ser menos atrativa que a turma do culto estranho, mas aos poucos a normalidade se estabelece, e as partes passam a se relacionar com mais afeto um pelo outro.

A série não deixa claro a fonte dos poderes de Leanne, e nem deixa claro se quem faz parte da tal igreja também os tem. Quem aparenta ter habilidades e ciência maior que a deles é o tio George, personagem de Boris McGiver que retorna aqui, para fazer promessas de devolver a criança.

A grande questão é que não fica claro em momento algum se ele de fato sahe onde está a criança, ao passo que nem ele e nem as pessoas que o cerca parecem não ter ganância, ambição ou desejos meramente mundanos. Não buscam dinheiro, e sim cumprir uma missão, em uma obsessão que é claramente um movimento que parece ter uma origem no Divino.

Entre os outros diretores desse segundo ano estão além dos já citados as experientes diretoras de televisão Lisa Brühlmann e Isabella Eklöf, que já tiveram suas participações no cinema, além de Nimród Antal, que em 2010, entregou Predadores, o filme mais voltado para o horror da franquia.

Para quem está isolado e sem perspectiva, é fácil entender que o tio George e May Arkham são heróis. O comportamento de seita é bem esse, de apelar ao espiritual e de deusificar humanos, a fim de enganar pessoas incautas.

Da sua forma, Servant consegue denunciar o comportamento abusivo de cultos não tão conhecidos, mesmo quando faz paralelos com práticas pesadas de abuso, que na camada real da vida estão presentes até em religiões ditas como mainstream. Não é difícil enxergar assédios morais e físicos em religiões de origem cristã.

De volta a trama, na parte do presente as emoções dos personagens se confundem, especialmente com Julian, que chega ao cúmulo de chorar depois de um ato sexual. Servant brinca com triângulos amorosos e com relações que vão e vem.

O comportamento e agir "mágicos" de Leanne se pautam na sexualidade e sedução, sempre.

Os últimos capítulos mostram as festividades do natal, aguardando que Jericho retorne. Nesse interim, é apresentado Frank Pearce , personagem de Todd Waring, o pai de Julian e Dorothy, e o filho mais novo briga com ele, e quase morre, sendo salvo milagrosamente pela babá.

O horror finalmente ganha vulto, quando Josephine de Barbara Sukowa chega a casa.

Ela é uma senhora que tem seu semblante escondido por um véu negro, e seu vestido longo, detalhado e preto dão a ela um ar de monstruosidade de filme antigo.

Servant 2ª Temporada: uma jornada que inverte heroísmo e vilania

Esse final de temporada é bastante nonsense. As tramas soam confusas, a maioria sendo bastante viajada, e os papéis de mocinhos e vilões se confundem o tempo inteiro.

O apelo a um não maniqueísmo é bem empregado, e só funciona graças as atuações do elenco, sobretudo de Ambrose, que está sublime, obsessiva e desesperada.

Acompanhar sua jornada e derrocada mental é um alento no meio de toda a trama de teoria da conspiração que Bagallop pensou.

A segunda temporada de Servant adiciona mais perguntas ainda, para um roteiro que já não tinha tantas respostas antes, e aos poucos o seriado se desenrola e permite a cada um dos personagens, brilharem.

E apesar de haver uma certa esperança, já que o bebê consegue voltar a casa da onde veio, é impossível não temer por sua integridade e pela vida de cada uma das pessoas das famílias Pearce e Turner.

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