Halloween - Ressurreição : A patética tentativa de manter a metalinguagem na saga

Halloween - Ressurreição : A patética tentativa de manter a metalinguagem na sagaHalloween: Ressurreição é um filme de horror slasher que traz o icônico personagem Michael Myers mais uma vez como o centro das atenções. Lançado em 2002 tem na direção um cineasta acostumado com a franquia Rick Rosenthal, que tem aqui a responsabilidade de conduzir esse Halloween Oito e também deveria dar um destino para a Laurie Strode de Jamie Lee Curtis.

Oriundo dos estúdios Dimension Films, Nightfall Productions e Trancas International Films, é uma obra distribuída pela Miramax Films. O produtor mais uma vez é Paul Freeman, que havia participado de Halloween H20: Vinte Anos Depois, além de ter como produtor não creditado o profissional Michael Leahy, que fez Mutação 2, Colheita Maldita 7: A Revelação e Banquete no Inferno entre outras do cinema B.

Mais uma vez Moustapha Akkad é o produtor executivo, com seu filho Malek Akkad servindo de co-produtor. Tem produção executiva não creditada para o compositor Ralph Rieckermann, O longa-metragem se chama Halloween: Ressurrection na gringa, mas seria chamado Halloween: The Homecoming. A escolha do título de ressurreição tem a ver com a vontade dos produtores de dar logo de início a notícia de que Michael Myers está vivo. Ninguém renasce aqui, ao menos não literalmente.

A cadeira de diretor quase coube ao produtor e diretor de televisão Whitney Ransick, mas ele recusou. O cineasta Dwight H. Little, que é veterano na franquia tendo conduzido Halloween 4: O Retorno de Michael Myers também se demoveu do convite.

Coube então a Rosenthal a condução, que tinha feito Halloween II: O Pesadelo Continua, além de telefilmes como Na Sombra da Lei e Os Pássaros 2. Nos idos dos anos 2000, se concentrava mais em produções para a televisão, como L.A. Doctors, Wicthblade e Buffy: A Caça Vampiros.

Originalmente, os executivos da Miramax queriam dar continuidade à série criando uma história nova, sem ligação com Michael Myers, de maneira semelhante ao que se tentou em Halloween III: A Noite das Bruxas, mas a ideia foi descartada depois de pesquisas realizadas em sites de fãs, que preferiam mais uma obra focada em Michael.

O trailer de Halloween: Ressurreição foi visto pela primeira vez antes de Jason X , que foi lançado nos cinemas dos Estados Unidos em 26 de abril de 2002.

Halloween - Ressurreição : A patética tentativa de manter a metalinguagem na saga

O roteirista Daniel Farrands de Halloween 6: A Maldição de Michael Myers queria ter feito um oitavo filme chamado Halloween 8: Lord of the Dead, que teria Laurie Strode como principal antagonista, mas sua ideia foi rejeitada pelo estúdio, sendo lançada depois em quadrinhos pela editora Chaos!, como Halloween III: The Devil's Eyes.

Esse é o único filme após o Halloween: A Noite do Terror que começa imediatamente com o tema de John Carpenter tocando nos créditos de abertura. O último nome destacado nos créditos de elenco é o de Jamie Lee Curtis, que aparentemente não queria estar aqui.

Ela teria recusado participar do longa, só concordou em aparecer sob a condição de ser morta na abertura do filme, para garantir que Laurie Strode não participasse mais dos filmes.

Na época do lançamento do filme, Malek e Moustapha Akkad tentaram explicar que Jamie Lee gostou do roteiro, pedindo assim um papel nesse. As críticas públicas dela foram feitas, entre outros motivos, para desmentir isso.

Laurie aparece em um hospital psiquiátrico, em um asilo, onde está calada, catatônica, segurando uma boneca Raggedy Ann, que a própria tinha no filme original. O brinquedo serve aqui para receber os comprimidos que ela recebe dos médicos e esconde, para evitar assim ficar passiva quando a ação pedir uma atitude sua.

