Amityville 3: O Demônio é um filme horror, de casa mal-assombrada lançado em 1983. Coprodução entre México e Estados Unidos, o longa-metragem foi dirigido pelo experiente Richard Fleischer e "apresentado" por Dino de Laurentiis.
Ao contrário dos seus antecessores, Terror em Amityville e Amityville 2: A Possessão, esse não se baseia em um livro, mas sim nos relatos do investigador paranormal Stephen Kaplan.
Um dos personagens é vagamente baseado nele, assim como a trama se baseia na investigação dele, que na época tentava provar que a história do casal Lutz era uma farsa.
Este é o primeiro filme de Amityville a ser rodado na proporção 2,35:1 e sua temática é consideravelmente mais suave que o último. Os produtores fugiram de temas polêmicos, como o incesto que povoou o filme conduzido por Damiano Damiani.
Essa versão foi escrita por David Ambrose, que utiliza o pseudônimo William Wales, roteirista consideravelmente famoso por trabalhar em O Quinto Mosqueteiro, Desastre no Trem da Morte, Nimitz Volta ao Inferno e Um Verão Perigoso.
O longa foi produzido por Stephen F. Kesten, que trabalhou em filmes como O Sequestro do Metrô, Conan: O Destruidor e A Maldição. e tem como produtor executivo Antonio Rubio, que trabalhou em diversas funções no cinema e em alguns filmes famosos como Alto Risco , O Pirata da Barba Amarela e O Predador.
Apesar de não ser baseado em um livro, esse acabou ganhando uma novelização, escrita por Gordon McGill.
Como o longa acabou sendo um fracasso financeiro e de crítica, planos para novos filmes inspirados em Amityville no cinema foram abortados. A partir do quarto longa não houve mais lançamento nos cinemas. Amityville 4: A Fuga do Mal foi um telefilme e de Amityville 5: A Maldição de Amityville, foram todos lançados para vídeo, exceção ao remake.
Esse foi filmado utilizando o processo ArriVision 3-D, mesmo modo de filmar que esteve em Sexta-Feira 13 - Parte 3 e Tubarão 3. Na exibição os espectadores receberam óculos descartáveis, que criavam a ilusão de que adereços e elementos estavam vindo em direção aos espectadores.
Houveram cenas com um poste que penetra em uma janela de carro, um Frisbee que voa em direção à tela, um conjunto de portas francesas que voam em direção ao público durante a cena final e um esqueleto que estende os braços.
O que mais chamou a atenção foram os títulos de abertura do filme, nos quais as grandes letras maiúsculas se moviam para fora e o 3D ficava distorcido à medida que se moviam para fora.
O processo deveria ser um novo começo para o processo de filmar em 3D, mas não durou muito. Houveram muitas reclamações de que as imagens estavam borradas e distorcidas.
Roger Ebert, crítico do Chicago Sun-Times reclamou que as imagens eram indistintas, chamou o efeito de péssimo. Outro crítico, Gene Siskel do Chicago Tribune disse que o 3D não acrescentou nada à experiência e chamou as sequências como mero cansaço visual.
A percepção do público, aparentemente, não foi muito diferente. Curiosamente, esses três filmes citados fizeram parte de um ciclo de filmes 3-D do início da década de 1980, que incluíram em 1981 Comin' at Ya!, Parasita de 1982, em 1983 Metalstorm, O Homem que Não Existiu , Cães do Inferno, Caçador do Espaço: Aventura na Zona Proibida e Tesouro das Quatro Coroas, Silent Madness de 1984 e Starchaser: A Lenda de Orin lançado em 1985.
Devido a uma ação judicial entre a família George Lutz e Dino De Laurentiis, Amityville 3-D não foi associado aos filmes anteriores no marketing. A ordem incluía também a proibição de citar ao casal George e Kathy, sua família e filhos.
Ainda assim a trama segue um investigador paranormal que tenta provar que a história dessa família era uma farsa. Curiosamente a família DeFeo é citada, o que é engraçado, já que o nome da família foi mudado para Montelli no episódio anterior da série Amityville 2: A Possessão.
O filme foi feito pelas companhias Dino De Laurentiis Corporation e Estudios Churubusco, foi distribuído pela Orion Pictures e MGM.
O nome original do longa-metragem é Amityville 3-D, mas em inglês pode ser encontrado como Amityville III: The Demon, Amityville: The Demon. Essa nomenclatura deu o que falar, especialmente quando foi lançado em mídia física.
