Natal Sangrento : Um novo e estranho capítulo da saga de Papai Noel Assassino

Natal Sangrento : Um novo e estranho capítulo da saga de Papai Noel AssassinoNatal Sangrento é um filme de ação e horror bastante curioso, já que se vale de algumas fórmulas estranhas, que normalmente não se misturam. Lançado em 2012, ele reúne elementos de Filmes de Matança e Slasher Movies e terror baseado em datas festivas.

Essa é uma produção entre Canadá e Estados Unidos, dirigida por Steven C. Miller. Embora na época tenha se tentado fugir dessa pecha, é de fato uma refilmagem de não um, mais dois filmes. Acaba se posicionando dentro do espectro dos remakes sombrios, onda essa iniciada em 2003, no Massacre da Serra Elétrica de Marcus Nispel.

Apesar de adaptar parte das histórias de Natal Sangrento e Natal Sangrento 2: Retorno Macabro, a trama central, pensada pelo roteirista Jayson Rothwell se baseou em outra coisa, em uma história real conhecida como O Massacre de Covina Holiday, ocorrido na véspera de Natal de 2008.

No entanto não havia aqui o compromisso de ser uma obra biográfica ou baseado em fatos. O caso foi tão somente uma inspiração para esse filme.

O título do longa mudou se comparado aos outros. A alcunha foi reduzida de Silent Night, Deadly Night para apenas Silent Night, ou seja, se tornou homônimo de várias obras, entre elas, A Última Noite e o recém lançado O Silêncio da Vingança. Teve poucas variações, como na França, onde foi chamado de Bloody Christmas.

O longa se passa na cidade fictícia de Cryer Chapel, no Wisconsin. A escolha por essa base é irônica, já que boa parte dos protestos que tiraram o filme original de cartaz ocorreram justamente em Milwaukee. As locações, no entanto, foram em Winnipeg, Selkirk e Stonewall, todas essas em Manitoba, Canadá.

Os estúdios por trás da produção são a Buffalo Gal Pictures e a Media House Capital, mas ao espectador mais desatento pode ocorrer uma confusão, já que a vinha de uma delas lembra bastante a introdução da distribuidora Platinum Dunes, estúdio de propriedade de Michael Bay e seus amigos, que fez as refilmagens O Massacre da Serra Elétrica de 2003 e Sexta-Feira 13. Não ficou claro se foi intencional ou não, pode ter sido proposital, um artifício para tentar tornar esse um produto mais confiável. A distribuição oficial ficou a cargo da Anchor Bay Films.

O longa tem como produtores Richard Saperstein de O Nevoeiro, Brian Witten de Cidade das Sombras, Shara Kay de Dominados Pelo Ódio), Phyllis Laing de Evocando Espíritos. A produção executiva ficou a cargo de John G. Carbone, Sean E. DeMott, James Gibb, Aaron L. Gilbert, Adam Goldworm, Vincent J. Guastini, Kevin Kasha, Thomas M. Kastelz, Edmund Mokhtarian, Jayson Rothwell, Steve Ruff e Mark Sanders.

Em algum ponto da pré-produção, se pensou em Kevin Greutert, de Jogos Mortais VI e Jogos Mortais: O Final, para a função de diretor. Optaram por Miller, que havia feito o filme para a televisão Gritos do Além.

O roteiro desse ficou com Jayson Rothwell, que é conhecido pelo thriller Reencarnação com Heather Graham e por Polar, filme de ação estrelado por Mads Mikkelsen.

Considerando essa carreira, não é à toa que esse "novo" Natal Sangrento seja tão baseado em sequências de ação.

Natal Sangrento : Um novo e estranho capítulo da saga de Papai Noel Assassino

A narrativa é bem diferente do que já foi visto na franquia, mesmo considerando que a saga não tem exatamente uma linha guia de abordagem, tampouco há apego ou a cronologia ou mitologia.

Vale lembrar que já em Noite do Silêncio/Natal Sangrento 3 houve uma ruptura de abordagem, enquanto Natal Sangrento 4: A Iniciação praticamente independe da data festiva.

