Tentação Fatal: O thriller adolescente conduzido por Kevin Williamson

Tentação Fatal: O thriller adolescente conduzido por Kevin WilliamsonTentação Fatal é um dos filmes de suspense e horror voltado para a estética de cinema de horror dos anos 1990. Contando com uma trama juvenil, protagonizado e escrito para pessoas adolescentes, ele é dirigido e escrito por Kevin Williamson, o mesmo que fez o roteiro de Pânico e Eu Sei O Que Vocês Fizeram no Passado.

Do original Teaching Mrs. Tingle, o longa mostra a jornada de uma aluna-modelo que está esperando uma bolsa universitária, uma vez que sem ela não seria capaz de estudar depois da escola, já que sua família vive uma situação financeira complicada e não tem condições de arcar com as despesas universitárias.

Para isso, ela terá que convencer Eve Tingle, sua megera professora de história, uma mulher obcecada, exigente e um bocado megera a dar a ela a chance de ser a oradora da turma, além de precisar tirar sempre a nota máxima possível.

A aluna é Leigh Ann Watson, interpretada pela (quase) namoradinha da América Katie Holmes, enquanto Tingle é interpretada pela veterana Helen Mirren.

Se destacam no elenco principal também a melhor amiga da protagonista, Jo Lynn Jordan (Marisa Coughlan), uma moça que deseja se tornar atriz e Luke Churner (Barry Watson) um sujeito que se julga um garoto sem futuro e que age como um bad boy.

Cada um desses personagens é referenciado como um clichê ambulante e até certo ponto, isso funciona.

Tentação Fatal: O thriller adolescente conduzido por Kevin Williamson

Produzido pela Miramax e Dimension Films, essa foi a estreia de Williamson na direção e até agora, é o único filme que ele conduziu. Foi lançado em 1999 e destaca a data, com um letreiro na frente da escola Grandsboro parabeniza a turma que se forma nesse ano.

Sua trama e atmosfera conversam bem com Prova Final, filme também escrito por Williamson, lançado no ano anterior e conduzido por Robert Rodriguez. A fim de causar mais conforto ao cineasta, a escolha de Holmes para protagonizar foi em atenção ao trabalho que ela já vinha fazendo com Williamson, sendo a protagonista do seriado de sucesso Dawson's Creek.

Dito isso, todo o texto é trabalhado para favorecer sua personagem. Os momentos mais dramáticos miram a vida da personagem, já que a primeira cena com os personagens mostra sua mãe conversando com ela, depois de um cansativo dia de plantão.

A família Watson é formada apenas pelas duas, não há pai, fato meio comum entre famílias na década de 1990, sem uma das figuras paternas. A menina afirma ser inteligente e brilhante, seu desejo é conseguir uma boa forma de tirar a si e a sua mãe Faye (Lesley Ann Warren) de uma situação financeira ruim, mas nada absurda.

Elas não são miseráveis, só não tem todos os confortos da classe média branca no geral. A grande questão é que a avaliadora do projeto é Eve, professora rancorosa, que deu aula para os pais de seus alunos.

Há um subtexto fino, que dá conta das mágoas da professora. Ela parece querer fazer os filhos pagarem pelos erros dos pais, sejam eles por conta do comportamento na escola ou meramente por desperdício das chances que a vida deu a eles.

Fato é que os pais do trio de personagens centrais não ficaram ricos, aparentemente, são pessoas comuns, não são exatamente bem-sucedidos, tampouco cresceram diante do que se entende por Estilo de Vida Americano.

Isso não é desenvolvido, mas possivelmente ela se sente culpada graças ao destino dessas famílias. Por ser vaidosa e narcisista, não sabe lidar bem com isso e acaba descontando na parte familiar que nada tem a ver com possíveis erros do passado.

Mirren vive essa personagem carismática, odiosa e extremamente bem encaixada na trama, resultando no ponto mais positivo do filme, para muitos, o único.

