Uma Borboleta com as Asas Ensanguentadas : O confuso thriller/giallo de Duccio Tessari

Uma Borboleta com as Asas Ensanguentadas : O confuso thriller/giallo de Duccio TessariUma Borboleta com as Asas Ensanguentadas é um filme de horror europeu realizado por Duccio Tessari e localizado dentro do gênero Giallo. Sua trama gira em torno da busca das autoridades por descobrir quem matou uma moça estrangeira em pleno parque público, aparentemente sob os olhares de muitos populares.

Com o decorrer da história ocorre um julgamento grandioso, mais mortes se avolumam justamente quando o principal suspeito está com a justiça.

Coprodução Itália e Alemanha Ocidental, foi dirigido pelo experiente realizador de filmes de faroeste. Tessari é conhecido por ter ajudado a escrever Por Um Punhado de Dólares, embora não tenha sido creditado como tal.

Em 1971 um realizador experiente, tendo conduzido bons westerns spaghetti como Uma Pistola Para Ringo, Ringo Não Discute... Mata e Uma Dupla de Mestres - Viva a Morte... Tua.

Também fez o suspense policial Os Assassinos Só Matam aos Sábados e Homem Sem Memória. Nos anos oitenta, dirigiu e escreveu a versão live action do cowboy da Bonelli Tex, no esquecido Tex Willer e os Senhores do Abismo.

O nome original do filme é Una farfalla con le ali insanguinate. Nos países de língua inglesa, é chamado como, The Bloodstained Butterfly. A tradução no restante do mundo não é tão diferente, sendo em francês Un papillon aux ailes ensanglantées e em países com língua espanhola Una mariposa con las alas ensangrentadas.

O longa foi filmado na Itália, com a maior parte das cenas na Lombardia, especialmente as externas. Houve gravações em Bergamo e em pontos turísticos de Milão, como Piazza San Babila, Grattacielo Pirelli, Stazione Centrale. As cenas de estúdio foram no Incir De Paolis Studios, em Roma, Lazio.

Os estúdios por trás do longa-metragem foram a Filmes Cinematografica, a Constantin Film além da Rialto Film, essas duas últimas, sem créditos na exibição nos cinemas.

Não há muitos detalhes sobre quem produziu o longa, o máximo nesse ponto são os créditos de Cecilia Bigazzi, de O Leão de Thebas e Super Agente em Casablanca, como production manager, além de Averoe Stefani de Amanhã, O Último Dia e Zorro de 1975, creditado como production manager.

Na pré-produção, antes mesmo de ser rodado, o longa foi promovido como uma adaptação do escritor e dramaturgo Edgar Wallace, que trabalhou em clássicos como King Konge que foi adaptado em O Homem Que Comprou a Morte e Sete Orquídeas Manchadas de Sangue.

Os planos mudaram duas semanas antes das primeiras filmagens, Rialto e Constantine, empresas alemãs, desistiram de promover o longa assim. Todas as referências ao escritor foram removidas.

Esses estúdios foram os responsáveis por trazer parte do elenco típico das produções alemãs, como Günther Stoll e Wolfgang Preiss, ambas estrelas das adaptações de Wallace da Rialto, nas obras conhecidas como filmes “krimi”, estilo de filmes de ação alemães bastante peculiares, que normalmente adaptavam histórias policiais literárias e que esteve em alta entre 1959 e 1972.

Uma Borboleta com as Asas Ensanguentadas : O confuso thriller/giallo de Duccio Tessari

O roteiro ficou por conta de Gianfranco Clerici, que também fez o argumento, junto a Tessari. O escritor participou da construção de obras de grandes diretores como a trinca O Último Mundo dos Canibais, Holocausto Canibal, A Casa no Fundo do Parque, clássicos de Ruggero Deodato, também em O Estripador de Nova York e Nova York: Cidade Violenta de Lúcio Fulci e Tubarão Vermelho de Lamberto Bava.

A trama começa focando em uma família que passeia pelo parque. O dia é chuvoso, a temperatura parece amena e as pessoas andam despreocupadas nos locais públicos, até que esses personagens encontram algo estranho: um corpo esfaqueado.

A pessoa que cai por um cenário acidentado e íngreme é uma moça, que já aparece morta. É identificada depois como Françoise Pigaut (Carole André) e o suspeito foge correndo, de maneira tão displicente que nem parece estar preocupado em ser pego.

A pessoa tem sua identidade escondida por trajes simples. Veste um sobretudo cinza, usa um chapéu e corre até conseguir pular um muro, para entrar em um carro de fuga.

Surpreende que o matador fuja do estereótipo do assassino com vestes negras, típica dos filmes que Dario Argento fazia, como nos clássicos contemporâneos a esse O Pássaro das Plumas de Cristal ou O Gato de Nove Caudas. Esse aliás é outro dos filmes gialli que usa nome de animais no título, como a trilogia de Dario, que completaria com Quatro Moscas Sobre o Veludo Cinza e obras como Uma Lagartixa no Corpo de Mulher e O Ventre Negro da Tarântula.

As suspeitas caem então em um apresentador de programas esportivos, Sandro, ou Alessandro Marchi, personagem do ator de séries Giancarlo Sbragia, que havia trabalhado em Crime Tempestosi e Anna Karenina. No entanto, outros dois assassinatos semelhantes acabam deixando as autoridades em dúvidas se seria ele o real culpado ou não.

O Detetive Berardi, de Silvano Tranquilli, de Dança Macabra, se encarrega de investigar o caso. Durante a investigação outros personagens são introduzidos, como o jovem e belo Giorgio, do ator austríaco Helmut Berger de Os Deuses Malditos e O Poderoso Chefão Parte III.

