Um Drink No Inferno 2: Texas Sangrento é um filme de vampiros, que mistura elementos de horror, aventura e ação. Dirigido por Scott Spiegel, foi lançado em 1999 e dá sequência a franquia pensada pelo grupo de maquiadores e magos dos efeitos especiais Howard Berger, Greg Nicotero e Robert Kurtzman, mas com um orçamento menos que o primeiro Um Drink no Inferno, até por conta de ter sido lançado direto para o mercado de home video.
É um produto do estúdio Dimension Films, em sua divisão Dimension Home Video, junto a Band Apart, Los Hooligans, distribuído pela Buena Vista Home Entertainment.
Depois que Um Drink no Inferno, os realizadores decidiram seguir a saga, mesmo que ela tenha sido um fracasso de bilheteria. Como ele foi redescoberto na época das locadoras. Robert Rodríguez (que foi o diretor) e Quentin Tarantino (roteirista da obra de 1995) tiveram cada um uma ideia distinta para sequência, decidiram então filmar ambas.
A ideia de Tarantino era fazer um filme de assalto com vampiros, enquanto Rodriguez quis contar uma história de origem dos sugadores de sangue do Titty Twister. A primeira ideia citada foi a base para esse.
Dirigido por Scott Spiegel, o longa se chama From Dusk Till Dawn 2 Texas Blood Money no original. Possui roteiro de Spiegel e do ator Duane Whitaker, que interpretou Maynard em Pulp Fiction de Tarantino e que tem um papel nesse.
O argumento foi de de Spiegel e Boaz Yakin, produzido por Michael S. Murphey, Gianni Nunnari e Meir Teper, com produção executiva de Tarantino, Rodriguez e Lawrence Bender.
A escolha da direção por Spiegel tem a ver com os trabalhos que ele fez com Sam Raimi. Ele ajudou a produzir alguns dos filmes do realizador de Evil Dead, tanto que fez ponta em vários filmes dele, incluindo Homem-Aranha.
No entanto o diretor é mais conhecido por ter feito o horror slasher baseado em um supermercado (sim...) chamado Violência e Terror, uma obra trash que reúne a turma de Raimi, que inclusive, atua nesse. Alguns anos depois Spiegel conduziu adaptações famosas e sequencias, entre elas o exploitation de espionagem Meu Nome é Modesty Blaise e o extremo O Albergue 3.
O longa se chama From Dusk Till Dawn 2: Texas Blood Money no original. Em países de língua espanhola se chama Del crepúsculo al amanecer 2: Terror en Texas (na Argentina por exemplo) e Abierto hasta el amanecer 2: Texas Blood Money (Espanha), na França é Une nuit en enfer 2 : Le prix du sang na França, já na Itália é Dal tramonto all'alba 2 - Texas sangue e denaro
Aberto. Em Portugal, se chama Até de Madrugada 2.
Apesar de ser uma produção estadunidense, a obra foi rodada na África do Sul, filmada entre janeiro e março de 1998, com lançamento em março de 1999 em seu país natal.
Essa parte dois começa com uma cena que funciona quase como um epílogo. Mostra uma conversa entre dois personagens, interpretados pelo icônico Bruce Campbell e pela bela Tiffani Thiessen, mais conhecida por ter sido uma das protagonistas de Fastlane.
Quase não existe criação de atmosfera no filme e isso é visto na introdução inclusive.
Os dois personagens conversam brevemente sobre assuntos corriqueiros, entram em um elevador e são atacados por morcegos, que invadem o interior do mesmo após eles terem notado um cadáver em cima do quadrado que ficava no teto.
Apesar da participação dele ser curta, Campbell já demonstra seu carisma e sua veia artística canastrona, cheio de caras e bocas, com caretas dignas do Ash que foi feito em Uma Noite Alucinante: Army of Darkness.
O que realmente incomoda é que boa parte dos morcegos - especialmente os que atacam o casal - são feitos em efeito digital barato, com um CGI vagabundo demais, que piorou com as remasterizações mais recentes.
Ao menos usam efeitos práticos nos mamíferos voadores que ficam do lado de fora, roendo o cabo do elevador.
Já de início se percebe a ideia de morcegos vampiros como motivadores de medo, afinal, esse parece ser um filme que Buck Bowers, personagem de Robert Patrick assistia.