A MGM Home Entertainment lançou o DVD com o título de cinema, Amityville 3-D na arte da caixa, mas receberam muitas reclamações porque o filme não era realmente em 3-D, já que o disco em si não permitia uma exibição com os efeitos tridimensionais.
Além disso, alguns compradores confundiram esse com uma versão 3-D do filme original de 1979 Terror em Amityville. Devido a isso relançaram o DVD com o título "estrangeiro" Amityville III: The Demon na arte da caixa, apesar do filme manter "Amityville 3-D" no cartão de título. No Brasil foi lançado em DVD como Amityville: A Casa do Medo.
Como ocorreu com os filmes anteriores, esse terceiro capítulo filmou as cenas externas em uma casa, em Toms River - Nova Jersey, e não na famigerada residência real, na avenida Ocean.
O interior foi ambientado nos já citados Estudios Churubusco. Os produtores só conseguiram filmar as cenas externas antes de a casa ser reformada. Ela tinha originalmente quatro janelas em forma de lua crescente, duas de cada lado.
Porém, na época das filmagens os donos da casa não queriam as janelas na lateral da casa voltada para a estrada, então as modificaram, reformaram para parecerem pequenas janelas quadradas comuns. Dessa forma as tomadas das janelas no formato tiveram que ser filmadas no lado voltado para o rio e não para o asfalto.
Houveram cenas também na California em 11840 W. Telegraph Rd., Santa Paula na Califórnia, especialmente na cena na casa da avó. As cenas internas nessa casa foram em Woodbury-Story House - 2606 N. Madison Avenue em Altadena e em 402 East M Street, Wilmington, Los Angeles.
Fleischer era um diretor que em 1983 já tinha uma carreira de considerável sucesso. Ele fez 20.000 Léguas Submarinas em 1954, depois se aventurou no cinema de gênero, especialmente em No Mundo de 2020 (Soylent Green), alguns anos depois fez Conan: O Destruidor (84) e Guerreiros do Fogo (85). Era parceiro contumaz de Dino De Laurentiis e dos demais produtores.
A abertura já demonstra o quão sensacionalista será a obra, uma vez que coloca a palavra-chave Amityville saindo das janelas da parte de cima, pulando para a tela.
O 3D era para ser o grande "diferencial" dessa obra, mas não chamou tanta atenção. No entanto, o filme está longe de ser desprezível, especialmente por conta do clima melancólico e também por seus efeitos especiais práticos, além dos atores e atrizes.
O elenco desse filme é curioso, a começar pelos créditos iniciais, que dão destaque a Candy Clark, afirmando que ela faz Melanie. Vendo hoje é impossível não ter a atenção puxada por duas outras atrizes, primeiro, obviamente, Meg Ryan que vivia um dos seus primeiros papéis de destaque no cinema.
A outra é menos famosa, mas não menos brilhante: Lori Loughlin, que anos mais tarde, faria parte do elenco fixo da sitcom Full House, conhecida no Brasil como Três É Demais.
A introdução é consideravelmente curiosa, já que mostra um casal triste, que vai se consultar com dois médiuns, a fim de ter contato com uma pessoa que eles perderam, em uma sessão espírita.
O marido é John Baxter, personagem de Tony Roberts. Ele é um jornalista investigativo, incrédulo e cético, que estava pesquisando para um artigo, contratando assim os serviços do casal Emma e Harold Caswell - personagens de Leora Dana e John Beal respectivamente.
Sua esposa foi "interpretada" por Melanie e a dica para encontrar os charlatões foi do estudante especializado em eventos paranormais Elliot West, personagem de Robert Joy.
A cena inicial teria ocorrido no lar do caso de assombração dos anos setenta, que se tornou uma lenda urbana, que uniu o caso do primeiro filme com o crime real dos DeFeo. Ela se localiza na mesma avenida de Long Island, na cidade que dá nome a franquia e saga.
O personagem de Joy tem um interesse pela casa, uma verdadeira obsessão, uma vez que ela foi palco de assassinatos e supostas interferências espirituais. Logo, os dois jornalista conversam com o agente literário Clifford Sanders (John Harkins) que tenta vender tanto essa quanto qualquer uma das residências ao redor, sempre sem sucesso.
Aparentemente a população local é muito supersticiosa, não se permitindo fazer negócios pela casa e pelas vizinhança. Ele praticamente implora para que o casal não associe o nome dele a matéria sobre os supostos paranormais, mas ele é tão sorrateiro e convincente que consegue vender a casa para John, mesmo sem ter garantias de que a matéria não o citará.
