A Volta do Monstro do Pântano: a versão galhofa da criatura da DC

A Volta do Monstro do Pântano: a versão galhofa da criatura da DCA Volta do Monstro do Pântano é a segunda tentativa de adaptar para o cinema as histórias do personagem criado por Len Wein e Berni Wrightson. A trama conduzida por Jim Wynorski é muito mais bem-humorada que o Monstro do Pântano que Wes Craven dirigiu em 1982.

Dessa vez a narrativa faz retornar dos mortos o vilão Arcane, basicamente para ir atrás de uma fórmula de imortalidade - não bastou ressuscitar - e no meio dessa busca, o Monstro do Pântano ressurge para fazer justiça e para defender uma bela moça das garras do antagonista.

Os produtores desta segunda parte são os mesmos da primeira, Benjamin Melnicker e Michael E. Uslan. Mais experientes, eles conseguem dar ao cineasta liberdade, orçamento e condições para fazer o filme que ele desejou. Vale lembrar que nesse mesmo ano de 1989, os dois seriam produtores executivos do Batman de Tim Burton.

Mesmo que o a ideia dessa produção seja fazer rir, há um esforço série e genuíno da parte do diretor de fotografia de Zoran Hachstärtter, que tenta valorizar as tomadas com uma camada escura, especialmente ao filmar o pântano.

Há de notar o trabalho de maquiagem de Carl Fullerman e Neal Martz, na construção das criaturas, com uma qualidade bastante diversa para uma produção menos séria do que o comum em filmes de horror.

Dick Durock retorna como a Coisa do Pântano. Ele está mais à vontade, sua roupa que antes era muito rígida agora permite até que ele tenha expressões faciais. O único senão é o fato dele conversar o tempo inteiro, especialmente com Harry Dugan (Tony Sears), um dos sobreviventes da incursão ao pântano do início do filme.

A Volta do Monstro do Pântano: a versão galhofa da criatura da DC

Os créditos iniciais constituem a melhor parte do filme, já que resgatam as imagens desenhadas por Dan Day e Stephen Bissette, no início da fase áurea de Alan Moore enquanto roteirista.

Da parte da história, há quase nada a destacar, já que se resume ao Monstro do Pântano decidindo voltar a ação para ser um herói. Por que? Porque sim! Tudo ocorre porque o roteiro pede e quer.

Não haveria hora mais conveniente, já que Louis Jordan e seu Anton Arcane voltaram, mostrando que ou o final do filme de Craven não valeu de nada, ou simplesmente houve um retcon, que é algo típico dos quadrinhos.

No laboratório do vilão há dezenas de experiências, de híbridos entre animais, plantas e humanos, baseados no DNA de Arcane. É lá que habita a bela Sarah Douglas, que faz a dra Lana Zurrell, e o capanga cientista Dr. Rochelle (Ace Mask), um sujeito caricato, que usa uma bombinha de asma quase como se sofresse com um tique nervoso.

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Além deles, dois capangas se destacam, Gunn o latino mal-encarado (e absolutamente galhofeiro) feito por Joe Sagal, além da violenta e fatal pistoleira, Miss Poinsettia de Monique Gabrielle, que é um dos muitos apelos visuais que o filme concede ao seu público, já que cumpre o papel de garota em trajes sumários munida de armas.

Esse trecho é um show à parte, já que há uma gama de boas criaturas, idealizadas por Dean Gates e baseadas no body horror, que não deixam a desejar se comparadas ao trabalho de Screaming Mad George nos filmes que adaptam Lovecraft.

A outra parte da trama envolve Heather Locklear, que vive Abby Arcane, a enteada do doutor malvado. Ela é uma moça introduzida como um pretexto para demonstrar as más intenções de Arcane, e aos poucos vai ganhando vulto e personalidade, resultando em uma moça curiosa, fogosa, que gosta de investigar por conta própria e que acaba se interessando pela história de Alec Holland, a antiga identidade da coisa do pântano.