Como Spiegel gosta de brincar com elementos de metalinguagem e com transições "criativas", não fica claro se aquilo era uma cena da história principal, que apareceu de maneira "poética" e metalinguística em um televisor, ou se era apenas algo que passava em um canal de televisão.
Para reforçar essa dualidade, é mostrado que a trama segue através dos fatos ditos no noticiário televisivo. Dá no jornal a notícia de uma fuga da prisão, Luther Hegs escapou do cárcere e imediatamente ligou para o seu antigo parceiro, que pediu para ele organizar um grupo, a fim de roubar um banco mexicano.
O interprete do T-1000 vai atrás do seu bando, e aqui há uma clara referência ao clássico que estrela Frank Sinatra, que é a versão de 1960 de Onze Homens e Um Segredo, com o clichê de um chefe bandido indo atrás de seus comparsas, reunindo eles tal qual fez George Clooney no remake Onze Homens e Um Segredo de Steven Soderbergh.
Vale lembrar que esse Um Drink no Inferno 2 foi lançado dois anos antes do longa que Clooney protagonizou e as coincidências narrativas desse tem mais a ver com a refilmagem vindoura do que com o clássico dos anos sessenta.
Buck faz as vezes de Danny Ocean, e chama CW (Muse Watson), o mexicano Jesus (Raymond Cruz) e o vigia dorminhoco Ray Bob (Brett Harrelson). Eles se juntam para fazer o trabalho criminoso em conjunto, mas obviamente tem o destino cortado pela entropia vampírica desse universo, ainda que tenha a sua realidade alterada de maneira menos criativa que no longa original.
Ainda no campo das referências, houve um cuidado de Spiegel em povoar o longa de acenos a saga O Exterminador do Futuro. A maioria é absolutamente nonsense.
Buck utiliza os mesmos óculos escuros que usou em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, em outro ponto, ele atropela um esqueleto, esmagando-o, tal qual ocorre com um endoesqueleto de exterminador, esmigalhado no início do filme que James Cameron idealizou e dirigiu.
Spiegel é conhecido por ser criativo na hora de posicionar sua câmera. Violência e Terror já havia demonstrado essa mania, mas é nesse Drink no Inferno 2 que a coisa se exacerba.
O realizador filma partindo de pontos estranhos da tela, como o fundo do pote de ração do pitbull Jaws 2, ou a perspectiva de Jesus fazendo flexão. Também filma a partir do ponto de vista do capô do carro, atrás de um chifre de boi cravado a frente do veículo, mas também parte de pontos onde certamente não haveria ninguém para enxergar, como uma poça de sangue ou no movimentar de um ventilador que circula, também parte da parte de trás do pescoço mordido de um dos "mocinhos". Esse exagero faz com que o artifício seja involuntariamente engraçado.
Ele tenta emular o estilo de registro de Tarantino, mas é apelativo, com uma pegada mais seca e direta, possivelmente imitando o modo de Rodriguez conduzir. Ou seja, ele imita os cineastas famosos.
Em quase ponto nenhum ele acerta nessas tentativas de estabelecer homenagem, especialmente quando tenta parecer inteligente demais. Ele copia trechos inteiros de clássicos como Psicose, inclusive imita famosa a cena do chuveiro, um ano depois do Psicose de Gus Van Sant, que apesar de equivocado, tinha uma ideia por trás, um experimento cinematográfico assumido, aqui, não.
Em alguns pontos, há boas ideias, sobretudo com ataque dos vampiros, como em uma onde uma moça morcego observa uma vítima a partir de uma banheira no fundo de cena.
O modo de filmar a fronteira Estados Unidos e México em tom sépia é complicado, baseado demais em clichês já muito batidos, mas esperar que um telefilme rompa com uma tradição ruim do cinema é demais.
O que incomoda são as tentativas de tornar sua obra mais cerebral do que o realizador consegue.
Ele tenta colocar na boca dos personagens diálogos mordazes, como o exemplo da discussão sobre filmes pornográficos terem ou não história, mas não há estofo ou sutileza, claramente a ideia é imitar as conversas entre assassinos de Cães de Aluguel ou Pulp Fiction, ele mas faz isso da maneira menos natural possível, sem muito esforço de interpretação da parte do seu elenco.
Enquanto aguardam, Luther atravessa a fronteira vindo do México. Um grande morcego invade o motor do seu carro, ele mata o bicho - não sem esforço - e para no Titty Twister, onde é servido por Danny Trejo, que interpreta Razor Edgie, o irmão de Razor Charlie, que morreu no primeiro longa.
