Sede de Vingança : A aventura de Brandon Lee em Hong Kong

Sede de Vingança é um filme de ação de Hong Kong, lançado em 1986. Dirigido pelo icônico Ronny Yu, é conhecido por ter sido o primeiro longa protagonizado por Brandon Lee.

Originalmente chamado Long zai jiang hu, também é chamado de Lung zoi gong woo em sua região de origem. Por boa parte do mundo, é chamado de Legacy of Rage, sobretudo nas nações que cujo idioma predominante é em inglês. Também pode ser encontrado como Dragon Blood, Born Hero e por pequenas variações desse nome. Depois que Brandon Lee morreu, foi rebatizado em algumas praças, como Brandon Lee: La leyenda continúa.

O longa foi escrito por uma dupla, sendo ela formada por Clifton Ko, que anos se tornou diretor, produtor e roteirista de dezenas de obras em Hong Kong, mais conhecido por ter escrito Rajadas de Fogo, de John Woo, além de Raymond Fung, profissional conhecido por fazer funções como co-produtor no longa Golpe Fulminante e como ator em Máscara Negra, onde contracenou com Jet Li.

Os estúdios por trás do longa-metragem foram o D & B Films Co. Ltd. e Daiei Eiga. O filme foi produzido por Linda Kuk de Rajadas de Fogo e Fervura Máxima - que também é de John Woo - e John Sham de Duplo Impacto, com Jean-Claude Van Damme e Chefão Por Acaso, dirigido e estrelado por Jackie Chan.

Essa obra é marcada não só por ter trazido Brandon Lee para o centro do picadeiro do cinema de ação, mas também por ser a única participação dele no cinema de Hong Kong, que foi o palco da maioria das produções que seu pai protagonizou.

Ronny Yu era um diretor já experiente em 1986, já que havia dirigido meia dúzia de obras, desde 1976 ele trabalhava no cinema, ou como produtor ou escritor, além de dirigir longas desde Cheung nui cheung ngoi de 79. Esse acabou sendo o filme que ajudou a tornar ele reconhecido fora de seu país.

Anos depois ele ainda faria Confronto Mortal, em 1989 e Entre o Amor e a Glória no ano de 93. Em Hollywood fez A Noiva de Chucky, Freddy x Jason e Fórmula 51, depois retornaria a China, para fazer O Mestre das Armas, com Jet Li.

A abordagem começa com uma tomada aérea, que passeia pela paisagem urbana, por uma selva de pedra, destacando os prédios de Hong Kong servindo de base para a gênese desse conto sobre violência e ressentimento.

Yu não demora a mostrar uma morte, mostrando um menino sendo assassinado aos cinco minutos, provavelmente graças a natureza de seu trabalho, já que ele parece um aviãozinho, um entregador de drogas.

O personagem de Lee se chama Brandon Ma e aparece trabalhando na construção civil, guiando uma máquina grande, estilo trator. Essa aliás é somente uma das funções que ele exerce no filme, já que aparece em pelos menos outras duas profissões, como frentista e garçom.

Lee estava no auge da forma, até faz questão de provar isso, já que socorre uma menina que foi deixada para trás por sua mãe, quando tentava embarcar em um ônibus.

Ele corre com ela até a próxima parada, em um pique só, em uma sequência que parece ter inspiração na perseguição a um ônibus que Jackie Chan fez em Police Story.

O roteiro é bem simples, colocando o personagem central para ser um herói, com conflitos emocionantes, tendo um interesse amoroso - no caso, May, de Regina Kent - além de exibir ele como um jovem pobre, que se esforça para ganhar a vida, ao contrário de seu amigo abastado, Michael, interpretado por Michael Wong.

A narrativa é basicamente um amontoado de desculpas arrumadas para colocar Ma brigando, entrando em confusões que em alguns pontos, resulta em conflito armado.

A primeira sequência de porradaria ocorre na boate, onde Brandon faz bico de garçom, onde ele é provocado pelo vilão "Thug", de Bolo Yeung.

Os dois vão para o lado de fora do estabelecimento, lembrando assim uma sequência de confronto, presente no O Voo do Dragão que Bruce Lee fez. Yeung trabalhou anteriormente com Bruce, no filme mais famoso do artista marcial, o estadunidense Operação Dragão de 1973.

