Review: The Flash S03E16 - Into the Speed Force

A segunda temporada trouxe em The Runaway Dinosaur não apenas um de seus melhores episódios, mas um dos melhores de toda a série. Altamente conceitual, com o roteiro de Zack Stentz repleto de momentos humanos e marcantes, e dirigido por Kevin Smith com algo que só pode ser definido como muita paixão, não só pela mídia, mas como por todo o universo envolvido, aquele era um exemplo do quão ampla é a mitologia do Flash, e do que é possível fazer em uma série de super-heróis quando os realizadores se empenham em entregar algo a mais do que mero entretenimento. Aí, agora, no terceiro ano do programa, e o pior até aqui, há uma espécie de "sequência" daquele episódio, com Barry novamente se aventurando pela Força de Aceleração, confrontando, pelo caminho, suas decisões mais recentes, representadas aqui por mais alguns personagens mortos em momentos de sacrifício.

Novamente, a série poderia ter um episódio repleto de conceitos. O problema reside no roteiro, que em momento algum tenta acrescentar algo novo na jornada deste herói que parece não aprender nunca com seus erros. Mesmo a série tocando nesse assunto quando, por exemplo, uma das aparições questiona o protagonista sobre ter jogado fora tudo que aprendeu em sua primeira incursão na Força de Aceleração. O problema é que, quando isso acontece na série, soa mais como um total desrespeito ao que já havia sido estabelecido, do que uma atitude pensada para desenvolvimento futuro. E aqui reside um dos maiores, talvez o maior, problemas deste Into the Speed Force. Isso porquê, os diálogos que condenam a atitude do Flash quando este jogou nas costas de Wally uma responsabilidade que deveria ser sua, não soam naturais. É mais como se os roteiristas questionassem as decisões de seus colegas prévios e não soa, em momento algum, que tudo que o espectador viu até agora, fazia parte de um plano para que o personagem chegasse até aqui.

Pior que tudo isso é a contínua impressão de que o desenvolvimento das tramas nesta série se tornou uma falácia. Daqui a quantos episódios Barry irá esquecer completamente as lições aprendidas aqui para cometer os mesmos erros de sempre? A própria conclusão da subtrama envolvendo o noivado do protagonista com Iris é um forte indício de que não adiantou muito receber os conselhos enquanto tentava resgatar Wally. Quando o fã verá uma mudança realmente palpável nas atitudes do Velocista Escarlate, que faça jus ao sacrifício de seus parceiros? No episódio da semana, mais um herói se despede (mesmo com a sensação de que por pouco tempo) para que o Flash cumpra seu destino, e qualquer desvio de personalidade depois da tocante cena com Jay soará totalmente desrespeitosa com o Flash da Era de Ouro.

É repetitivo dizer isso, mas The Flash parece estar num ciclo sem fim de tentativa e erro, não demonstrando nenhuma evidência de que seus realizadores sabem o que estão fazendo. As tramas se desencontram pois são frágeis demais. Qualquer evolução anunciada em um episódio é completamente descartada em questão de semanas, tornando a experiência de acompanhar o programa um verdadeiro martírio para quem espera um mínimo de desenvolvimento de personagens, com consequências permanentes.

Em Into the Speed Force, além de toda a trama principal, o roteiro também dedica um tempo a Jesse Quick, mas de forma bastante problemática. A personagem resolve enfrentar Savitar sozinha, algo que deveria ser mostrado como falta de maturidade, mas, graças ao texto ruim, toda vez que alguém aconselha a garota mudar de ideia ou a repreende por ter feito o que fez, se trata de um homem, o que faz cada diálogo parecer que será seguido da justificativa: "porque você é mulher". Jesse não precisa provar sua competência, como ela bem lembra em um diálogo, ela é a Flash da Terra-2. Enfrentar Savitar sozinha sem um plano é um problema, e não por ser fraca ou por não ter experiência. Esse foi o erro de Wally e, de certa forma, o mesmo cometido por Barry várias vezes.

Com mais da metade da temporada já exibida, ainda falta muito para a série estabelecer o próprio vilão principal. Savitar está longe de ser genuinamente ameaçador como foi Zoom no começo do ano anterior. Com uma motivação bastante genérica, o antagonista soa cada vez mais como um grande engodo, cuja existência serve apenas para os fãs teorizarem quanto a sua verdadeira identidade (artifício utilizado em todas as temporadas, diga-se). Em primeiro lugar, por que Savitar não pode ser simplesmente Savitar? Por que ele precisa ser um personagem cuja identidade está envolta em mistérios? Essa é a única forma que os roteiristas conhecem para chamar atenção do público?

Mesmo não sendo um episódio ruim como os dois anteriores, este Into the Speed Force também não é dos melhores e, principalmente, não faz jus ao excelente momento que tenta emular. Chega a ser triste constatar que o final dessa terceira temporada provavelmente foi comprometido por todo o resto e, dificilmente, algo possa ser feito para salvar o que sobrou. Resta ao espectador apenas acompanhar, esperando que um dia o seriado volte a ser aquela promissora adaptação de um super-herói, que era em seu primeiro ano.

Deixe uma resposta