Ano Novo, Morte Nova é um filme lançado em 2018 que explora a data festiva da virada do ano como motivo para o seu horror. Com direção de Christopher Ray, é uma produção de baixo orçamento meio desconhecida e quando é lembrada, sempre se cita seu conjunto de má atuações, efeitos ruins e personagens fracos. É uma exploração baseada no gênero Filme de Matança/Slasher Movies, com uma violência gráfica considerável além de explorar bastante a nudez desnecessária.
A história se passa em uma cidadezinha, na véspera de ano novo, onde sete amigos e um mochileiro se unem, para sobreviver à crueldade de três assassinos mascarados e para lutar com eles. Os malfeitores acabam chacinando as pessoas que andam ao ar livre na cidade de interior onde a trama se passa e também tentam invadir o domicílio onde o grupo pretende passar a virada, ou seja, se apela também para o estilo conhecido atualmente como Home Invasion ou Invasão Domiciliar.
A ideia inicial é colocar um grupo de jovens que são perseguidos e assassinados de formas estranhas e violentas por assassinos interiorano, possivelmente deformados, ou seja, essa é a mesma fórmula de algumas outras obras exploitation, que envolvem até horror atômico, como é o caso de Viagem Maldita, ou outras que mostram caipiras como selvagens, a exemplo do clássico O Massacre da Serra Elétrica de Tobe Hooper.
No entanto, as semelhanças maiores são com obras tais quais Pânico na Floresta e o remake, O Massacre da Serra Elétrica de Marcus Nispel, especialmente pela sensação de mal inescapável que Ano Novo, Morte Nova tenta passar, além de apelar para uma violência gráfica e irrealista, típica dos remakes sombrios, iniciados pelo filme de Nispel.
Junto a essa fórmula, há alguns outros temperos, como o ingresso de lutadores de WWE vivendo personagens importantes e que precisam de dramaticidade - spoiler: esse objetivo não é alcançado - além de um trabalho de imagem porco, com pouco ou nenhum cuidado por parte dos profissionais que registram o horror.
Também é lembrado por ter seu elenco capitaneado por dois atores famosos, , o ex-protagonista de Anjos da Lei, Richard Grieco, que nos últimos anos só tem feito bombas, além do "astro noventista" William Baldwin, que fez Cortina de Fogo, Invasão de Privacidade e Atração Perigosa na década de 1990, mas que está em fase decadente já tem alguns anos.
O filme se chama Minutes to Midnight no original e teve quase nenhuma variação de nomenclatura ao redor do mundo. Foi rodado na Califórnia, com cenas nos Remmet Studios em Remmet Ave, Canoga Park. Também filmou em Sable Ranch em Santa Clarita, Califórnia, especialmente as cenas nas cabanas e na floresta.
Christopher Ray é um cineasta acostumado a fazer as imitações de filmes famosos, conhecidos como mockbusters. É dele a direção de O Poderoso Thor e Megaconda. Atualmente é mais lembrado pelos filmes trashs O Ataque do Tubarão de Três Cabeças e Circus Kane: O Circo dos Horrores.
O roteiro é bem simples, até por conta a história se resumir em torno de jovens adultos sendo atacados por pessoas monstruosas, que possivelmente são canibais. Foi escrito por Victoria Dadi, contumaz parceira do diretor, em A House is Not a Home e Circus Kane, além de Christopher M. Don de Acampamento Selvagem.
Foi produzido por Don, Ray, Colleen Sinor - mais conhecida por ser atriz em obras como Trepanation - e também por Paul Sinor que trabalhou em funções de administração em Invasores, Eu Sou a Lenda e Transformers, além de Gerald Webb que foi diretor de elenco de Sharknado. Tem produção executiva de Richard Grieco, Gene M. Valentino e Maureen B. Valentino.
A obra foi bancada pelos estúdios DeInstitutionalized, ForeverMaur Films e Possum on the Half Shell Productions, sendo distribuída pela Encripta no Brasil, apenas em vídeo. No resto do mundo, foi lançado pela Sony Pictures Entertainment e pela e Uncork'd Entertainment.
Apesar de criticado, o filme ganhou menções e prêmios em festivais, tendo recebido um prêmio no People's Telly Silver.
Para além das reclamações em relação ao material de divulgação do filme - que claramente mente em relação ao visual dos antagonistas, já que o trio de vilões do pôster nem parece os que estão na trama - é fato que o longa-metragem tem problemas maiores, consideravelmente, especialmente em abordagem e atuação, sem falar que os pôsteres alternativos com fotos reais do elenco conseguem ser ainda piores no quesito estética.