A trama começa misteriosa, pelos corredores da instituição, que desembocam no quarto de Laurie, cuja janela redonda lembra o mesmo aspecto da cena icônica de H20, onde Michael encara a personagem pela primeira vez no longa de Steve Miner.

Uma enfermeira explica para a outra como ocorreu a internação da personagem, mudando assim o final de H20. O roteiro de Larry Brand e Sean Hood ainda se preocupa em falar que Michael não só colocou a máscara em um paramédico, como esmagou as cordas vocais do sujeito, para que ele nada falasse.

Laurie está com cabelos grandes, presa, tomando remédios, aparentemente catatônica. Mas ela é esperta, já que não toma os remédios que a deixariam grogue. Seu visual é bem diferente inclusive do que se vê no material de divulgação, que porcamente, usaram fotos de Halloween H20.

Há muitos sustos falsos, especialmente com Harold, um detento fã de assassinos em série, interpretado por Gus Lynch, que imita John Wayne Gacy, o palhaço assassino de Chicago. Ele também cita Ted Bundy, fala de detalhes dos crimes dessas pessoas, parece um especialista em serial killers, um estudioso de casos.

Apesar das críticas ao filme - a maioria justa, por sinal - a tensão do início é muito boa. Michael retorna de forma cruel e meticulosa. Rosenthal reproduz Michael como uma máquina de matar, capaz de decapitar pessoas e até brincar de colocar a cabeça de uma delas dentro de uma máquina de lavar.

Quando invade o quarto de sua irmã parece um monolito, passando por cima da porta, como se ela fosse papel. Laurie até pergunta por que ele demorou tanto a aparecer, já que é dado que o hiato entre os eventos foi grande, parecido com o intervalo entre filmes.

Ela foge para outro ponto do hospital, consegue arrumar rapidamente uma armadilha - tarefa hercúlea, aliás, já que ela parecia mal sair do quarto - mas acaba sendo pega pelo assassino, por conta de tentar conferir se e a ele mesmo.

A personagem que era tão inteligente está abalada, tanto que peca, hesita em matar ele, achando que pode estar confundindo novamente ele com outra pessoa. Acaba levando uma facada e beija a máscara de Michael, diz que o vê no Inferno e cai.

Talvez o único comentário inteligente seja essa teoria edipiana, da irmã beijando a verdadeira face do seu irmão assassino, cumprindo assim o desejo de Michael, que matou duas irmãs já em fase sexualmente ativa.

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A queda de Laurie ocorre com o mesmo efeito sonoro de pouso que Michael teve quando caiu da janela no filme de 1978. Rosenthal tenta a todo custo parecer reverencial. Esse prologo ainda termina com Michael presenteando Harold com uma faca, antes de fugir para ter sua jornada de morticínio citada pelo estudioso.

A trama real ocorre na cidade natal de Laurie e Michael, começando pela universidade de Haddonfield. Entre as aulas são mostrados jovens, que participarão do novo plot, mas não de maneira direta.

O personagem Freddie Harris, feito pelo rapper Busta Rhymes. Ele, que é fã de filmes de kung fu idealiza um reality show, que se passaria na velha casa Myers, onde cada pessoa que estaria ali usaria uma câmera acoplada em si.

Entre as pessoas que participarão há alguns interpretes conhecidos do grande público, como Tyra Banks, modelo que havia feito Um Maluco no Pedaço, Katee Sackhoff que faria a princesa Bo-Katan em O Mandaloriano, Thomas Ian Nicholas da série de filmes American Pie e até Ryan Merriman, de Premonição 3 e O Chamado 2.

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Também há a dupla Brent Chapman e Kyle Labine, que têm pequenos papéis nesse filme e que estiveram também em Freddy x Jason, fato que torna ambos os únicos atores a aparecerem em um filme de Michael, Jason e Freddy.