No entanto esse Silent Night não troca a questão da temática mudada, mas sim de atmosfera. Se mira muito mais a violência gráfica, que se estica até uma extremidade, mostrando uma mulher em um cativeiro, mantida assim por um sujeito malvado, que confecciona uma bela fantasia de Papai Noel para si.

Não demora até que seja mostrado uma outra pessoa, um homem, amarrado com luzes de natal, que implora por sua vida, achando que aquele é um marido traído em busca de vingança.

Essas pessoas mostradas não são importantes, são personagens descartáveis. Não há muito com quem se importar, tampouco há para quem torcer, de diferenciado há o assassino, cuja personalidade se resume ao seu modus operandi, além da policial Aubrey Bradimore, de Jamie King, atriz famosa por sua participação em As Branquelas e lembrada também por papéis em outros filmes B, como Dia dos Namorados Macabro 3D.

Aubrey é uma boa pessoa, uma oficial de justiça esforçada mas bastante subestimada. Não fica claro qual é o motivo que a faz ser tão virtuosa, questão essa que se torna ainda mais esquisita pelo fato de quase todos os personagens, exceto o pai dela (que também foi tira) tratam ela mal, subestimando suas capacidades.

Talvez ela tenha sido idealizada como alguém muito mais nova, daí escolheram Jaime King para o papel, colocaram ela como uma agente que é viciada em trabalho e esqueceram de retirar a desconfiança da cidade com ela. Ou isso ou as pessoas são tão naturalmente malvadas que retribuem de maneira ruim os esforços dela.

Do restante do elenco se destaca o personagem de Malcolm McDowell, que faz o xerife James Cooper, além Donal Logue, que faz um dos muitos Papais Noéis, chamado de Santa Jim aqui.

Absolutamente todos os personagens são malvados, ruins e escrotos, além é de mal caracterizados, já que acabam caindo na obviedade de ser alvo indiscutível do assassino serial vestido de Bom Velhinho que é conhecido como Mr. Snow.

É como se o texto fosse uma justificativa de uma velha beata que tenta dar lição de moral em todos e para isso ela precisa fazer cada pessoa de Cryer Chapel ser mau caráter. Até os religiosos parecem ruins, como o reverendo Madeley (Curtis Moore), que tenta seduzir fiéis, flertando com algumas menores de idade, fotografando meninas bonitas sem autorização, fitando decotes, acumulando material para um momento de intimidade onanista.

Cryer Chapel é uma cidade habitada por muitos homens fantasiados. Serve de base de exportação para atores e profissionais que no natal de vestem como o Bom Velhinho. Ali se treina interpretes dos Papais Noéis de shopping center, desse modo o homicida malvado consegue se camuflar ainda mais.

Natal Sangrento : Um novo e estranho capítulo da saga de Papai Noel Assassino

Ao menos não demora a aparecer o assassino novamente. A polícia dá a ele um apelido característico - Snow - tal qual era comum em casos reais de serial killers, onde ou as autoridades ou a imprensa local resolve dar um título sugestivo a qualquer possibilidade de assassino em série que aparece, a fim de identificar ele e dar uma atenção sensacionalista aos casos de morte.

O visual desse vilão é legal, já que possui óculos que cobrem os olhos. Junto ao plástico enrugado, esconde a identidade do assassino, além de dar um toque macabro, ajudando a compor uma imagem aterradora da parte de Snow.

Aubrey autua Jim Epstein, o Papai Noel interpretado por Logue, mas faz isso meio sem motivo, só por não o conhecer e por ele ser mal-educado quando é indagado sobre os eventos suspeitos do matador.

Nesse ponto ela se torna refém das circunstâncias, abrindo brecha para justificar o fato de subestimarem ela, mas como é de costume, Epstein também a trata mal e eventualmente é preso, por uma questão de precaução.

Não há uma repetição de personagens presentes nos filmes de 1984 e 87, ou seja, não há um Billy Chapman ou um Ricky Caldwell, mas há uma referência a famosa cena do avô surtando, mostrando o paciente com problemas mentais, mr. McKenzie (Brian Richardson) tendo um surto.

