Review: Gotham S01E02 - Selina Kyle

gotham02aGotham City não é a cidade mais perigosa da DC. No universo das HQs esse título cabe a Hub City, a área de atuação do misterioso Questão. Mas na TV, Gotham é aquele lugar onde você jamais iria querer morar. A não ser é claro que tenha inclinações para o crime ou dê pouco valor a própria vida.

Este segundo episódio da série cuja premissa é mostrar a origem dos bizarros vilões do universo do Batman começa muito bem com uma trama envolvendo crianças de rua sendo sequestradas. A ideia é desenvolvida com competência pelo roteiro de Bruno Heller, a ponto de soar mais como um conto de precaução, uma versão exagerada de um problema plausível de grandes metrópoles: o descaso de autoridades com a população sem-teto. Há um breve, mas interessante, momento no início em que uma das crianças é perseguida e passa por um restaurante. Ninguém nota o que está acontecendo na rua, até o garoto ser jogado pela vitrine, caindo em cima da bem arrumada mesa onde um casal faz sua refeição. É a representação visual de uma das grandes lástimas da desigualdade social: ninguém nota quem vive à margem, até que este se torne um “estorvo”.

Heller, em seu texto, também explora medidas totalmente absurdas vindas da prefeitura, que para evitar mais sequestros, “prende” a população infantil, levando a uma bela discussão entre Jim Gordon e o prefeito (Richard Kind). Explorar esses temas em uma obra ficcional baseada em uma das mais famosas histórias em quadrinhos de todos os tempos já demonstra o nível de pretensão de Gotham, muito maior que de Arrow, por exemplo, que apenas arranha a superfície de temas sociais. A série da Fox escancara, coloca o dedo na ferida causada pela corrupção e pelo desprezo, exagerando tudo, mas sem deixar de ser relevante.

O problema do episódio, no entanto, é como o roteiro ignora seus vilões, lembrando justamente uma falha recorrente da série do Arqueiro, que quando resolve se dedicar apenas ao “criminoso da semana” não consegue justificar totalmente sua presença, mostrando-o não mais do que um mero adereço, uma desculpa para um conflito perto do desfecho. É um desperdício de talento ter Lily Taylor como antagonista (depois revelada apenas como capanga de um vilão maior nunca mostrado), toda caricata, mas sem despertar a menor empatia com o espectador. Pior ainda é o título do episódio ser “Selina Kyle”, mas dedicar à jovem Mulher-Gato apenas 5 minutos de diálogos e uma cena um tanto absurda (e descaracterizada) envolvendo os olhos de um dos bandidos. Ao menos o gancho para a próxima semana promete dar uma função maior à garota na história.

Assim como no piloto, este segundo capítulo também faz questão de mostrar quantas tramas paralelas ocorrem neste universo obscuro e violento. A cena na boate de Fish Mooney, com Falcone (John Doman) tentando impor seu poder é, ao mesmo tempo tensa e caricata, mas no bom sentido, já que Gotham faz questão de estilizar tudo, mostrando que promete ser um deleite para os espectadores mais ligados em atrativos visuais. Sim, a cidade é terrivelmente linda, mesmo com toda sujeira, corrupção e sangue em suas ruas. Outro bom momento é a primeira aparição da mãe do Pinguim, Gertrude Kapelput (Carol Kane, sob pesada maquiagem nitidamente inspirada em Tim Burton), personagem que promete cenas tão macabras quanto as que envolvem seu filho, que começa a preparar seu retorno à cidade, gerando aquela pergunta que os produtores esperam do espectador: o que vai acontecer com Gordon quando Falcone e Mooney descobrirem que Cobblepot está vivo?

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Por estar apenas começando, Gotham está longe de ser algo fora do convencional: sua estrutura que une o “caso da semana” a uma trama seriada não é novidade, mas mostra novamente seu potencial para contar boas histórias focadas em personagens. Mesmo com falhas, como a interação entre o jovem Bruce e Gordon, um pouco forçada nesta segunda investida (por outro lado, gera uma divertida referência a uma característica do futuro Batman), a série está se saindo bem neste início. Por enquanto, o maior atrativo é poder visitar semanalmente um mundo tão perigoso quanto o real, que faça o público se perguntar qual parcela de sua personalidade é reflexo da cidade, do meio, onde vive. É um tanto pretensioso para algo que inicialmente poderia ser apenas mais uma adaptação de HQs? Sim, mas qual o problema em pensar um pouco além?

Alexandre Luiz

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1 comment

  1. Avatar
    carla machado 1 outubro, 2014 at 12:08 Responder

    Perfeito quando diz " problema do episódio, no entanto, é como o roteiro ignora seus vilões" .
    É isso que espero de Gotham. Estes casos da semana sem os vilões reais da cidade podem atrapalhar .
    O Alfred está estranho…

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