A Noite do Pavor : Um filme cretino e esquecido entre os fãs de horror slasher

A Noite do Pavor : Um filme cretino e esquecido entre os fãs de horror slasherA Noite do Pavor é um filme de horror natalino bastante curioso. Dirigido por David Hess, foi lançado no início dos anos oitenta, é lembrado graças ao seu pôster extremamente feio, e também pela reviravolta surpreendente que tem, fato esse que guarda muitas semelhanças com um filme clássico de terror também de 1980.

A trama ocorre em uma escola de regime internato, que apesar de não ter aulas na época de festas de final de ano, hospeda algumas estudantes, que por sua vez, decidem receber meninos em seus aposentos.

Durante a madrugada da virada entre 24 e 25 de dezembro começam a acontecer coisas estranhas, especialmente com desaparecimentos, no entanto a rotina das pessoas que lá estão muda pouco, pelo menos até o decorrer do filme todo.

A Noite do Pavor tenta se agarrar a condição de ser mais um filme de horror em data festiva, mas esbarra na dificuldade de fazer os seus personagens serem marcantes. Os adultos que fingem ser jovens são parecidos entre si. A caracterização de cada um deles é bem genérica, apela demais a clichês, tentando imitar o que ocorreu com Halloween: A Noite do Terror, mas sem o charme que John Carpenter apresentou. Também há algumas coincidências narrativas com o Sexta-Feira 13 de Sean Cunningham, fato que gerou inclusive algumas polêmicas.

Mesmo que o todo não seja muito inspirado, a obra acaba sendo digna de alguns elogios, especialmente quando se destaca alguns dos nomes por trás das câmeras.

A obra foi filmada em apenas dez dias, com locações em Santa Barbara na Califórnia. Essa locação trouxe alguns problemas, como a óbvia dificuldade de gerar um clima frio, já que a cidade é muito quente, mesmo que as gravações tenham sido no último mês do ano.

Outra questão pontual em relação as filmagens é que boa parte das tomadas que deveriam ser na parte da noite, foram filmadas de manhã. Desse modo, fica claro que não há breu ou a dificuldade de caminhar pelo cenário depois a noite cai. Não houve qualquer trabalho mínimo para escurecer as imagens.

O nome original do longa-metragem é To All a Goodnight. Pelo mundo houveram poucas variações de nomenclatura, sendo Nuit de Cauchemar no Canada, Terrur Dans La Nuit na França, Goodnight na Alemanha Ocidental e Feliz Nochebuena na Espanha.

Essa é a estreia do ator Davis Hess na direção e ele não retornaria muito na função, ainda que tenha feito um curta em 2010, chamado Steel Drums, Not Guns. Ele é mais lembrado por ter estrelado Aniversário Macabro, onde faz o personagem agressivo Krug, além de A Casa do Fundo do Parque de Ruggero Deodato, onde faz um papel bem parecido. Também esteve em O Monstro do Pântano também de Wes Craven.

Em materiais de making off e documentário fica claro que Hess é um sujeito muito querido pelos seus. Ele sempre foi elogiado por Craven e é conhecido por ser um sujeito doce, ao contrário da maioria dos papéis que faz.

Sua carreira seguiu também no ramo da composição. Músicas suas estiveram em várias trilhas sonoras de obras famosas, especialmente no horror exploitation Cabana do Inferno de Eli Roth, assim como no faroeste de Quentin Tarantino, o sensacional Os Oito Odiados.

O texto é de autoria de Alex Rebar, que também é produtor executivo. Ele colaborou com o roteiro de Espírito Maligno, escreveu O Prazer da Vingança e Turnê Assassina. Também é ator, esteve no elenco de O Incrível Homem que Derreteu, na série O Incrível Hulk e em Amityville 4: A Fuga do Mal.

