Sabata Adeus : A aventura revolucionária de Parolini e Yul Brynner

Sabata Adeus : A aventura revolucionária de Parolini e Yul BrynnerSabata Adeus é um filme oriundo do movimento western spaghetti que se vale de elementos revolucionários em seu texto e de um drama consideravelmente sério, ao passo que é temperado também por momentos de humor típicos de alguns dos seus pares. Coprodução entre Itália e Espanha, foi idealizada por Gianfranco Parolini e protagonizado por Yul Brynner, é uma história inédita, apesar do nome relacionado a outro filme da "franquia" Sabata.

A sinopse acompanha um grupo de revolucionários mexicanos, que viajam para os Estados Unidos para roubar um carregamento de ouro do exército austríaco, retribuindo assim a violência que se dava em um vilarejo, que era comandado por um nobre milionário natural da Áustria.

Os rebeldes mexicanos despertaram a fúria do comandante das tropas invasoras, que emprega de extrema violência para recuperar seu ouro, mas ao lado dos mexicanos, há o personagem de Brynner, Indio Black, ou Sabata, um pistoleiro mercenário, que tem muitos interesses particulares nessa disputa.

O filme tem história e roteiro de Parolini (que em alguns releases, assina como Frank Kramer) e Renato Izzo, é produzido por Alberto Grimaldi. No entanto, apesar de ser dirigido por Parolini, esse não é originalmente um filme de Sabata.

O título em italiano é traduzido como "Indio Black, quer saber? Você é um grande filho da mãe ...", com o personagem central sendo o Indio Black de Yul Brynner. O nome do personagem central foi alterado para o lançamento nos Estados Unidos, obviamente para lucrar em cima de Sabata, o Homem que Veio para Matar de 1969, filme protagonizado por Lee Van Cleef.

Nos bastidores se dizia que o ator foi convidado para estrelar esse longa, mas rejeitou a oferta por algum motivo não explicitado.

Depois que o projeto recaiu sobre Brynner, (Van Cleef recusou fazê-lo) fato é que os atores que falam inglês chamavam o personagem de Sabata. Vale lembrar que nos sets de filmes de bangue bangue à italiana, cada ator falava o seu idioma e tudo era dublado depois.

Os espectadores que leem lábios notaram que os atores que pronunciam suas falas parecendo dizer "Sabata", não "Indio", então o rebatismo ocorreu enquanto o filme ainda estava sendo rodado.

Sabata Adeus : A aventura revolucionária de Parolini e Yul Brynner

Como dito isso, o título original era Indio Black, sai che ti dico: Sei un gran figlio di..., mas era possível achar ele em cartazes na Europa como Indio Black, Indio Sabata Sabata.

Já na Argentina, Dinamarca, Finlândia e França era Adiós, Sábata. No Reino Unido foi chamado também de Adiós, Sabata e de The Bounty Hunters. Nos Estados Unidos foi Adiós, Sabata e também Nebraska. Na Espanha chamada Indio Black e em Portugal Adeus, Sabata.

O longa foi filmado na Itália e na Espanha filmado principalmente no Desierto de Tabernas, Balsicas de Alfaro e em Gérgal, todos esses em Almería na Andalucía. Também se filmou na Mini Hollywood, em Tabernas, que fica em Almería também.

Na Itália se filmou em Treja Valley, em Roma, também nos estúdios Incir De Paolis Studios, Elios Studios e Cinecittà Studios, todos esses em Lazio, na capital romana.

Os estúdios por trás foram a PEA: Produzioni Europee Associate, com distribuição da mesma na Itália e da C.B. Films S.A. na Espanha e United Artists nos Estados Unidos e Império Britânico. O release atual disponível que peguei tem logo da MGM, que nos anos 2000, distribuiu o filme na Alemanha.

O filme é bastante louvado entre os cinéfilos, tanto que foi selecionado para o Primeiro Quentin Tarantino Film Fest em Austin, Texas, 1996, organizado claro pelo diretor.

Parolini fez Se Encontrar Sartana, Reze pela sua Morte, Sabata, Sabata Vem para Vingar, A Arma Divina e Yeti: O Monstro do Século 20. Ele assinava eventualmente como Frank Kramer, a exemplo desse Sabata Adeus.

