A Sociedade dos Amigos do Diabo: o experimento surreal e nojento de Brian Yuzna

A Sociedade dos Amigos do Diabo: o experimento surreal e nojento de Brian YuznaA Sociedade dos Amigos do Diabo é um filme de horror bastante peculiar. Lançado em 1989 conta uma história baseada em um drama familiar, mas com um clima de teoria da conspiração e muito horror corporal.

Tudo que envolve a trama do personagem central Bill Whitney, de Billy Warlock, é esquisito e bizarro, até os acenos a nudez e sexualidade.

Bill é um jovem que tem que lidar não só com os confrontos típicos da puberdade, com as escolhas do início da vida adulta, mas também tem confrontos com uma expectativa familiar praticamente inalcançável e que, por incrível que pareça, nada tem a ver com sonhos de consumo, trabalho ou algo que o valha.

Essa é a estreia na direção do filipino Brian Yuzna, sujeito tarimbado no cinema, que é mais lembrado por ter produzido as adaptações de H.P. Lovecraft que Stuart Gordon dirigiu, especialmente Re-Animator: A Hora dos Mortos-Vivos e Do Além.

Durante a história desse A Sociedade dos Amigos do Diabo é levantada toda uma gama de situações pitorescas, lascivas e muito estranhas, tão esquisitas que tem como marca a fuga da obviedade.

Dos estúdios Wild Street Pictures, Society Productions e Screaming Mad George, o longa teve uma história curiosa de lançamento. Suas filmagens terminaram em 1989 e ele foi exibido na Europa, especialmente em festivais. Teve sessões na França, Alemanha Ocidental, Espanha e Reino Unido, no entanto, só chegou aos Estados Unidos no ano de 1992.

Durante a pré-produção ele se chamava The Shunting, mas acabou sendo batizado de maneira simples: Society. Ao redor do mundo, se chama assim também ou com traduções literais, como A Sociedade em Portugal.

As maiores diferenças na nomenclatura são Alta sociedad na Argentina, Haute société no lançamento em vídeo no Canadá, Society - The horror na Italia e Sociedad de mutantes no México.

O longa foi rodado em cinco semanas, na Califórnia, com cenas em Pasadena, Los Angeles, Culver City, A escola é filmada em Birmingham High School - 17000 Hayes Street, já a mansão onde a família central mora teve cenas feita em Wrigley Mansion - 391 S. Orange Grove Boulevard,

O hospital mostrado aqui foi o "real" Veterans Hospital - 1611 Plummer Street, em North Hills, local que também serviu de base para Halloween II: O Pesadelo Continua, produção essa que teve como um dos atores, o pai do protagonista desse. Já as cenas internas foram no GMT Studios - 5701-5751 Buckingham Parkway.

A despeito do nome brasileiro, não há nada no roteiro de Zeph E. Daniel e Rick Fry que relacione com a figura do diabo, satanás, Lúcifer ou qualquer outro nome do antagonista bíblico. O horror aqui se liga a outras origens,

Fry e Daniel fizeram juntos o texto de A Noiva do Re-Animator, também de Yuzna e Dementia, dirigido por Daniel. Boa parte das ideias e das caracterizações dos coadjuvantes vem da vivência de Daniel, que é oriundo uma família de Beverly Hills muito parecida com a de Bill Whitney, a maioria dos riquinhos mimados mostrados na fita tem base em gente real, na nata cafona e brega, dos residentes da Beverly Hills da juventude de Daniel e do produtor Keith Walley.

Como dito, o filme é produzido por Walley, que trabalhou em diversas obras, especialmente em Sonhos de Horror e O Clã dos Vampiros, sendo produtor executivo do já citado A Noiva do Re-Animator.

Sociedade dos Amigos do Diabo tem produção executiva de Keizo Kabata, Terry Ogisu, dupla japonesa que sugeriu o mago dos efeitos especiais Screaming Mad George, além de Paul White.

Bill era um jovem que faria dezoito anos de idade. Ele se sentia pressionado, que não sabia o que faria em sua vida adulta, tampouco sabia se iria ingressar em alguma faculdade. Era esperado que ele passasse por uma série de mudanças físicas, mas ele acabou não protagonizando algumas...diferentes da que os meninos passam na puberdade.

Isso influenciou nas expectativas que sua família tinha sobre si, deixando-os frustrados. Os motivos para isso se manifestariam apenas no final. No início, essa problemática é dada como existente, mas a causa é um absoluto mistério.

