A série do Velocista Escarlate começou muito bem. Com um elenco bastante competente, tramas honestas e repletas de muito coração por parte dos roteiros, o programa conquistou rapidamente uma legião de fãs, incluindo aí pessoas que jamais pensaram em assistir a uma série do canal juvenil da Warner. O problema é que os programas do CW tendem a começar bem para depois demonstrarem sinais graves de fraqueza. Arrow fez duas boas temporadas iniciais para depois entregar duas sofríveis (e se recuperar muito bem na atual). Com Flash, segue-se o mesmo caminho. E, se antes parecia que as tramas novelescas, os roteiros forçados e repletos de furos e os personagens que nunca aprendem com seus erros, eram coisas que ficariam relegadas a outras atrações da emissora, neste terceiro ano, Flash pareceu se tornar um compêndio de tudo que não funciona no CW. Tudo mesmo.
É triste ver uma série que, inicialmente, parecia tão preocupada em criar uma mitologia própria e complexa terminar uma temporada jogando no lixo todas as regras que foram estabelecidas em momentos poderosos de sua exibição no passado. Sim, viagem no tempo é traiçoeira na hora de se criar as normas para sua utilização, mas isso não significa que ignorá-las completamente possa se tornar desculpa para furos de roteiro. Logo no início do episódio o espectador descobre que Iris não morreu e tudo se passou de um grande truque orquestrado por HR (mais sobre isso a seguir). Nesse momento, tal qual quando Eddie comete suicídio para impedir a existência do Flash Reverso, o vilão Savitar deveria simplesmente desaparecer (foi a morte de Iris que fez Barry criar os remanescentes do tempo para derrotar seu nêmesis). Essa foi a regra estabelecida. Mas, agora, em um passe de mágica, a sua degradação é gradual, dando ao antagonista uma chance ainda de reverter o processo. Por quê? Ora, porque se assim não fosse o episódio final teria 5 minutos, mas isso não é justificativa.
E o que dizer do plano de HR? Durante várias semanas o espectador é confrontado com o fato do Flash não poder salvar Iris naquele exato momento. Ele não é rápido o bastante para impedir sua amada de ser morta cruelmente. Mas, HR consegue livrar a moça do vilão, encontrando-a facilmente antes de tudo acontecer. Esse tempo todo os personagens tinham a forma de rastrear não só Iris, como o próprio antagonista e Caitlin. Porque não traçar um plano, então, para resgatar a moça antes do evento que deveria ser impedido? Principalmente levando em conta a obsessão de Barry em mudar o futuro. O mote do protagonista não era o de alterar os eventos para impedir o terrível destino que estava por vir? E o Time Flash tem membros o bastante (algo que o season finale fez questão de lembrar, sem se importar com a sensação de Deus Ex Machina no ato final) para traçar um plano sem o envolvimento do herói, já que Savitar tem suas memórias.
Tudo isso se torna furo quando o seriado já havia esgotado as possibilidades e trabalhado esses pontos anteriormente, sem tocar nos pontos que, agora, surgem milagrosamente. Como, por exemplo, a "poção mágica" (porque esse é o único nome que o elemento merece) criado por Julian e pela mãe de Caitlin. Se ambos conseguiam fazer isso porque Caitlin ainda é a Nevasca no futuro visitado por Barry? Soluções mirabolantes que surgem do nada são ainda piores quando acontecem em uma história que envolve viagem no tempo. Anotem essa para a próxima temporada, roteiristas.
Aliás, se alguém esperava algo da trama envolvendo Caitlin, a chance de desapontamento é bem grande. Em primeiro lugar, a jornada da personagem foi problemática desde o início. Embora promissora, a ideia da moça se tornando vilã acaba usando de um velho clichê da "mulher desequilibrada" que precisa da ajuda dos homens do elenco. As motivações da personagem sempre iam para o lado do "porque sim", como se sua condição dependesse do fato de ser uma meta-humana. Mal desenvolvido como foi, esse ponto da trama jamais poderia ter um desfecho satisfatório e, realmente, não tem.
Mas, o que surpreende mesmo em Flash é a "coragem" dos realizadores ao estabelecerem o gancho para o próximo ano. Depois do início de episódio que desfaz todo o sentimento envolvido no final do anterior, alguém realmente acredita que Barry ficará para sempre na Força da Aceleração? Como os roteiristas esperam convencer o espectador de que essa é uma situação definitiva? Não esperam. E esse talvez seja o grande problema da série. Já não há mais o elemento surpresa, o fator imprevisível aqui. Ao adotar todos os elementos duramente criticados, presentes nos programas do CW, a adaptação se tornou apenas mais uma. Não mais uma série de super-heróis. Mais uma série do canal, com as mesmas tramas e subtramas das outras. Que não consegue disfarçar nem mesmo que provavelmente começará seu quarto ano da mesma forma que começou este final de temporada: incapaz de reformular o próprio status quo ou de fazer o espectador se importar com o destino dos personagens.
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