Crítica: Vingadores: Guerra Infinita

Em outras ocasiões, já elogiei a calma da Marvel para apresentar cada um dos elementos de seu universo, preparando naturalmente as narrativas que juntam todas essas peças, o que ocorre principalmente nos longas focados nos Vingadores. É meio impossível não chamar atenção novamente para isso ao falar deste Vingadores: Guerra Infinita, já que essa nova adição à franquia é o resultado de tudo o que vem sendo construído ao longo de toda uma década (e quando escrevo isso fico até um pouco chocado com o passar do tempo, considerando que parece ter sido ontem que fomos apresentados ao Tony Stark de Robert Downey Jr, que iniciou todo esse projeto). Até por conta disso, seria bastante frustrante se o resultado aqui não fosse satisfatório, mas felizmente o que temos é uma megaprodução que entretém e envolve o público do início ao fim no grandioso (e por vezes até trágico) desenrolar de seus acontecimentos.

Escrito por Stephen McFeely e Christopher Markus (que já haviam sido responsáveis pelos roteiros dos filmes do Capitão América), Guerra Infinita mostra finalmente os esforços de Thanos (Josh Brolin) para coletar as seis Joias do Infinito, que já foram centro de grandes batalhas nos exemplares anteriores da franquia e podem tornar o vilão o ser mais poderoso do universo. Com isso, ele bate de frente com quase todos os super-heróis, desde Tony Stark, Steve Rogers (Chris Evans) e os outros Vingadores até Peter Quill (Chris Pratt) e seus companheiros Guardiões da Galáxia, que passam a se ajudar a fim de impedir Thanos de cumprir seu objetivo.

Mesmo contando com uma vasta galeria de personagens (praticamente todos interpretados por grandes estrelas), o roteiro é hábil não só ao justificar a presença de todos, mas também ao reuni-los de maneira orgânica, dando a eles papéis bem definidos na trama. Numa espécie de distribuição de tarefas, McFeely e Markus espalham os personagens por todo o universo que têm em mãos, dando a eles suas próprias subtramas que mostram ser vitais para a história principal envolvendo Thanos, e por os roteiristas conseguirem dar importância a cada uma dessas partes eles evitam que o filme soe inchado (um risco que, em maior ou menor grau, toda produção com muitos personagens corre). Nisso, também vale destacar o trabalho de montagem de Jeffrey Ford e Matthew Schmidt, que lida admiravelmente com a estrutura do roteiro, pulando de um ponto a outro da história naturalmente, sem quebrar o ritmo da narrativa concebida pelos irmãos Anthony e Joe Russo.

Aliás, os irmãos cineastas (responsáveis por Soldado Invernal e Guerra Civil, dois dos melhores exemplares da franquia) novamente se saem bem na condução das sequências de ação, se esforçando para que cada uma seja mais grandiosa que a outra, sendo bom ver que a dupla não se perde no meio disso tudo, dando vida a sequências complexas pelo alto número de personagens envolvidos, mas conseguindo fazer com que elas não sejam visualmente confusas, deixando a mise en scène sempre clara. Além disso, esses momentos se aproveitam bem do carinho que criamos por aqueles heróis nos filmes anteriores, o que faz com que seja natural que nos importemos com eles em meio às batalhas, que assim se tornam mais envolventes. Para completar, ainda que o perigo enfrentado pelos heróis e o que está em jogo fiquem bastante claros, isso não impede que piadinhas sejam inseridas para aliviar um pouco a narrativa e divertir o público (até porque, afinal, estamos falando de um filme da Marvel), aspecto que funciona por mais que acabe tirando o peso de alguns momentos emocionalmente sérios (como uma conversa particular entre Gamora (Zoe Saldana) e Peter Quill).

Já que mencionei o perigo que é enfrentado no filme, é preciso dizer que Josh Brolin concebe Thanos como um vilão cuja presença é sempre intimidadora, fazendo jus à ameaça que vinha sendo atribuída ao personagem desde que ele apareceu na cena pós-créditos do primeiro Vingadores. E Brolin alcança isso sem precisar apelar para uma composição exagerada, mantendo um jeito e um tom de voz sempre calmos e que ajudam a estabelecer Thanos como um ser que não se vê como um vilão (ele realmente acredita que seu plano e as perdas que ele causará resultarão em um universo melhor), além de ter plena consciência de que seu poder o torna quase indestrutível. Como se não bastasse, o ator ainda tem a chance de trazer alguma humanidade ao papel, por mais brutal que este seja, o que culmina em uma cena particularmente triste envolvendo o custo de uma das Joias do Infinito que ele tanto almeja.

Mas mesmo que Brolin seja o maior destaque do elenco, isso não quer dizer que seus colegas se saem mal. De veteranos da franquia como Robert Downey Jr., Chris Evans, Scarlett Johansson e Mark Ruffalo até outros que entraram há relativamente pouco tempo nesse universo como Chadwick Boseman, Tom Holland e Benedict Cumberbatch, todos retornam a seus respectivos papéis com carisma e segurança. E além de eles exibirem uma boa dinâmica nos núcleos narrativos que se constroem, cada um tem sua oportunidade para se destacar.

Vingadores: Guerra Infinita dá densidade a um evento massivamente importante de seu universo sem esquecer de funcionar como um entretenimento eficaz. Tendo em vista que se trata da primeira parte da história (a continuação que irá conclui-la está planejada para o ano que vem), devo dizer que as pontas soltas tramadas pelo roteiro podem até não ter força para deixar o público angustiado (a menos que este seja muito ingênuo), mas certamente são capazes de deixá-lo curioso quanto a como elas serão resolvidas.

Obs.: Há uma cena após os créditos finais.

Thomás Boeira

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