A situação familiar do protagonista é pontual, ele está se divorciando se sua esposa Nancy (Tess Harper) e quer convencer sua filha Susan (Loughlin) a vir morar com ele, promete inclusive dar o quarto que ela quiser.
A personagem da filha é apresentada junto com sua amiga, Lisa, uma moça graciosa, de língua ferina e comportamento mais adulto que juvenil. Ela faz várias piadas de duplo sentido e é interpretada pela futura namoradinha da América, Meg Ryan.
O filme possui quarenta anos de lançamento, portanto, falaremos com spoilers. O aviso está dado, prossiga sabendo disso.
Os indícios de uma cronologia comum com os outros filmes são tímidos, até por motivos legais. O máximo de conexão citada é que é levado em conta o assassinato que Ronald Ronnie DeFeo Jr cometeu e nada mais.
Mesmo que não haja um apego a mitologia anterior, a sequência de eventos na residência é permeada por acontecimentos estranhos, inclusive com elementos fora do novo lar da família.
Ao revelar as fotos tiradas durante a matéria, Melanie percebe que o rosto de Sanders contém borrões nas imagens. Curiosamente, fotos com distorções se tornariam um grande clichê em filmes de horror, a exemplo do tailandês Espíritos: A Morte Está ao Seu Lado.
Não demora até que o vendedor retorne a casa, para enfim ser atacado por moscas, animais esses que se tornaram marca da franquia. Pouco depois ele morre, no segundo andar. Teve um infarto e faleceu pouco depois da chegada de John na casa.
Incrível que o protagonista é um sujeito cético e acostumado a fazer artigos que discutem paranoia e teorias da conspiração, mas acredita em polígrafo e detectores de mentira.
A metalinguagem mais esperta do texto reside no fato dos protagonistas trabalharem na revista Reveal - Revelação na versão em português - cuja capa mais atual tem grafado bem grande "Farsa em Amityville".
Essa é uma forma dos produtores exorcizarem a própria reputação, colocando em cheque as acusações de que a assombração que ocorreu ali não passa de uma farsa, jogando essa responsabilidade no casal que ajudou Jay Anson a escrever o livro original e não os magnatas do cinema.
No final, é um jogo de empurra, com a culpa variando entre gente sensacionalista, oportunista e inconsequente, que obviamente só quer dinheiro, ao explorar tragédias familiares que envolveram duas famílias, algumas vezes, feitas por gente que sofreu com esses causos.
Já que o personagem central é parte da desconstrução de que o medo espiritual é um mito, a ideia do filme é bem pensada, beira a genialidade até.
Um aspecto curioso é a música de Howard Blake, compositor experiente, oriundo de seriados como Os Vingadores, a parte orquestrada do filme Flash Gordon de 1980 , além do clássico também de 1983 Fome de Viver.
Esse foi o primeiro filme de Amityville lançado nos cinemas que não teve trilha sonora do vencedor do Oscar Lalo Schifrin, assim como o remake Horror em Amityville de 2005 e Amityville: O Despertar, que é uma história independente da saga como um todo.
Os temas musicais conseguem variar bem entre momentos mais divertidos e inofensivos, como a expectativa de Melanie ao entrar na casa sozinha, além do susto falso que ela sofre meio do nada, quando entra e não encontra a governanta Dolores, de Josefina Echánove.
Depois do surto de Melanie, Elliot e Nancy discutem sobre eventos paranormais e sobre a suspeita de assombração na casa.
Uma das questões que mais chama a atenção na trama é que a maioria das pessoas é muito crédula, quase todos são o que se chama popularmente de believer, tendo apenas John como alguém contestador. De resto, todos acreditam no mundo sobrenatural e nas ações de fantasmas e demônios.
Susan leva Lisa para visitar a casa, sem a autorização dos pais. Assim que elas entram, a amiga começa a falar de sexo com fantasmas. Mesmo com uma premissa boa o roteiro trata adolescentes como eles são.
A personagem de Ryan é uma conhecedora do caso de assassinato do DeFeo, quando chega até faz um tour pelos quartos, descreve onde e como ele matou as pessoas, afirmando que os primeiros homicídios tiveram o som abafado por trovões. Ela também acredita que no porão, na parte baixa da casa, há um poço para o inferno, só que essa informação foi retirada justamente do artigo que John escreveu e lá era tratada como uma farsa.
Também sugere que a casa pode ter sido montada em cima de um antigo cemitério indígena. Essa origem é tratada apenas como teoria, já que cada longa da franquia considera um ou outro ponto entre esses clichês, ou seja, aquele pode ou não ter sido o o lugar de descanso de mortos de origem de nativos-americanos.