Trejo é uma das poucas aparições que se repetem na saga, ele está em todos os filmes e até na série futura. Além dele, também há a aparição de James Parks, que faz, o policial Edgar McGraw no longa de cinema e nesse.
Segundo o diretor, o Titty Twister era para ser visto muito mais do que realmente é, mas o orçamento não permitiu, por isso se optou por não usufruir desse cenário. Curiosamente, Um Drink no Inferno 3: A Filha do Carrasco é todo focado na história do bar.
O bartender resolve ajudar Luther, vai até o seu carro para conferir quem ele atropelou, descobre então que era Victor, um vampiro interpretado pelo editor Bob Murawski.
Ao menos há um trabalho legal de maquiagem, com a transformação de alguns vampiros, como o que Trejo fez. Kurtzman participou dos efeitos especiais de maquiagem, que contou com supervisão da sua dupla Berger e Nicotero, além de Michael Deak.
Mas fica claro, especialmente com a chegada do final, que os vampiros ficam menos desenvolvidos do que deveria, seja visualmente ou espiritualmente. A maioria deles só se diferenciam dos homens por terem olhos amarelados, exceção a batalha final, onde há bons monstros.
O que mais incomoda no filme é a parte do terror que o filme reserva. Esses trechos são poucos, jogados de lado, não há muito trabalho nem com a composição. A música de Joseph Stanley Williams não é ruim, mas de modo algum ajuda a construir atmosfera, seja de medo, de risos ou qualquer outra sensação. Ela possui tons tão agudos que parece saída de um desenho animado.
O plano segue, mesmo que aos poucos, cada um dos assaltantes seja contaminado. A situação chega ao cúmulo de só sobrar Buck, mesmo que o roteiro tente disfarçar isso, de maneira bem pobre, por sinal.
Falta construção também na parte do roteiro. Há uma batalha campal que ocorre muito repentinamente. Até o assalto é mal construído, não tem desenvolvimento, o tema que era central se torna apenas um breve capítulo antes do confronto da polícia e os quatro vampiros na frente do Banco Bravo.
O tal assalto da premissa é um pretexto para haver um sem número de cenas de vampiros afetados e ridículos, com medo de cruzes improvisadas.
Há um diálogo entre o xerife Otis (Bo Hopkins) e Buck, onde discutem sobre os opositores serem vampiros, onde o bandido algemado avisa que os seus antigos companheiros são vampiros, enquanto o tira fala "suponhamos que sejam...como proceder?".
É curioso que em Planeta Terror de Bob Rodriguez, haveria uma discussão parecida, entre o protagonista El Wray e o xerife Hague, sobre os vilões serem mortos-vivos zumbis. No entanto, no filme dos anos 2000 tudo é executado de maneira muito mais despojada, se assumindo com um tom de paródia, como uma comédia de fato.
Os efeitos que mais chamam a atenção por serem problemáticos são os que usam stop motion. Os vampiros bandidos derretem, se esvaem em sangue, quase sempre da mesma forma, parece até a repetição dos mesmos efeitos, feitos de maneira pontual para economizar recursos.
Também é tosca a forma de defesa de Otis, McGraw e Buck, fazendo uma cruz com as armas. Essa foi uma forma que Seth e Jacob usaram em Um Drink no Inferno, aqui ela é utilizada em praticamente todos os momentos e sem uma benção episcopal, que supostamente, melhoraria a eficácia da arma.
O filme ainda termina com mais uma discussão breve e salutar entre Otis e Buck, onde o velho ranger pergunta porque vampiros assaltam um banco. Buck diz que é preciso ter dinheiro, mesmo para pessoas milenares.
Além de não fazer sentido, é o aceno geral para um lado mais humorístico do filme, que não acerta muito nesse quesito, diga-se.
Um Drink no Inferno 2: Texas Sangrento vale pelas participações e pela breve passada no Titty Twister. Não possui um ritmo dinâmico, é pouco convidativo, não é tão engraçado e também não acrescenta quase nada a mitologia dos vampiros mexicanos. Fora uma ou outra audácia do seu diretor, é dispensável, o que é uma pena, pois ele poderia ser mais voltado para a galhofa, explorando melhor a sua boa ideia inicial.