Review: American Horror Story: Freak Show 4x09/4x10 - Tupperware Party Massacre/ Orphans

Amor incondicional. Dois episódios em American Horror Story geralmente são o suficiente para mudar toda a trajetória da antologia. Asylum fez isso mais de uma vez, Coven abusou dos twists megalomaníacos, porém com Freak Show a toada é totalmente diferente. Confesso que já fechei meus olhos para as críticas (sem fundamento) feitas ao quarto ano, e esta talvez tenha sido minha melhor escolha como fã. Os roteiristas optaram por conduzir os dramas pessoais de cada personagem da temporada como fio condutor da "história de horror" em si, dando assim um banho de água fria na galera mais sedenta por adrenalina. O que me espanta, no entanto, são as reclamações burras - desculpa pelo xingamento, mas ele é necessário - de que por não ter escolhido o caminho que muitos esperavam a série "só tem furo", "é chata", ou melhor, "não tem nada de terror".

Tupperware Party Massacre, por exemplo, escolheu o trio Dandy, Bette e Dot para mostrar que o horror mais difícil de encarar é aquele enxergado na nossa própria condição humana. O psicopata e único herdeiro do legado Mott é o oposto das gêmeas Tattler. Dandy acha que consegue se ver, mas tudo o que está na sua frente é apenas um reflexo da loucura que ele herdou do seu pai. Quando o rapaz mata a vendedora da Avon, as mulheres na "festinha da Lagosta" e ordena a execução de Regina, não há um propósito maior. É o mal pelo mal e acho que o único referente na história de American Horror Story seria o Dr. Oliver Thredson de Zachary Quinto em Asylum, que não por acaso também deixou uma herança maldita para o filho.

Bette e Dot aqui antagonizam Dandy ao representarem o altruísmo de um amor puro e que só poderia ser compartilhado por duas pessoas num estado semelhante ao das irmãs. A relação entre elas nunca foi fácil, porém diante do fim certo e da devoção de Bette, Dot conseguiu ver que, estando literalmente ao seu lado em todos os momentos, a irmã é e sempre será a sua melhor parte. Sarah Paulson com toda certeza garantiu seu lugar nas vindouras premiações ao protagonizar o diálogo (ou monólogo né?) entre as gêmeas, arrepiando também no encontro com Jimmy no fim do episódio, onde detalhes como a pequena cena em que Bette toca a mão de Dot para consolá-la só explicita ainda mais o real significado de Freak Show.

No seguimento menor que mostrou o estado esfarelado de Dell, Tupperware Party Massacre conseguiu colocar Stanley outra vez como uma sombra sob o show de horrores. O mercenário vai destilando veneno pelas tendas e tentando amarrar as pontas soltas ao levar todos que estão envolvidos no seu plano para dar cabo dos freaks por um caminho sem volta: o da culpa. Sim, a tentativa de suicídio do homem forte foi influenciada pela sua covardia em se aceitar, mas a visão de Ma Petite e Ethel no trailer não foi mera coincidência. A figura de Stanley pairou por ali em todos os momentos, culminando em outro hediondo cliffhanger ao fim do emocionante Orphans.

AHSFreak Show 4.2

Antes de Freak Show começar, teorias sobre os possíveis pontos de conexão entre as antologias de American Horror Story pipocaram pela internet. O movimento ganhou força graças ao anúncio do primeiro retorno de um personagem de outra temporada: a adorada Pepper. Assim, Orphans bem que poderia ser uma hora rasa de puro fan service para ajudar os "boca maldita" a detonar ainda mais o quarto ano, porém o roteiro de James Wong não só conseguiu fechar a história do início do show de horrores de Elsa, como deu ao seu monstro original, a doce microcéfala, um passado que já pode ser considerado como o momento mais puro e emocionante da história da série.

A atriz Naomi Grossman deu vida à história de Pepper de uma forma comovente. Do primeiro encontro com o amado Salt nos tempos áureos do show de horrores aos penosos eventos que a levaram ao Briarcliff - com direito a uma aparição mais do que especial da querida Lily Rabe como Sister Mary Eunice -, pode-se sentir toda a imagem da dor que o abandono mudo ou violento consegue causar. Foi difícil ver em cena tudo o que Pepper contou após sua abdução em Asylum. Eu até cheguei a pensar que haveria alterações, mas os piores monstros às vezes se escondem sob a indulgente capa da normalidade, e foi assim com a família verdadeira de Pepper.

A orfandade também foi comum ao passado de Maggie e me deixou verdadeiramente surpreso. A decisão de colocar a vigarista como a delatora de Stanley foi condizente com toda sua trajetória até aqui, e a dobradinha com Desiree soou ainda melhor. Preferi não acreditar (por hora) que o real destino de Jimmy foi aquele visto com desespero por Maggie, mas ainda estamos falando de American Horror Story, que tem um histórico de ganchos extremos para o fim de personagens queridos, aumentando ainda mais nossa apreensão.

Faltando apenas três episódios para o fim do seu ciclo, Freak Show pode até continuar incompreendida por aí, porém não será fácil diminuir seu real valor quando episódios como esses dois últimos servem como a melhor das defesas.

P.S.: O #PrayForJimmy já tá valendo né?

P.S.2: Uma Ma Petite por um carregamento de Dr. Pepper. A ironia foi inspirada e divertidíssima.

P.S.3: Rever o Briarcliff me deu vontade de já começar com Asylum outra vez! Foi de arrepiar mesmo.

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