Tentação Fatal: O thriller adolescente conduzido por Kevin Williamson

Os dias de Leigh são bem comuns. Ela frequenta a escola, está cansada da rotina de estudos, aguarda ansiosa pela época de formatura e pelas notas gerais, que poderiam facilitar a aquisição da bolsa. Claramente está em clima de fim de ciclo.

Já sua amiga Jo Lynn tem pensamentos mais audaciosos sobre o fim do ano regular. Ela claramente não tem preocupações com etiquetas ou coisa que o valha, só quer terminar o ano, chegar as férias e curtir.

No meio desse desapego, ela chega ao cúmulo de avançar para cima do belo Luke Churner, beijando-o a força, afirmando que sempre teve uma queda por ele. Curiosamente, a cena que atualmente não soa bem uma vez que mostra uma manifestação amorosa não consentida, é filmada de maneira leve, ajudando a filme soar como algo fluído.

No que toca a química entre Watson e Coughlan, a direção de Williamson funciona, a grande questão é que o texto valoriza demais a participação de Holmes, que é uma personagem claramente menos interessante entre todos os personagens.

Até sua rival pela bolsa Trudie (Liz Stauber), é mais memorável que ela, uma vez que é obsessiva de uma maneira engraçada, sem falar que protagoniza duas cenas bem perigosas ao longo do filme, envolvendo projeteis.

A trilha sonora é bem presente, com Tongue Tied da banda californiana Eve 6. É um rock leve, que emula a condição despreocupada pré-férias que cada personagem carrega.

A música incidental de John Frizzell pontua bem também as emoções. Lida de maneira sensacionalista os passos de Eve, assim como dá aos momentos de tensão um clima semelhante as comédias Sessão da Tarde de John Hughes.

Os estudantes da Grandsboro são todos bonitos e fogosos. Não parecem ser parte dos adolescentes de 30 anos, uma vez que o trio de protagonistas variava entre 20 e 24 anos de idade, mas são cuidadosamente escolhidos para provocar no público uma empatia graças a forma física.

Tentação Fatal: O thriller adolescente conduzido por Kevin Williamson

Graças a classificação indicativa, o filme não entrega cenas picantes, afinal, era um produto que mirava o público jovem, portanto, precisava ter uma classificação baixa. Ainda assim foi um fracasso de arrecadação, tampouco teve sorte na época em que foi lançado no mercado de vídeo.

A apresentação dos trabalhos é legal. Leigh confeccionou um diário com relatos de mulheres da época das Bruxas de Salém. Fez tudo com cuidado e esmero, se atentando para pequenos detalhes com relação ao tipo de papel e até se atentando para detalhes utilizados na época.

No entanto, ela é menosprezada pela professora, que lhe dá uma nota baixa, tirando dela a chance de ser a oradora na formatura.

Apesar da "heroína" receber o apoio de outras pessoas, como Miss Gold, a orientadora feita por Vivica A. Fox, ela segue nervosa, o que é curioso. Aqui se notam algumas coisas, como o desperdício de personagens.

Williamson escolheu Fox para participar e ela tem basicamente uma cena, que serve só para pontuar que Tingle é uma pessoa difícil desde sempre. Depois disso, ela some.

A questão maior é que o filme tenta tornar os dramas adolescentes em eventos grandiosos e jamais convence. Essas questões são banais e tolas, o drama da protagonista parece pouco apelativo. É difícil torcer por ela, uma vez que não há muito trabalho em fazer ela parecer uma pessoa digna de pena ou torcida. Fora o fato de que sua mãe trabalha muito, não há muito o que destacar em matéria dramática.

Em meio ao mar de problemas de fluidez do longa, Coughlan se destaca positivamente. Sua personagem é carismática e animada um sopro de originalidade e carisma. Ela é divertida e espontânea, ao contrário da personagem de Holmes. Caso a história fosse sobre ela haveria mais chance de causar empatia no público.

Tentação Fatal: O thriller adolescente conduzido por Kevin Williamson

Fora isso, Tingle é construída para ser a perfeita vilã, invejosa e desnecessariamente desagradável. Uma mulher carente, que exige ser adulada e que aparentemente merece ser punida.