Natal Sangrento : Um novo e estranho capítulo da saga de Papai Noel Assassino

Aqui se "explica" como o vovô Chapman acordou da letargia, associando aquela atitude a uma possessão demoníaca. Richardson se contorce, até faz uma voz grossa, repetindo quase o mesmo texto do anterior.

É uma sequência bem qualquer nota, como aliás é boa parte da tentativa de criar expectativa. Há alguns sustos fracos, bem ruins, acompanhados normalmente por uma trilha intrusiva de Kevin Riepl e uma fotografia de Joseph White que se caracteriza por ser lavada, possivelmente emulando o cinema de Greutert.

Mesmo que ele não fosse o diretor é inegável a influência da saga Jogos Mortais nesse, também nos assassinatos brutais. Apesar disso, não há muito motivo para as mortes ocorrerem, nem mesmo a justificativa moralista de "quem transa, morre".

Alguns confrontos fazem referências a momentos clássicos, como um ataque a uma moça que é sufocada por uma cortina de chuveiro. Essa é uma homenagem à cena da morte de Clare em Noite do Terror ou Black Christmas de 1974), onde uma personagem é estrangulada com um saco plástico.

Também há destaque para uma pessoa que tem as costas feridas pelo chifre de uma rena cuja cabeça é um troféu em uma casa, como ocorreu com a personagem de Lynnea Quigley no longa original.

Miller tenta inovar nos assassinatos, variando entre tipos de tomada, com muitos closes rápidos, mas essas tentativas variam de qualidade, algumas sendo boas, seguidas de outras que parecem feitas por alguém muito, mas muito amador.

Pelo menos há um bom uso de maquiagem, fruto do trabalho do supervisor de maquiagem Vincent Guastini de Eu Sou a Lenda e O Último Samurai, acompanhado do serviço do coordenador de design George Frangadakis de Renascido do Inferno e do especialista em Spfx de Doug Morrow de Godzilla (2014) e Noite Infeliz.

Também tem muito gore, muito desmembramento e variações de situações e emblemáticas, inclusive com uma piada, que referencia o Garbage Day, em atenção ao meme de Natal Sangrento 2: O Retorno Macabro.

Também pesa positivamente o cuidado em mostrar o vilão confeccionando várias máscaras, já que em algumas mortes ele fica tão sujo de sangue que simplesmente inutilizaria o disfarce.

A revelação sobre a motivação do vilão é boba e pueril, conversa com origens de lendas urbanas e com achaques a honra de uma pessoa em uma cidade provinciana.

A maledicência em um lugarejo causa um trauma no futuro assassino, que além de ver seu pai surtar, ainda assiste ele ser consumido pelas chamas de sua própria arma.

Isso faz com que o sujeito tenha uma ligação direta com Aubrey, já que foi o pai dela quem acertou a câmara de armazenamento de combustível do pai do assassino, além de justificar o uso da arma do lança-chamas.

Natal Sangrento : Um novo e estranho capítulo da saga de Papai Noel Assassino

A dúvida que fica é: é realmente necessário explicar de maneira tão óbvia a motivação de um personagem matador? Não seria melhor manter algum mistério?

Ao menos a cena que mostra o choque entre o policial e o homem traído é bem-feita, sensacionalista demais, mas muito bem encaixada.

No entanto quando a ação precisa ser compreensível, não é, especialmente quando final chega a luta final. A sequência é confusa, tão bagunçada que se torna quase incompreensível. Há muitos cortes rápidos e o visual desse cenário em específico, com luz neon vermelha é muito ruim.

Natal Sangrento é um resumo dos dois primeiros filmes, que se apropria de alguns elementos clássicos, mas não tenta ser uma mera cópia. Acaba soando derivativo e forçado especialmente graças ao fato de apelar para fórmulas comprovadamente fracas. Se destaca dos seus pares exatamente pelo fato da franquia não possuir grandes filmes, no entanto é o mais genérico e o que menos tem boas histórias de bastidores se comparado aos anteriores.

 

Avatar

Comente pelo Facebook

Comentários

Comente pelo Facebook

Comentários

Deixe uma resposta