Noite do Silêncio é um filme de horror sobre um assassino em série, que segue os eventos da saga Natal Sangrento. Lançado em 1989 direto para a televisão, é lembrado especialmente por ser protagonizado por Bill Moseley.
A sinopse do filme é bastante bizarra, segue os passos de um cientista excêntrico que utiliza uma jovem sensitiva cega em experiências supostamente científicas. O experimento consiste em colocar a moça em contato com um psicopata que sofre com um estado vegetativo.
A experiência dá errado, despertando o assassino do coma e uma nova onda de mortes começa a acontecer, em um claro apelo ao clichê de retorno de matador em Filmes de Matança ou Slasher Movies, tal qual ocorreu em clássicos como Halloween: A Noite do Terror, A Vingança de Cropsy, Dia dos Namorados Macabro etc.
Dirigido por Monte Hellman - que usava o pseudônimo M. Hellman – o longa mostra esses experimentos citados ocorrendo com Ricky Caldwell, que milagrosamente sobreviveu aos eventos de Natal Sangrento 2: Retorno Macabro, mas sem Eric Freeman. Não houve qualquer cuidado em explicar a troca. Simplesmente ele mudou as feições, seu corpo e todo o resto do jovem Ricky.
O filme teve alguns contratempos durante sua produção. O primeiro roteiro foi descartado e reescrito em uma semana, a partir de março de 1989, as filmagens da fotografia principal foram concluídas no final de abril e a edição foi feita em maio. O longa então foi exibido pela primeira vez em um festival de cinema em julho.
Além de Noite do Silêncio, o filme foi chamado no Brasil como Natal Sangramento 3. A alcunha original é Silent Night, Deadly Night 3: Better Watch Out!, em atenção a música natalina.
Também pode ser encontrado como Blind Terror. Na Espanha é chamado de Posesión Alucinante, já no México é Psicosis Mortal e em Portugal é Noite de Silêncio, Noite Sangrenta - Parte 3.
O filme foi rodado na California, pelos estúdios Quiet Films, Inc., distribuído pela International Video Entertainment.
O roteiro original do filme foi escrito pelo produtor Arthur Gorson (que assina como A.H. Gorson) e S.J. Smith. Quando leu o rascunho, Hellman não gostou da história. Então contratou Rex Weiner, que trabalhou em Miami Vice, para escrever um texto novo, com autorização de Gorson, obviamente.
Weiner assinava Carlos Laszlo e foi creditado como único autor do script, já o argumento foi creditado a Gorson, Weiner e Hellman. O trabalho foi revisado pelo próprio Hellman, por sua filha Melissa Hellman e Steven Gaydos. Já o roteiro rejeitado posteriormente formaria a base do que viria a ser o argumento de Natal Sangrento 4: A Iniciação, lançado em 1990.
Monte Hellman fez Pânico no Atlantico Express, Iguana: A Fera do Mar e Armadilha do Terror, no entanto é mais lembrado por ser produtor executivo de Cães de Aluguel de Quentin Tarantino.
Esse Noite do Silêncio era um filme que o diretor gostava muito. Em uma exibição em 2008, no Alamo Drafthouse em Austin, Texas, o realizador disse que achava que era seu melhor trabalho, embora não fosse o seu melhor filme.
O primeiro nome nos créditos é o de Bill Moseley, que faz uma versão diferente de Ricky, agora estático, catatônico, entrevado em um leito de hospital, em um quadro de coma. Assim que ele é apresentado também aparece a final girl da vez, a bela Laura Anderson, interpretada por Samantha Scully (Operação Kickbox), que nas primeiras cenas, aparece lidando com ele, enquanto o assassino está desperto.
A sequência é legal, violenta e bizarra, mostra corredores brancos de hospital, sujos com o vermelho sangue. Hellman não demora a mostrar que essa é uma das sessões de sonho, onde Laura adentra a mente do assassino, de maneira semelhante ao que Jennifer Lopez fez no clássico A Cela em 2000, ainda que aqui a exploração não fosse tão estilosa quanto na obra de Tarsem Singh.
Moseley era um ator experiente, em especial no quesito de filmes B. Ele esteve em O Massacre da Serra Elétrica 2, A Bolha Assassina e Jogo Fatal. Anos depois faria o psicopata Ottis Driftwood nos filmes de Rob Zombie em A Casa dos 1000 Corpos, Rejeitados Pelo Diabo e Os 3 Infernais.
As tais pesquisas visam entender a mente de Ricky, mas a forma como isso aparece em tela, já que claramente o cientista explora a fragilidade da moça que participa.
