Review: Arrow S04E19 - Canary Cry

Existem dois episódios em conflito neste retorno de Arrow que lida com as ramificações da morte de Laurel. Um é muito bom, repleto de momentos dramáticos poderosos e boa performance do elenco fixo. O outro não é ruim, mas falha em estabelecer coerência com o que boa parte da duração de Canary Cry se esforça em exibir.

O grande problema da aventura da semana é ter de justificar aquelas palavras dura ditas por Oliver no flashforward exibido na estreia da temporada. Quando o espectador é apresentado ao velório e o juramento de vingança, é confrontado com o protagonista voltando às raízes, falando em matar seu grande inimigo e totalmente fechado em si mesmo. Porém, todo o arco dramático desenvolvido no episódio nada tem a ver com essa decisão drástica, tornando-a uma mudança súbita de comportamento, graças ao que os roteiristas mostraram antes, obviamente, sem pensar no todo, mas somente em um fragmento da história, inserido no começo deste ano para gerar interesse do público pela morte e não pela jornada do herói principal.

No que tange o drama, Canary Cry é um dos melhores exemplares da série em muito tempo. Se beneficiando da química entre o elenco, alcançada ao longo dos últimos quatro anos, o episódio cria momentos tristes e palatáveis entre os personagens e o destaque fica para uma cena entre o Quentin Lance e Oliver. Com uma performance certeira de Paul Blackthorne e um texto esperto ao explorar todas as "mortes" da Sara, para trazer ao policial a esperança desmedida de que nem tudo está perdido para Laurel, esta é, certamente, uma das sequências marcantes da adaptação que entrará para a lista de preferidas dos fãs. Quem também se beneficia pelo texto é Diggle, em uma virada criativa que o coloca como um personagem sofrido pela culpa de não ter prestado mais atenção nos atos de seu irmão, como o Arqueiro havia alertado em Eleven-Fifty-Nine. David Ramsey também divide um momento dramático poderoso com Oliver, como a série poucas vezes mostrou.

Todos os personagens encontram uma forma de lidar com a morte da Canário e o roteiro explora muito bem isso, dando a cada um a chance de expor a importância de Laurel naquele universo. Melhor ainda é a decisão de trazer flashbacks do pós-morte de Tommy Merlyn, entre a primeira e segunda temporadas, o que ajudou bastante a corroborar o tom sóbrio de Oliver durante quase todo o episódio.

No quesito ação, há uma trama envolvendo uma impostora da Canário, que parece servir a um propósito maior: tornar o legado de Laurel muito mais do que mera participação na promotoria de Star City. Apesar de quebrar um pouco o andamento acertadamente dramático do roteiro, essa plot secundária não chega a atrapalhar e teria sido melhor desenvolvida caso envolvesse uma personagem que o espectador já conhecesse, até porque fica a impressão de um retorno no futuro, mas como não há a menor ligação do público com a tal garota, falta o peso que a subtrama merece.

Toda a sobriedade mostrada no episódio cai por terra, no entanto, no já citado momento em que a série precisa unir o exibido aqui com o apresentado no começo da temporada. A maturidade mostrada por Oliver ao lidar com a perda, mais as sequências no passado, ajudam a construir um personagem em linha com o que a série já estava mostrando. Mas, ao fazê-lo "negar" tudo para jurar vingança, se isolar ao ponto de pedir ao Barry que o deixe sozinho (aliás, aqui a série também se contradiz, uma vez que mostra o Flash com poderes, quando na série do velocista ele se encontra sem sua velocidade) e ter aquela drástica conversa com Felicity (também já exibida em outro flashforward durante a temporada), o episódio praticamente pede ao fã que esqueça todo o bom trabalho feito no desenvolvimento do protagonista até aqui.

De qualquer forma, Canary Cry traz uma despedida digna para uma personagem que só fez crescer durante toda sua participação no seriado. Mesmo neste universo de quadrinhos, em que ninguém realmente morre, sua perda causa impacto e, tomara, neste caso, seja definitiva, para não criar mais um problema de coerência. A morte de Laurel faz, sim, parte de algo maior que atinge todo o elenco e trazê-la de volta seria jogar fora todo o drama gerado aqui.

Alexandre Luiz

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Comentários

2 comments

  1. Avatar
    Alexandre 3 maio, 2016 at 10:55 Responder

    Cara, nunca comentei aqui, mas teus textos coerentes e inteligentes e tua visão de certa forma imparcial das séries são muito bons. Minha referência para leitura de Arrow e Flash pós-episódios. Parabéns!

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