A produção executiva também foi compartilhada com Rick Whitfield e Jay Rasumny, mais conhecido por ser ator e figurante, em Serpico, Desejo de Matar e O Poderoso Chefão Parte 2. Sandy Cobe que não recebe esses créditos aqui - chamada apenas como presenter - também trabalhou em Turnê Assassina, Acess Code e Open House.

Uma grande polêmica em torno da obra é a data de seu lançamento. Há quem defenda que ele foi lançado em uma curta exibição no cinema em 30 de janeiro de 1980 - três meses antes da estreia de Sexta-feira 13, mas isso é contestado, já que o especialista em efeitos especiais Mark Shostrom disse em uma entrevista que se lembra de estar reunido com elenco e equipe de produção em torno de uma TV para ouvir que John Lennon havia sido baleado e morto, ou seja, segundo esse relato, eles estavam gravando em dezembro de 1980.

Claro que isso não prova nada, Shostrom pode ter se confundido com outra produção, mas segundo esse relato, não há como esse A Noite do Pavor ter sido lançado antes da obra de Cunningham.

O que pode de fato ter ocorrido é a coincidência de esse roteiro ter sido escrito antes da estreia do slasher primordial. Até hoje persiste a discussão sobre a data de lançamento desse, assim como segue uma série de acusações de plágio entre essa obra e a que tem o roteiro de Victor Miller.

O filme antecede Natal Sangrento em quatro anos e tem várias semelhanças narrativas com esse, especialmente na motivação do vilão. Por conta do uso de uma fantasia de Papai Noel em um assassino em série também há semelhanças com Natal Diabólico, filme de Lewis Jackson, lançado no mesmo ano de 1980.

A Noite do Pavor : Um filme cretino e esquecido entre os fãs de horror slasher

Dentro da equipe há algumas figuras de carreira elogiável. O diretor de fotografia Bil Godsey foi operador de câmera em Irmãs Diabólicas de Brian de Palma, já a direção de arte e design de produção são de Joseph T. Garrity, que assinava Joe Garrity, cuja experiência inclui Cujo e Meu Primeiro Amor. A decoradora de set Sharon Mae West foi supervisora de roteiro em Palhaços Assassinos no Espaço Sideral, Criaturas Atrás das Paredes e fez episódios de Twin Peaks e Contos da Cripta.

Já o maquiador Mark Shostrom é possivelmente o mais lembrado dessa equipe. Entre as obras em que trabalhou há créditos em obras como A Hora do Pesadelo e suas duas sequências A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy e A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos. Fantasma 2, Fantasma 3, Videodrome: A Síndrome do Vídeo, Uma Noite Alucinante 2, Slumber Party Massacre e Do Além.

Shostrom foi indicado a muitas premiações e foi vencedor no Emmy Awards, pelas séries Jornada nas Estrelas: Voyager em 1996, Buffy: A Caça Vampiros, em 1998 e Arquivo X em 1999. Seu último trabalho foi em Amityville: O Despertar, como supervisor de efeitos.

A narrativa começa na escola para garotas Calvin, na noite de natal, dois anos no passado. Aparecem meninas correndo, perseguindo uma das colegas, em um evento que parece ser apenas uma brincadeira sadia, cujas consequências foram bastante trágicas.

Em meio a essa correria ocorre um acidente, com a perseguida caindo da parte alta da mansão, não houve qualquer cuidado aqui, simplesmente tacaram um boneco mega artificial da parte de cima da casa, acreditando que não seria notado.

A cena é sensacionalista, mas a atmosfera é a de tragédia mesmo e o mérito disso certamente passa pela música de Richard Tufo, que é estridente desde sempre, pontuando os futuros assassinatos de maneira bem agressiva.

Somente cinco moças ficaram na escola. Essa parte conversa diretamente com outro clássico do horror natalino, no caso, o canadense Noite do Terror (ou Black Christmas, que também tem esse drama em comum.

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O elenco inteiro é formado por atores e atrizes bem mais velhos que seus personagens. Não há nem um pouco de engano em relação a faixa etária das moças.