O elenco ainda protagonizou algumas estranhas polêmicas em relação a escalação. Prova disso foi a rusga entre o diretor e Kate Sackhoff. Rosenthal queria que a personagem Jen levantasse a blusa e revelasse o sutiã em uma cena, mas a atriz recusou. Eis que no filme a personagem realmente faz isso, a despeito de Sackhoff não ter gravado.

Ela só soube disso quando o filme estreou, percebendo então que usaram uma dublê de corpo. A atriz ainda reclamou, já que a atriz que a substituiu tinha seios muito menores que os dela, agravado pelo fato dela ter chamado toda a família para ver o filme na premiere.

Dentro da trama, Michael é canastrão e metido a cineasta. Chega ao cúmulo de assassinar o cinegrafista Charlie (Brad Sihvon) com o tripé da câmera, justamente em um momento de transmissão interna.

Dito de maneira fria, a sequência parece engraçada e criativa, mas a execução beira o ridículo, envolvendo um deslize de Nora Winston (Banks) dançado na sala de edição, preparando um café gelado, reparando em tudo, menos em seu trabalho. Ela convenientemente olha o monitor das câmeras só quando Michael retirou o corpo do enfoque.

Chega a ser um bocado irônico que a modelo fazia uma personagem tão esnobe e distante de badalação em Fresh Prince of Bel-Air e aqui acaba sendo o exato inverso disso, uma pessoa volúvel e deslumbrada pela possibilidade de fama, cedendo aos gracejos do seu chefe, Harris. Ela era seletiva nas produções que escolhia atuar, mas aqui chutou o pau da barraca e virou um clichê ambulante.

A montagem de Robert A. Ferretti é confusa e mal pensada. O profissional acostumado a fitas de ação, como Condenação Brutal e Força em Alerta insere frames com a máscara de Myers em tela, não ficando claro se alguém edita e coloca isso na gravação ao vivo do reality ou se é apenas um chiste, um artifício narrativo que iguala o assassino a uma aparição punitiva que mira quem invadiu o recinto que um dia foi o seu lar e base.

Em todas as alternativas de dubiedade, parece sempre que a opção mais tola e óbvia é a correta. Como Rosenthal é um diretor de continuações mequetrefes, é demais esperar que ele seja minimamente inspirado aqui.

Se percebe que o projeto é audacioso, mas o roteiro não ajuda. O texto foi escrito por Brand, cujos trabalhos mais famosos são obras que o mesmo dirigiu como Estranha Obsessão, Máscara Mortal e Paranoia. O outro roteirista é Sean Hood de Cubo 2: Hipercubo e Corvo: A Vingança Maldita, ou seja, são escritores de filmes muito criticados.

Há muita filosofia de boteco, comentários supostamente espertinhos dos personagens e tentativas de parecer moderno, especialmente quando o reality show passa a ser transmitido ao vivo para a internet.

Surpreende a quantidade de sustos falsos e bobos, especialmente pelo fato de que esses são incapazes de provocar qualquer medo real. O que assusta mesmo o fato das pessoas que estão vendo acabam tendo mais ciência do que ocorre ali do que os que monitoram, já que Nora e Freddie só sabem beber e se divertir ao invés de vigiar o que ocorre ali. Não há grande irmão ou big brother que realmente vigie as pessoas da casa.

Também impressiona em como uma filmagem tão precária e com resolução tão baixa consegue ser visualizada pela garotada nos anos 2000. Mal dá para notar as interações dos participantes em visão estilo de primeira pessoa, que dirá conseguir enxergar um mosaico com quatro câmeras diferentes preenchendo a tela inteira.

No entanto os personagens ficam vidrados, viciados em ver a intimidade alheia.

Irrita a tentativa do filme em tentar parecer espertinho, apelando para um comentário metalinguístico que flerta com os clichês de jovens querendo transar, em uma casa abandonada, como em um filme de slasher autoconsciente. Aqui é tudo isento de sutileza.

