Lansky - A Mente do Crime : O especial da HBO sobre o perigoso Meyer Lansky

Lansky - A Mente do Crime : O especial da HBO sobre o perigoso Meyer LanskyLansky: A Mente do Crime é uma biografia em formato de telefilme que narra a história do famoso criminoso Meyer Lansky, sujeito que ficou conhecido por fazer parte do panteão de grandes gangsteres da primeira metade de século XX.

Lançado no canal à cabo HBO em 1999, mistura elementos de drama e filme policial. É lembrado especialmente pelo fato de ser protagonizado pelo ator veterano Richard Dreyfuss, que faz a versão adulta do personagem-título.

Dirigido por John McNaughton, o longa pega emprestado clichês de obras clássicas sobre máfia, como Os Bons Companheiros e a trilogia O Poderoso Chefão, ainda que apresente sua história de maneira diferente, mais solta, semelhante as famosas fitas com os dizeres óbvios de "baseado em fatos reais".

Guarda semelhanças também com produções baratas de cinema, que piora seu aspecto ao tentar condensar toda uma jornada de vida em uma narrativa de menos de duas horas e com orçamento diminuto.

A ideia de contar uma história de uma pessoa, de cabo a rabo, não é nova, e como é bem comum nesse tipo de abordagem, falta aprofundamento dramático, especialmente em momentos chave da trama.

Para compensar isso, a produção enfia várias referências a outros exploitations de Máfia italo-americana, além de se aludir bastante a mitologia hebraico-judaica. Em alguns pontos, parece uma imitação de Era Uma Vez na América, o épico que Sergio Leone fez junto a Robert DeNiro e grande elenco, embora fique bem claro que a escala das duas produções é bem diferente.

O roteiro foi escrito por David Mamet e é baseado no livro Meyer Lansky: Mogul of the Mob, lançado em 1979, escrito por Uri Dan, Dennis Eisenberg e Eli Landau. Foi feito pelos estúdios HBO Pictures Presents, junto ao produtor Fred C. Caruso, profissional que foi gerente de produção em O Poderoso Chefão e produtor de Um Tiro na Noite e Vestida Para Matar de Brian De Palma, além de Veludo Azul, de David Lynch. Os produtores executivos são Mamet, Nicholas Paleologos e Frederick Zollo.

O longa-metragem nada mais é do que panorama geral sobre a vida e trabalho de Meyer Lansky, um rapaz de família humilde e pobre de Chicago, que depois de pequenos furtos e roubos, acaba se associando a famosos criminosos.

Ao contrário de seus maiores aliados na criminalidade, ele não tinha origem italiana. Era judeu, morou na terra santa quando criança e reunia em si um ímpeto absurdo, não se permitindo ser ou parecer passivo.

No entanto, sua característica mais marcante sempre foi a perspicácia e a inteligência. Desse modo, acabava sendo alguém com poder e ascendência na cena bandida da América pré-Segunda Guerra Mundial.

Meyer é interpretado na maior parte do filme por Dreyfuss, que era lembrado especialmente por suas parcerias com Steven Spielberg em Tubarão e em Contatos Imediatos de Terceiro Grau. Na década de 1990 ele vinha de trabalhos como Mr. Holland: Adorável Professor, Sombras da Lei e James e o Pêssego Gigante. Logo depois desse Lansky ele seguiu em alguns papéis pequenos, entre eles, o de narrador de Mafiosos em Apuros.

Lansky - A Mente do Crime : O especial da HBO sobre o perigoso Meyer Lansky

Além de Dreyfuss outros atores fizeram Lansky, entre eles Joshua Praw, que faz ele com 8 anos, Ryan Merriman da série Taken e dos filmes de terror O Chamado 2 e Premonição 3 que fez o homem adolescente, além de Max Perlich, de Risco Total e Maverick faz o personagem quando jovem adulto.