Os momentos mais icônicos do filme ocorrem sem grandes introduções ou algo que o valha. Bandidos invadem a praia, entram na areia com carro e tudo. A princípio, se pensava que eles estavam atrás de Brandon, mas na verdade é graças a uma atitude do seu amigo, Michael, a mando do misterioso chefão do crime Kau.

Brandon acaba preso, após uma armação feita por seu amigo. O motivo pelo qual é levado é tão mal explicado que parece irreal, como se fosse um devaneio. Toda a sequência na cadeia é meio assim, com muitos trechos que mais parecem esquetes de humor.

Até a alvorada é dada de maneira violenta, com o herói sofrendo agressões para acordar. Os detentos até interrompem um jogo de basquete só para ameaçar o novato. É tudo bem confuso, especialmente pelo fato de que boa parte dos presos é ocidental.

O texto segue confuso, os agentes penitenciários mandam Ma ficar de quatro, um deles deixa ele sair sem nenhum tipo de bronca ou penitência, após uma tentativa de fuga, até inventa um álibi para ele, alegando que o detento tinha apendicite. Por que ele fez isso é um mistério que o filme não se preocupa em desenrolar.

Quando o protagonista enfim sai da prisão, vai trabalhar de frentista, em um posto Shell e lá acaba encontrando Michael. Não demora até que May o encontre também e já na primeira frase que ela fala há uma referência a uma viagem, já que ela veio do Brasil, só para vê-lo.

É estranho como o roteiro é expositivo ao ponto de explicitar tais mudanças, mas não prepara minimamente essas questões, nem mesmo a questão da criança que carrega, que desde o primeiro momento, fica claro quem é o pai. Só Brandon não nota, parece faltar capacidade de interpretação mínima para ele.

As sequências de luta corpo a corpo contêm elementos de Jeet Kune Do, o estilo criado por Bruce Lee, bem como sequências tradicionais no estilo kung-Fu, semelhantes aos filmes contemporâneos de Jackie Chan e Jet Li.

Yu pretendia que seu filme fosse mais pautado em lutas, mas Lee não desejava realizar muitos momentos assim. Diante disso, o diretor mudou drasticamente a direção da narrativa, decidindo então parodiar as obras do estilo Heroic Bloodshed, vistas nas obras de John Woo, como em Alvo Duplo, também de 1986, que era bem popular na época das filmagens

Havia uma ideia, da parte de Brandon Lee em evitar cenas de lutas, sendo isso bastante reduzido, a revelia até da vontade do diretor. Isso é uma besteira tremenda, já que a partir do momento que Brandon entra em cena é impossível não lembrar de seu pai, até pela semelhança física.

As comparações só o favoreciam, entre outros fatos, pela questão de ele levar jeito, por ser carismático e mais talentoso dramaticamente, como foi visto em Massacre no Bairro Japonês e demais obras em que foi um herói de ação.

As melhores cenas são as de fuga, em que ele o elenco interage com elementos do cenário. O cúmulo é quando Brandon Ma se vale de mecanismos de um galinheiro, para ter uma alternativa de fuga.

Nesse ponto, Sede de Vingança lembra outro ícone do exploitation de Kung Fu, no caso, Jackie Chan, que usava tudo que tinha ao alcance das mãos para machucar seus oponentes.

No final há uma boa cena de perseguição de carros. Ronny Yu prova que é um bom diretor de ação, consegue variar bem entre planos com maestria. A trilha de Richard Yuen (Entre O Amor e a Glória e Era Uma Vez na China 2) ajuda a pontuar isso também, acrescenta tensão e dá um tempero de música pop ao trabalho.

A sequência em que o protagonista e o seu amigo Hoi (Hoi Mang) dando tiros de TMP é meio galhofa, parece uma versão mais bem humorada da ação vista no Scarface de Brian De Palma, que aliás, tem várias sequências homenageadas aqui.

Brandon lança mão de seus golpes furiosos, depois que perde seu amigo, no acerto de contas que faz com seu antigo parceiro, naturalmente rumaria para as vias de fato.

Os minutos finais transformam a obra em um filme de vingança muito rapidamente. A mudança brusca parece gratuita, mas finalmente justifica o nome ocidental do filme, já que até então, parecia mais uma obra despropositada, que arruma um motivo próximo de acabar.

Sede de Vingança é uma boa estreia para Brandon Lee, mas dada a participação dele no futuro e a filmografia que Yu teria anos depois, a expectativa fica aquém. Ambos amadureceriam e fariam obras melhor pensadas que essa, mas ainda assim o longa entretém e acerta em sua simplicidade.