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É dito que a cena da morte de Nora foi filmada, inclusive com fotos de bastidores provaram que a cena foi rodada, no entanto, quando o longa foi lançado em mídia física, não foi disponibilizada a cena deletada. A moça teria sido assassinada com um fio elétrico, que deixaria ela inerte, para enfim ser esfaqueada no abdômen. Isso explicaria a poça de sangue em que Sara (Bianca Kajlich) escorregou na garagem.

A decisão de tirar esse trecho ocorreu graças a sugestão de Brad Loree, o dublê que interpretou Michael. Seu argumento é de que Filmes de Matança normalmente tinham pelo menos uma morte misteriosa, que ocorreu no off camera, resultando assim em um susto nos personagens e nos espectadores, que não imaginavam que a tal pessoa faleceu.

As armadilhas planejadas pela casa são muitas, mas todas dependem de coincidências para funcionar. Ocorrem normalmente em momentos forçados e patéticos, como na primeira cena de sexo do filme, que ocorre com jovens esbarrando em uma parede, da onde caem corpos falsos caindo da parede.

É tosco demais e piora quando se percebe que Freddie planejou não só usar a casa de Michael como palco de seu programa, enquanto ele estava vivo e solto - e isso era sabido, pois alguém matou Laurie e ele era o maior suspeito - como copiou métodos, estética e os trajes do assassino.

O personagem de Busta Rhymes ainda dá um esporro no Michael Myers real, achando que ele era Charlie, também se fantasiando de Michael. O problema maior aqui nem é a pieguice da sequência e sim a completa tolice do assassino aceitar a bronca, obedecendo o showrunner do programa.

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O que fica patético são as justificativas escolhidas para tentar tornar os assassinatos filmados em algo congruente.

A situação piora ao mostrar os jovens vidrados na transmissão, em uma tentativa de imitar a cena de Pânico, em que as pessoas na festa assistem Halloween junto com Randy. Aqui não há charme, só parece um pastiche bobo e sem graça.

Freddie ainda acerta Michael com os golpes de Kung Fu, que o mesmo sabia unicamente por assistir obras cinematográficas do gênero, como Duel of the Iron Fists de Cheh Chang, de 1971. Até essas referências são tratadas de modo tolo e torto.

As partes mais patéticas ocorrem no final, com Sara se tornando uma candidata a final girl, imitando a Pam Roberts que Melanie Kinnaman fez em Sexta-Feira 13, Parte 5: Um Novo Começo, pegando para si uma motosserra para enfrentar o monstro bípede que é The Shape.

É tudo muito ridículo, especialmente o susto final, do cadáver de Michael abrindo os olhos depois de levar choque e fogo. Nada no mundo parece ser capaz de matar ele, e nenhum legista é competente para dar certeza de que ele morreu.

Em algum ponto do planejamento dos Akkad, se tinha a ideia de convidar Josh Hartnett para reprisar seu papel como John Tate em outro filme, intitulado Halloween: Retribution, fechando assim a trilogia com H20 e Ressurrection. Ele buscaria vingança pela morte de sua mãe, Laurie Strode. Em um roteiro rascunhado haveria participação do Xerife Leigh Brackett, que se juntaria à sua busca por vingança, já que Michael matou sua filha Annie em Halloween II.

A reação crítica, juntamente com o fracasso do filme nas bilheterias e a morte do produtor executivo Moustapha Akkad encerraram esses planos e a franquia retornaria com Rob Zombie em Halloween: O Início.

Halloween Ressurreição não consegue ser divertido, até tem algumas ideias que poderiam ser boas, mas são conduzidas de modo tão gratuito que não causam impacto nenhum. Ele poderia de fato ser divertido caso se levasse menos a sério, ou se tivesse de fato os múltiplos finais que foram pensados no roteiro original, fato que poderia diferenciar um pouco a obra, que resulta em algo genérico e mal construído.

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