Seu núcleo familiar é curto. Ele mora com o seu pai Jim (Charles Lucia), sua mãe Nan (Connie Danese) e sua bela irmã Jenny (Patrice Jennings). A convivência entre eles não é exatamente saudável, mas aparenta ser comum, com os pais paparicando a filha mulher e ignorando o garoto problema, já que Billy não consegue se encaixar em nenhum quadro social.

Com o decorrer da história eles passam a agir de maneira estranha, não por serem frios, mas sim por carregarem essa expectativa ansiosa com o rapaz.

É possível encarar que eles nutrem esperanças no futuro dele, ao menos seria esse o comentário óbvio e superficial. Eles esperam que ele amadureça, para quem sabe assumir os negócios da família, que aliás, embora a natureza do sustento dos Whitney não fica claro.

No entanto, fica a sensação estranha de que há intenções malvadas ali, inclusive entre familiares, abrindo chances de flertes incestuosos.

O mais esquisito desses momentos sem dúvidas é o que ocorre com Jenny. Ela é uma mulher padrão, lindíssima, que se permite ser observada por seu irmão enquanto a mesma está no banheiro, em um boxe com portas transparentes.

Bill se incomoda com isso, tenta evitar olhar, mas não consegue deixar de reagir ao perceber que a silhueta dela é esquisita, parece estar se contorcendo. Esse trecho foi inserido de última hora, adicionado porque o diretor sentiu que era necessária uma cena chocante ainda no início do filme.

A câmera de Yuzna deixa claro o desconforto das duas partes, mas é irônica o suficiente para permitir que Jenny já nesse início pareça estar mais à vontade com esse tipo de intimidade, mais do que Bill pelo menos.

A Sociedade dos Amigos do Diabo: o experimento surreal e nojento de Brian Yuzna

Outro detalhe curioso é que nos cenários há vários indícios do que será revelado mais para frente, como bonecos que imitam posições sexuais que exigem grande elasticidade. Falta de sutileza normalmente é algo execrável, mas não aqui.

As pistas sobre o horror corporal resultam no norte da produção e esse aspecto, de mostrar corpos se contorcendo, com efeitos práticos se tornaria a marca de Yuzna como realizador.

O diretor lutou bastante para que pudesse conduzir esse, tanto que concordou em dirigir a A Noiva do Re-Animator em 1990, no ano seguinte. Sua única exigência é que esse Society fosse filmado primeiro.

Perguntado sobre incongruências do roteiro, ele afirmou que estava mais interessado no surrealismo da história do que na lógica, por isso é possível ver muitos momentos dignos de pesadelo. Suas referências assumidas foram dois clássicos "conspiratórios": Silêncio nas Trevas, filme de 1946 de Robert Siodmak, além do clássico de Roman Polanski, O Bebê de Rosemary.

A sensação de paranoia como elemento central foi copiada desses dois.

O roteiro que chegou até as mãos de Yuzna tinha um começo diferente. A trama iniciava com Billy voltando para casa após sair do hospital. A primeira hora do filme seria contada como um flashback, mas, para evitar confusão, o diretor optou por uma nova abertura que fosse um prenúncio dos eventos futuros, por isso o estranho sonho do rapaz.

Warlock então é mostrado em casa, acordando assustado, suado e incomodado, com uma faca na mão. Sua mãe o encontra, mas não há tempo sequer para uma reação, já que logo depois corta para uma cena em que ele se consulta com um psicólogo.

No consultório ele come um pêssego, ao mordiscar a fruta tem a impressão de que há animais em seu interior. A cena é gráfica, pois de fato aparecem vermes, minhocas e larvas, que habitam basicamente sua imaginação, não a realidade, já que ao recobrar a consciência ele não vê nada.

A abertura, com o nome do filme, é estranha, contém imagens surreais que remetem a corpos cuja intimidade e movimentação é esquisita. A trama segue, fortificando sempre a sensação de que algo errado está prestes a acontecer.

Essas cenas no consultório do Dr. Cleveland (Ben Slack) não estavam no roteiro, foram executadas na hora da filmagem, sem grandes preparações. Dado o improviso, é surpreendente como ficaram boas.

Bill é apresentado como adolescente comum, que se sente inadequado como qualquer outro menino. Ele anda sempre com seus amigos e gasta seu tempo como um perfeito jovem americano padrão, tão comum quanto qualquer outro personagem jovem feito por alguém que aparenta ter mais de dez anos de diferença com o interpretado.