John McNaughton era experiente, havia feito Retrato de Um Assassino, Ameaça do Espaço, Nas Teias da Traição. Seus filmes normalmente eram obras elogiadas e ousadas, como o noir colorido e sensual Garotas Selvagens.

Mamet também tinha boa experiência em obras de cinema, participou da escrita de roteiro do elogiado Mera Coincidência de Barry Levinson, do tenso Ronin de John Frankenheimer e de Hannibal, a sequência de Silêncio dos Inocentes que estrelava Julianne Moore e Anthony Hopkins, que contava com direção de Ridley Scott.

Lansky: O Retro do Crime foi filmado em Los Angeles, com locações em lugares famosos, como Ambassador Hotel na Wilshire Boulevard. O filme se chama originalmente Lansky e tem variações leves, como Lansky: El cerebro del crimen na Argentina, Le manipulateur na França, Meyer Lansky - Amerikanisches Roulette na Alemanha, Lansky - Un cervello al servizio della mafia na Itália e Lansky: el hombre que organizó el crimen no México.

A história não começa na América, onde é o palco mais frequente da vida de Lansky e sim em Israel, onde o protagonista, já idoso, visita um cemitério hebraico.

Ele está pela primeira vez em sua terra natal, distante tanto tempo de suas origens que nem considera seus dias de infância como tempo vivido, uma vez que quando saiu de Israel, era muito criança.

Esse trecho mostra dois senhores conversando, o próprio Meyer, que utiliza uma pesada e boa maquiagem de idoso que inclusive quase esconde as feições de Dreyfuss, junto a um rabino, interpretado por Yosef Carmon.

Eles conversam em inglês, já que o personagem-título esqueceu as palavras de sua língua mãe, conversam sobre preparativos funerários, já que ele quer repousar seu corpo naquele lugar.

Claramente ele prepara sua partida, ensaia um epitáfio o mais poético possível, deixando claro que seus dias estão contados, ao menos os dias livres.

Lansky - A Mente do Crime : O especial da HBO sobre o perigoso Meyer Lansky

Esse trecho parece forçado, um pretexto para mostrar a infância do personagem, mas é bem cabível e até bonito. Enquanto ele era um menininho ele fugiu com seus pais e irmão, abandonando seu avô. Ao falar desse abandono, há pesar na fala do personagem central.

Esse filme faria muitas viagens no tempo e a maioria delas parecem forçadas, não são tão fluídas quanto essas do início.

Para piorar, boa parte desses trechos ainda carregam péssimas atuações. Joshua Praw é um ator ok, não compromete, mesmo que ele tenha parado de fazer filmes após esse. No entanto, seus companheiros de elenco são bem fracos.

Já na América, Meyer acaba se envolvendo com bandidinhos maltrapilhos, gente que cresceria no panteão da criminalidade, mas que até aquele momento, era peixe pequeno, como Lucky Luciano, ou Charles Luciano, cujo nome de batismo era Salvatore Lucania - mafiosos normalmente tem muitos nomes.

O que fica claro é que os meninos judeus têm rixas com os irlandeses, que tratam deles de maneira preconceituosa, beirando o racismo. Acusam eles e o seu povo até de ter matado Cristo, destilando um preconceito baseado na religião católica.

No entanto o que chama a atenção de fato é que Lansky é decidido e impetuoso desde sempre, tanto que até bate de frente com Luciano, afirmando que que só vai pagar tributo a ele se Salvatore enviar jogadores. Não vai trabalhar de graça. Luciano se impressiona com o gênio do garoto.

Como jovem adulto, Lansky é mostrado já como alguém esperto, ótimo com números, que lida com gente poderosa e rica, mas que não abaixa a cabeça para ninguém.

Merriman tem uma atuação mais assertiva e pontual. Tanto ele quanto Perlich atuam bem, se parecem de fato com versões mais novas de Dreyfuss, a despeito do fato de nenhum deles terem semelhanças físicas evidentes.