Laura é mostrada como uma pessoa que é uma cobaia também, que tem seu sacrifício valorizado também pelo fato de que esses trechos permitem que ela possa ter um vislumbre de visão, já que nas sessões, ela não é cega como na realidade.
O processo é feito pelo cientista Dr. Newbury, de Richard Beymer, mas não fica exatamente claro qual é a motivação dele em tentar invadir a mente do assassino. Em vários pontos parece ser apenas uma curiosidade mórbida, algo que combina obviamente com a canastrice estabelecida na saga, mas, teoricamente, a ideia é tentar ser reconhecido por fazer um trabalho de cunho inédito.
Apesar do médico avisar a Laura que os momentos não passam de sonhos, ela tem a clara noção de que não é apenas isso. São lembranças reprimidas que tem a interferência dela e quando ocorre uma virada no roteiro, fica claro que Ricky tem ciência de quem é Laura.
Nesses trechos são mostradas cenas do primeiro Natal Sangrento, que ocorriam quando Ricky era um bebê. Já discutimos a falta de sentido nisso em Natal Sangrento 2: Retorno Macabro, mas aqui não há sequer uma justificativa para essa exploração. Seria mais fácil o roteiro de Weiner/Laszlo ter ressuscitado Billy, colocado ele no lugar do irmão, para assim dar vazão a essas experiências.
Laura decide parar os experimentos, mesmo que isso signifique que ela não verá mais nada. Quando decide seguir sua vida, para passar as festas com sua família, ela tem estranhas ilusões, que parecem mais premonições, como quando imagina a recepcionista, interpretada por Isabel Cooley, morta, com a garganta cortada.
No figurino dela se destaca uma flor vermelha, que aqui não é explicada, no entanto, em Natal Sangrento 2 é dado que Ricky perde o controle ao ver objetos, roupas e qualquer referência a cores vermelhas, rubras etc.
Esse trecho não faz qualquer sentido, afinal, ela jamais viu a mulher, como poderia imaginar ela morta? Outra grande questão é que a atriz era muito ruim. Scully é fraca, não consegue demonstrar grandes emoções.
Falta dramaticidade mínima para ela, o papel era importante e difícil de fazer, deveriam ter escalado uma interprete mais experiente. Acaba que a participação dela é tão ruim que se tornaria digna de memes, caso esse fosse um filme mais famoso.
Richard consegue sair do estado vegetativo assim que um homem bêbado, vestido de Papai Noel entra em seu quarto. Esse "bom velhinho" foi interpretado pelo diretor, Monte Hellman, que dispensou uma cena anterior, filmada com Richard C. Adams fazendo o Papai Noel.
A medida que Ricky desperta, percebe que o homem está com roupas vermelhas, barba falsa etc. Como ele estava desacordado, fica a dúvida do motivo dele ter acordado, já que de olhos fechados, não daria para saber o modo que o invasor se vestia.
A alergia dele pela cor vermelha e o asco ao Papai Noel parece ser tão grande que ele adivinhou que que o sujeito estaria vestido dessa forma, ou essa é mais uma manifestação porca de sexto sentido.
As ações ocorrem e Laura passa a ser uma espécie de testemunha ocular, tendo em sua mente as imagens das pessoas que vão sendo mortas Por Ricky. Eles nutrem um elo mental, que se iniciou juntamente nas experiências.
Laura é uma pessoa que tem os seus próprios traumas. Ela perdeu os pais em um acidente de avião, que provavelmente, foi a causa de sua deficiência. Em meio a uma sessão com o psiquiatra (Leonard Mann) ela "enxerga" Ricky no lugar dele.
O irmão da protagonista, Chris (Eric DaRe) é introduzido de maneira meio gratuita na trama. Está lá para estabelecer um vínculo sentimental com a personagem principal e só. Sua namorada, Jerri (Laura Harring) é outra pessoa meio sem função dramática, sendo justificada na trama apenas para causar ciúmes em Laura.
Os dois provavelmente só foram escalados graças a moda apelativa de mostrar pessoas nuas, já que eles protagonizam . cenas de sexo. DaRe tinha experiência em peças do cinema B, esteve no elenco de A Bolha Assassina, Twin Peaks: Os Últimos Dias de Laura Palmer e Tropas Estelares. Já Harring - que assina Laura Herring - estaria em Cidade dos Sonhos, O Justiceiro e O Amor nos Tempos de Cólera de 2007.