Ela é uma figura odienta, é capaz de pesquisar as partes nebulosas do passado de professores, tanto que acusa o diretor só pelo fato de ser dos Alcoólicos Anônimos. Suborna as pessoas, manipula, é ruim e malvada.

Depois que ela recolhe uma cola de sua prova, que Leigh Ann carregava na mochila, os protagonistas se veem na necessidade de agir, pois poderia comprometer o futuro até mais só que a perda da bolsa.

A capa do filme engana, faz parecer que será uma história de sedução, mas a tal tentação só se liga a possibilidade de revidar o mal a professora insuportável que Helen Mirren faz.

No entanto há bons momentos, especialmente quando o filme apela para o nonsense e para o absurdo, como na tal exibição dos trabalhos um dos alunos mostra uma besta que ele montou e acaba atirando uma flecha que quase mata uma das alunas.

A partir daqui haverão spoilers, caso se importe com isso veja o filme e depois retorne.

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Williamson podia não estar inspirado na hora de escrever essa ideia, mas a partir da ida de Jo, Leigh e Luke até a casa da senhora Tingle, a coisa evolui muito rápido, entre conversas bravateiras, ameaças e até agressões físicas que resultam em um rapto.

A situação é bizarra. Mirren consegue embarcar nessa outra trama sem noção, mas Holmes vai bem mal. Quem outra vez carrega o piano é Coughlan.

Ao estar entediada, Jo Lynn começa a imitar Regan de O Exorcista tendo um ataque, unicamente porque não há televisão na casa e porque a professora está amarrada...é patético, hilário e simpático.

Ela é a alma do filme, faz proezas como o momento em que consegue enganar o amante da professora, no caso, o treinador Wenchell (Jeffrey Tambor). Ela venda o sujeito, finge fazer um jogo sexual misterioso com ele e o convence, e faz tudo isso sem tocá-lo.

Esse número é complicado por alguns motivos, já que é uma situação onde uma menor finge brincar lascivamente com um homem adulto, que ainda é seu professor. O treinador ainda é casado, fato que denuncia a corrupção moral da mulher que julga a ideal.

Ainda termina com o trio ameaçando a professora, fotografando os dois juntos, depois de drogar o professor. A ideia é subornar ela, para que não denuncia os jovens.

Os vinte minutos finais perdem força, uma vez que Jo Lynn sai da trama e os outros personagens seguem em rumos distantes do que ela considera ideal. Quando o filme não se leva a sério, fica ótimo e ele deixa esse caráter depois que a moça some.

Até há bons momentos, como uma aula que a substituta senhorita Banks (Molly Ringwald) dá no lugar de Tingle, onde a mesma age de maneira completamente surtada, onde chama Napoleão de baixinho e personagens históricas de vadias.

Perto do fim ocorre enfim um conflito físico, uma briga de mulheres, perto de uma escada, que resulta em um número grotesco e trágico, que acaba com a queda da professora.

Mirren brilha nesse trecho, especialmente ao ver que as coisas saíram do controle, depois que ela acerta sua aluna favorita acidentalmente.

O filme tem contra si o peso de mostrar uma conduta bizarra por parte de alunos adolescentes, que pega bastante mal especialmente depois dos inúmeros casos de ataque a escolas nos Estados Unidos. Curiosamente o roteiro descartado de Pânico 3 envolvia jovens terroristas, mas depois do atentado em Columbine a Miramax optou por rodar o roteiro de Ehren Kruger.

Tentação Fatal está distante de ser um thriller bem-sucedido, se localiza dentro do clichê brasileiro de filme da faixa Supercine, apesar de ter passado demais na Sessão da Tarde. Certamente está entre as piores ideias originais de Williamson, não à toa não foi comprado pelo público. Vale pela atuação de Mirren e Coughlan e claro, por suas piadas sem noção, que conseguem resgatar carisma e graça a alguns momentos do longa-metragem.

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