Crítica: Batman vs Superman - A Origem da Justiça por Filipe Pereira

batman_v_superman___dawn_of_justice__poster_by_goxiii-d9rbw63O tão esperado Batman vs Superman: A Origem da Justiça é um filme divertido sem dúvida alguma, e ao contrário do que é dito no slogan de uma das maiores empresas de cinema do país, a arte do cinema não tem a ver somente com diversão. O longa de aproximadamente 153 minutos faz seu tempo render sem maiores gorduras ou problemas de ritmo, o que é quase surpreendente diante das últimas obras assinadas por seu diretor.

O pedido para não propagação de soltar spoiler mostra um Zack Snyder diferente do visual marombado e saudável que sempre lhe foi peculiar, e apesar disso não influir na trama, é curioso notar um retorno a velhos hábitos terríveis seus. Se Homem de Aço não possuía tanto apelo ao slow motion que lhe era uma marca comum em Madrugada dos Mortos, 300 etc, neste crossover a mania retornaria, assim como o incomodo escurecimento da paleta de cores, que visa diferenciar de antemão este universo cinematográfico do visto na Marvel Studios, tentando nesta característica, propagar uma maturidade maior do que o simples escapismo dos heróis de quadrinhos, horas acertando e em outras não.

A fotografia assinada por Larry Fong também é bastante interessante, superando até a do seu anterior Amir Mokri, por saber harmonizar as interações entre entes reais e o excesso de CGI. Como já era esperado pelo material de divulgação, e pelo título do filme, há uma dedicação maior de trama a figura do Morcego de Gotham, em cenas que até poetizam a famigerada e redundante descoberta das fobias do herói, bem como seu chamado a aventura. Ben Affleck faz um Batman interessante e não chega a comprometer como Bruce Wayne e a decisão de não pressionar o personagem a expressar emoções aviltantes sem a máscara não poderia ser mais acertada, até pelo histórico do interprete enquanto herói de ação.

Aliás, qualquer salvação da franquia certamente passa pela interferência de Affleck, uma vez que foi o mesmo que introduziu o novo roteirista. Chris Terrio consegue adequar o roteiro de Goyer das vergonhas comuns aos seus textos anteriores. Em muitos momentos essa é a cola que permite levar o filme a sério, pois os filtros escuros não cumprem esse papel à perfeição, fator que funciona muito mais em redes sociais como o Instagram do que necessariamente no cinema blockbuster.

No entanto, o argumento carece de alguns pontos cruciais. O excesso de lutas talvez incomode as plateias menos afeitas a esse tipo de filme, em especial por haver pouca construção de personagem, mesmo quando se trata do Batman, que dirá das aparições relâmpago dos outros meta humanos. A motivação encaixada por meio de palavras chave também soa bastante pueril e equivocada dentro da contrução do ideal do cruzado encapuzado, resultando em um total inverso do estágio final de Cavaleiros das Trevas Ressurge, reforçando para crítica e plateia que o Bat-Affleck definitivamente não é o mesmo que Chris Bales e Nolan contruíram, para o bem e essencialmente para o mal.

Snyder parece não saber para onde vai o seu projeto, mesmo acertando de certa forma (e surpreendentemente) no Luthor executado por Jesse Eisenberg, que ainda assim, não consegue fugir do histrionismo e que também sofre com uma falta de identificação tamanha. Os rumos para o futuro da Liga ainda parecem obscuros, e a julgar pela mente infantil do diretor - e agora produtor - mais arcos pueris poderão vir, não que isso seja necessariamente um erro, mas se tratando de um contraponto do Marvelverso, ainda é estranho. De interessante também há o esforço de Jeremy Irons e Amy Adams em compor seus papeis coadjuvantes, resultando em Alfred e Lois Lane os maiores destaques dramatúrgicos do filme, além de uma melhor personificação também para Laurence Fishburne e seu Perry White.

A Mulher Maravilha é bastante sub aproveitada, o que faz até perguntar o motivo (além do comercial, evidentemente) para a inclusão dela nos pôsteres do filme, porque de fato, não há qualquer necessidade de inclusão da mesma. Apesar dos muitos suspiros e dos teasers de sua aventura solo no passado, e claro da evolução física de Gal Gadot e de seus dotes enquanto guerreira, poderiam ter aproveitado mais sua figura, seja para o fan made ou para aplacar as críticas quanto a pouca participação feminina na ação.

A ação final é bem confusa, falta tempo para o espectador assimilar toda as desventuras, semelhante ao que aconteceu no desfecho da primeira temporada de Heroes, claro, com muito menos covardia na conclusão de arco dos personagens. Há uma clara necessidade de manter ganchos estratégicos para as continuações, bem como há um abuso excessivo de momentos emocionais, que não soa tão vergonhosos como o ajoelhar do herói seguido de choro no primeiro filme, mas que também soa bastante piegas. Driblando toda a expectativa negativa que se tinha, o resultado final para a Warner é satisfatório, ainda que a pressa tenha sido um inimigo constante da produção, que poderia ter arquitetado de maneira bem mais coerente os últimos eventos, ao menos para combinar com a tal “ótica adulta” que a DC Comics tenta projetar em seus filmes, ainda que isso não comprometa o entretenimento.

- Filipe Pereira é crítico e editor do site Vortex Cultural

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1 comment

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    Bruno Peternella 24 março, 2016 at 15:15 Responder

    Achei o filme muito bom, achei q entregou pq prometeu, não é um filme com prevenções ele foi bem simples e direto sem muito rodeio, a direção de Zack Spyder tbm está muito boa, acheu foda e espero que universo DC mantenha o Alto nivel

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