A protagonista segue atormentada pelas lembranças do paciente. A conexão neural que tem com ele envolve inclusive os gatilhos ao ver a cor vermelha e como essa é muito presente na época de final de ano, é natural que mais mortes ocorram ao longo do filme.
Ao menos não falta violência e gore. Ricky arranca a cabeça de um segurança de posto de gasolina e exibe ela em sua mesa. Dessa vez a equipe de efeitos de maquiagem é curta com Nina Kraft de A Passagem e Alien: O Terror no Espaço, que faz também os cabelos.
Ela tem auxílio de Susan Reiner, as duas trabalharam juntas em Garantia de Morte e também esteve em Slumbert Party Massacre 2, O Mestre dos Desejos 2 e Candyman: Dia dos Mortos.
A parte investigativa da trama se dá com o tenente Connely (Robert Culp), que assim que aparece, fica repetindo mesma fala, no caso, Ricky Caldwell, o nome do vilão.
Ele parece ser a única pessoa lúcida da história, em especial se comparar com o doutor Newbury, que não acredita na letalidade de seu paciente, quando ele verbaliza essa condição, se estabelece então um conflito entre negacionismo e cinismo.
Um dos momentos de maior constrangimento é a cena da banheira envolvendo Chris e Jerri, que claramente são grandes demais para estar ali. Não há qualquer sensualidade nesse trecho, nem mesmo apelo ao público mais tarado. O que de fato se valoriza é a bela cabeleira do intérprete de Chris, que tem madeixas hidratadas.
As perseguições no final são esquisitas, especialmente por serem lentas. Apostar em um assassino com limitação motora resulta nisso e se prova como um movimento de pura burrice, que traz assim um anticlímax tremendo.
A montagem é fraca, parece feita por profissionais amadores. Embora Ed Rothkowitz - o produtor associado - seja creditado como editor do filme, foi Monte Hellman quem de fato montou o longa. Curiosamente, Rothkowitz tinha experiência montando filmes, já que fez Chuva Quente de Verão e até o telefilme da Liga da Justiça lançado em 1995, mas aqui ele só cortava os pontos que Hellman pedia. A culpa da falta de dinamismo na trama é compartilhada entre os dois profissionais.
O maior problema desse filme é a ausência de identidade com a data. Fora o anúncio no início de que é 24 e 25 de dezembro, não tem mais nada que denuncie a época, nem mesmo uma roupa de Papai Noel para o vilão.
Ricky é obcecado por Laura. Por mais que não verbalize nada, é notório que ele acredita que ela o compreende, mesmo sem que ela tenha dado algum sinal nesse sentido. Como a percepção dele sobre as decisões femininas já eram ruins na parte dois da saga - tanto que ele supôs que sua ex-namorada era virgem, quando não era - depois de um passar por um coma é natural que ele pense isso de maneira errática.
As outras batalhas eram bastante tímidas, normalmente nem apareciam em tela, mas Hellman decidiu mostrar a luta no final com muitos detalhes, colocando um homicida lento no centro do picadeiro, contra uma vítima cega, se embrenhando em uma casa velha.
Laura tem contato com o espírito de sua avó recém morta. O componente espiritual não é necessariamente algo ruim, mas aqui soa gratuito, funciona como uma espécie de validação do poder da personagem. Se Jason pôde enfrentar uma cópia de Carrie: A Estranha em Sexta-Feira 13 Parte 7, A Matança Continua um ano antes, por que Ricky Chapman/ Caldwell não poderia? Essa era a certeza que os estúdios e produtores tinham em relação a esse episódio três da franquia.
No entanto Laura não usa poderes telecinéticos ou algo que o valha, no máximo aproveita suas habilidades para compensar o fato de não enxergar. O embate de maneira tosca, isento de emoção, bastante decepcionante.
Antes dos créditos finais aparece uma mensagem de Bill Moseley, caracterizado, desejando feliz ano novo, finalmente traçando sua primeira linha de diálogo. Não fica claro qual é a intenção, mas a maioria das pessoas acredita que essa foi uma tentativa de quebrar a quarta parede. Não que isso importe, ou gere alguma dignidade para a obra.
Noite do Silêncio é indiscutível uma obra trash, tem um gore pontual, mas seu problema maior é o ritmo capenga e a falta de surpresas. Não há apego quase nenhum aos outros capítulos da franquia e seus absurdos passam demais do ponto. Ainda assim, diverte o espectador que vai sem grandes expectativas, afinal é tolo e engraçado, especialmente quando tenta parecer sério.
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