Izzo era um roteirista experiente, tendo escrito Réquiem Para Matar, Ou Tudo ou Nada, Cinco Para O Inferno, Sartana a "trilogia" Sabata. Também escreveu o terror trash Tentáculos.

Grimaldi produziu Queimada, Saló, ou os 120 Dias de Sodoma, Cadáveres Ilustres, Gangues de Nova York e os clássicos fellinianos Casanova de Fellini e Ginger e Fred.

Brynner havia trabalhado em um western famoso antes desse, Sete Homens e um Destino em 1960. Nessa época de Sabata Adeus vinha trabalhando em filmes mais voltados para a ação, como Os Turbantes Vermelhos, Dólares de Sangue e anos depois, fez Westworld: Onde Ninguém tem Alma.

Sabata Adeus : A aventura revolucionária de Parolini e Yul Brynner

A narrativa inicia abordando uma crença do povo mexicano, sobre libertação e independência.

Depois de apresentar um religioso e um pequenino, vem um letreiro, que localiza a trama em 1867, no México dominado por Maximiliano da Áustria, época em que fervilhavam movimentos revolucionários da parte dos latinos.

A localização é em uma cidade em construção, tão pobre que os jogos de azar se dão ao ar livre e não nos saloons onde normalmente ocorrem esses eventos, nos faroestes clássicos e também nos bangue bangue à italiana.

Barulhos estranhos ocorrem, ventos balançam objetos de ferro cujo estado decomposto e enferrujado incomoda os ouvidos sensíveis. Há todo um esforço para criar ambientação e atmosfera aqui. Esse clima bucólico é interrompido por um grupo de cavaleiros, que procura um certo homem, para um trabalho.

Yul Brynner aparece, silencioso, misterioso e sorridente, é um gladiador dos tempos modernos, à espera de conseguir algum trabalho como caçador de recompensas.

Parolini normalmente fazia filmes baseado em personagens dúbios, imorais ou amorais. O Sabata de Lee Van Cleef era assim, mas aqui Brynner vive um homem ligeiramente diferente, um herói real. Sua primeira ação é a de atirar em um galo de ferro, que está no centro da cidade.

Depois que os homens armados atiram no animal também fica a impressão de que um tiroteio começará, mas o personagem-título acerta todos, é sempre o primeiro a sacar o revolver e o primeiro a matar, servindo assim de exemplo para Han Solo e para outros personagens "cafajestes".

Toda essa apresentação é vista pelo galã Ballantine, do estadunidense Dean Reed (Os Corsários da Ilha Verde), um apostador, que finge ser ingênuo de início, mas que já era conhecido do protagonista.

O alvo desse trabalho seria o coronel Skimmel, um militar austríaco, a serviço do nobre soberano, interpretado pelo alemão Gérard Herter, o mesmo que esteve em O Dia da Desforra e Ninho de Vespas.

Ele é um homem cruel e sádico, que atira em homens mexicanos, liberados para pensarem que estão livres. A medida que eles correm, o sujeito atira, alvejando os pobres homens, que estão desarmados.

Sabata Adeus : A aventura revolucionária de Parolini e Yul Brynner

O elenco é recheado de rostos conhecidos, ao menos dentro do nicho de faroestes europeus.

Da parte do núcleo mexicano, há Ignazio Spalla, de Sabata, O Homem que Veio Para Matar e 3 Super-Homens do Oeste, que faz o pistoleiro mexicano Escudo, um opositor do coronel.

Junto a ele há o italiano Sal Borgese, de Se Encontrar Sartana, Reze Pela sua Morte, que aqui faz Sepetiembre, Turam Quimho, que assinava Joseph Persaud, que faz o silencioso Gitano, conhecido por Trinity...Os Sete Magníficos.

Franco Fantasia faz o contratante Señor Ocano, sujeito esse que manda Escudo e seus homens irem ao encontro de Sabata. O ator é lembrado por Keruak: O Exterminador de Aço. Também há Gianni Rizzo, de Zorro e os 3 Mosqueteiros, Corre Homem, Corre, e toda a trilogia Sabata, além de O Nome da Rosa. Ele faz Folgen, o bandido rico, gordo e careca, que está ao lado dos ricos e poderosos.