A Sociedade dos Amigos do Diabo: o experimento surreal e nojento de Brian Yuzna

Para piorar sua sensação de inadequação, ele descobre que seu melhor amigo David (Tim Bartell) fica vigiando de maneira lasciva a sua irmã, escondido no armário dela.

Esse já é um sinal que faz o rapaz ficar alerta, mas ter um camarada potencialmente assediador em sua casa e perto de sua irmã é o problema menos estranho que ele teria ao longo da trama.

Billy Warlock não era exatamente um iniciante. Trabalhou na série Happy Days, havia feito um ponta em Halloween II, onde contracenou com seu pai, o dublê e ator Dick Warlock, que interpretou The Shape/Michael Myers no longa de Rick Rosenthal.

Além do sentimento de não se encaixar no mundo, Bill percebe que os eventos estranhos deixam de ser casos isolados e passam a ser algo corriqueiro. A cada hora que passa seus parentes agem de forma mais suspeita, inclusive com menções sexuais entre membros "não usuais" - leia-se entre pessoas que não são marido e mulher.

Seus pais insinuam que ele deveria fazer sexo, mas até então não parecia que os Whitney conversavam sobre isso abertamente, já que não eram o retrato da família liberal americana. A sensação de um incesto se consumará é cada vez mais presente, especialmente graças aos olhares trocados entre a irmã de Bill e seu pai.

No entanto, o roteiro trata o rapaz como uma pessoa a não se confiar, nervoso, precipitado e muito paranoico. Como ele não é alguém de discurso palatável, acaba carregando uma marca de maldade em si, como se fosse ele a pessoa que enxerga coisas ruins nos outros.

Mesmo depois da briga com David, o protagonista se pega refletindo sobre o modo estranho com que o corpo da irmã parecia. Mesmo tendo visto algo borrado pelo vidro a sensação é que ele pulsava e tinha movimentos corporais incomuns.

Ele quer se enganar, tentando associar essas visões a sua imaginação, que poderia estar mais fértil ultimamente, sabe-se lá porque. Até se poderia pensar que é graças a remédios passados pelo médico, mas ele não ingere nenhuma pílula, nenhum comprimido ou remédio de gotas. Ele até tenta, mas não consegue reprimir o tom premonitório de seus pensamentos e para o seu azar, esses sentimentos não estavam errados.

Apesar de ser um atleta no colegial, Bill é um sujeito excluído e isolado. Ele se sente assim tanto em sua família quanto no seu círculo social. É sempre tratado como um patinho feio, simplesmente é alienado do grupo de jovens ricos, é quase um estrangeiro em um cenário de iguais.

No entanto ele não nega que tem seus caprichos. Sua rotina é de um bon vivant, festeiro, que não parece ser tão desamarrado da moralidade quanto os seus iguais. Mesmo tendo uma condição de vida boa, mesmo vindo de uma família abastada ele não tem um pensamento sexual tão desprendido e liberal quanto os outros playboys que são seus vizinhos.

Em alguns pontos, é pintado como um jovem reacionário, com um comportamento que nem condiz com seus 18 anos recém feitos.

Mesmo eventos comuns a garotos como o desejo pelo belo sexo, são mostrados de forma tímida e careta. Ele quer se relacionar com meninas, mas não tem pretensões de romper de ter um enlace que fuja da monogamia conservadora, tampouco se sente bem ter relações carnais com seus parentes.

A Sociedade dos Amigos do Diabo: o experimento surreal e nojento de Brian Yuzna

Sua candidatura a eleição no colégio é claramente uma tentativa de compensar sua sensação de exclusão. Ainda assim ele é traído por seus instintos hormonais, se apaixona por várias meninas diferentes, Shauna (Heidi Kozak Haddad) e depois Clarissa, interpretada pela playmate Devin DeVasquez.

Essa inconstância e volubilidade é algo normal, especialmente para ele, que é um poço de instinto e hormônios.

O filme é repleto de referências sexuais e fálicas. Em uma das primeiras interações dele com Clarissa ela espirra um liquido branco e pastoso. Não era nada além de protetor solar, mas é mostrado com uma conotação sexualizada, imitando ejaculação, o que por si só já é uma inversão de papéis, com a mulher "lançado" esperma no homem.