A história é expositiva já no começo, com diálogos terríveis, ditos de maneira tola, sem peso, por interpretes fracos na maioria das vezes. Os jovens personagens são gente comum, jovens adultos que estão cansados após todo um ano trabalhando, querem simplesmente festejar, já que o dia é véspera de ano novo, mas ainda estão no serviço.
O início varia entre uma cena na floresta, com o casal Emily (Viva Bianca) e Charlie (Kaiwi Lyman) fazendo um piquenique, para logo depois ir até o escritório citado. Em ambos os trechos se nota um trabalho aquém da fotografia de Laura Beth Love. Tudo é muito claro, com luz estourada, a câmera treme demais, toda a composição imagética é de péssimo gosto.
Aparece então um homem forte, lidando com pedaços de corpos, ossos, serras etc. Esse trecho lembra o início de Leatherface: O Massacre da Serra Elétrica 3, que por sua vez, imitava o ato de Freddy Krueger monta o seu visual em A Hora do Pesadelo, ou seja, é tão derivativa que imita um filme que já imita outro.
Pelo que parece, esse é Angus, o brutamontes da família psicopata, que se prepara para atacar as pessoas, sendo ele uma clara mistura entre Leatherface, Jason e qualquer personagem misantropo e brucutu da filmografia de Rob Zombie.
Ele é interpretado pelo lutador de wrestling Aaron Aguilera. É alto, grande, assustador, usa uma máscara bem ok e segura objetos parecidos que parecem ser feitos com ossos.
Os três vilões mascarados que aparecem nos materiais de marketing são uma família. Entre eles há o já citado Angus, sua irmã Calypso de Mercy Malick e Gimple, de Bill Moseley.
A ligação entre eles não fica clara, é dado que eles fazem parte da mesma família, mas como a pessoa que os descreve assim parece insana, não fica exatamente claro se eles têm parentesco de sangue ou se apenas se juntaram. Essa resposta é dada perto do final, ainda que seja assim de maneira parcial.
Fato é que eles protagonizam cenas bem agressivas, embora a primeira e mais sangrenta dela ocorra em uma manobra covarde, no meio de uma festa com música eletrônica, que era filmada de maneira comum e que começa a piscar as luzes do ambiente no momento que as mortes começam.
Na parte da trama mais "comum" o sr. Walters (Baldwin) se despede dos seus funcionários. Ele percebe que eles vão festejar, mas é simpático e bonachão o suficiente para dar de ombros e permitir que eles passem o resto do expediente sem supervisão do chefe.
Walters tenta utilizar uma capa de bom patrão, de chefe bonzinho, o que é discutível em essência, afinal, se ele fosse alguém bom de verdade, liberaria os funcionários para ficar em casa, com seus familiares ou com os amigos de verdade, não obrigaria ninguém em bater ponto.
No entanto, esse grupo não parece ter muito o que fazer, já que claramente eles só conhecem as pessoas do escritório e dessa cidade. Nenhum deles sequer cita algum parente distante ou amigo, cônjuge ou algo que o valha. Com os elementos apresentados é perfeitamente comum que se pense que eles só têm contato com gente dessa cidade.
Eles são liderados por Sophia (Sarah Fletcher), que é uma espécie de queridinha do chefe. Junto a ela estão a bela Vanessa (Heather Paige Cohn), a atirada e novava Tifani (Jena Sims), o personagem que deveria ser o protótipo de atleta Kyle (Phillip Andre Botello), o engraçadinho Richie (Jared Cohn) e a recatada Heather de Macey Cruthird. Eles são personagens bem esquisitos, pois tem comportamento de jovens em idade escolar, especialmente Kyle, que parece um zagueiro de futebol americano, frustrado por não estar jogando.
No entanto, todos eles são pessoas próximas de meia idade, aparentam já ter alguma experiência, mas tem uma maturidade reduzida. A impressão que o texto base foi programado para ser com gente do ensino médio, mas mudaram os papéis pouco antes de filmar e não trocaram falas, motivações etc.
Eles só sabem beber e transar ao longo do período pré-virada, o que não é exatamente um problema, mas denuncia que a ideia era localizar eles em idades diferentes. Depois que o grupo vai até o campo, aparecem dois novos integrantes no elenco. O primeiro é conhecido deles, no caso, o ex-namorado de Sophia, Michael, de Bryce Draper. Como o clichê de sujeito retornando é sempre presente, ele vira um suspeito.
O outro sujeito estranho é Travis, interpretado pelo lutador John Hennigan, rapaz forte, que tenta passar despercebido, com roupas comuns, mas que denunciam que ele é todo rasgado de malhar e treinar.