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Melnicker e Uslan parecem ter aprendido com os erros do passado, uma vez que dão maiores facilidades para o novo diretor, Wynorski.

No filme que Craven concebeu houve um sem número de problemas, o orçamento encurtava enquanto aconteciam as filmagens, e a distribuição foi aquém do esperado por eles.

Essa parte dois já foi concebida para ser uma comédia errática, impulsionada pelo bom desempenho de vendas e críticas da fase do Mago Alan Moore, e além disso, havia muito mais recursos visuais, cenas externas e uma construção de laboratório em estúdio que funciona, ainda mais pelo teor de autoparódia.

Abrir mão da verossimilhança foi uma boa sacada do cineasta. A carreira de Wynorski era repleta de filmes B, então mais um ou menos uma produção barata não seria problema.

Dentro da filmografia dele, se destacam Império Proibido, Robôs Assassinos e Vampiro das Estrelas, e ele segue na ativa, dirigindo muitos Mockbusters (filmes B que imitam grandes produções) como Ghoulies 4, Raptor, Vampire Vegas e Piranhoconda, além de outra adaptação de quadrinhos, a Vampirella protagonizada por Talisa Soto, a ex Bond Girl e a Kitana de Mortal Kombat.

Arcane varia entre o homem mantido vivo por sua cientista particular e o padrasto semi-incestuoso. Ele é um sujeito ainda mais peculiar que na produção de 1982.

Fora as experiências que faz não lhe cabe papel de vilão, parece apenas um velho rico de hábitos sexuais desprezíveis, e não um barão capitalista malvado, tampouco um mago cruel como é nos quadrinhos.

No entanto, as boas ideias do filme se perdem em sequências como a de um quase estupro que ocorre com Abby.

A moça vai toda arrumada para o pântano, quase é atacada por dois caipiras assediadores é salva pelo herói que dá nome ao filme, que imediatamente conta a história do outro filme, com direito a flashbacks.

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É tudo expositivo e bobo ao extremo. O entorno de Arcane é igualmente caricato, os capangas usam roupas tão toscas que parecem saídas de lojas de fantasia, os cenários fora o laboratório do início lembram setores de séries de TV com orçamento pequeno.

Como o filme não se leva a sério, resulta em uma comédia com elementos de horror, que apela para momentos estranhos.

Em determinado ponto, há um personagem tocando piano de corda, mas não de forma corriqueira. O pianista toca com raiva, estabelece o som da canção de uma maneira assustadora, enquanto em outro ponto, uma banheira vai se enchendo de um líquido verde mortal.

Em outros cenários, os personagens conversam somente por frases de efeito, enquanto o espectador percebe que não há nenhum planejamento por parte dos vilões ou dos mocinhos. As coisas acontecem, ao sabor do destino.

É bem confuso, tem até núcleo infantil, e da metade para o final o roteiro de Grant Morris e Neil Cuthbert se torna ainda mais confuso, com uma sucessão de combates, tiroteios, explosões, tem até uma competição de tatuagens entre Gabrielle e Gunn.

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Se o filme de Craven tivesse esse mesmo tom poderia ser melhor digerido pelo público geral.

Possivelmente os fãs de quadrinho odiariam a versão de 1982 - como não gostam dessa - mas ao menos haveria chance de o longa ser redescoberto e amado pelo público que ama filmes trash.

Mais tarde, esse mesmo tom seria utilizado no próximo passo da franquia, em uma série iniciada em 1990, com 72 episódios, protagonizada também por Dick Durock.

A Volta do Monstro do Pântano é uma produção B que não tem vergonha de se assumir assim, e nem mesmo seu cunho pró-ecologia funciona a contento, já que também não é levado a sério, que melhora e muito ao subir os créditos finais ao som de Born on the Bayou do Creedence. É divertido, cômico, cheio de sacadas tolas e charmosas, um clássico do cinema B dos anos 1980.

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