Yuzna não era bobo e por mais que a ideia fosse de valorizar a estranheza, um dos interesses primários do filme é emular as comédias estudantis repletas de jovens nus. O ideal visual desse não se difere tanto de um Picardias Estudantis, por exemplo.

Até mesmos momentos de denúncia de relações carnais proibitivas tem um ar de descoberta sexual motivada pela puberdade. Elas servem também para inebriar Bill, que ignora os alertas de seu antigo amigo David, de que seus pais escondem algo estranho.

David explica - ou ao menos tenta - que não estava espiando a irmã de Bill, mas estava gravando algo. Até coloca uma fita cassete para que o protagonista ouça, mas o conteúdo da mesma muda radicalmente, depois que é tocada.

Mais alto que a sensação de que algo está errado, são os hormônios do rapaz, que ignora a sensação de que havia sido injusto, só para dar vazão aos seus instintos primitivos.

É dada a ele a notícia que David morreu e para afogar a mágoa, ele decide enfim se entregar ao prazer, chamando Clarissa para ter intimidade.

No meio da cena de sexo uma outra mão surge, situação estranha, mas que não o impede de seguir. Ao final ela estava em uma posição impossível para um corpo humanoide e vertebrado estar.

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Esse trecho foi feito por DeVasquez e uma de suas amigas, que foi escondida sob as cobertas com as pernas expostas. As duas foram colocados em um ângulo tal que parece ser o mesmo corpo torcido, em uma posição não usual, obviamente.

Esses trechos são um tostão do trabalho de efeitos que Screaming Mad George produziria. O artista que havia trabalhado anteriormente com John Carpenter em Enigma de Outro Mundo e Os Aventureiros do Bairro Proibido teve carta branca aqui, podendo dar vazão a sua imaginação depravada e repleta de corpos contorcidos e repensados a partir do zero, com outra estrutura molecular, mas ainda assim parecida com corpos humanos.

Enquanto filmava as infames cenas de manobras visuais, Yuzna colocava uma placa na porta do estúdio de som que dizia: Abandonem toda a esperança, vocês que entram aqui.

O horror maior não ocorre pelo visual e sim pelo moral. A sra. Carlyn (Pamela Matheson), vai cumprimentar o casal, deixando no ar que assistiu toda a intimidade dos dois. Ainda cumprimente de maneira íntima a filha, com um beijo nos lábios, que envolve até trocas salivares.

O show de horrores éticos e morais ajuda o filme a disfarçar seus problemas de confecção. Yuzna tem dificuldade de manter um ritmo decente, especialmente nos dois primeiros terços.

Como há muitas festas de iniciação e brincadeiras de inserção de gente na alta roda da sociedade - Jenny está em um processo de aceitação para uma espécie de sociedade secreta- fica patente a sensação de que tudo aqui é uma espécie de pesadelo, um sonho ruim, do qual Bill poderá acordar há qualquer instante, embora isso jamais ocorra.

Na terceira parte a nata da sociedade se reúne e começa uma interação de contornos sexuais estranhos, mas que tem no sexo seu aspecto menos chocante, já que aparentemente, há autofagia e consumo de carne humana, fora que todo o tom de vermelho faz grafar a sensação de que todos estão sangrando, embora obviamente não haja sangue de fato.

Yuzna se preveniu, a fim de mostrar pouco ou nenhum sangue, para assim não deixar a classificação indicativa alta.

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Nessa reunião se percebe que há poucos jovens. Esse clube é feito para gente mais antiga, é preciso uma iniciação, é preciso ser aceito como um igual. Nem todos que aparecem aqui são assim.

Houve uma forte inspiração de Mad George e do diretor em pinturas de Salvador Dalí. Eles usaram Autumn Cannibalism and Soft Construction with Boiled Beans (Premonition of Civil War) como base para montar esse estranho bacanal de horror corporal.

No entanto, houveram dificuldades na hora de fazer a sequênncia. Evan Richards, que interpreta Milo, descreveu a filmagem dessas cenas como algo desconfortável. Ele reclamou da maquiagem protética e de ficar coberto de gelatina, filmando as cenas por 2 ou 3 diárias. Deveria ser incômodo mesmo, mas o resultado visual é sensacional, valorizando o esforço geral de elenco e equipe de produção.

A parte que explica o que são aquelas pessoas é bastante expositiva. Trata-se de alienígenas que tem como "casca" um aspecto de pele semelhante aos humanos. Cada um deles tem uma flexibilidade que beira o infinito, especialmente nas partes internas que deveriam ser repletas de órgãos. É como se eles não tivessem ossos.