Ele é irmão de Charlie e procura o irmão desaparecido, mas é maltratado pelo Ranger Taso (Christopher Judge), de maneira gratuita, xingado de vagabundo e hippie, quase como ocorreu com o personagem central de Rambo: Programado Para Matar. É o xerife Wyatt, de Grieco quem segura o ímpeto do seu subalterno, pedindo para que ele não agisse com agressividade com o visitante.
Dessa forma, o filme estabelece um novato na cidade, um policial estressado que pode ser um homem da lei pirado e um homem que tenta parecer virtuoso demais, portanto, bem suspeito também, fora claro o filho pródigo, que volta a sua terra natal.
Todos são suspeitos, mas esses prováveis culpados são personagens são caricatos e apesar de serem bidimensionais, tem atitudes ilógicas, intempestivas e inesperadas, um deles até quebra o celular novo do amigo, do nada, quase sem receber bronca.
Durante a véspera do Ano Novo ocorre um alerta de tempestades e o xerife vai até a cabanada educadamente pedir aos jovens que evacuem a área. Ele tenta apavorar os jovens, faz ameaças moralistas, dizendo que o caminho para inferno é cheio de boas intenções.
Paralelamente a isso uma mulher é colocada em um cativeiro, onde aparece um homem todo sujo de vermelho, com cabelos desgrenhados e longos, com corpo magro. Ele é Gimple, o personagem de Moseley, que utiliza um visual tão comum ao ator que é possível ver ele assim em uns cinco filmes diferentes.
Sua aparência grotesca serve de despiste, já que nesse trecho, ele não faz nada de errado, somente pinta um quadro de vermelho.
As tramas amorosas são insuportáveis, envolvem jogos de sedução entre os jovens, algumas cenas de nudez gratuitas - algumas até consecutivas, com direito a longa cena de sexo e momentos de banho - e até um reatar de namoro entre os chatos Michael e Sophia.
É tudo bem desinteressante e pouco provocativo, mesmo as cenas picantes. Os temas sérios são tratados de qualquer modo, são preenchimentos ruins, para as cenas de violência, que ao menos, são bem-feitas, com uma maquiagem de efeito prático boa.
Os vilões são um grupo cujo número de integrantes não fica claro de início. Eles se revelam aos poucos e são misteriosos. Isso é bom, por um lado, já que estabelece um mistério, por outro, reduz consideravelmente o melhor aspecto do longa, que são os três assassinos.
A partir daqui falaremos da virada. Haverá spoilers.
Para surpresa de ninguém, o chefe da família é a pessoa mais famosa do elenco: William Baldwin.
O senhor Walters é parente dos monstros, o pai deles. Sua motivação é confusa.
Aparentemente, seus filhos nasceram com graves problemas de saúde, alguns físicos, caso de Angus e Calypso, que são deformados - ao menos é o que se sugere, já que Calypso não retira a máscara - outros psicológicos.
Na verdade, todos eles parecem dignos de ser internados em uma instituição psiquiátrica, incluindo o pai, que parece ser um adulto funcional, cujo verniz social inclui o fato de ser um patrão e empresário na cidade.
Seu monologo no final é confuso e estranho, com Walters afirmando que seus filhos eram maltratados na infância, graças a aparência. Também é dito que eles perderam a mãe, poucos anos antes, mas não fica claro como isso ocorreu.
O que também fica confuso é como Walters planeja trazer vítimas para o seu ritual de ano novo. Aparentemente ele empregava jovens para matar eles depois, nesse pacto bizarro, que envolve também a memória de sua esposa morta.
Não fica claro como Emily e Charlie se encaixam nessa lógica, mas fato é que Emily aparece viva, assim como sobram também Tifanni e Sophia. Walters manda essa última beber uma garrafa de uísque, se não vai matar uma delas.
Os momentos finais são bastante óbvios, com invasão de personagens que eram dados como mortos e uma boa briga entre Angus e Travis. O cabeludo bombado vai na direção dos bandidos, com uma espingarda gigante - se considerar que ele é grande, é de assustar que a arma seja tão grande - no entanto, o filme de maneira anticlimática, sem tensão, resultando em algo meio bobo.
Ano Novo, Morte Nova tem seus momentos de violência gráfica e exploitation bizarro, mas é carente de uma narrativa bem pensada e de dinamismo, falta entrega dramatúrgica e lógica. As mortes são todas óbvias e tanto Baldwin quanto Grieco parecem ter vergonha de atuar aqui. Surpreende como convenceram tais atores a participar e até de produzir o longa, mesmo que ambos estejam em baixa. Vale assistir pela curiosidade de ver uma obra que se passa no feriado de início de ano e também por algumas cenas de violência.