Uma Borboleta com as Asas Ensanguentadas : O confuso thriller/giallo de Duccio Tessari

A grande questão do filme é que os personagens aparecem de forma inesperada, não há preparação mínima, que dirá grandes introduções, eles aparecem sem grande referencial, são jogados em tela.

Há no início alguns bons momentos, como a reconstituição do caso, em uma imaginação de como a mulher morreu. Nesse trecho se levantam possibilidades de revide a um assédio. Possivelmente o assassino tentou abusar de Françoise, matando ela depois da recusa, sendo assim um crime sexual, possivelmente passional.

Isso agrava o caso, mas não joga luz sobre a identidade do homicida. Quando as outras outras mortes ocorrem, essa possibilidade é deixada de lado, mas elas só começam a ocorrer bem depois da metade do filme, na meia hora final, então o descarte dessa possibilidade não faz muito sentido, não nessa parte da trama.

Também se levanta a possibilidade de um homem impotente ter assassinado a moça, sendo assim um crime de ordem sexual e misógina, no entanto esse comentário não é muito desenvolvido.

O que se sabe é que houve pelo menos um cúmplice, alguém que dirigiu para que o culpado não ficasse a pé. Berardi sugere que haja até um terceiro participante, um outro culpado, mas essa possibilidade não é muito desenvolvida.

A direção de fotografia de Carlo Carlini (O Vingador Anônimo) é bastante arrojada, especialmente nas cenas de carro, em primeira pessoa. Ele conduz cenas de viagens pelas ruas estreitas da Lombardia, que inclusive, quase resulta em um atropelamento da parte de Georgio.

A polícia enquadra o jornalista, leva o âncora de mesa redonda preso e ele imediatamente chama Giulio Cordaro (Günther Stoll), seu advogado, para cuidar do caso.

O início do julgamento de Sandro é dramático, ele está atrás de grades no tribunal, aparece culpado até que se prove o contrário, pervertendo a lógica de em dúvida, o julgar deve ser pró réu.

Uma Borboleta com as Asas Ensanguentadas : O confuso thriller/giallo de Duccio Tessari

Há boas manobras de filmagem, muita variação de ângulo, mas a edição é bem confusa e irregular, tão frenética em alguns pontos que atrapalha a apreciação. A variação entre estilos distintos de filmagem é rápida demais, torna a obra um bocado complicada de compreender e acompanhar.

A defesa acusa que as provas dadas foram forjadas, inclusive os depoimentos das testemunhas, que são postos em descréditos, de modo esperto pelo advogado de Sandro.

A fim de provar sua inocência, o acusado se vê obrigado a assumir que na sexta à tarde, dia da morte da moça, estava com sua amante Marte Clerici (Lorella De Luca) e faz isso na frente de sua mulher, Maria, interpretada por Ida Galli.

Esse trecho deveria ser pesado, dramaticamente impressionante, mas não, carece de importância e verve, serve tão somente para inocentar o personagem, já que sua versão casa com a realidade, por conta de um tombo da amante, que se cortou e sangrou sobre a camisa limpa dele.

Apesar de ser experiente enquanto cineasta, Tessari não consegue injetar tensão em seu filme. Mesmo que a obra seja curta e com um ritmo cambaleante. Há poucas mortes e pouco esforço na construção dos mistérios.

A escolha de misturar Filme de Matança com Thriller jurídico parecia boa em premissa, mas a execução é torta, resulta em algo enfadonho, que não consegue ter nem urgência e nem construção de texto.

Uma Borboleta com as Asas Ensanguentadas : O confuso thriller/giallo de Duccio Tessari

Por falta de provas, Mario é solto especialmente graças ao fato de outras mortes ocorrerem enquanto ele estava preso. No entanto, sua saída do tribunal não dá qualquer clarividência sobre a identidade da pessoa que estava matando as moças.

O filme se encaminha para o final, dando certa importância para Sarah, a filha de Sandro, feita por Wendy D'Olive, mas fora os trechos finais e uma ou outra possibilidade de romance, a personagem é subaproveitada.

Para tentar salvar seu filme, Tessari apela para um caráter referencial. Como era comum aos gialli, ele tenta emular sucessos estadunidense, fazendo aqui momentos típicos de um pastiche de Um Corpo que Cai, do mestre do suspense Alfred Hitchcock.

As revelações no final são bem anticlimáticas, com tentativas de despistes que não enganam qualquer parcela do público. Surpreende como a polícia e as autoridades jurídicas foram ludibriadas por ardis tão infantis e tolos.

A motivação de Giorgio é compreensível, mas é bem mal construída. Suas paixões não condizem com a construção de bad boy que ele tentou bancar o filme inteiro.

No final a sensação é que toda a celeuma e o processo jurídico, foi feita para chegar a uma conclusão bastante óbvia e está na trama só para encher linguiça, para dar duração ao filme.

O filme acaba sendo um desperdício de algumas boas ideias e de talentos artísticos, resultando em uma obra irregular e que parece ter seus defeitos maximizados graças a pressa para entregar um filme que surfaria uma onda que não a sua.

Uma Borboleta Com as Asas Ensanguentadas é fraco, tem semelhanças com A Iguana da Língua de Fogo, mas é ainda menos inspirado que seu par, caindo na malha do que pior o gênero giallo pode oferecer, o que é uma lástima, evidentemente, pois parecia ter potencial para além das belas imagens que Tessari propõe.

Avatar

Comente pelo Facebook

Comentários

Comente pelo Facebook

Comentários

Deixe uma resposta