A reconstituição visual não é ruim, especialmente se considerar que esse é um telefilme. O problema maior são as atuações, quase todas sofríveis, exceção aos interpretes dos protagonistas. Ainda assim há boas cenas de ação, os tiroteios são emocionantes e as mortes são cuidadosamente trabalhadas.

As mortes ocasionadas pelo bando de criminosos são sangrentas, muito agressivas. Não se economiza no gore.

Entre os atores que orbitam o astro rei da vez, um se destaca positivamente. Eric Roberts faz Bugsy Siegel, um gangster famoso e carismático, conhecido por sua associação com a Família Genovese.

Ele está exagerado, gritado e canastrão. É absolutamente divertido

Lansky - A Mente do Crime : O especial da HBO sobre o perigoso Meyer Lansky

Seu nome de batismo era Benjamin Siegel, ele era nascido no Brooklyn, em Nova York e era um membro influente do crime organizado ligado aos descendentes dos judeus na América. Ele fez parte da Máfia ítalo-americana e do Sindicato Nacional do Crime Judaico-Italiano.

Era um sujeito considerado e querido por seus companheiros de trabalho, acabou se tornando uma celebridade, louvado pelos jornais na época. Há quem diga que Moe Greene, personagem de Alex Rocco em O Poderoso Chefão, foi baseado nele.

Bugsy fundou com Lansky a Murder, Incorporated, em meados da década de 1920. Os personagens têm os destinos unidos desde cedo na trama, além de ter proximidade também com Lucky Luciano, mas isso não é aprofundado aqui, embora fique no ar um clima solene, já que sabe que as investigações policiais apontam Salvatore Lucania como o mandante do assassinato de Bugsy.

As estruturas das organizações criminosas não são mostradas em detalhes, ao contrário, se arranha a superfície dessas contravenções. Não fica claro se a ideia era deixar dúbia, a questão de ele ser ou não um criminoso, aparentemente, sim, embora não haja qualquer sutileza no tratamento desse trecho.

A maior parte da história mostra o personagem já idoso, cheio de problemas com a justiça, respondendo a processos e tendo seus direitos de liberdade caçados. Retorna então para o ponto um do longa, para a tal despedida preparada, resultando assim em uma sinalização de adeus, dado por um fora da lei que já aprontou muito e está em vias de se aposentar.

Ainda que esse movimento seja tardio e motivado por forças externas, ele parece não aguentar mais a vida bandida, a rotina de estar sempre em perigo. Entre a parte em que Lansky está idoso e adulto há em comum a perseguição das autoridades, que colam no personagem-título há muito tempo.

O maior problema do filme é o seu ritmo. Falta urgência e dinamismo, fato que é curioso, já que os fatos históricos mostrados são agitados, pesados e violentos, mas não consegue fazer nada parecer urgente.

Nos 20 minutos finais há um bom trecho. No intervalo do julgamento, em uma pausa graças a um problema de saúde de Lansky, ele se imagina mais novo, cercado pelas pessoas que fizeram parte de sua jornada. Isso ocorre pouco antes de revelar que ele está em uma mesa de cirurgia.

A trama vai até 1978, em Miami Beach. Meyer está em um café, conversando com um jovem, que parece ser um escritor, um biógrafo. Esse trecho é um bom resumo do que é o filme, uma tentativa de emular a biografia de Lansky, mas sem qualquer brilhantismo. Na maior parte da trama, parece um resumão, com alguns acertos e muitos erros.

Lansky: A Mente do Crime está longe de ser uma obra livre de defeitos. Acaba mostrando a trajetória de um homem que fez parte do panteão real dos esquemas da máfia nos Estados Unidos, que esteve junto a Cosa Nostra e que foi observado pelo FBI. Seu problema maior é a trama, que carece de urgência, mas isso é salvo em partes graças ao desempenho dramático de Dreyfuss e suas contrapartes mais moças. Mesmo com tantas irregularidades, há poesia e reflexão na fita, mais do que normalmente se tinha em seus pares.

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