O filme tem seus momentos indiscutivelmente macabros, como o fim de Melanie, que bate o carro em um canteiro de obras graças a uma mosca enorme que tirou sua atenção na direção. Um pedaço de cano atravessa o vidro da frente, quase acerta, mas não a machuca.
O objeto prende o carro, que entra em combustão rapidamente e sem motivo aparente, ao ponto de dominar o corpo dela, que é imediatamente queimado. Ela é encontrada por um outro motorista, descaracterizada, como uma caveira escurecida.
Outro momento insano é quando Nancy vai até a casa da avenida Ocean, vê sua filha subir as escadas toda molhada, pouco antes dos pais perceberem que ela sofreu um acidente, no lago perto do cais.
O ângulo da câmera do topo da escada nessa cena faz questão de referenciar o clássico Psicose de Alfred Hitchcock, com tomadas quase idênticas as cenas de ataque na Mansão Bates.
A sequência que mostra os últimos momentos da filha dos Baxter é bastante confusa. O que parece é que ela morreu, mas ela volta a aparecer, andando, sem ajuda de ninguém.
Ela pode ter se tornado um espírito desencarnado, um fantasma, ou é apenas um espírito malvado, que toma a identidade da menina para tentar enlouquecer Nancy, cuja mente já era dita antes como possivelmente insana.
A dúvida sobre a sua morte só é revelada algum tempo depois, por um bom tempo o espectador acompanha a mãe da moça, dentro de seu pensamento de negação do sentimento de luto.
A meia hora final é bastante agitada. Há um pesadelo onde John está com sua ex-esposa no porão, ao lado de um poço, onde sai uma luz verde, florescente, resultando no ataque de um corpo putrefato, de uma mulher, que lembra bastante a filha deles.
Mesmo sendo alguém cético, o pai fica bastante abalado, afinal, está com uma prova cabal e tocável de que o mundo espiritual existe.
Nancy gradativamente piora, até colapsar. Mergulha então em um estágio de negação. Não vai ao funeral da filha, acaba se apossando da casa em Amityville, não sai mais de lá para tentar contato com sua parente.
Elliot monta um aparato de gravação e captação de áudio e vídeo na casa, sob o pretexto de entender o que perturba Nancy e o que a faz não aceitar a morte da filha, mas fica óbvio que aquilo é para tentar contato com o mundo paranormal.
Ao mesmo tempo em que essa exploração do pós-morte gera fascínio, é também uma coisa de extremo mal gosto, já que Elliot diz ter boas intenções, mas quer ter um contato íntimo, com uma adolescente que acabou de morrer e ainda usa uma amiga dela, igualmente nova, como cobaia do seu experimento.
De repente, aparece como um borrão roxo, que passeia pela casa e tem a voz de Loughlin. Fica claro desde o primeiro momento que essa é possivelmente uma ilusão, um ardil do demônio que habita a casa, mas não há ninguém entre os personagens que sequer suspeite que aquela é uma armadilha.
Os trechos finais são bastante ilógicos. Fato é que Elliot West é capturado por um monstro branco, de efeito prático, que lembra um pouco um dos estágios larvais de Sonnie em Amityville 2: A Possessão.
O monstro bafora no rosto do especialista, faz derreter sua face, que imediatamente se deforma, em uma maquiagem que lembra de leve a caracterização do ator no futuro Viagem Maldita de Alexandre Aja.
Os efeitos de maquiagem são ótimos e assinados por John Caglione Jr., creditado como responsável por makeup illusions e Vincent Callaghan. Mesmo que a criatura apareça pouco, é marcante, talvez o ponto mais memorável do filme.
Os Baxter quase morrem, são agredidos pela casa, semelhante ao que ocorreu em Poltergeist: O Fenômeno, terminam todos sujos de branco, graças a tinta e ao gesso que cai do lugar no meio da ventania intensa. Ainda assim eles conseguem fugir, antes da casa explodir, não ficando claro se as pessoas que estavam lá dentro conseguiram escapar.
Amityville 3: O Demônio é irregular, parece uma galhofa especialmente por conta da motivação do vilão e a solução final. Mesmo que a obra se leve a sério em alguns pontos, acaba resultando em uma grande e engraçada piada de gosto duvidoso e nonsense, obviamente, tão cuidadosamente construída para parecer assustadora e tão fracassada nisso que acaba charmosa quando é deliberadamente humorística.
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