O roteiro ainda coloca a questão de que as meninas receberiam os namorados ao longo da noite feliz, estabelecendo assim o motivo da morte de cada uma delas, afinal, esse é um filme que se apropria dos clichês do movimento slasher.

Hess parece não saber filmar muito bem. Ele e diretor de fotografia enquadram mal as pessoas, não é incomum o uso de janelas erradas, que inclusive cortam pessoas do quadro. Não é à toa a maioria que os trabalhos de Godsey são na parte elétrica, não necessariamente em cinematografia.

As atuações são péssimas, quase não há trabalho em criar um clima de medo. Os cenários e figurinos são pobres, se resumem a vermelho, branco e verde, as cores do natal. As mortes ocorrem à revelia do conhecimento dos jovens, dois deles somem antes mesmo da chegada dos rapazes.

Durante as filmagens do filme, o elenco e a equipe dormiram na mansão principal em Santa Bárbara, fato que facilitou a formação de casais dentro do elenco. Curioso que mesmo que isso tenha ocorrido, não há nenhum casal que possua química entre si.

Há ainda um grande número de cenas bizarras, quase inexplicáveis, como a sequência onde o assassino entra em uma armadura de ferro, que serve de decoração em uma das salas da mansão. O malfeitor teve que esperar muito tempo ali parado, só para pegar um dos jovens, isso sem garantia de que alguém apareceria.

Não há ninguém muito famoso no elenco e para piorar a atenção do espectador mais desatento, a caracterização não diferencia muito os personagens.

No entanto há um caso bastante curioso, envolvendo Harry Reems. Aqui ele faz o papel de Pilot, mas sua carreira é mais lembrada por conta de participações dele em filmes pornográficos. A interprete de Nancy, Jennifer Runyon, só descobriu esse fato quando estava no set filmando com ele.

Essa foi a estreia da atriz em obras de cinema, e ela foi indicada por Kiva Lawrence, atriz que interpretou Miss Jensen e que ganhou o papel basicamente por ter feito parte do grupo de teatro que Hess trabalhava.

Runyon e Forrest Swonsen (que interpreta Alex) estavam namorando na época em que o filme foi feito, fato que ajuda a determinar que essa obra é quase uma ação entre amigos.

Runyon possivelmente é a atriz mais famosa do elenco. Esteve em A Very Brady Christmas, na série teen Barrados no Baile e nos trash Carnossauro e Silent Night, Bloody Night 2: Revival. A atriz só fez o papel depois de se comprometer a perder peso contra o qual lutou durante a adolescência.

O destaque maior dentro do elenco feminino com certeza é a personagem citada. Nancy é o que mais se aproxima de uma final girl. Como ela tem que fazer o papel de moça virginal, são as outras meninas que ganham destaque sexual.

Trisha, interpretada por Angela Bath é disparada a personagem que mais revela seus dotes físicos. No entanto a moça mais bonita e com mais tempo de tela "sensualizando" é Melody, personagem de Linda Gentile, atriz que só participou apenas desse filme, tendo ganho notoriedade depois como musicista.

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Ela se tornou uma pianista de concertos, bastante requisitada. Em entrevistas posteriores ao filme, ela disse que por pouco não fez cenas de nudez, mas as sequências não foram rodadas, já que caíram antes das filmagens.

A artista ficou aliviada, já que isso poderia atrapalhar os rumos que sua carreira tomou. Ela aparece de roupas de banho, o que é curioso, afinal, é época de frio, mesmo que a trama seja na Califórnia não se justifica a personagem se exibir com pouca roupa, a não ser obviamente a apelação desse tipo de obra.

Gentile afirmou que não tinha problemas com exposição de nudez, mas ela jamais aceitou qualquer convite para tal, recusou até convites da revista Playboy, fato que segundo a própria, foi uma escolha sábia, pois poderia atrapalhar sua ascensão como pianista.