Os efeitos de Screaming Mad George são exigidos e não há do que reclamar. A escolha de Rick Fichter como diretor de fotografia privilegia tons de vermelho, que combinam bem com a pele retorcida dos personagens.

A camada de carne primária das pessoas ganha um aspecto molhado e gosmento, alguns adquirem focinhos, se tornam animalescos e se esticam cada vez mais. Bocas viram canudos, línguas se estendem, partes do corpo trocam de lugar e ás vezes invadem outras pessoas.

É tudo grotesco e mostrado de maneira debochada, explícita e muito nojenta.

Bill é tratado como um animal. É capturado, colocam uma rede em seu pescoço, de forma que o faz parecer uma presa, mas nem mesmo preso ele é tratado como alguém parte do movimento.

Mesmo sendo o aniversariante, não é ele o centro das atenções, e sim Jenny. Aparentemente, ela é parte da raça que seus pais são, enquanto Bill é tão somente humano. Não fica claro como isso é possível, mas essa é a razão da expectativa frustrada. Bill é comum, ordinário, como qualquer homem e mulher da Terra.

No meio da bagunça, ele até consegue se surpreender ao perceber que seu amigo David não estava morto, já que era um refém da tal sociedade. Houve uma cena de morte filmada, com Tim Bartell em evidência, mas Yuzna achou ela tão perturbadora que teve que reduzir, na edição para torná-la menos intensa.

Apesar da classificação indicativa baixa, o longa não teve uma exibição de alta bilheteria nos Estados Unidos. Talvez tenha perdido o timing já que chegou apenas nos anos 1990, mas fato é que ele acabou se tornando um sucesso mesmo na Inglaterra, quando foi lançado em vídeo, ficando várias semanas entre os dez filmes mais procurados em lojas e locadoras.

Somente anos depois se tornou um cult classic e um filme trash muito louvado em seu país de origem.

Bill testemunha uma sequência envolvendo o seu médico, que segue após uma orgia de corpos desformes. Há alguns bonecos bem montados, que mudam de forma e evoluem para algo ainda mais monstruoso, com duas cabeças.

Nesse ponto a sequência se torna ainda mais grotesca e estranha do que a cena final com o assassino nu de Acampamento Sinistro, com direito até a uma face no lugar do reto...

A Sociedade dos Amigos do Diabo: o experimento surreal e nojento de Brian Yuzna

A batalha entre Bill e seu bully Ted Ferguson (Ben Meyerson) é nojenta e carece de sentido. É dado que por ser apenas humano, Bill teria desvantagem, mas ainda assim ele consegue sobrepujar o seu rival. O desfecho é nojento, envolve até um fist fuck, que arranca tripas e vísceras pela parte traseira do corpo do rapaz de outra dimensão.

O roteiro tinha um final diferente, onde a sociedade secreta foi revelada como um culto que pretendia sacrificar Bill em um culto insano, mas Yuzna queria uma revelação mais fantástica, então ele e Mad George tiveram a ideia de mostrar a "sociedade" como um grupo de criaturas monstruosas, que comiam as classes mais pobres.

A faixa-título é uma versão reformulada de The Eton Boating Song, canção escolar da prestigiada Eton School, com a letra reescrita em um tom satírico. A música de Phil Davies e Mark Ryder é bem característica. A dupla foi sugerida pelo produtor Keith Walley e o trabalho de ambos acerta no início em dar um tom de inocência ao filme, assim como tem êxito ao tornar a música em algo cada vez mais grave, ao longo do crescimento do mesmo.

O roteiro se perde em seus paralelos, investe demais em choques visuais e torna tudo menos verossímil. Ainda assim os aspectos textuais servem somente como preâmbulo para as transformações corporais dos membros da sociedade. Acaba que o filme resulta em um produto incômodo para plateias sensíveis e um deleite para quem tem apreço pelo mal gosto.

Só por ter tanto apelo ao bizarro já vale a pena ver A Sociedade dos Amigos do Diabo. O filme é um belo pretexto para exibir bizarrices, com uma atmosfera pesada, bizarra e um pouco apocalíptica. Seu humor ácido e os cenários dantescos ajudam a formar a identidade visual única, que acaba se tornando um espécime única na filmografia de horror dos anos 1980.

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