No encontro entre Indio e seus novos companheiros (liderados por Escudo), Santielle toca piano, inclusive as partituras de Franz Schubert. Depois de discussões entre eles, o grupo se reúne e vai para o seu objetivo, quase sempre com brigas entre os mercenários, a maioria sem um grande motivo para tal.

Sabata Adeus : A aventura revolucionária de Parolini e Yul Brynner

Os primeiros embates entre os homens do coronel e os mexicanos são curiosos. Os brancos europeus usam metralhadoras que cospem muitas balas em pouco tempo, já os mexicanos são quase todos velozes e leves, saltam sem grande esforço, parecem plumas que flutuam silenciosamente pelo céu.

A trilha sonora é bonita, com música de Bruno Nicolai, de Cem Mil Dólares para Ringo, Conde Drácula de Jesus Franco e A Volta de Arizona Colt. O compositor varia bem de tom, nos momentos emotivos, usa assobios e notas de piano, já nos trechos engraçados usa instrumentos de corda.

O grupo de justiceiros que persegue Kimmel não tem como se definir como um de heróis, visto que a maioria deles possui uma moral discutível. Em vários momentos eles quase se matam.

É Indio quem impede que eles se assassinem. Ele age e funciona como um anjo pacificador.

No caminho para disputa entre os austríacos e os revolucionários, ocorrem alguns conflitos na trupe dos heróis, a maioria sem motivo plausível aparente. As divergências ocorrem sob pretextos supostamente corretos, em direção as ordens que Ocaño deu, mas seriam resolvidas facilmente caso houve boa vontade por parte dos personagens.

De qualquer forma, os aventureiros agem como querem, seguem ordens deles próprios e mais de uma vez Ballantine é salvo por Sabata, em uma delas só não é morto por Escudo graças ao fato de saber onde está o ouro.

Eventualmente os "mocinhos" caem na armadilha do austríaco, são trancafiados na mansão onde ele estava e recepcionados por eles próprios. Isso foi tão cuidadosamente pensado - afinal, Kimmel em pessoa estava ali - que faz perguntar se havia um infiltrado ali sendo Ballantine o candidato óbvio a isso, já que costumeiramente era um agente duplo.

No entanto, não fica claro se realmente houve cooperação ali, o que de fato ocorre é que os homens de Escudo se disfarçam de europeus, mesmo sendo obviamente de outra cor.

O conflito final não é só um tiroteio violento, mas também um bombardeio, já que a arma surpresa de Sabata e seus amigos eram bananas de dinamite e outros explosivos. Eles acertam tantos que acabam impedindo os austríacos de usar metralhadora por um longo período, ganhando tempo, dessa forma.

O loirinho finge que morreu, para levar o ouro consigo, mas é burro o suficiente para se permitir ter o barril atrás de si alvejado, permitindo assim que a maior parte dele simplesmente caia.

Essa solução é burra, pois nem Escudo, nem Ballantine e nem Indio conseguem recuperar a parte do ouro que caiu. Como o estado dele em pó, boa parte se misturou na areia, sendo possivelmente recuperável, enquanto boa parte dele caiu na ponte que foi explodida.

Essa talvez seja a maior mensagem do filme, resultando assim em uma crítica a ganância e a valorização da comédia, embora esse não seja tão cômico quanto os filmes de Trinity, a parte do humor é bem valorizada e bem encaixada.

A ideia de abordar os temas típicos do Zapata Western é bem pensada, pois é mostrada de uma maneira mais despojada e engraçada, abrindo chance de universalizar mais ainda a mensagem, fazendo ela soar engraçada. Ele pode não ser sério como Uma Bala Para o General ou os filmes de Pancho Villa, mas também não descuida da temática.

Adeus Sabata é um filme divertido, que tem personagens carismáticos e uma história pontual, que equilibra bem entre aventura, humor e louvor a revolução mexicana. É um dos melhores filmes de Parolini, mesmo não sendo da saga Sabata.

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