Um destaque curioso é que apesar do homicida usar roupa de Papai Noel isso só é revelado muito tempo depois, já ocorridos alguns assassinatos. Ao menos há um cuidado por mostrar as mortes de maneira violenta e criativa, com uso de facas, navalhas, objetos de cozinha e até pedras.

É bizarro como os namorados conseguem dormir na escola, mesmo que tenham funcionários de plantão, como a já citada sra Jensen, de Kiva Lawrence, que na época, assinava como Katherine Herrington seus colegas, o estranho Ralph (Buck West) e Ronsoni (Judy Hess). Eles parecem estar lá só para serem suspeitos, em especial o velho Ralph.

A maior parte da exibição mostra a ação do assassino ou os jovens se pegando, no entanto, há alguns trechos curiosos, como quando encontram o corpo de Ralph.

Uma menina acidentalmente cai em cima de uma pilha de folhas e levanta o corpo dele. Assim que isso ocorre vem uma música aguda, enquanto a tela fica vermelha.

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É curioso como mesmo após mostrar Ralph morto, ainda se tenta forçar a barra para que ele seja um suspeito, como se esse fosse um despiste.

Nancy conversa com o policial local, Polansky (Sam Shamshak), avisa que teve uma sensação de que algo ruim ocorreria ali. No entanto o flerte com o sobrenatural e paranormal não se estende.

O que realmente chama a atenção é que mesmo percebendo que alguém morreu e que os amigos estão desaparecendo, os jovens desdenham da possibilidade de haver um assassino nas redondezas,

Nenhum personagem acredita nas teorias de Nancy, exceto Alex, que convenientemente se torna crédula nela, depois que leva um fora de Melody. A partir daí até as mortes passam a ser preguiçosas. O cúmulo é quando o assassino enfia um machado na cabeça de um homem, mas faz isso quase sem força, deixando a gravidade matar a pessoa.

A sequência ainda é acompanhada de uma filmagem em câmera lenta terrível, absolutamente trash.

Próximo do final ainda há cenas bizarras, como a de Leia (Judith Bridges) uma menina que vai tomar um banho e encontra a cabeça de outra amiga no chuveiro. Essa sequência é tão, mas tão ridícula que parece uma esquete de comédia, especialmente graças a trilha sonora, que tenta imitar a música de Bernard Herrmann em Psicose.

Após essa cena no banheiro, a personagem fica tão traumatizada que passa a dançar e a fazer passos de balé o resto do filme, sobrevivendo a onda de mortes, mas sem escapar do triste fim insano.

A revelação da identidade do matador é feita sem cerimônia e tem a ver com a cena de epílogo. Resulta em algo anticlimático e sem sentido, com um discurso de puro moralismo, que acusa os jovens de terem drogado a moça que morreu no início.

Também fica difícil de associar os autores dos assassinatos a essa primeira vítima, já que o rosto da menina acidentada praticamente não aparece. Além disso, não havia a presença de todo o grupo de personagens na cena inicial.

Perto do final revela que eram dois assassinos, tal qual ocorreria no slasher metalinguístico Pânico. Há quem defenda que o roteiro de Kevin Williamson fez uma referência a esse, mas seria tão obscura que é difícil de levar a sério.

O roteiro de Rebar é bastante expositivo em muitos pontos, mas quando precisava explicar a ligação entre os assassinos, não fica exatamente claro qual é a ligação entre eles. Há quem acredite que os dois matadores eram pais da menina morta no início do filme, mas eles jamais aparecem juntos, como casal. Aparentemente mantinham uma relação escondida só para criar mais impacto nesse momento. É só risível.

A Noite do Pavor é uma obra que se aproveita de uma data festiva, mas que explora pouco os clichês natalinos. Foi ofuscada claro pelos filmes de sua época e claro, por sua mediocridade. É incompetente o suficiente para receber sozinho o mérito de seu ostracismo. Ainda assim, vale pela violência e por vários efeitos práticos, que brilham muito quando são bem mostrados.

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